2015 foi um ano difícil para a literatura
Este ano voou e talvez não deixe muitas saudades mesmo. O período foi um dos mais conturbados dos últimos tempos, com economia em baixa, crise política, confiança abalada e insegurança global. Pra muita gente, 2015 foi um ano de estagnação, de atrasos e de interrupção de projetos, o que só aumentou a sensação de perda de tempo, energia e recursos. No campo das artes não foi diferente, e no terreno da literatura acabamos colecionando um conjunto grande e contundente de reveses. Fizemos um levantamento da situação e podemos afirmar: 2015 foi um ano difícil! É verdade que faltam algumas semanas para fechar a fatura, mas decidimos antecipar esse balanço na esperança de que as desgraças e tragédias fiquem por aqui.
Fogo na Record
Em março, um incêndio destruiu parte das instalações do Grupo Editorial Record em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O fogo atingiu o segundo andar do prédio, onde funciona o selo Bertrand Brasil, e havia seis funcionários no local. Felizmente, não houve vítimas, e as causas que levaram ao incêndio não foram reveladas. O estrago só não foi maior porque os bombeiros agiram rápido.
Jornada cancelada
Em maio, a reitoria da Universidade de Passo Fundo (UPF) confirmou que a 16ª edição da Jornada Nacional de Literatura estava mesmo cancelada. Segundo a professora Tânia Rösing, coordenadora e idealizadora do evento, o maior impedimento para a realização foi a falta de patrocínio de empresas privadas e do Estado. Verbas públicas que costumavam ser destinadas, como as do Fundo Nacional de Cultura e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, não vieram. Com histórico de participações ilustres como as de Mia Couto e Millôr Fernandes, o orçamento da feira é de cerca de R$ 3,5 milhões. Em 2015, um dos principais eventos literários do sul do país simplesmente não aconteceu.
Portas fechadas…
A livraria Leonardo da Vinci funcionou durante 63 anos no Rio de Janeiro e se notabilizou por reunir intelectuais, escritores e poetas entre seus clientes assíduos. Criada em 1952 pelo romeno Andrei Duchiade, especializou-se no comércio de lançamentos importados e livros raros, mas não conseguiu competir com o mercado virtual e nem com as populares megalivrarias. Um dos clientes mais famosos da Leonardo da Vinci foi Carlos Drummond de Andrade, que a homenageou em um poema. O anúncio do fechamento do tradicional ponto de vendas e de encontros causou consternação no mercado editorial carioca.
Suplemento extinto
Em setembro, leitores do jornal O Globo foram surpreendidos com a notícia de que seu caderno literário deixaria de circular. O suplemento “Prosa & Verso” seria incorporado por outra seção, o “Segundo Caderno”, relegando o espaço dedicado à literatura a uma melancólica página frente e verso no diário carioca. O suplemento estava às vésperas de completar vinte anos de existência, mas nem isso impediu que desaparecesse causando pelo menos 40 demissões. Entre as baixas estava o crítico José Castello, um dos mais respeitados do país.
Escritor preso?
Aconteceu em setembro e talvez você nem acredite. Um personagem da ficção – sim, da ficção! – provocou um inquérito criminal encaminhado para o Ministério Público e investigado pela Polícia Federal. Incitada por uma denúncia anônima, a polícia achou necessário investigar uma peça da ficção em busca de evidências de “falsificação e uso de documento público” para criação de uma obra literária. O escritor paulistano Ricardo Lísias se viu nesse enredo kafkiano ao ser intimado pelas autoridades policiais a depor e a explicar que o teor da série com o Delegado Tobias é literatura, autoficção, e não crime de falsificação de documentos…
Uma editora a menos
Em dezembro, Charles Cosac chocou o mercado editorial ao anunciar que a sofisticada editora Cosac Naify iria encerrar suas atividades. Especializada em publicações com alto padrão de qualidade, voltadas para os clássicos da literatura, livros de arte, arquitetura e fotografia, a Cosac Naify começou a operar no mercado brasileiro em 1997. A justificativa para o fim da editora deveu-se a uma vontade pessoal do fundador, em virtude da crise financeira e dos altos custos de produção dos livros, consumidos por um público cada vez mais restrito no país. O anúncio pegou a todos de surpresa, e houve até comoção nas redes sociais, como se um sonho tivesse acabado…
Nossas maiores perdas
Não bastassem tantos dissabores no mercado editorial, o nefasto 2015 também não cansou de causar estragos, esses irreversíveis. Grandes escritores nos deixaram nos últimos meses: Henning Mankell, Oliver Sacks, Eduardo Galeano, Tomas Transtromer, Helena Jobim, Içami Tiba, Günter Grass, Ruth Rendell, Terry Pratchett, Joel Rufino dos Santos, Carmen Balcells, E.L. Doctorow…
São perdas inestimáveis.
2015, está na hora de virarmos a página!
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Texto de autoria de Chris Lauxx, pseudônimo dos jornalistas Rogério Christofoletti e Ana Paula Laux, autores da enciclopédia Os Maiores Detetives do Mundo e editores do site literaturapolicial.com