Crítica | Narrativas do Pós
Narrativas do Pós é um filme experimental que une clichês de filmes, livros e seriados de Sci-Fi com a problemática da pandemia de Covid-19. O documentário de Graubi Garcia e Jairo Neto busca enxergar como o mundo funcionará após a pandemia do novo coronavírus, e se gaba por todas as entrevistas terem sido gravadas de maneira remota.
A montagem favorece demais o consumo da produção. Além disso, a trilha repleta de batidas de funk ajuda a fortificar a ideia do formato ser necessariamente moderno. Os diretores variam o estilo da narrativa, apelando em alguns pontos para as vozes em off de autores de ficção científica como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Ray Bradbury, além de muitas referencias visuais como Alien: O Oitavo Passageiro, O Sétimo Selo, Enigma de Andrômeda, O Exterminador do Futuro, Ex-Machina e tantos outros. Entre as referências, as mais notáveis são Matadouro Cinco tanto o filme quanto o livro de Kurt Vonnegut, e O Homem do Castelo Alto, série baseada nos livros de Philip K. Dick, que são símbolos de distopias que pareciam distantes em algum ponto da história, mas são assustadoramente reais e tangíveis atualmente, graças ao avanço negacionista e de extrema direita que tomou posse do Brasil e de vários países do mundo.
O documentário é pontual. Não se envolver com ele ao assisti-lo é praticamente impossível. Não se passa incólume por ele, seja ao ter contemplada alguma referência popular ou meramente pela questão sentimental. Os entrevistados são pessoas da arte, gente do cinema, cientistas políticos e todos tem algo a falar. A forma como esses discursos chegam ao público não é refém do formato, ao contrário, texto e edição conversam bem juntos, gerando informação, discussão. As referências ao futuro e à literatura especulativa é esperta, denuncia as situações tristes pelas quais passa o país e o descaso com as vítimas da pandemia, entre os mortos e os que aguardam a vacina.
Narrativas do Pós abre possibilidades sobre o futuro, mas também olha para dentro, para o presente e em como é bizarra a banalização da vida e da saúde do povo. O filme faz tal análise apelando para produtos de fácil consumo, para as alternativas possíveis baseado em tudo que já foi escrito, filmado e consumido, para abrir possibilidade de futuro, mesmo que ele não seja cheio de esperanças.