Crítica | Bernie and Ernie
Bernie and Ernie, documentário da ESPN Films, começa intimista, com uma música instrumental tocante, acompanhada do depoimento de Bernard King, relembrando parte do seu passado e a forma como começou a jogar basquete. O documentário de Jason Hehir, que anos depois conduziria Arremesso Final. O filme mostra a vida de Bernard King e Ernie Grunfeld e sua amizade de mais de três décadas iniciada na quadra da universidade do Tennessee.
O narrador Chuck D ajuda a mostrar a historia que se inicia em Fort Green, um distrito no Brooklyn, conhecido por ser perigoso. Os depoimentos que falam a respeito do inicio da trajetória de King incluem anônimos e famosos, como Spike Lee, e dão conta que quase não havia gente para completar os times nos rachões locais e ainda assim, Bernie conseguiu se destacar e sobressair ao ponto de ir para Tennessee Volunteers, uma faculdade mais conhecida pelo futebol americano e menos pelo basquete.
Mesmo tendo uma duração curta, menor que uma hora, o especial consegue passar por questões policiais e por problemas de vícios que seus personagens sofriam, aliás o contexto social é bastante abordado, a despeito até do desempenho acadêmico e desportivo. Quando King fala a respeito de seus problemas com álcool, a mão pesa um bocado, Bernie tem dificuldade de falar sobre isso, as lembranças são demais para si, sua voz embarga e a musica instrumental manipula as emoções do publico.
Hehir já demonstra muito talento na condução de sua história, e mesmo que tivesse uma clara dificuldade em harmonizar momentos mais lúdicos com os pesados, não há como argumentar que a sua obra não aborda facetas bem diferentes e inusitadas de seus objetos de estudo. Bernard e Ernie são pessoas complexas, e a realidade é que a maioria dos que se destacam no basquete universitário ou profissional nos Estados Unidos tem uma historia complicada para contar, e aqui não é diferente. Em Arremesso Final ele dispõe de 50 e poucos minutos em dez capítulos, para contar uma historia vitoriosa de uma dinastia, aqui ele tem só um capitulo para falar de uma parceria, e não parece raso ou apressado.
Em um ponto da carreira, a dupla voltou a se reunir no New York Knicks, com Walt Frazier como franchise player, e havia da parte dos dois o receio de não reprisar o sucesso que fizeram em tempos de faculdade. Ao final, Bernie and Ernie varia bem entre o emocional e o informativo, mas claramente não é tão harmonioso sentimentalmente quanto os trabalhos posteriores do realizador.