Crítica | Os Fantasmas de Scrooge
Ebenezer Scrooge (Jim Carrey) é um senhor de idade avançada, rabugento e de caráter duvidoso. Nas primeiras cenas de Os Fantasmas de Scrooge ele observa o corpo de Jacob Marley, um antigo amigo que faleceu. Sovina, ele demora a pagar o agente funerário que prestou os serviços finais ao seu antigo sócio, e isso dá um pouco a dimensão de quem ele é. Dentre as muitas versões de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, agora conduzida por Robert Zemeckis, esta é certamente a mais focada em estabelecer a personalidade do seu protagonista como a de um homem amargurado.
Esta adaptação é bastante parecida com o longa em live action de 1984, Um Conto de Natal de Clive Donner, onde o personagem central é vivido por George C. Scott, que claramente é o molde para esse Ebenezer. Tal qual foi com O Expresso Polar, filme lançado em 2004, esse também se utiliza da técnica de captura de imagem para produzir os movimentos de seus personagens. Aqui os personagens humanos são ligeiramente melhor encaixados e menos estranhos do que foi no filme anterior.
O conflito do filme se dá com qualquer pessoa minimamente sentimental, discutindo com o velho reclamão a respeito de seus hábitos isolacionistas. Um parente o chama para quebrar sua rotina de amargura e venha cear com eles na véspera do natal, seus empregados pedem mais tempo para ficar com a família, seus vizinhos cantarolam hinos natalinos, mas ele segue frio e gélido. Praticamente todas as pessoas amam a atmosfera natalina, confraternizam e brincam nas ruas, menos Scrooge.
Se a animação com os coadjuvantes prossegue esquisita (principalmente os adultos que andam na periferia do protagonista), aos menos os fantasmas são bem detalhados. Suas formas espectrais tem cores vivas, e Carrey mesmo em baixa e longe dos sucessos indiscutíveis de anos anteriores consegue fazer ótimos papéis, no plural. Ele é bastante exigido, uma vez que atua não só como Scrooge, como é também os espíritos que o assolam. Por mais terror que eles causem no velho, é impossível não rir com cada um deles. Toda a jornada nesse sentido é fluida, e não causa tanto estranhamento quanto as outras empreitadas de Zemeckis nesse estilo de narrativa.
A mensagem que Dickens passou em seu conto era bastante cabível, mas a lenda de Scrooge é um bocado vaidosa e sovina até na reflexão e arrependimento que Ebenezer tem. Ao menos no que toca as partes onde ele se compadece de seu empregado Bob Cratchit e tenta justificar para que as pessoas percebam sua mudança, antes de finalmente partir e se unir ao seu antigo sócio. Zemeckis tenta revitalizar isso para uma atualidade, mas não consegue cem por cento, ainda assim, a forma como ele trata o conto antigo é carinhosa e sentimental, resultando em uma mensagem que ao menos prega o bem final, mesmo que deixe a amarga sensação de quem os fins justificam os meios.