Crítica | Mundo Proibido
Mundo Proibido, de Ralph Bakshi, começa no desembarque de um avião militar de veteranos da Segunda Guerra Mundial em Las Vegas, 1945, onde Frank Harris (Brad Pitt) desembarca para encontrar sua amada mãe. Depois dos terríveis dias na Europa, sofrendo toda sorte de dissabores, Frank acreditava que teria alguma tranquilidade, até que um evento inesperado (e traumático) ocorre.
A trama se encaminha para a atualidade, nos anos noventa, onde o presidiário Jack Deeb (Gabriel Byrne) é cooptado para fora de sua prisão física, em um estranho portal que o coloca nesse mundo de desenho animado. Bakshi utiliza toda sua experiência como animador, para estabelecer um mundo cartunizado adulto e sacana, que conversa bem com a nossa realidade humana, tão cínica quanto era a arte conceitual noventista.
Nota-se no trabalho do realizador clara influência de Tex Avery, o mesmo que inspirou os quadrinhos d’O Máskara. As insinuações sexuais dentro das sequências com desenhos lembram o que se via nas revistas italianas como publicações da natureza de Squeak The Mouse. Há um bocado dos quadrinhos surtados em sua fórmula narrativa, que só não ficam melhor encaixados graças as claras limitações tecnológicas dos anos noventa.
Toda a questão envolvendo a femme fatale que Bassinger interpreta tem toda a cara do que viria a ser a cultura pop pós-década de 80. Criatura querendo se igualar ao criador é um conceito arrogante, mas que estava bastante em voga no mundo pós-Guerra Fria, onde as sensações e sentimentos comuns não pareciam mais compreender a complexidade do pensamento humano e a individualidade se colocava acima de outras questões.
A utilização dos desenhos para a quebra da inocência não é nova, os quadrinhos europeus já extrapolavam isso décadas atrás. As cores e música eletrônica ajudam a desmontar o ideal de mundo limpo e cheio de ordem, para colocar homens brancos, adultos e patéticos em um cenário de pecado típicos das cidades que têm a vida noturna, debochando da condição entorpecente da arquitetura desses lugares, da infantilidade e falta de maturidade dos homens comuns que buscam prazeres mundanos e baratos, sendo basicamente uma distração para a miséria comum da vida cotidiana de cada um deles.
Mundo Proibido é de certa forma um novo tomo de outra obra de Bakshi, O Gato Fritz, um dos longas animados que inaugurou a utilização de animações para contar histórias adultas. Aqui existe a extrapolação não só da linguagem (ainda que limitada) mas também da temática, já que os limites sexuais entre criatura e criador já não são mais respeitadas. As resoluções no final da história são apressadas e pouco congruentes, mas o que coube ao diretor – fora os muitos problemas de produção – foi muito bem desenvolvido.