Crítica | Carta Selvagem
Carga Explosiva foi o primeiro papel principal de Jason Statham, e um bom cartão de visitas que ainda hoje lhe garante o status de astro de ação contemporâneo. O performático filme produzido por Luc Besson foi lançado em uma época em que coreografias marciais eram uma vertente em decadência. Ainda assim, entregava ao público a necessária ação frenética e destacava o ator como um brucutu em potencial.
Representante de um único estilo de papel, o personagem bruto com um passado violento, suas personagens se configuram como o tradicional herói de ação fundamentado na década de 80. Homens solitários e fortes fisicamente com potencial para serem um exército de um homem só. A trilogia Carga Explosiva e a paródia cômica Adrenalina trazem o melhor do ator. Ação direta, violenta e rápida, com maior enfoque para a luta corpo a corpo.
Se estabelecermos essas primeiras produções como um parâmetro, observamos que o ator tentou diversificar a carreira em filmes de ação sem as lutas desenfreadas dessas primeiras interpretações. Histórias levemente dramáticas que, supostamente, garantiriam mais peso aos seus personagens. As cenas de ação se tornaram menores e mais concentradas e, em certos filmes, quase inexistentes. Uma ausência decepcionante se você espera que o ator entregue a brutalidade costumeira do gênero.
Dirigida por Simon West, responsável por diversos filmes medianos e os excelentes Con Air – A Rota da Fuga e Mercenários 2, Carta Selvagem é a nova produção solo de Statham. Dessa vez, o ator é Nick Wild, um mercenário que vive em Las Vegas como consultor de segurança. Quando uma ex-namorada é espancada por um figurão da cidade, a personagem se vê obrigada a retornar à violência que tentou deixar para trás. Baseado em um livro de William Goldman, roteirista responsável por grandes obras como Butch Cassidy e Maratona da Morte, a trama já fora adaptada anteriormente em 1985 com Burt Reynolds no papel principal.
A vingança ocupa aproximadamente um terço do filme, como um primeiro ato de uma trama maior. Wild tem ciência de que, após a execução da vingança, deve sair da cidade e, à procura de dinheiro, passa a apostar freneticamente, e vencer, em uma mesa de blackjack. Um entreato que dura mais do que necessário e não parece dramático e urgente o suficiente. A trama se arrasta fazendo o público se perguntar se haverá algum momento em que a ação entrará em cena definitivamente.
Há poucas cenas de ação no longa-metragem. West incorre no erro de apresentar os primeiros embates em câmera lenta, um recurso saturado no estilo e que ameniza o potencial das lutas de Statham. Normalmente, é sua agilidade nas artes marciais e a brutalidade que marcam suas cenas coreografadas. Promovê-las em câmera lenta torna-se diferente do habitual, sem dúvida. Mas perde em impacto.
O terceiro e último ato da história retorna a ação em boas sequências e tenta retomar o pulso de uma situação-limite, mas nenhum personagem parece ameaçador para tornar-se um problema para a missão de fuga da personagem. Ao tentar diversificar sua carreira, o britânico tem estrelado filmes que seu público-alvo não deseja ver. E a cada nova produção, permanece a expectativa de que seja esta a obra que lavará a alma do ator, em fúria, porrada e sangue. Faltam-lhe boas histórias que direcionem seu talento para aquilo que Statham faz de melhor: ser um astro de ação físico, sem um drama profundo que o afaste do brucutu que se tornou.