Tag: Drica Moraes

  • Review | Sob Pressão – 3ª Temporada

    Review | Sob Pressão – 3ª Temporada

    Após duas temporadas de qualidade discutível, mas muita audiência e grande elogios sobre a atuação de seu elenco principal, Sob Pressão 3ª Temporada começa mostrando uma bela mudança de status, com um problema pontual e grave, envolvendo algo real – no caso, a greve dos caminhoneiros recente – além de por Evandro e Carolina como consultores médicos de autoridades, atendendo ligações e instruindo pessoas ao invés de estarem perto de mesas de cirurgia. Obviamente que essa dinâmica seria temporária e Julio Andrade e Marjorie Estiano voltariam ao cotidiano do hospital, como sempre faziam.

    Esta deveria ser o ultimo ano do seriado, que obviamente foi renovado possivelmente para duas temporadas, e como era de se esperar não demora a mais pessoas do elenco antigo aparecerem, além de se acrescentar novas. Décio, personagem de Bruno Garcia está no São Tomé Apóstolo, e convida a dupla de protagonistas para trabalhar com eles. Esse hospital é cuidado por uma freira, vivida por sua vez por Joana Fomm, que nas poucas aparições que faz, brilha muito, e ressiguinifica mais uma vez a incredulidade de Evandro.

    O grande problema desta terceira parte é o mesmo dos outros: tramas de namoro rocambolescas, clima folhetinesco, uso de drama via problemas financeiros típicos de hospitais, relações sentimentais conflitantes no corpo de médicos. Basicamente se repete a mesma fórmula de sempre, e se aposta na química do elenco e na entrega de seus interpretes. Nesse ponto, o acréscimo de Drica Moraes traz um bom vigor, pois sua personagem, Vera Lucia Veiga é a mais humanizada possível, uma mulher falha, bonita, mas que não tem receio em aparentar sua idade de mais de 40.

    Evandro tem dificuldade em exercer as novas funções que lhe são imposta, ele é  pouco organizado, e o fato de estar sempre pilhado piora sua situação. Das suas atitudes de liderança poucas se destacam positivamente e o roteiro é esperto suficiente para explorar isso, mostrando ele passando o bastão e assumindo seus defeitos. Há momentos bem constrangedores e irreais, como quando uma violonista tem uma síndrome e sempre desmaia quando toca, e mesmo assim, os médicos deixam ela praticar isso até ficar desacordada, também irrita a formulinha de pessoas desconhecidas, vivendo suas vidas até que algo pesado aconteça para que elas caiam magicamente no hospital de Evandro e cia.

    Apesar do sensacionalismo,  envolvendo alguns casos de fraude de seguro, os episódios 9 e 10 são fortes e melhoram demais o quadro geral, bem como os quatro últimos, que soam melancólicos, refletindo sobre uma briga do casal de personagens principais. Essa é uma temporada muito centrada em Carolina e Evandro, fato que faz perguntar como será o futuro, já que há mais um aceno com mudanças. Ao menos, essa versão de Sob Pressão lida bem com separações e reencontros.

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  • Crítica | Getúlio

    Crítica | Getúlio

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    Getúlio Vargas foi um dos maiores nomes da política brasileira e um dos comandantes mais importantes da história do Brasil. O período de quase 20 anos do político no poder transformou radicalmente a face da República brasileira, o que levantou paixões a seu favor e contra, especialmente ao final de sua administração.

    O filme de João Jardim (do excelente Lixo Extraordinário), com roteiro de George Moura, retrata os últimos 19 dias da vida do ex-presidente, quando o governo é acometido por um turbilhão de críticas após o principal rival político de Vargas, o ferrenho anticomunista Carlos Lacerda, sofrer um atentado, descobrindo-se, logo depois, que os mentores do ato eram pessoas intimamente ligadas a Getúlio.

    Contando com fotografia e design de produção excelentes, o filme consegue reproduzir toda a ambientação da época e fazer o espectador se sentir naquela primeira metade da década de 1950. O Palácio do Catete também contribui enormemente nesse sentido, tendo em vista que o local se manteve praticamente inalterado desde os eventos retratados.

    Optando por uma ótica mais intimista e com toques de thriller psicológico, o diretor tenta mostrar o lado humano do presidente, já idoso, sofrendo todas as pressões políticas em um momento diferente do país, pois se na década de 30 Getúlio conseguiu impor seu modelo, já na democracia, durante a ascensão da Guerra Fria e da influência dos EUA  na América Latina, Vargas sofre a oposição dos setores da sociedade alinhados aos interesses americanos, enquanto sua postura nacionalista, outrora tão eficaz, agora atrai cada vez menos adeptos. O enfoque intimista e pessoal por vezes se torna desnecessariamente lento, e o uso da metalinguagem para explicar os pesadelos do personagem também se mostra repetitivo, dando ao filme um certo tom novelístico característico da TV brasileira.

    Essa pressão se manifestava na figura de Carlos Lacerda (Alexandre Borges), governador da Guanabara e principal porta-voz do udenismo. Suas ferozes críticas ao presidente iam desde o moralismo simplista de acusá-lo de causar todos os problemas do país, até o de culpá-lo pela degeneração da democracia e pela explosão endêmica da corrupção, discurso este muito usado até hoje pelos setores herdeiros do udenismo contra governos que não conseguem vencer no jogo democrático.

    A figura de Carlos Lacerda no filme é mostrada de forma distante, com discursos inflamados, transmitidos na televisão, exigindo a renúncia de Vargas  uma escolha estranha, pois naquela época a TV não era utilizada como meio de comunicação em massa, pois havia poucos aparelhos no país. Esse papel era desempenhado pelo rádio. No entanto, uma construção maior desse personagem poderia tornar a trama menos maniqueísta.

    Maniqueísmo este que se manifesta o tempo todo ao focar a figura de Vargas de forma uníssona, em dúvida apenas quanto ao que mostrar em relação a sua honestidade em lidar com o problema. O presidente é retratado como uma pessoa íntegra que desconhecia absolutamente tudo o que se passava com sua guarda pessoal. Ainda que não soubesse sobre o atentado propriamente dito, para alguém tão centralizador como ele, torna-se um fato que, se não impossível, bastante improvável. No final, tendemos a nos simpatizar com Vargas e antagonizar Lacerda de maneira simplista em razão dessa abordagem.

    O que é muito bem retratado é a relação ambígua com os militares, que já se mostravam descontentes com a democracia e ávidos por terem uma participação maior no poder desde a Era Vargas. Enquanto alguns militares lutavam para manter o legalismo, grande parte se organizava para exigir a renúncia do presidente e preparar o terreno para um golpe militar, o que não seria novidade nem no Brasil, nem na América Latina no período.

    Também merece destaque a atuação de Tony Ramos no papel do presidente. Apesar do exagero do tamanho da barriga e do pouco trabalho com o sotaque gaúcho, o ator transmite ao personagem todo o peso dramático que os eventos narrados impuseram a Vargas.

    O suicídio do ex-presidente no filme também possui parte de seu impacto retirado por não ter sido bem construída a cadeia de eventos que levou a esse fato. Quando a situação se torna insustentável, após Vargas ter abdicado de tomar qualquer posição ofensiva em sua defesa, a única saída possível ao presidente parece ter sido o suicídio, sozinho em seu quarto com seu revólver. O ato, mostrado de forma engrandecedora, oculta os relatos de que, após o tiro, Getúlio sobreviveu ainda por algumas horas. Também oculta, dentre a comoção popular por sua morte, a ira de parte da população que depredou sedes e carros de jornais opositores, caso de O Globo, que teve papel chave na oposição ao governante, ausência essa convenientemente deixada de lado no filme.

    Dessa forma, Getúlio opta conscientemente por construir um personagem que é fruto de escolhas da direção, excluindo algumas informações e exaltando outras. Apesar de ter sucesso em compor um personagem forte mostrando seus dilemas internos e pesadelos, falha em dar a profundidade necessária a seus algozes e aos eventos que levaram a escolha pelo seu suicídio. Talvez por isso, o filme se mostre interessante somente a quem já conheça os fatos e pessoas ali descritos, se mostrando uma experiência não muito agradável ao espectador tradicional.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.