Crítica | O Expresso Polar
O Expresso Polar é um conto natalino sobre crenças que segue os passos de um menino que perdeu a fé nas pequenas coisas da vida. Quando adulto, o rapaz se tornaria o narrador da obra, dublado por Tom Hanks que dá voz também a boa parte dos personagens adultos. O longa de Robert Zemeckis se utiliza da tecnologia de captura de movimento que busca um realismo ao menos na movimentação das figuras humanas, ainda que seu intuito seja mirar na magia e reconquista da crença em figura míticas, como o Papai Noel e a mitologia que o envolve.
A filmografia de Zemeckis é conhecida por brincar com o lúdico, e aqui não é diferente. O roteiro para ser bem digerido pelo espectador precisa ser encarado como uma história sobre magia e crenças abortadas. A música de Alan Silvestri ajuda a pontuar essa sensação de que a vida segundo os olhos de uma criança é mais bonita, mesmo que essa criança não creia mais em figuras lendárias, como é o caso do personagem central.
O filme se vale de um advento bastante novo para sua época, e ao menos o personagem principal é bem animado. Já os adultos e os personagens infantis periféricos causam espanto ao olhar. Isso se dá graças ao conceito de Vale da Estranheza (no original Uncanny Valley), que prega que figuras que imitam a humana quando se aproximam do que é o homem se tornam estranhas.
Os diálogos e interações são bastante artificiais, mas não tanto quanto as tentativas de fazer números musicais. Os garçons que servem os vagões são tão duros que parecem imitações de androides. Essa questão é aplacada de certa forma pelas partes envolvendo os animais correndo, voando e interagindo com as coisas típicas dos cenários. Os lobos e águias representam mais que apenas animais típicos da fauna norte-americana, e resultam em representantes do senso de aventura da obra.
O filme é irregular, com momentos emocionantes e sequências de ação onde a beleza da época mais mágica do ano é soberana, enquanto outros são estranhos e fora de lugar, como a configuração das crianças entoando músicas. Ao menos quando se chega a estação final, o lar do Papai Noel, se resgata o caráter mágico com uma sequência de eventos que mostram a intimidade dos funcionários élficos, incluindo até a arquitetura de casas em miniatura já que eles são pequenos.
O cuidado com o visual de cenários e figurinos dos habitantes do lugar mágico quebra demais o ceticismo do personagem central de O Expresso Polar, e esse certamente é um filme que tem bastante audácia, sendo pioneiro em muitos pontos que se tornariam bastante comuns em produções infantis e adultas mais atuais, e infelizmente, pagou um alto preço por conta das técnicas de captura de movimento. Ao menos sua mensagem de esperança e de resgate ao lúdico é bem representada e exemplificada.