Crítica | Sete Minutos Depois da Meia-Noite
O cinema e a literatura fantástica sempre se apropriaram de dramas realistas para a construção de suas histórias, pode-se ver isso pelo movimento estudantil em Harry Potter, por exemplo. Porém, algo muito mais genuíno nasce de quando a realidade, o bom drama, se aproveita de elementos fantásticos para se ilustrar suas mensagens.
E ilustração é um dos pilares de Sete Minutos Depois da Meia-Noite, longa escrito pelo autor de seu livro de origem O Chamado do Monstro, Patrick Ness e dirigido pelo espanhol J.A. Bayona. Conor (Lewis MacDougall), um garoto que se esconde por trás de suas ilustrações, vive um momento delicado ao ver sua mãe (Felicity Jones) lutar contra uma doença terminal, além de sentir falta do pai ausente (Toby Kebbell) e não se dar muito bem com a estranha avó (Sigourney Weaver). Atormentado por pesadelos e um constante bullying na escola, Conor passa a receber visitar de um monstro-árvore (Liam Neeson) que lhe promete três histórias em troca de uma quarta.
O filme passeia pelas ilustrações do garoto e nos imerge em ótimas sequências animadas em aquarela que ilustram as histórias contadas pelo Monstro, brilhantemente dublado por Neeson, sendo o grande diferencial da dublagem a capacidade do ator em soar ameaçador e reconfortante ao mesmo tempo. Ainda assim, essas histórias não vão além da questão técnica, tendo a narrativa como um grande equívoco, já que não possuem grande papel como significado e não transmitem o peso necessário quando o filme nos diz a real proposta delas; talvez, apenas a terceira história se encaixe bem além do que o final propõe.
Quando Conor tem que encarar a realidade, e não tem a presença do Monstro, são os melhores momentos do longa, utilizando-se de uma fotografia sutil, com alguns super-enquadramentos e que se encaixam com uma direção de arte que transmite tanto beleza como significado nos detalhes, principalmente em fotos e objetos pessoais de suas personagens. A montagem do filme é coberta de transições que relembram o que acabara de ser visto em tela e faz com que os momentos fantásticos e os momentos no “mundo real” fiquem bem dosados.
Os efeitos visuais não são lineares em qualidade, mas pelo menos são crescentes e não chegam a tirar muito a atenção do espectador, a edição do som bastante criativa e original e de um modo genial se dá muito bem com a trilha orquestral nada apelativa de Fernando Velázquez – e isso é de muito mérito em filmes taciturnos como esse. Das atuações, apenas a de Kebbell parece deslocada e a personagem do ator acaba soando desnecessária, tanto para o drama do garoto quanto para o desenvolvimento da doença terminal da mãe.
Já Lewis carrega muito bem o filme com seu protagonista e nos faz lembrar de maneira muito carinhosa de O Labirinto do Fauno, Onde Vivem os Monstros e Meu Monstro de Estimação, e culpa disso é da direção muito sincera de Bayona, que vem de filmes como O Orfanato e O Impossível, onde soube tratar muito bem o extraordinário quase gótico e o drama familiar. Sete Minutos Depois da Meia-Noite é um filme pesado, melancólico e carregado de mensagens, mas que falha em dar importância para suas histórias centrais, não conseguindo fugir do previsível em sua espécie de “revelação” perto do fim, ainda assim trabalha bem com seu roteiro no que diz respeito a bons diálogos, “amarração de pontas soltas”, e claro, serve de maneira brilhante como retratação de perda, infância, família, invisibilidade, coragem e mais do que tudo: imaginação. Ou uma boa ilustração em aquarela dela.
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Texto de autoria de Felipe Freitas.