Crítica | Cegonhas: A História que Não Te Contaram
[…] não que a Pixar, mais uma vez, seja sinônimo de excelência. Irrepreensível, afinal, nada é, vide Carros 2 e Universidade dos Monstros, oriundos do estúdio que, na tradição de Walt Disney e Hayao Miyazaki, reinventou a roda. Daí, e também por isso, toda animação americana que sai, a galera já especula: Mas é padrão Pixar? No decorrer de uma década, e isso é pouco tempo para o plano referido, a produtora de Steve Jobs e absorvida pela própria Disney conseguiu implantar sua marca no inconsciente popular não apenas pelo monopólio ideológico e devido o tratamento excepcional a essas boas ideias, mas, sobretudo, por conseguir desenvolver (palavra-chave no mundo das animações) filmes se bobear sobre pedras, no fundo escuro do mar, e acima de todos os desafios de percepção, torná-las… humanas.
No mundo ocidental, a Pixar em meia-dúzia de projetos montou ‘sua’ escada de qualidade quase irretocável para ela e a indústria que ocupa o trono, restando à concorrência construir seus degraus através de raros esporros criativos: Por exemplo, um filme sobre cegonhas e seu trabalho (corporativo e global) de entrega de bebês. Só que entre todos os estúdios que almejam do seu modo replicar as fórmulas de sucesso de um Wall-e e Toy Story, talvez seja as animações da Warner Bros que, desde o ótimo Gigante de Ferro de 1999 conseguem manter o frescor e o objetivo primordial de obras que subestimam, em momento nenhum, tanto o olhar do espectador diante das histórias, quanto o potencial das mesmas em tornar Diversão e Reflexão, ambas em letras maiúsculas, irresistíveis à quaisquer público ou faixa-etária.
Isso é sucesso. E caso Cegonha: A História que Não te Contaram não alcance o mesmo nível de expressão, de uma forma dinâmica, atual à geração Z e perfeitamente audiovisual que o mega divertido Uma Aventura Lego conseguiu em 2014, as crianças com certeza pouco ligam pra isso. Importa mesmo, por uma ótica mais descompromissada que deve ser levada em conta nesse caso, como os arquétipos e sensações são distribuídos de forma simpática e palpável em uma hora e meia de um ritmo frenético, mas sem excessos, bobagens imaturas ou a apologia que uma paródia assumida e infantil, como essa, poderia carregar e que a maioria padece em ostentar.
Em meio a uma crise na motivação das cegonhas em entregar seus bebês da fábrica para famílias humanas, os animais agora imitam o Sedex e entregam pacotes mundo afora, convivendo com uma órfã deixada entre as cegonhas desde um incidente antigo no sistema de entregas. Mediante as boas sacadas da trama (a sequência-inicial é hilária) e semi originais personagens (quase tão carismáticos quanto qualquer um de Lego), Cegonhas vai além da média das produções infantis e daquela sensação peculiar do “eu já vi isso em outro lugar”, sendo uma sessão para toda família, em especial quando aposta mais no carisma dos bichanos e nas cores de um mundo paralelo a outro onde ninguém mais acredita em Papai Noel, ou no lado progenitor de cegonhas e repolhos no quintal, o que felizmente não torna esse belo filme um palco para resgate de valores ou a celebração de novos – nada aqui tem a ver com segundas intenções ou cópia de padrões já celebrados, não que a Pixar, mais uma vez, seja sinônimo de excelência.