Crítica | O Protetor 2
Imagine um bolo, preparado através de uma receita recheada de lugares comuns, com muito doce e com condimentos que normalmente fazem com que o apreciador ache o simples testar dele como algo saborosíssimo. Daí imagine que anos depois, o confeiteiro lança uma outra versão desse mesmo bolo, com os mesmos ingredientes e o mesmo esmero, e entrega esse para o mesmo apreciador do primeiro, sendo que este aprendeu a utilizar de outros sabores e tornou seu paladar com outros gostos. O Protetor 2 sofre um pouco desse mal, pois tanto Antoine Fuqua (seu diretor) quanto seu protagonista (Denzel Washington) utilizam dos mesmos elementos que fizeram O Protetor ser um filme tão elogiado, sendo este segundo recebido com mornidão por boa parte dos especialistas.
A história começa com Robert McCall (Denzel) utilizando outro nome, em um trem na Turquia onde ataca malfeitores genéricos que raptaram uma menina. Utilizando um disfarce fajuto ao extremo, ele consegue trazer a criança à sua mãe, uma mulher comum, que trabalha numa livraria do qual ele é cliente. Depois dos acontecimentos do filme anterior ele passou a trabalhar como motorista particular de aplicativos populares, e passou a ajudar pessoas comuns com suas habilidades.
Esse auxílio prestado demonstra alguma inteligência por parte do roteiro de Richard Wenk, aliás esse é um dos poucos pontos novos na franquia, e contém mais criatividade nesse pequeno argumento do que em todo o restante dos dois filmes que chegaram ao circuito. Como membro de uma comunidade, que tem como epicentro o prédio onde mora, ele se aproxima de um jovem artista promissor, chamado Miles (Ashton Sanders), e nesse ponto ele enxerga no rapaz uma jornada que pode resultar em algo trágico. Apesar do montante de clichês que essa situação acarreta, o fato desse núcleo ter um pé na realidade faz com que ele soe precioso ante a trama, ainda mais por conta de todo o restante da dramaticidade.
Como era de se esperar, McCall volta a ativa, a fim de vingar antigos amigos que sofrem emboscadas, basicamente porque ele se sente culpado por ter largado seus companheiros e forjado sua própria morte. A partir daí, atores bons são mostrados com um certo desperdício, fora Washington, mais nenhum personagem parece ter alguma tridimensionalidade, isso inclui Pedro Pascal (de Narcos), Melissa Leo e Bill Pullman.
Para piorar, o final contém uma perseguição tática entre especialistas, onde mais uma vez se apela para alguns bordões de filmes de super agentes, com ameaças a entes queridos e pessoas próximas, mas isso não chega a incomodar tanto quanto o cenário escolhido para o embate final, sendo esse uma emulação de vídeo games mais populares onde o stealth é necessário para um boa jogabilidade, como Splinter Cell e Metal Gear Solid, mas sem o impacto ou atmosfera necessária para que a referência fosse apreciada como deveria. A utilização da poeira e neblina faz com que o filme pareça amador, mesmo com um orçamento tão graúdo.
Ao final da apreciação de O Protetor 2, sente-se o gosto de mais do mesmo, ainda que não se justifique em momento algum a gritaria em volta do primeiro, ou mesmo as comparações com o primeiro John Wick ou outros produtos de David Leitch e Chad Stahelski. A continuação não é inferior ao primeiro filme, talvez tenha até mais diferenciais em comparação com o primeiro, o recente Sete Homens e Um Destino e demais filmes de ação comandados por Fuqua.
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