Crítica | O Alvorecer de Kaiju Eiga
O Alvorecer de Kaiju Eiga é um documentário abrangente e elucidativo a respeito do fenômeno dos filmes de monstros gigantes japoneses pós-segunda guerra. Conduzido por Jonathan Bellés, o longa traça um paralelo entre a bomba atômica lançada em Hiroshima com o fenômeno de monstros gigantes atacando Tóquio e outras cidades do Japão.
Na hora de falar a respeito da saga Gojira/Godzilla o filme detalha as diferentes fases da saga comandada pela Toho e destaca as eras Showa, Heisei, Millenium e Reiwa. Para remontar essas questões, Bellés entrevista membros da produção, entre eles o ator Akira Takarada, de Godzilla de 1954.
Uma das boas histórias resgatadas é a do especialista em efeitos especiais Eiji Tsubaraya, que na década de cinquenta foi impedido de assinar as obras que participava por conta dos filmes propagandistas japoneses pré-Segunda Guerra Mundial que prestou serviços. O documentário revela sem pudor que após a derrota do Eixo para os Aliados, a política americana impediu gente da indústria da arte de trabalhar com o que sabiam fazer, entre eles Tsubaraya. A importância dele é tanta que quando faleceu, Ishiro Honda, diretor de Godzilla e King Kong vs Godzilla, afirmou que ele era o mais importante dos artistas que produziram filmes com Kaijus e que sem ele o gênero tokusatsu não existiria.
O filme reúne entrevistas antigas, e essas histórias de bastidores enriquecem bastante a experiência de ver os filmes e ajudam a entender um pouco do fenômeno que essas criaturas causaram em público e crítica. É curioso como Gojira causou mais impacto do que King Kong, de 1933, no sentido de criar um subgênero e produtos relacionados, evidentemente, os efeitos visuais duas décadas depois colaboraram com isso. No entanto, o fator defendido em O Alvorecer de Kaiju Eiga para o maior sucesso de Godzilla em comparação com seu “rival” foi o sentimento melancólico do Japão pós-guerra, pois perder o conflito aparentemente fez que o público não tivesse tanto pudor em ser mais pessimista e depressivo, enquanto os “vencedores” dos Estados Unidos, teriam afeição mais natural a temáticas mais inspiradoras e otimistas, tanto que Godzilla: O Rei dos Monstros, a versão dos EUA para Godzilla, lançada em 1956, foi reeditada com roteiro diferente e um forte esvaziamento do subtexto antinuclear.
Bellés faz um filme que introduz muito bem o conceito envolvendo este subgênero, mesmo para aqueles que não são entusiastas, e ainda traça paralelos com a sociedade e o consumo desse tipo de produto. Além disso, retrata como Gojira foi evoluindo em conceito, em alguns pontos sendo o resultado da interferência humana na Terra, ora a reencarnação das almas perdidas na guerra, e em outras servindo de alerta ao consumo desenfreado de recursos naturais. Mesmo tendo menos de uma hora, o filme consegue traçar paralelos da filmografia com as catástrofes do mundo moderno e ainda causar curiosidade no espectador.