Crítica | Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas
A história do psicólogo, professor, inventor e autor de quadrinhos Willian Moulton Marson é contada de forma romantizada na cinebiografia Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas. Dirigido por Angela Robinson, o filme apresenta os bastidores das duas criações máximas de Marson (interpretado por Luke Evans, muito à vontade no papel): o polígrafo, conhecido como “detector de mentiras” e a super-heroína Mulher-Maravilha.
O filme se inicia com uma cena um tanto chocante para fãs de quadrinhos, uma fogueira onde revistas de super-heróis são queimadas. Essa cena não foi colocada no início do filme de forma aleatória. Ao contrário, foi uma excelente escolha que permearia toda a proposta narrativa do filme, que é a de confrontar autor e obra, misturando elementos da vida pessoal de Marston com aquilo que ele expressava em suas histórias em quadrinhos.
Professor Marston leciona com sua esposa em uma conceituada universidade norte-americana e vê sua vida virar de cabeça pra baixo quando se envolve, junto a sua esposa Elizabeth (Rebecca Hall, excelente no papel), em um relacionamento polígamo com sua aluna Olive Byrne (Bella Heathcote). Em uma trama leve, vemos um tema polêmico se desenvolvendo de forma natural, transformando os defensores da “moral e bons costumes” em vilões, mas sem aprofundar muito no assunto. Robinson parece querer nos prender mais à história em si do que criar polêmicas, tratando tanto a poligamia quando o interesse do protagonista em bondage e sado-masoquismo como algo corriqueiro, apenas criticado por pessoas mesquinhas e hipócritas.
A história é contada em flashbacks, que se alternam com cenas de um interrogatório no qual Marston explica a agentes do governo sua teoria DISC (na qual a submissão seria um importante fator nos relacionamentos) e porquê decidiu incluí-la em suas histórias em quadrinhos. Os gibis da Mulher-Maravilha, no início, eram recheados de conceitos feministas, mas misturados com mitologia grega (considerada “pagã” para o público mais conservador) e muito, muito soft porn! Por mais forte que a heroína fosse, em toda edição ela aparecia amarrada ou em poses eróticas de submissão, que refletiam o interesse do autor pela prática de BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo).
A princípio, a vida de Marston com suas duas mulheres (que dividiam o mesmo teto com os filhos que ele teve com ambas) soa como o sonho de ménage a trois de um homem machista, ainda que não deixe de assumir seus próprios desejos, entretanto, durante o desenvolvimento vemos exatamente o contrário, um filme sobre sobre libertação feminina, transparência e bissexualidade, com uma certa dose fetichista. Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas é, afinal de contas, menos sobre seu protagonista e mais sobre as incríveis mulheres que o rodeavam.
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