Crítica | Mulher-Maravilha
A expectativa em relação ao universo cinematográfico da DC Comics passou a importar ainda mais nos últimos tempos, seja pelos contratempos que fizeram Zack Snyder delegar a Joss Whedon a função de conduzir as cenas adicionais de Liga da Justiça, bem como as expectativas do último filme solo de herói antes da tão aguardada reunião do panteão de deuses da editora. Com uma responsabilidade enorme sobre si, Mulher-Maravilha causava uma espera enorme por parte dos fãs de quadrinhos, em especial depois dos fracassos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida, e seu resultado final é muito satisfatório.
Patty Jenkins é uma diretora que começou muito bem. Seu primeiro filme, Monster: Desejo Assassino, foi premiado e muito bem falado, mas de lá para cá passaram-se treze anos, e muitas contribuições em séries de TV. A espera, ao se perceber um filme conduzido por ela era de um produto com muito girl power e referências ao feminismo, e há um bocado de ambos, ainda que esse não seja um filme categoricamente feminista, fato que não chega a ser demérito, uma vez que grande parte das histórias clássicas de William “Charles” Moulton Marston eram o oposto disso, abusando do sexismo e soando fetichista em alguns momentos. O roteiro de Allan Heinberg erra em alguns pontos, mas não na argumentação pró-igualdade entre os sexos.
O filme começa com uma bela introdução da parte mitológica de origem de Diane Prince, com uma Gal Gadot que aparece somente com algum tempo de tela, e cada vez mais à vontade em seu papel. Themyscira é mostrada como um paraíso, repleto de belas paisagens e governado por mulheres, em especial pela Rainha Hipólita (Connie Nielsen) e sua irmã Antíope (Robin Wright). A primeira, governa a política da ilha, enquanto a outra serve de guarda e prepara a defesa do local. Entre ambas há a preocupação com o futuro de Diana, que tem sobre si uma promessa, de ser ela a chave para acabar com os resquícios do deus da Guerra, Ares.
O chamado à aventura ocorre quando Steve Trevor (Chris Pine) cai acidentalmente através do disfarce geral do arquipélago, causando na herdeira do trono uma curiosidade atroz pelo mundo externo, lançando-se assim ao mundo dos homens, apesar das reprimendas de seus parentes, e a partir daí começa uma jornada com um humor afiado, ao estilo dos melhores filmes da Marvel Studios.
Nota-se um uso grande do artifício do slow motion, semelhante aos filmes dirigidos por Snyder, ainda que aqui seja utilizado de maneira mais funcional, e não tão corriqueira. O filme é pontual e econômico, e não abusa da fotografia escurecida de outros produtos do DCEU. A escala das cenas é grandiosa e os personagens secundários acrescentam a trama, sem precisar de um tempo demasiado para desenvolver origens ou ligações com a heroína.
Jenkins acerta no tom, produzindo um filme que consegue ao mesmo tempo agradar plateias mais progressistas e interessadas em analisar personagens femininas fortes e independentes, sem descuidar do público nerd desejoso por uma aventura escapista. A química entre Gadot e Pine é muito bem aproveitada, bem como o potencial de piadas com os conhecimentos que a amazona passa a ter no novo mundo a ser explorado. De negativo, há uma utilização pouco proveitosa do vilão, que tem um plano mirabolante para arredar a personagem principal, fato que evidentemente não dá certo, uma vez que todos os eventos posteriores ocorrem quase cem anos após essa aventura, mais ainda assim, nada que tire o brilho desta Mulher-Maravilha, fato este que faz ter curiosidade por mais exemplares na filmografia cinematográfica da diretora, bem como também uma avidez por mais participações da mesma nesse universo compartilhado com Batman, Superman e cia.
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