Tag: jair bolsonaro

  • Crítica | 8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

    Crítica | 8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

    Crítica 8 Presidentes e 1 Juramento

    8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente é um documentário em longa-metragem, conduzido pela veterana atriz Carla Camurati, conhecida por dirigir Carlota Joaquina: A Princesa do Brasil, filme marco zero da retomada do cinema nacional pós-queda da Ditadura Militar. O filme narra os eventos da recém-adquirida possibilidade de voto do povo brasileiro até Jair Bolsonaro.

    O ponto inicial do longa é a campanha das Diretas Já, seguido da posse de José Sarney após a morte de Tancredo. É curioso como não há narração, a produção optou pelas imagens contando a história, associando-as à recortes de jornais impressos de época e anúncios de rádio e televisão.

    O filme possui algumas cenas bastante raras e algumas curiosas. Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso são mostrados índios protestando. Esse tom pode fazer o espectador acreditar que o tom do governo seria agressivo, mas não é, na verdade, é bastante respeitoso, ao contrário do que se vê ao falar de seu antecessor, Fernando Collor de Mello, flagrado aqui como um político que não conseguia tomar as rédeas da economia do Brasil.

    O filme não se furta em mostrar que o embrião do Bolsa Família foi originado por outros programas de distribuição de renda da época de FHC, assim como explana a mudança de postura que Luiz Inácio Lula da Silva fez para se tornar um candidato viável politicamente. O longa passa pelos escândalos do Mensalão e a participação do ex-deputado Roberto Jefferson, inclusive destacando momentos pitorescos, como a chegada dele com um olho roxo no Congresso. Não há concessões.

    Curiosamente, as partes que mostram a história do Partido dos Trabalhadores na presidência parecem mais breves, o que é até compreensível, visto que há tantos trabalhos em documentário sobre esses processos, como Entreatos, O Processo, Alvorada e tantos outros produtos que abordaram essa época. Há um belo acerto ao mostrar como as manifestações de 2013 influenciaram a queda de popularidade das figuras de Dilma Rousseff e Lula, assim como também é correta a fala de que tais atos não eram compostos exclusivamente pela direita. Ainda assim se fala bastante do crescimento econômico do país e dos escândalos de corrupção.

    A parte mais correta do filme é quando se destaca como a evolução da internet influenciou a democracia no continente americano e no Brasil. Redes sociais e memes são sabiamente apontados como o fiel da balança para os últimos resultados da política nacional, seja no golpe aplicado em Dilma, como também na popularização de Bolsonaro.

    8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente é uma boa forma de introduzir uma pessoa que nada saiba sobre como o caótico cenário sócio político do país chegou a esse 2021, mas ainda assim carece de um ritmo aceitável, suas mais de duas horas são extensas, e isso faz o documentário parecer um especial de TV de final de ano, trocando os últimos 365 dias para todos os anos pós-Constituição.

  • Crítica | Cercados: A Imprensa Contra o Negacionismo da Pandemia

    Crítica | Cercados: A Imprensa Contra o Negacionismo da Pandemia

    Cercados: A Imprensa Contra o Negacionismo da Pandemia se inicia em Maio de 2020, em um pronunciamento do então ministro da saúde Nelson Teich, no dia em que ele se retirou do cargo voluntariamente. O especial começa mostrando os bastidores do Jornal Nacional, o programa jornalístico da maior rede de televisão do Brasil, com William Bonner e sua equipe de produção e reportagem, em meio a bagunça que foi toda a condução federal do país em meio a epidemia de Covid-19, sem ter um norte sequer de como o povo deveria se comportar.

    As filmagens mostram os bastidores do cercadinho próximo da Alvorada, incluindo uma cena patética de uma fã ardorosa do presidente atacando membros da imprensa. O documentário conduzido por Caio Cavechini acompanha o dia-a-dia de pessoas que cobrem os eventos do país, e passam por cemitérios de covas coletivas, acompanhando a tristeza e luto dos parentes que perderam pessoas para essa doença.

    Boa parte das informações faladas aqui já se encontram datadas. A velocidade com que o governo comete erros, nega suas próprias atitudes e se mete em vergonhas faz com que no momento que se apura uma mentira, já estejam se propagando dezenas de outras mentiras. Informar no Brasil acaba sendo um trabalho inglório e infrutífero, de certa forma. Em muitas falas, Jair Bolsonaro relembra que economia e saúde são assuntos inseparáveis, ainda que esse comentário soe bastante cínico se tratando do presidente, não há como negar que boa parte do descuido com a saúde pública e a economia tem tudo a ver com o modo como o Estado brasileiro é gerido. E Cavachini não se exime de escolher um lado, ainda que seja o oposto de seus financiadores. Ainda bem.

    O trabalho do documentário é de um esforço hercúleo. Cercados é esteticamente simples e a edição dá o tom de desespero que a maioria dos jornalistas têm trabalhado nos últimos meses. O esforço em dar voz a um discurso que é tradicional alvo de descaso de autoridades é necessário, além de um registro histórico importante desse difícil momento que vivemos.

     

  • Resenha | Minha Especialidade é Matar – Henry Bugalho

    Resenha | Minha Especialidade é Matar – Henry Bugalho

    Minha Especialidade é Matar compila textos do filósofo e escritor Henry Bugalho, mais conhecido por conta de seus vídeos no Youtube veiculados em seu canal homônimo. O livro compila publicações desde 2017 que miram a figura do presidente Jair Messias Bolsonaro, bem como sobre seu histórico enquanto deputado federal.

    Lançado em junho de 2020, a obra reúne textos feitos tanto para o jornal Folha de São Paulo, como para a revista Carta Capital. As narrativas miram aprofundar as reflexões a respeito do bolsonarismo, embora não foque suas origens e sim suas ramificações, escrutinando as falas misóginas, racistas e homofobias do político, em especial, a frase pesada que também nomeia o livro.

    Boa parte da esquerda não gosta da figura do autor. E a análise desses textos não mirará uma desconstrução sobre suas crenças necessariamente. Fato é que, tanto em seus vídeos quanto nesses textos, há um estilo bem popular e direto na fala, tanto em matéria de linguagem quanto em conteúdo. A forma como ele se expressa é fácil de compreender, mesmo para o leitor ou espectador que não tenha muita base teórica marxista ou progressista. Para uma introdução a um pensamento anti-reacionário, o livro serve bem ao propósito, especialmente por se tratar de um discurso não-academicista. A profissão de Bugalho, também romancista e contista, coloca-o em uma confortável posição, capaz de articular seus conhecimentos e posições com clareza, ainda que converse com um nicho de leitores.

    A maior riqueza deste Minha Especialidade é Matar certamente é a desconstrução de figura mítica de Bolsonaro, principalmente ao posicioná-lo como uma antítese a todo e qualquer valor do cristianismo tolerante ou não. A hipocrisia e a falsa aversão do sujeito e seus apoiadores é muito bem desenvolvida, desconstruída ao ponto de ser fácil interpretá-lo como a face de um possível Anti Cristo, pois os mandamentos cristãos de amar ao próximo como a si mesmo não são seguidos de maneira alguma.

    Em outro livro do autor, em parceria com Heloísa de Carvalho, o autor fala de Olavo de Carvalho. Em Meu Pai, o Guru se aprofunda nas origens do pensamento e tática ideológica do atual presidente. Uma narrativa que serve como leitura completar a essa, ainda mais que ambos estão disponíveis em plataformas de leitura digital. Em ambas é perceptível a reflexão sobre o método super agressivo em fala e postura que o político e dito filósofo utilizam como forma de comunicação.

    Compre: Minha Especialidade é Matar.

  • Marxismo Cultural 08 | O Governo e a Pandemia

    Marxismo Cultural 08 | O Governo e a Pandemia

    Avantes, Camaradas! Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira e Julio Assano Junior (@Julio_Edita) se reúnem para comentar sobre os rumos da política nacional e a pandemia de COVID-19.

    Duração: 73 min.
    Edição: Julio Assano Junior
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  • Marxismo Cultural 07 | Crise no PSL, Lula Solto e o Valor do Salário Minimo

    Marxismo Cultural 07 | Crise no PSL, Lula Solto e o Valor do Salário Minimo

    Avante, Camaradas! Filipe Pereira (@Filipereiral) e Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) se reúnem para comentar um pouco sobre a crise no PSL, o valor e poder de compra do brasileiro e um breve comentário sobre a recente liberação do ex-presidente Lula. Confira aí o papo sobre os fatores políticos das últimas semanas.

    Duração: 135 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
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    Comentados na Edição

    Investimentos de milionários chega a baixa renda
    WSI Minimal Wage Database – Jan 2018
    WSI Minimal Wage Database – Jan 2019
    50% dos trabalhadores brasileiros ganham menos de 1 salário mínimo – 2017
    23,9% das famílias brasileiras vivem com R$1245,00 em média
    Secretário da Previdência lamenta votação sobre abono salarial no Senado
    Trecho entrevista Tábata Amaral
    Salário mínimo, estupidez máxima
    Senado derruba restrição ao abono salarial
    Congresso apoia salário mínimo de R$1040,00 em 2020
    Congresso aprova orçamento de 2020; salário mínimo fica sem aumento real
    Nota Técnica – A importância da política de valorização do salário mínimo e a urgência de renová-la – Dieese – Abril 2019

    Indicações Culturais

    Seu salário diante da realidade brasileira
    Compare seus rendimentos (OCDE)

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  • Marxismo Cultural 06 | Censura nas Artes e a Corrida para Prefeitura do RJ

    Marxismo Cultural 06 | Censura nas Artes e a Corrida para Prefeitura do RJ

    Avante, Camaradas! Filipe Pereira e Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) se reúnem para comentar um pouco sobre a censura ocorrida na Bienal do Livro e outros eventos artísticos no Brasil, a entrevista do ex-presidente Michel Temer e a largada para a corrida à prefeitura no Rio de Janeiro.

    Duração: 91 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
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  • Marxismo Cultural 05 | A Popularidade de Bolsonaro e as Queimadas na região amazônica

    Marxismo Cultural 05 | A Popularidade de Bolsonaro e as Queimadas na região amazônica

    Avante, Camaradas! Filipe Pereira e Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) se reúnem para comentar um pouco sobre a conjuntura nas últimas semanas, desde os primeiros esboços da corrida presidencial de 2022, a queda de popularidade do Presidente Jair Bolsonaro e as queimadas na região amazônica.

    Duração: 85 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
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  • Marxismo Cultural 04 | VazaJato, Reforma da Previdência e Tabata Amaral

    Marxismo Cultural 04 | VazaJato, Reforma da Previdência e Tabata Amaral

    Avante, Camaradas! Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira,  Rafa Klass (@lackingclass) e Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) se reúnem para comentar um pouco sobre a conjuntura nas últimas semanas, desde os vazamentos da Lava-Jato à destruição da previdência com auxílio de parlamentares do campo progressista.

    Duração: 126 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
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  • Crítica | Excelentíssimos

    Crítica | Excelentíssimos

    Narrado pelo próprio diretor Douglas Duarte, Excelentíssimos é mais um dos filmes que tenta documentar o processo de golpe/impeachment de Dilma Rousseff. Apesar de esse ser um assunto de interesse nacional é também um projeto muito pessoal do cineasta. Para traçar seu panorama, ele busca voltar a 2014, eleição que fez Dilma se reeleger pelo Partido dos Trabalhadores, no quarto mandato do partido e esse resgata se dá por conta do cineasta achar que ter autorização para filmar o congresso em 2016 é pouco para ter uma visão realmente crítica sobre todo o processo.

    Depois dos preâmbulos, o filme foca nos olhos de Dilma, Aecio Neves e até de Michel Temer, em material de campanha, quando o quadro ainda não parecia tão calamitoso. Aecio cumpriria todo o script de bom perdedor, embora tenha mudado de ideia muito rapidamente, abrindo mão dessa postura de aceitar a derrota ou só despistando para sua real intenção de tomar o poder, mesmo que a força. Duarte gasta um tempo mostrando um congresso do PSDB, encabeçado por Fernando Henrique Cardoso, que deliberadamente dá voz ao senador de São Paulo Aloysio Nunes, afirmando que o que ele falar, virará manchete de jornais e revistas (e ele está certo). Nunes, que foi candidato a vice em 2014 afirma duas coisas importantes, que não há como governar sem o PMDB (atual MDB) e que o impeachment é como uma bomba atômica, é feita para dissuadir, e não para ser jogada, e eles (FHC e cia) jogaram assim mesmo.

    O registro de Excelentíssimos é bem inteligente, e compreende uma investigação minuciosa da oposição, fato totalmente necessário para entender o quadro político pintado ali. Aécio declarava em “campanha” em 2015 – apelidada por muitos de terceiro turno – que o PSDB era o futuro. Isso, em 2018  após o fracasso tucano no legislativo e executivo soa engraçado, e nas frases do ex-senador há o termo “lambança” ao se referir ao PT, que curiosamente casa, no filme e no noticiário político, com a verba de 45 mil reais pagos a Janaína Paschoal, a mesma que abriu o processo de impeachment e que foi eleita a deputada estadual mais votada da historia.

    O filme é dividido em capítulos, e o segundo é chamado de Aliança Desfeita, se refere ao rompimento de PT e PMDB e é aqui que é mostrada a aliança improvável de forças como Eduardo Cunha, Movimento Brasil Livre o MBL, os tucanos e a Fiesp. Também se explicita um caráter rachado no PMDB, com Cunha aparentemente de um lado (embora isso seja muito discutível) e Temer e PSDB de outro. A exposição do comercial do PMDB, de aproximadamente 10 minutos e conduzido por Fernanda Hamalek deflagra o desejo deles de assumir o comando do país a qualquer custo. Não era período de eleições, no entanto Cunha, Renan Calheiros, Helder Barbalho, Romero Jucá protagonizavam a peça como se fossem celebridades. A escolha da montagem por colocar Paulo Skaf, da Fiesp logo após esses momento não é à toa, uma vez que ele foi candidato do MDB ao governo de São Paulo e por pouco não foi ao segundo turno.

    Na parte 3, fala-se bastante do impedimento de Luiz Inácio Lula da Silva de subir ao posto de  ministro da Casa Civil. Apesar do documentário ter um volume de informações considerável, a maior parte desses dados são mostrados de uma forma correta, a mostra do planejamento do PT em trazer Lula para tentar negociar a permanência de Dilma no poder é feita em contraponto ao esforço midiático do juiz Sergio Moro em desmoralizar a figura do politico também agindo como um político. É bastante detalhada a operação feita pelos mandatários da Lava Jato, a descrição da Medida Coercitiva e o espetáculo pirotécnico envolvido.. Mas o filme não é complacente com o Partido dos Trabalhadores, e põe a interrogação do porque o partido ainda acredita em ações jurídicas e porque ainda insiste em usar essa estratégia, mesmo sabendo que o jogo é viciado.

    Excelentíssimos julga o próximo ministro da Justiça Moro, mostrando que ele tinha uma pressa política e que os grande meios da imprensa o ajudaram nisso, tentando transformar a subida ao ministério como uma movimentação de fuga da alçada da Lava Jato, e a maioria dos argumentos desses opositores se baseavam em áudios vazados ilegalmente, com pedidos de esfihas, piadas em graça, falas com amigos, e que para esses, vale até que possíveis provas cabais.

    Há um personagem deplorável que Duarte acompanha, , o deputado Julio Lopes do PP do Rio de Janeiro, que  fala barbaridades e destila preconceito, mas em uma coisa Lopes está correto, o PT só queria atrasar o processo de decisão ou não pela saída de Dilma, mas isso não ocorria pela inércia do partido e sim pelo jogo de cartas marcadas, como já foi muito bem discutido em O Processo.

    A voz que o cineasta dá a oposição e não só ao PT e aliados é um diferencial que faz desse documentário um bom retrato do que foi toda a movimentação política. Do lado petista, o deputado Silvio Costa se destaca como articulador governista, incrédulo de que aquilo prosperará, denunciando que aquele movimento cheirava a elite paulistana ingrata e dizia que a  guerra de verdade era no plenário. Apesar dos seus prospectos estarem errados, seu julgamento foi correto. Enquanto isso, quando Miguel Reale e Janaina prestam depoimentos, falam brevemente sobre as pedaladas e muito sobre corrupção, crimes dos quais Dilma não participou e sim os que capitaneiam a comissão de investigação. Para o leitor menos atento pode parecer que o filme é tendencioso, mas essa parte em especifico não é, realmente os juristas falaram muito mais de corrupção do que o motivos das pedaladas mesmo.

    Lembro que ao assistir Eduardo Cunha falando na câmara, havia um cinismo absurdo, típico de quem jamais temeu qualquer ação da justiça e Douglas Duarte também traz esse aspecto ao centro das discussões.  Mesmo achincalhado no plenário, o até então presidente da câmara permanece frio diante das falas e insultos contra si,  na maior parte desses momentos critico e criticado estão no mesmo enquadramento. Ri e conversa como se não houvesse nada ali. Ao mesmo tempo o filme destaca a tentativa de reaproximação de Dilma dos movimentos populares, ainda que tardiamente, e também a julga, mostrando que demorou-se muito para o PT retomar as bases, erro esse que também se mostrou existente nas eleições de 2018.

    Na escolha por julgar alguns personagens, o longa beatifica a figura de José Eduardo Cardozo, em uma tomada de uma nitidez absurda,  com um close que quase invade a alma do advogado de defesa, assim como trata o deputado Carlos Naum como um mentiroso debochado com o povo, uma vez que quando ele se refere a Cunha ele alega que não é responsabilidade da câmara julga-lo já que o povo pode fazer isso, e com Dilma a mesma regra não vale.

    Ainda há espaço para analisar Jair Bolsonaro que se declarava pré candidato em 2016. A câmera foca um bom tempo na estranha figura quando ele  ainda era do PSC (o futuro presidente ainda trocaria de partido duas vezes antes do pleito) e o que se vê é um discurso demagógico, bufão, debochado, raso e sectário, prega uma união onde uns são mais iguais que os outros, apelando para chavões como ser contra o coitadismo. Aqui já havia o slogan Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos. Também é mostrado Onyx Lorenzoni, em uma reunião do PSDB e o registro dos bastidores mostra o baixo clero agindo, normalmente evocando mentiras, como um suposto projeto de lei que permite operação de troca de sexo para crianças.

    No final de Excelentissimos, Duarte narra os rumos de cada um dos envolvidos no impeachment, destaca falas de Dilma, de que a democracia será sempre o lado certo da historia, alem da de Temer, que repete irritantemente a frase que o marcou como presidente, não fale em crise, trabalhe. A governabilidade do PT tão criticada pela oposição é também usada por Michel e o documentário flagra o silêncio ensurdecedor de todos, inclusive relacionando o caso de Geddel Vieira (onde foram encontrado mais de 50 milhões em casa) e a falta de protestos relacionados a isso é impressionante, mas Duarte não é ingênuo, denuncia também os erros estratégicos do partido que governou o país nos últimos anos, mesmo que ponha em contraponto as injustiças cometidas contra o governo do partido, e é nesse ponto que seu filme se torna ainda mais poderoso, por não julgar que há inocentes puros e simples em todo esse processo.

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  • Crítica | Entre Os Homens de Bem

    Crítica | Entre Os Homens de Bem

    De Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, antes mesmo de mostrar o conteúdo do longa há um anúncio de que o filme não possui qualquer traço de verba pública ou mesmo de captação semelhante. Entre os Homens de Bem é focado na figura do deputado federal eleito pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL, do Estado do Rio de Janeiro, Jean Willys.

    Antes mesmo do discurso do biografado, é mostrado um ritual ligado as religiões afro-brasileiras, em meio a alguns discursos de políticos conservadores e de extrema direita, bradando basicamente contra a orientação sexual LGBT, vista em Jean e em alguns outros parlamentares. Em meio a crise política do Brasil em 2018, analisar esse tipo de discurso, que foi gravado na época antes de 2015, 2016, com as falas inflamadas de pastores, de dentro do parlamento e até de fora, uma vez que não aparecem somente Marco Feliciano, mas também Silas Malafaia, em um discurso preconceituoso, prepotente, arrogante e carregado de uma fala que foge demais a ideia de  um estado laico, que se agrava principalmente por essa fala ocorrer dentro da casa da lei.

    Os documentaristas usam as filmagens da edição do Big Brother Brasil em que Willys foi o campeão, para mostrar uma escalada de vitorias dele sobre preconceito, embora o fato dele ter sido alvo da panela que tentou eliminar ele precocemente do programa fosse contestável à época. Essa parte como um todo força um pouco a barra, ainda mais quando tenta dar uma legitimidade ao prêmio de vencedor ao professor como se fosse um sinônimo de que o Brasil realmente luta contra preconceitos homofóbicos, até porque pouco tempo depois um dos vencedores do reality show foi um sujeito claramente anti-gay.

    O filme e o deputado são bastante didáticos, no sentido de explicar onde exatamente o discurso pró família tradicional está errado e onde ele começa a perseguir as minorias, como se seus direitos fossem maiores que os dos outros. Jean lê uma historia de um medico gay, que ao não conseguir mais reprimir sua sexualidade, se assume e é tratado como endemoniado e possesso pelo diabo. Para quem já está acostumado com esse tipo de discurso, tal situação é extremamente banal, mas para quem não está situado no ambiente alienatório de quem condena a homo afetividade só por condenar ou por supostas leis espirituais, isso é assustador, ainda mais em se tratando do Brasil, que é uma pátria multi cultural e de diversidade religiosa muito difundida.

    O culto semanal acontece tradicionalmente dentro do Congresso, no entanto, há uma falácia dentro da conversa, em especial de Marcos Feliciano, de que os homossexuais querem privilégios, quando quem os tem é a bancada evangélica. Também se gasta um tempo discutindo a falácia que boa parte dos leigos, que encara pedofilia com homossexualidade, discussão essa já amplamente discutida entre juntas médicas e refutada cientificamente, mas ainda levantada por parte de alguns fundamentalistas desonestos.

    Um dos principais alvos do filme é destacar a visão limitada da relação sexual que muitos dos opositores do biografado tem, normalmente declarando que estas são feitas para e tão somente procriação, o que é obviamente uma mentira, além disso, há a denuncia do discurso que propaga que o PT investe na luta entre classes políticas, de gêneros e afins para justificar seu plano de poder. Essa ultima sentença vem da boca de Jair Bolsonaro, atual presidenciável. Parte da preocupação do deputado reeleito do PSOL, era com a quantidade exorbitante de votos de Bolsonaro, e os minutos finais de Entre Os Homens de Bem, destaca não só a rivalidade entre os dois plenários, mas também o crescimento da popularidade do militar de reserva eleito no Rio de Janeiro. Esse viés de denuncia talvez seja o argumento mais inteligente, apesar de hoje parecer previsível, pois já havia sido feita antes mesmo de se declarar mais categoricamente a chapa presidencial do personagem deplorável que é Bolsonaro.

    Cavechini e Barros não tem qualquer receio em parecer ou não parecerem parciais, e todas as bandeiras levantadas por Willys no decorrer dos 104 minutos do longa são justas e igualitárias, e apesar de alguns tropeços do político, ao falar a respeito do cenário da esquerda atual, e de algumas leituras bastante ingênuas na época da eleição – como por exemplo, a reclamação dele a aproximação de Dilma Roussef a Katia Abreu – seus mandatos tem sido preconizados por pautas muito corretas e progressistas, tanto em votação como em proposição de projetos, e o filme registra isso a maestria, misturando bem momentos de imagens inéditas muito intimas com videotapes de sessões da câmara, para muito além até das declarações do deputado que contradizem em algum modo sua militância progressista, do que está no filme, não há qualquer reprimenda ou crítica negativa a postura dele como representante do povo.

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  • Allan Goldman, Chiaroscuro Studios e a desconexão com a realidade

    Allan Goldman, Chiaroscuro Studios e a desconexão com a realidade

    A Agência Chiaroscuro Studios publicou esta semana uma declaração repudiando a posição do cartunista Allan Goldman, que através do estúdio presta serviços como freelancer para a DC Comics.

    Allan, que chegou a produzir Jovens Titãs e Superman, tem posicionamentos políticos bastante claros e fáceis de identificar mesmo em uma visita rápida vista ao seu perfil no Facebook, sendo a desconstrução da esquerda política sua aparente e principal motivação. Porém, diante do caso da moça de 16 anos vítima de um estupro coletivo na última semana, ele escreveu a seguinte postagem:

    yETG5aMHdOY

    A postagem que estava disponível até pouco tempo, hoje está indisponível ao público. Por não fazer muito sentido, é um tanto complicado entender o seu real posicionamento. Ou ele acha que mulheres e transexuais são sub-cobradas por seus crimes e os homens demasiadamente cobrados, ou acha que é impossível que mulheres estuprem, talvez relacionando o estupro ao sexo e não com a violência de se violar o corpo de alguém. Ambas prováveis abordagens problemáticas.

    Diante da repercussão do caso a Chiaroscuro Studios, que produz também a Comic Con Experience junto ao Omelete, publicou a seguinte nota:

    Capturar

    O estúdio recebeu apoio da maioria do público, com aproximadamente 8 mil “curtidas” e “amei” e apenas sinais de menos de 250 desaprovações na rede social até o momento em que esta matéria era escrita, apesar de notarmos uma organização de usuários para realizar manifestações pontuais na página da agência utilizando imagens de Jair Bolsonaro, mensagens de “Eu Luto pelo Fim do Feminismo” ou mesmo os chamando de intolerantes.

    A insensibilidade e falta de senso de proporção de Allan é notável, e isso em nada tem relação com seu viés político-institucional, mas sim com sua política diária, esta que é pessoal de cada um e que trata de como nos posicionamos em relação ao mundo.

    Ocorreu um crime que claramente mexe com ânimos e que tem sua seriedade intrínseca, porém ele escolheu tratar o assunto com deboche em cima, e regozijo em estar supostamente apontando o dedo em alguma hipocrisia. Isso o torna uma pessoa insensível, egoísta, infantil e que não entende bem os conceitos que ataca (questões de gênero são do âmbito científico, não político).

    Apesar disso tudo, as declarações dele não me parecem criminosas. Veja, mesmo não sendo criminosas, não significa que não serão contestadas pela sociedade. Podem e devem, e viver em sociedade é isso.

    As pessoas estão certas em se opor?

    Sim. Senso de ocasião é relacionado com o que se chama de mentalização, neurônios espelhos ligam observação e ação, e tanto nos permitem bocejar quando vemos alguém bocejar também, quanto compreender o que dizer e quando dizer. Senso que não nos permite rir de uma piada muito engraçada em um velório qualquer. É preciso ler o momento para identificar a abordagem. As pessoas sempre escolhem no lugar de quem irá se colocar e a desaprovação social está presente em todas nossas ações, e por estarem mais expostas devido as redes sociais ao colocar qualquer argumento para o público, estamos sujeitos à sua aprovação ou desaprovação.

    Demais artistas representados pelo estúdio também se posicionaram. Eddy Barrows criticou a agência por ter dado vazão pública ao rompimento, já Cris Bolson, José Aguiar e outros artistas apoiaram publicamente a decisão.

    Uma empresa está certa em demitir um funcionário por suas opiniões políticas?

    Novamente é preciso identificar que a posição político-ideológica não deve ser confundida com sua política pessoal, aquela do dia a dia. Não é aceitável demitir alguém por conta de quem a pessoa vota nas urnas. Isso seria aproveitar-se de uma hierarquia ou relação de necessidade para suprimir o pensamento do outro. A exceção ficaria para o caso de uma defesa claramente criminosa, que possam ferir a integridade física e moral de outras pessoas ou firam os direitos humanos. Embora seja possível defender que o deboche é parte de um comportamento que vê a violência como menos relevante e portanto à propaga, não há um incentivo claro à prática de violência.

    Allan Goldman não perdeu o emprego

    Veja, ele não é um empregado em que se tem uma relação de hierarquia, tão pouco a quebra foi devido seu posicionamento político-partidário, já que ele tem este posicionamento há anos, nunca deixou de demonstrar isso e mantinha suas atividades via a agência.

    A Chiaroscuro agencia e representa não só Allan, como diversos outros artistas, em uma relação de simetria. Na prática, é a Chiaroscuro Studios que trabalha para o quadrinista.

    É preciso supor que o contrato entre ele e o estúdio deva ser um contrato entre duas empresas, algo bem comum neste ramo. A finalização de um contrato é a finalização de uma relação comercial devido uma das empresas promover valores éticos diferentes daqueles pregados pela outra parte, tal como ocorreu com a quebra de contrato de patrocínio da Nike com o boxeador Manny Pacquiao que não teve suas declarações homofóbicas endossadas pela Nike, que buscou dissociação de seu nome com o atleta. Se uma empresa representa outra empresa deve haver alinhamento de valores, mesmo que esses valores sejam direcionamentos de marketing.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.