Crítica | The End of Evangelion
Evangelion teve uma produção mais conturbada que a mente de seus personagens. Seu diretor, Hideaki Anno, passava por uma depressão profunda, o Estúdio Gainax tinha pouquíssimo dinheiro e, por conta disso, o final do anime foi praticamente um recorte de cenas que mostrou apenas o ponto de vista do protagonista Shinji. Porém, o mundo dá voltas e, quando o anime começou a ser transmitido em um horário direcionado à audiência mais adulta ganhou muita fama e legiões de fãs no Japão e no mundo. Isso não impediu que vários fãs não gostassem do final “cabeçudo” do anime.
De certa forma, o final do anime não é o que Anno realmente planejava. Ele e a Gainax fizeram o que foi possível na época. Eis que, pouco tempo após o fim do anime, eles conseguiram uma verba suficiente para fazer o que era planejado, e daí nasceu The End of Evangelion.
Curioso notar que o filme tem a estrutura de dois episódios com o dobro da duração normal, totalizando quase 90 minutos. A qualidade de animação está muito boa e muito menos parada. Mas eles substituem o final do anime? Não!
Acontece que o anime mostra, em seu final, o ponto de vista de Shinji após a Instrumentalidade Humana, que é uma espécie de unificação de todas as almas da humanidade. Porém, não é mostrado exatamente como chegamos até ali. Inclusive algumas cenas de personagens mortos simplesmente aparecem sem explicar o que os matou. Tudo isso é mostrado neste filme.
Logo de início, devemos lembrar que Shinji estava mentalmente destruído no final da trama por ter matado alguém querido. Os episódios finais até amenizam um pouco essa situação, mas quando iniciamos este filme, relembramos o quanto ele estava no mais absoluto abismo existencial. Shinji se mantém apático e distante durante o filme todo, causando até um contraste com o final do anime, sendo que este acaba ficando com um tom “feliz” tendo em vista toda a desgraça apresentada neste filme.
Asuka está desacordada e hospitalizada. O Eva 01 despertou e será fundamental para desencadear a Instrumentalidade. A SEELE fica irritada com a Nerv e decide mandar uma tropa para exterminar a todos e roubar os EVAs. Interessante notar que durante o anime praticamente não vemos humanos morrerem. Aqui teremos um banho de sangue que certamente causa um impacto considerável.
Outro ponto interessante é a aparição de uma nova linhagem de EVAs. Durante a série, as Unidades 00, 01 e 02 são as únicas com grande tempo em tela. A Unidade 03 aparece rapidamente (em uma das cenas mais icônicas do anime), outras Unidades são apenas mencionadas, e é isso. Aqui veremos vários outros EVAs em ação,
Estes EVAs serão essenciais para iniciar a Instrumentalidade, logo após uma batalha sanguinária contra a Unidade 02, cena esta que destrói o pouco que sobrou da sanidade de Shinji. Hideaki Anno não teve pena dos espectadores.
Temos que lembrar que, durante a série, a Unidade 01 absorveu um Dispositivo S2 de um Anjo, o que deixou-a muito próxima das criaturas, ou seja, supostamente tornou-se uma espécie de deus. Também ocorreu o “despertar” da Unidade 01, tudo isso é crucial para o desfecho da história.
Alguns dizem que este filme é “o final com violência e orçamento que o anime não pôde ter”. Concordo plenamente. Mas não confunda as coisas, a parte psicológica está a mil por hora, e afirmo que sua cabeça vai fritar ainda mais. Estamos falando de Evangelion, então não espere um final mastigado, explicadinho, reto e definitivo. O término do filme dá brechas a diversas teorias, mas com delimitações. Não é aquele final aberto que possibilita qualquer tipo de interpretação.
The End of Evangelion é perturbador e instigante, dá um tom mais adulto que a série e não encerra as discussões. A prova disso é que estou aqui, duas décadas depois, recomendando o filme pra vocês. Tanto o filme quanto a série estão disponíveis na Netflix com uma excelente dublagem brasileira. Não é a dublagem da Locomotion, porém algumas vozes permaneceram, como o próprio Shinji e Gendo. Particularmente acho esta dublagem muito melhor por causa das interpretações. Este elenco de dublagem foi mantido na série Rebuild, que estará aqui no Vortex muito em breve.
OBS.: o filme DEATH (TRUE)², também disponível na Netflix, é apenas um compilado de cenas do anime. Vale assistir apenas para relembrar algumas coisas, mas é dispensável em termos de conteúdo.