Resenha | Demolidor – Vol. 3
Neste terceiro volume compilando a fase de Mark Waid como roteirista da revista Demolidor, premiada com o Eisner de Best Continuing Series além da premiação de Single Issue para a edição #7 (compilada em Demolidor nº 2), a Panini Comics dá sequência ao lançamento em encadernações em lombada quadrada, uma das primeiras a reunir edições mensais de um personagem em vez de inseri-lo em um mix. Padrão que hoje se tornou uma das frontes da editora.
Diferentemente da versão original americana, este terceiro volume não apresenta uma história em três partes com Demolidor, Justiceiro e Homem-Aranha em um crossover intitulado Ponto Ômega. A trama foi publicada no país no compilado do Justiceiro, em seu segundo volume da fase de Greg Rucka. Considerando que as personagens possuem histórias anteriores em comum, a editora optou como estratégia a publicação na íntegra em uma única revista, para que leitores comprassem um novo título e, se possível, continuassem a lê-lo além da saga com o Homem Sem Medo. Esta trama dividida em três partes publicadas originalmente em Avenging Spider -Man 6, Punisher (2011) 10 e Daredevil 11, apresenta um novo ato da narrativa desenvolvida pelo autor a longo prazo, envolvendo o Omegadrive e os cinco grupos criminosos que tentam roubá-lo de Murdock.
O volume 3 compila as edições 12 a 18 de Daredevil – Vol. 3. A primeira história apresenta um entreato desta grande trama e enfoca a promotora Kirsten McDuffie. Em um primeiro encontro com ela, Matt retoma uma aventura do passado para explicar a amizade com Foggy Nelson, demonstrando como os amigos foram um apoio mútuo desde o início. Uma trama leve e bem delineada ressaltando a amizade para causar maior impacto no conflito dramático a seguir.
Waid mantém seu tom diferenciado em relação ao anos anteriores de Demolidor, em histórias menores e com maior leveza diante do realismo explícito e a vertente urbana de seus predecessores. Os traços de Chris Samnee e as cores de Javier Rodriguez e Laura Allred, aliadas à arte-final de Tom Palmer, casam com esta versão, bem como a composição de quadros se mantém tradicional com uso da borda branca, algo que, atualmente, é quase inexistente. Além desta primeira e bonita história que apresenta um descanso para a personagem, duas tramas se desenvolvem a seguir.
A primeira a partir do arco do Omegadrive: o herói é sequestrado na Latvéria para ser estudado e pesquisado a pedido de Victor Vom Doom. Mesmo nesta roupagem mais leve da personagem, a desconstrução de Murdock se tornou uma de suas características fundamentais. Assim, conforme as experiências examinam minuciosamente seu corpo à procura de uma maneira de replicar seu radar, a personagem perde lentamente os sentidos e lida com o inconsciente interno e, consequentemente, seus traumas.
Após o salvamento pelos Vingadores em uma história em que Doutor Estranho, Hank Pym e Tony Stark tentam amenizar os danos causados na Latvéria, o embate do advogado cego é focado em Foggy Nelson. Durante a trajetória da dupla, em movimento comum a qualquer relação de amizade longeva, muitas brigas fizeram parte de sua história. Depois do grande conflito que levou Murdock à loucura e proporcionou a saga Terra das Sombras, Foggy tem dúvidas em relação à sanidade do amigo, e quando encontra indícios incoerentes com a afirmação do advogado, rompe novamente a parceria no escritório de advogacia.
Mais uma vez, Demolidor se encontra à deriva. Mesmo com roteiristas diversos, suas tramas sempre projetam urgência e, como apresentam tanto a faceta do herói como a do advogado, produzem uma composição de alta credulidade em que um homem tenta fazer tudo o que for necessário para manter seus universos harmônicos mas, naturalmente, falha. Suas relações e seus afetos sempre se modificam em quedas. A própria construção da personagem vem dessa força de sobrepujar o caos e se reerguer com ousadia. Um fato que sempre proporciona uma potência em suas histórias.
Demolidor n° 3 mantém a tônica das edições anteriores em uma qualidade exemplar na narrativa, trabalhando elementos clássicos e novos conceitos em grandes histórias as quais, como sempre acontece com Demolidor, nascem com grandes conflitos.