Crítica | Solo: Uma História Star Wars
Os spin-offs de Star Wars têm (até agora pelo menos) algo nos bastidores que os fazem se tornarem dúvida quanto a sua qualidade. A respeito de Rogue One: Uma História Star Wars foram feitas novas filmagens, cancelaram (ou adiaram, isso está indefinido até hoje) o filme de Josh Trank que mais tarde seria revelado como a aventura de Boba Fett, e com este Han Solo: Uma História Star Wars, houve uma saída de última hora da dupla Phil Lord e Christopher Miller – são creditados como produtores executivos. Coube a Ron Howard o papel de tentar aparar as arestas e trazer à luz um filme que parecia amaldiçoado, e apesar dos percalços, ele acerta bem mais que erra, trazendo um longa que prima pela diversão limpa e descompromissada.
Desde o começo do filme, o personagem de Alden Ehrenreich soa como uma das muitas facetas que Harrison Ford empregava no mercenário, com a ideia do bom moço disfarçado de cafajeste. Isso talvez seja o maior senão do roteiro de Jonathan Kasdan e Lawrence Kasdan, uma vez que esta nova versão é bem menos munida de camadas que sua contraparte introduzida em Uma Nova Esperança. Quando o espectador vê este Solo em tela, não acredita muito que ele seria capaz de trapacear com todos, mas ainda assim isso pode ser devido ao fato dele ser um iniciante ainda.
Já nos primeiros momentos se estabelece um casal, com Qi’ra (Emília Clarke) e o pretenso anti-herói, tentando sair de Corelia, planeta natal dos dois, esbarrando em vítimas dos trambiques do futuro caçador de recompensas. Não demora e tem um salto temporal, para então dar vazão a um tempo onde ocorreram alguns dos fatos sobre o passado de Solo que são bastante conhecidos pelos fãs, e as apresentações tanto de personagens novos como dos antigos é executada muitíssimo bem, cada peça se encaixando de maneira bastante harmoniosa dentro da série de filmes. Quase todas as respostas em relação ao background do personagem, suas mentiras e trapaças são bem exemplificadas, e isso por si só já é um avanço enorme em comparação a trilogia de prequels, que só respondeu ao que interessava a George Lucas, e não aos seus fãs.
Há um número considerável de fan service, em especial ao especial primeiro encontro de Han com a Millenium Falcon, com Chewbacca, e principalmente, Lando (Donald Glover), ainda que esse último merecesse bem mais tempo de tela. No entanto, os vilões e demais personagens que rodeiam o protagonista e seu núcleo não são muito marcantes, exceção é claro a L3-37 (Phoebe Waller-Bridge ) androide e copiloto de Lando, para variar como K2-S e BB8 em Despertar da Força. Tanto Dryden Vos (Paul Bettany) quanto Beckett ( Woody Harrelson) não possuem muito brilho, mesmo que tenham bastante tempo de tela, já Qi’ra, apesar de ser feita por uma atriz limitada, transborda carisma, de um jeito que há muito não se via em Clarke, tendo inclusive um momento no filme que causa bastante impacto nos fãs mais ardorosos de Rebels e Clone Wars.
A troca de diretores fez perguntar se o longa não seria como foi Homem Formiga, que teve a saída de Edgar Wright e uma quebra de expectativa enorme, uma vez que se prometia um filme fora da caixinha. A se julgar Anjos da Lei e Anjos da Lei 2, o produto final poderia ser um filme bem mais ousado, mas seu formato não chega a ser tão irritante quanto a maioria dos filmes de super-herói da Marvel. Até agora o sub-gênero não saturou ou comprometeu os filmes da série, até porque o universo compartilhado não tem exatamente uma história cronológica e amarrada como no MCU. Se haverá uma fórmula esgotável, ao menos é cedo para falar, já que mesmo com os percalços, tanto Howards como Gareth Edwards entregaram filmes corretos, que se não ousam, ao menos traduzem aventuras escapistas, divertidas e reverenciais a trilogia clássica, acertando bem mais que Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones e Vingança dos Sith, e ainda amarrando os destinos dos personagens até com as animações de Dave Foloni, canonizando de forma coesa até mesmo as partes da série que não tem mesma projeção do universo cinematográfico.
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