Resenha | Sob o Solo
Após duas parcerias bem sucedidas entre Bianca Pinheiro (Bear, Mônica: Força) e Greg Stella em Meu Pai é um Homem da Montanha (2015) e Eles Estão por Aí (2018), a nova HQ do casal, Sob o Solo, lançada pela Pipoca & Nanquim, tem um formato diferenciado, emulando tirinhas, normalmente com quadros pares em cada página, abordando a pesada temática da guerra, mostrando os diálogos de dois soldados refugiados em um bunker, com receio de que o inimigo que bombardeia a superfície descubra o esconderijo subterrâneo.
A história, bem como os desenhos, são simples. Os autores utilizam o minimalismo de bonecos de palitos para mostrar uma série de diálogos complexos, entre um alistado com receio de morrer, a um que está claramente ferido de maneira mortal. As páginas exploram o receio e paranoia de quem participa intimamente da guerra. Do receio da solidão e do enlouquecimento graças à perseguição do inimigo e da proximidade da morte.
O foco narrativo se destaca pela sensação de isolamento e na solidão massificada que a historia apresenta, seja nas tentativas fracassadas da dupla em falar com os militares, mas também pela loucura oriunda do confinamento. Os autores trazem um desabafo humanizado, de um homem comum que chega a uma situação limite, destruído emocional e moralmente por conta dos efeitos da guerra.
A narrativa surgiu a partir de uma ideia de Greg que Pinheiro começou a dar a luz, em um primeiro storybord que rapidamente se tornou quase a arte finalizada. Dentro da proposta de Sob o Solo é essa simplicidade que funciona. Embora também contenha belas interferências de rabiscos bem elaborados, em momentos de maior tônica emotiva ou fantasiosa.
Em comum as obras anteriores, há a eficiente parceria do casal que, ao produzir três narrativas diferentes entre si, evidenciam um talento versátil.