Tag: Luiz Inácio Lula da Silva

  • Crítica | 8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

    Crítica | 8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

    Crítica 8 Presidentes e 1 Juramento

    8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente é um documentário em longa-metragem, conduzido pela veterana atriz Carla Camurati, conhecida por dirigir Carlota Joaquina: A Princesa do Brasil, filme marco zero da retomada do cinema nacional pós-queda da Ditadura Militar. O filme narra os eventos da recém-adquirida possibilidade de voto do povo brasileiro até Jair Bolsonaro.

    O ponto inicial do longa é a campanha das Diretas Já, seguido da posse de José Sarney após a morte de Tancredo. É curioso como não há narração, a produção optou pelas imagens contando a história, associando-as à recortes de jornais impressos de época e anúncios de rádio e televisão.

    O filme possui algumas cenas bastante raras e algumas curiosas. Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso são mostrados índios protestando. Esse tom pode fazer o espectador acreditar que o tom do governo seria agressivo, mas não é, na verdade, é bastante respeitoso, ao contrário do que se vê ao falar de seu antecessor, Fernando Collor de Mello, flagrado aqui como um político que não conseguia tomar as rédeas da economia do Brasil.

    O filme não se furta em mostrar que o embrião do Bolsa Família foi originado por outros programas de distribuição de renda da época de FHC, assim como explana a mudança de postura que Luiz Inácio Lula da Silva fez para se tornar um candidato viável politicamente. O longa passa pelos escândalos do Mensalão e a participação do ex-deputado Roberto Jefferson, inclusive destacando momentos pitorescos, como a chegada dele com um olho roxo no Congresso. Não há concessões.

    Curiosamente, as partes que mostram a história do Partido dos Trabalhadores na presidência parecem mais breves, o que é até compreensível, visto que há tantos trabalhos em documentário sobre esses processos, como Entreatos, O Processo, Alvorada e tantos outros produtos que abordaram essa época. Há um belo acerto ao mostrar como as manifestações de 2013 influenciaram a queda de popularidade das figuras de Dilma Rousseff e Lula, assim como também é correta a fala de que tais atos não eram compostos exclusivamente pela direita. Ainda assim se fala bastante do crescimento econômico do país e dos escândalos de corrupção.

    A parte mais correta do filme é quando se destaca como a evolução da internet influenciou a democracia no continente americano e no Brasil. Redes sociais e memes são sabiamente apontados como o fiel da balança para os últimos resultados da política nacional, seja no golpe aplicado em Dilma, como também na popularização de Bolsonaro.

    8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente é uma boa forma de introduzir uma pessoa que nada saiba sobre como o caótico cenário sócio político do país chegou a esse 2021, mas ainda assim carece de um ritmo aceitável, suas mais de duas horas são extensas, e isso faz o documentário parecer um especial de TV de final de ano, trocando os últimos 365 dias para todos os anos pós-Constituição.

  • Marxismo Cultural 07 | Crise no PSL, Lula Solto e o Valor do Salário Minimo

    Marxismo Cultural 07 | Crise no PSL, Lula Solto e o Valor do Salário Minimo

    Avante, Camaradas! Filipe Pereira (@Filipereiral) e Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) se reúnem para comentar um pouco sobre a crise no PSL, o valor e poder de compra do brasileiro e um breve comentário sobre a recente liberação do ex-presidente Lula. Confira aí o papo sobre os fatores políticos das últimas semanas.

    Duração: 135 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
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    Investimentos de milionários chega a baixa renda
    WSI Minimal Wage Database – Jan 2018
    WSI Minimal Wage Database – Jan 2019
    50% dos trabalhadores brasileiros ganham menos de 1 salário mínimo – 2017
    23,9% das famílias brasileiras vivem com R$1245,00 em média
    Secretário da Previdência lamenta votação sobre abono salarial no Senado
    Trecho entrevista Tábata Amaral
    Salário mínimo, estupidez máxima
    Senado derruba restrição ao abono salarial
    Congresso apoia salário mínimo de R$1040,00 em 2020
    Congresso aprova orçamento de 2020; salário mínimo fica sem aumento real
    Nota Técnica – A importância da política de valorização do salário mínimo e a urgência de renová-la – Dieese – Abril 2019

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    Seu salário diante da realidade brasileira
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  • Marxismo Cultural 04 | VazaJato, Reforma da Previdência e Tabata Amaral

    Marxismo Cultural 04 | VazaJato, Reforma da Previdência e Tabata Amaral

    Avante, Camaradas! Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira,  Rafa Klass (@lackingclass) e Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) se reúnem para comentar um pouco sobre a conjuntura nas últimas semanas, desde os vazamentos da Lava-Jato à destruição da previdência com auxílio de parlamentares do campo progressista.

    Duração: 126 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
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  • Marxismo Cultural 03 | Manifestações, Greve Geral e Violência de Gênero

    Marxismo Cultural 03 | Manifestações, Greve Geral e Violência de Gênero

    Avante, Camaradas! Flávio Vieira (@flaviopvieira), Julio Assano Júnior (@Julio_Edita), Rafa Klass (@lackingclass), Amanda Farias (@_putindesaias) e Filipe Pereira se reúnem para comentar um pouco sobre a conjuntura nas últimas semanas, as manifestações pela educação e contra a reforma da previdência, e pró-governo, além de todo o machismo e violência de gênero envolvido na abordagem do caso Neymar.

    No mais, dado os últimos acontecimentos, retornaremos para uma gravação especial para comentar as reportagens do Intercept Brasil e os vazamentos da Lava-Jato.

    Duração: 105 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
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    VortCast 20 | V de Vingança

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    Virgem Depois dos 30 – Compre aqui
    Irmãos: Uma História do PCC – Gabriel Feltran – Compre aqui
    Friedrich Engels e Karl Marx – Manifesto do Partido Comunista (Audiolivro)
    Friedrich Engels – Princípios Básicos do Comunismo (Audiolivro)
    V de Vingança – Alan Moore e David LlyodCompre aqui
    Uma Autobiografia – Angela Davis – Compre aqui

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  • Marxismo Cultural 02 | A Esquerda, Lula e as articulações da Reforma da Previdência

    Marxismo Cultural 02 | A Esquerda, Lula e as articulações da Reforma da Previdência

    Avante, Camaradas! Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafa Klass (@lackingclass), Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) e Filipe Pereira se reúnem para comentar um pouco sobre a conjuntura nas últimas semanas, o papel da esquerda no cenário atual, o impacto da entrevista do ex-presidente Lula e as articulações do governo para a aprovação da Reforma da Previdência.

    Duração: 118 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior e Flávio Vieira
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    Marxismo Cultural 01 | Cem Dias de Governo Bolsonaro
    Entrevista do ex-presidente Lula para o El País e Folha
    Anticast 352 – Lula
    Resenha | A Verdade Vencerá: O Povo Sabe Por Que Me Condenam –Luiz Inácio Lula da Silva
    Caso Mamona – Roberto Requião e Lula
    Agenda Cultural 70 | Infiltrado na Klan, Green Book e Shazam!

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    O Eterno Judeu (Fritz Hippler, 1940)
    Os Donos da Rua (John Singleton, 1991)
    O Manifesto Comunista (Karl Marx e Friedrich Engels, 1848)
    Eduardo Taddeo – Seminário sobre Literatura Periférica

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  • Resenha | A Verdade Vencerá: O Povo Sabe Por Que Me Condenam

    Resenha | A Verdade Vencerá: O Povo Sabe Por Que Me Condenam

    A carreira de Luiz Inácio Lula da Silva é controversa até entre seus defensores e simpatizantes, a quem A Verdade Vencerá: O Povo Sabe Por Que me Condenam é destinado. Aos opositores mais extremos que afirmam que o político tentou implantar o comunismo no Brasil realmente não há o que argumentar, seja só para discutir ou para convencer, uma vez que ignoram a lógica. Na parte detrás do livro que Ivana Jinkings organizou com ajuda de Juca Kfouri, Maria Inês Nassif e Gilberto Maringoni lemos uma frase icônica “(…) não fui eleito para virar o que eles são, eu fui eleito para ser quem eu sou. Tenho orgulho de ter sabido viver do outro lado sem esquecer quem eu era“, e é nesse sentido que o livro se desenvolve.

    O livro desenvolve brevemente o início da trajetória como líder sindical – que Lula iniciou em 1977; passando pela construção do Partido dos Trabalhadores e sua ascensão popular, depois de algumas derrotas eleitorais até finalmente assumir a cadeira de Presidente da República e eleger sua sucessora. Para Lula, a ideia do PT sempre foi a de democratizar o Brasil por meio de seu partido, no intuito de dialogar com a população menos favorecida sem academicismos, de maneira franca.

    Na nota da edição, Ivana destaca duas datas importantes de janeiro de 2018, a primeira como dia 24, onde o presidente foi julgado e (ao ver dela) injustiçado, e dia 31 onde ele recebeu Ivana e outros entrevistadores para conversar. O livro da editora Boitempo contém  mais de 200 páginas e é composto por alguns textos de notáveis, como Luís Fernando Veríssimo, que faz o prólogo, anotações de Eric Nepomuceno, um artigo de Rafael Valim e uma cronologia da vida do politico feito pro Camilo Vannuchi.

    Luiz Felipe Miguel defende a tese de que a prisão de Lula é um segundo passo do movimento que antes cometeu o golpe em Dilma Rousseff, um movimento que visava aprovar medidas antipopulares como a reforma da previdência, que ao ver do escritor só foi freada pela proximidade das eleições, e a necessidade de reeleição dos que compõem o Congresso Nacional. Essa conclusão não é necessariamente acertada, uma vez que a pressão popular realmente pesou contra, além de alguns movimentos de imprensa livre, independente dos votos, até porque claramente boa parte dos que votaram a favor do congelamento do teto de gastos em pastas como Educação, Saúde e Cultura estão entre os candidatos com maior possibilidade de votos na eleição de 2018. Miguel também faz uma mini descrição da trajetória de Lula, dizendo que sua condenação se deu por suas virtudes e não por seus defeitos, e fica difícil analisar esse pequeno texto que não pelo viés de um sujeito que enxerga Lula como um herói incapaz de cometer falhas. Nenhuma simpatia política deveria suplantar o senso crítico, ainda que sua condenação tenha ocorrido de forma injusta.

    A entrevista foi feita nos dias 7, 15 e 28 de fevereiro de 2018, pelos quatros entrevistadores. Há alguns bons momentos nessa conversa, como quando Lula diz que não queria voltar a presidência em 2014, comparando sua carreira com a de um jogador que brilha muito num time e tem medo de um retorno já sem o mesmo brilho. O entrevistado faz questão de deixar claro que não havia cisão entre ele e Dilma Rousseff, e que a imprensa tentou gerar uma situação de inimizade entre os dois, fato que jamais ocorreu ao menos segundo seu depoimento. Parte dessa retórica passa por uma conversa entre Lula e João Santana, publicitário da campanha sua e de Rousseff, onde Santana pediu para ele explicar à futura presidenta que ela era candidata tampão.

    Se percebe até nas criticas que ele faz a Dilma um certo carinho e grande apreço, onde o ex-presidente declara que a achava extremamente inteligente, mas com dificuldades de lidar com a política no dia-a-dia, e sua crítica é válida, opositores e apoiadores sempre repetiram isso, variando o tom entre essas críticas. A diferença de postura de ambos era gigante e exemplificada por Lula ao descrever como conversava com os ministros, sempre ouvindo primeiro o que eles falavam para depois opinar, enquanto Dilma falava antes de todos, praticamente impedindo qualquer um de opinar contrariamente por ter receio de parecer a pessoa como uma detratora, como “O Alguém” que contraria a cadeira presidencial. Desse modo, poucos iam na contramão do discurso da presidenta.

    Lula diz ainda que mudar-se de país impediria sua proximidade com o povo e que ir ao exílio seria uma alternativa se fosse culpado, sendo inocente, não havia como fazer isso. Essa fala soa romântica e até ingênua, mas levando em conta o caráter desse depoimento, faz sentido isso, evidentemente. Goste-se ou não de Lula, é inegável seu poder de oratória único e capacidade de gerar interesse e simpatia em quem o ouve, e a estrutura do livro favorece esse poder por ser uma conversa transcrita é fácil ler as palavras e associa-las ao modo do sujeito falar.

    O teor da discussão é informal, mas se trata de muitos assuntos sérios, como a questão do Pré-sal e a crença do ex-ministro de Relações Exteriores Celso Amorim de que os Estados Unidos tem interesse nisso, inclusive reativando a Quarta Frota Americana, em uma movimentação suspeita – e longa demais até para se discutir aqui, mas que conversa bastante com algumas especulações ligadas aos interesses que movimentam a candidatura e campanha de Jair Bolsonaro.

    Há muita informação e discussões ao longo das 126 páginas de entrevista. A conversa publicada permite que num espaço curto de páginas se discuta a ascensão direitista na América, que afetou El Salvador, Paraguai, Argentina e o Brasil. Lula ainda faz críticas duras ao judiciário brasileiro, as indicações políticas de  Temer, comentários sobre os presidenciáveis e uma leitura bastante sóbria sobre o futuro, inclusive verificando que a ascensão de Bolsonaro tinha grandes chances de acontecer.

    Uma de suas leituras é relativa a forma como o PT deveria se postar. No lugar da frase “Eleição Sem Lula é Fraude”, ele diz que preferia que se proclamasse algo como “Lula é inocente e por isso deveria ser candidato“, e salienta que obviamente que essa sentença não tem síntese, mas contém verdade. Ainda assim, Lula louva demais o legado de seu partido e entre muitas falas, afirma algo importante, que o Partido dos Trabalhadores deu cidadania à esquerda, que vivia marginalizada, um monte de grupelhos escondidos e que de repente tem um guarda chuva grande, com uma estrela vermelha.

    O modo de pensar de Lula, para o período do primeiro semestre de 2018 correu corretamente, mas a realidade é que em épocas de extremismo cada dia conta muito, assim como as semanas e meses também, e em tempos de eleição os cenários são de mutações ainda mais rápidas e extremas. Na fala de Luiz Inácio, o próximo presidente, e portanto o candidato também, precisa ser alguém com credibilidade e que fale a “língua” do povo. A Verdade Vencerá é certeiro em apresentar a versão do ex-presidente sobre os fatos que correram sobre essa fase de sua jornada, com defesas contundentes e suas intenções auto-proclamadas. Talvez essas palavras não provem nada, mas certamente são bem mais convictas que boa parte das acusações existente contra ele.

    Compre: A Verdade Vencerá – Luiz Inácio Lula da Silva.

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  • Crítica | Lula: O Filho do Brasil

    Crítica | Lula: O Filho do Brasil

    Lula: O Filho do Brasil, de Fabio Barreto, foi lançado em 2009, em meio ao segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A história começa no árido sertão nordestino, com a mãe do protagonista, dona Lindu (Glória Pires) se mudando para perto de seu marido, Aristides Inácio (Milhem Cortaz), um homem bêbado e covarde.

    O pequeno Luiz, vivido neste momento por Felipe Falanga é um verdadeiro herói em casa, mesmo que tenha apenas sete anos. Propostas de adoção por parte de pessoas mais abastadas, que querem dar a chance dele estudar com maior facilidade ocorrem com ele ainda pequeno, assim como um enfrentamento por parte dele com seu pai que não permite que as crianças brinquem e nem estudem. Ainda criança, Luiz é a voz dissonante no ambiente em que está e já se nota ali sua paixão pelo futebol, que evoluiria para o Corinthians, já na fase adolescente.

    Quando começa a trabalhar, Luiz (Guilherme Tortólio) se suja de óleo, para aparentar que trabalhou mais do que realmente fez, enchendo assim dona Lindu de orgulho e satisfação, reprisando o dito popular de que o trabalho dignifica o homem. A intenção de mostrar ele como uma figura heroica soa dúbia e boba, uma vez que também o faz parecer um aproveitador, mesmo que ainda seja um garoto.

    Tanto o contato inicial do metalúrgico, já interpretado por Rui Ricardo Dias, quanto a perda do dedo mínimo da mão direita é mostrado sob um viés piegas, novamente “dourando a pílula” em torno da biografia do ex-presidente. Há um problema também com o ritmo do longa, que acelera e desacelera seus dramas normalmente errando na dosagem do discurso.

    Após o segundo casamento, dessa vez com Marisa (Juliana Baroni), o herói da jornada se engaja mais ainda nos meandros do sindicato, passando então a usar em seus discursos os mesmos tons e sotaques peculiares do Luiz Inácio original, soando ainda mais caricatural do que antes, uma vez que seu intérprete simplesmente esquece o sotaque quando lhe é conveniente, soando rouco em alguns pontos da história e deixando a voz grave de lado em outros.

    Ricardo Dias faz o que pode enquanto lhe é incumbida a função de representar uma figura icônica de nossa história, fato que se torna ainda mais difícil pelo fato de o biografado ainda estar vivo e ativo. No entanto, Barreto traz uma biografia que fala em partes da vida de seu personagem de estudo, mas peca em não assumir lado e se colocar em cima do muro em relação a ideologias políticas, inclusive verbalizando isso através de algumas conversas entre Lula e sindicalistas, tendo inclusive o cuidado para sequer citar o Partido dos Trabalhadores.

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  • Crítica | Polícia Federal: A Lei é Para Todos

    Crítica | Polícia Federal: A Lei é Para Todos

    Aguardado por cinéfilos e aficionados pelas páginas políticas da recente história do Brasil, Policia Federal – A Lei É Para Todos: Os Bastidores da Operação Lava Jato tem a árdua tarefa de tentar mostrar em tela a gênese da operação Lava Jato, que ganhou os noticiários globais por ser considerada a maior operação contra a corrupção recente do Brasil. O filme de Marcelo Antunez é baseado no livro homônimo de Carlos Graieb e Ana Maria Santos, apresentando um cunho investigativo semelhante aos filmes policiais americanos.

    A história se foca em um grupo de investigadores policiais que já haviam trabalhado juntos em um caso anterior de caça a políticos corruptos (o escândalo do Banestado) e que retornaram como um grupo de elite, uma força tarefa inocente, ingênua e honrada. A equipe é formada pelos delegados Ivan (Antonio Calloni), Julio Cesar (Bruce Gomlevski), Beatriz (Flávia Alessandra) e Vinicius (João Balderessini). Além deles, há também o juiz Sergio Moro (Marcelo Serrado), que também colaborou na investigação do Banestado. A trama começa em uma investigação a um traficante que leva a um doleiro. Revelando mais doleiros e resultando em uma série de delações a diversos políticos e figuras de renome, mas que, no filme, centra-se na figura de Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que nenhum outro nome de qualquer política é citado além dele.

    A aura de irrealidade e fantasia não é pontuada somente no lado escolhido para se fazer as denúncias, mas também na criação da atmosfera pífia de thriller. A fotografia e cenários produzem semelhança aos de séries televisivas americanas, em especial Law and Order e os spin off de CSI. No entanto, tudo é risível pelo exagero, por exemplo, quando se nota que os números dos telefones começam com 555, prática comum nos filmes hollywoodianos. Alguém, em um dos tratamentos do roteiro, achou por bem manter a referência, o que infantiliza ainda mais o drama.

    A isenção que se tenta construir em torno dos (longos) 117 minutos de filme esbarra em um maniqueísmo pueril, construíndo figuras puramente arquetípicas. A versão que Rainer Cadete apresenta de Deltan Dallagnol é simples, transformando-o em um sujeito bobo, como um cachorro que corre atrás do próprio rabo justificando as convicções sem provas através de frases feitas mal construídas. O Moro de Cerrado também é um arquétipo com pouca alma, restando apenas uma tentativa de mostrar o magistrado como uma pessoa compenetrada, pensativa e mais justa do que a realidade mostra. Em cena, Moro parece muito preocupado com a repercussão que ocorreria pelo cerco feito a Lula, enquanto o noticiário real não tem receio de ser imparcial, sabe-se que há veículos midiáticos que costumam tratar o ex-presidente como persona non grata, por exemplo.

    É difícil fazer uma análise séria a respeito de Polícia Federal – A Lei é Para Todos pois há muitas participações extremamente artificiais e engraçadas via má construção de texto e interpretação. Gomlevsky, por exemplo, apresenta um detetive que sofre de dramas pessoais pesados, mas que me nada acrescentam a trama. Além disso, a personagem também sofre de insights que mais parecem piadas, como a ideia de investigar uma churrasqueira atrás de pistas, achando ali um papel de banco, uma evidência capaz de rastrear uma das figuras que fizeram a delação. Além desses problemas, há também há erros no continuísmo, que se perde graças a calvície de seu personagem, que em alguns momentos parece ser profunda, e em outro há o uso de uma peruca que se destaca em cena pela falsidade. O espaço temporal para justificar as mudanças capitares propostas em tela não é tão distante e se transforma em um detalhe que se destaca mais que o personagem em si.

    Marcelo Antunez é acostumado a dirigir comédias. A responsabilidade de um filme como esse certamente era grande, como também era para Rodrigo Bittencourt em Real: O Plano Por Trás da Historia, mas ao contrario desse, um filme sobre a Lava Jato ainda é um projeto que, por essência, é apressado. Tudo no roteiro de Gustavo Lipsztein e Thomas Stavros soa precipitado e oportunista, e isso se reflete nas situações que ficam cômicas quando deveriam soar graves.

    Há outros erros crassos, como o uso de material de vídeo externo, com Dilma Rousseff convocando Lula para ser seu ministro, quebrando assim grande parte das caracterizações que se estabeleceu até ali, até porque o Lula de Ary Fontoura não é necessariamente uma imitação do político, aliás, se distancia bastante de qualquer sátira. A personificação do veterano não erra por não se cobrir trejeitos, sotaques e demais marcas de Lula como um personagem desde que se tornou líder dos metalúrgicos do ABC. A questão é que sua composição lhe dá tons maniqueístas como as bruxas malvadas dos contos animados da Disney: sem carisma, sem malemolência ou sem qualquer de suas qualidade de oratória. Sobra, então, um homem velho, ranzinza, que em nada lembra um sujeito que saiu da cadeira presidencial com tanta popularidade e prestígio, que foi capaz de eleger como sucessora uma candidata que não era conhecida e que carecia de traquejo em debates e aparições públicas.

    Um filme servir de propaganda a um projeto político em pleno 2017 é algo vergonhoso. A discussão ética sobre tal feito é ainda mais profunda e um absurdo que ainda se tenha que discorrer sobre isso. Surreal que filmes como esse ainda sejam comuns e que tal tema esteja na moda chega a ser aterrecedor. O preço para tal tentativa de distorcer os fatos resulta em um sem número de anedotas, que fazem o receptor mais seletivo refletir sobre a investigação. Se a arte ao tentar imitar a vida gera tantas piadas, memes e situações equivocadas, há de, no mínimo, se refletir para os rumos judiciais para onde o país está indo.

    Diante de tantos equívocos, há outro mais gritante e injusto: o modo se retrata o povo durante a condução coercitiva de Lula. Primeiro, os fatos são modificados ao bel prazer da trama – o que não seria necessariamente um problema, caso não houvesse um número elevado de versões falaciosas no roteiro –, a população é mostrada como uma turba de descontrolados violentos, que causam tensão sozinhos, incitados por pessoas do próprio povo a linchar quem estava investigando o caso, uma observação mantida tanto para os favoráveis ao petista quanto os da oposição.

    A obsessão por transformar os investigadores em paladinos incapazes de errar faz com que a lógica do “contra tudo e contra todos”, usada no futebol como forma de motivar os times, se torne a praxe na mentalidade dos personagens. O povo ser tratado como inimigo é sintomático e resume em si o quão perversa pode ser a mentalidade da elite para quem este filme parece ser destinado. A denúncia que Polícia Federal – A Lei É Para Todos propõe esbarra em partidarismos agressivos e desnecessários, além de uma problemática lógica de punição, que mira em somente alguns. Contrariando a afirmativa de que a lei é para todos.

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  • Crítica | Muito Além do Cidadão Kane

    Crítica | Muito Além do Cidadão Kane

    Contestatório desde o início, com falas de algumas personalidades conhecidas do grande público, a narração sensacionalista do filme foca na vivência e poderio de Roberto Marinho, idealizador do grupo Globo de Comunicação que tem na sua rede de televisão homônima o seu maior expoente. Produzido pelo Channel Four britânico, Muito Além do Cidadão Kane teve sua exibição proibida dentro do Brasil, mesmo que seu lançamento tenha sido originalmente em 1993, após a abertura política da democracia.

    O foco narrativo do início da fita centra-se na disparidade social e na quantidade exorbitante de analfabetos do país. Quase tão gritante quanto a distância financeira entre os ricos e pobres é a diferença de televisores ligados quase exclusivamente na Vênus Platinada, que até então, eram de 78% da totalidade das casas brasileiros, atingindo o grande público com anúncios publicitários luxuosos extremamente diferentes da realidade econômica dos típicos brasileiros. O consumo era apenas das imagens, já que apenas um terço dos espectadores poderiam comprar qualquer dos produtos mostrados em tela. Apesar disso, o conteúdo ideológico por trás de toda mensagem veiculada é sempre compartilhado.

    As concessões das redes de canais são denunciadas, inclusive aventando-se até a possibilidade de políticos terem poder de controlar uma empresa comunicacional no Brasil, o que obviamente vai ao encontro da maior rede televisiva. O destaque dado ao Fantástico é quase tão execrada quanto as polêmicas aquisições de filiais, criticando o otimismo exacerbado e total falta de conteúdo relevante, que encontra paralelos com a pauta atual do programa.

    A trajetória de Roberto Marinho é reconstruída, desde a fundação do jornal O Globo, feito por seu pai. Uma vez no poder, o grupo se expandiu, primeiro para o rádio e depois para a TV, ganhando concessões dos presidente Juscelino Kubitschek (apoiado por Marinho) e João Goulart (político que seria deposto antes de assumir a presidência, tendo a sua “renúncia” apoiada pelo empresário/jornalista). As falas de Armando Falcão vão muito ao encontro do pensamento do documentarista, que acreditava ser escusos os meios de obter seus licenciamentos mil.

    Em paralelo à transmissão da Copa de 70, aconteceu um boom econômico que permitia ao povo comprar televisores por meio de crédito, um artigo caríssimo, o que obviamente facilitou muito a propagação do canal da família Marinho. A audiência se dividia entre o futebol e os festivais de música, sendo o primeiro algo que fomentava a calada do regime militar, onde não se pronunciava nada sobre política, enquanto o segundo, exibido na Rede Record, mostrava a nata artística brasileira, que tentava, através de suas mensagens subliminares, falar do holocausto político que ocorria.

    Os detalhes da derrocada da Rede Excelsior e da TV Tupi são abordados. Os principais rivais pela audiência, chegando ao ponto dae causar o fim da concessão do primeiro canal, único que havia manifestado descontentamento em o assumir do Regime Militar. Mesmo os que apoiaram a Ditadura eram proibidos de noticiar qualquer situação que causasse a menor possibilidade de frisson nos que dominavam o poder e, segundo alguns dos entrevistados, a emissora ratificava a censura e perseguição a artistas supostamente condenáveis.

    Outro fator focado era a ascensão das novelas desde Selva de Pedra, que foi a primeira novela com 100% de audiência, até Gabriela, que exibia as curvas de Sônia Braga numa reimaginação do conto de Jorge Amado. A influência era tamanha que ditava moda até para aspectos comportamentais, como o advento de discotecas em cidades minúsculas, que sequer tinham tradição no consumo de música disco, mas que, por influência de Dancing Days, precisavam montar espaços assim em sua extensão territorial. Para muitos, o poder do canal se igualava ao de um Estado dentro do Estado.

    Apesar de mostrar o quão promíscuas são as inter-relações da Globo com os governos, até de interdependência dos políticos com os comunicólogos, o roteiro não toma partido de modo resoluto, nem mesmo ao exibir o modo raso como o Jornal Nacional tenciona emitir a comunicação para o Brasil inteiro, dando curtos segundos para notícias políticas, enquanto minutos preciosos são dedicados a parte de exibição de celebridades, sem qualquer cunho informativo maior.

    O cúmulo da manipulação da informação se daria nos episódios com Luiz Inácio Lula da Silva, desde a época de seus serviços com metalúrgicos e líderes sindicais, com negação de muitos dos argumentos das classes até sonegação dos mais básicos, em que se escondia até a quantidade correta de adeptos, sob a alegação de que a ordem viria de cima, da presidência militar. Semelhante a isso foi a não comunicação da eleição de Leonel Brizola, que acabava de voltar ao país e que ganharia a cadeira máxima do estado do Rio. Mais flagrante ainda seria a edição do resumo do debate de seis minutos, entre Fernando Collor e Lula, três dias antes do segundo turno, favorecendo o governador de Alagoas, onde a manipulação que se assemelhava a um informe publicitário causou um furor até dentro da rede, cuja reclamação ocorreu até de membros muito antigos da central de jornalismo como de Armando Nogueira e Wianey Pinheiro, que seriam aposentado e exonerado, respectivamente.

    Os últimos momentos do filme são pautados em mais reclames que discutem o valor da imprensa na formação da opinião pública e na moralidade de uma nação, especialmente em um órgão com tanto alcance como é com a Rede Globo, condizente com a realidade do início de suas transmissões até os anos noventa, com destaque até para o seriado Anos Rebeldes, onde se falaria sobre o hediondo regime, excluindo o papel do canal na legitimação dos anos de chumbo. A mensagem final questiona se o povo deveria se libertar dessa influência, ou ao menos contestá-la, com a trilha de Televisão, dos Titãs, que remete à burrice proveniente de quem assiste ao aparelho de vídeo. A imagem de Marinho é tomada por baratas, na expressão simbólica mais explícita da rejeição da figura do magnata das telecomunicações, por parte dos realizadores do filme.

  • Crítica | O Mundo Segundo Lula

    Crítica | O Mundo Segundo Lula

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    Ao iniciar seu filme com um passeio por Brasília, German Gutierrez demonstra um pouco do que seria a incerteza da subida ao poder por Luiz Inácio Lula da Silva rumo ao palanque máximo do país brasileiro. A cerimônia de passagem de faixa de Fernando Henrique Cardoso, claramente contrariado, simboliza um pouco do que a narradora diz, os resquícios do que a burguesia pensava ao assistir a ascensão de um membro do proletário ao poder.

    Para Lula, sua vitória após tanto tempo é a mostra de uma evolução do pensamento do povo brasileiro, finalmente rompendo com a mentalidade de país colonial e colonizável, sempre subordinando-se às economias de países mais ricos e claramente exploradores. O começo da carreira do político foi feito em plena ditadura militar, em meio a um regime opressor que esmagava o homem.

    De família pobre, demorou a se alfabetizar, o que claramente se reflete nas suas falas tacanhas e repletas de vícios linguísticos, como a supressão do plural. Este defeito serviu bem para ele, ao menos num segundo momento eleitoral, uma vez que o aproximava do povo com quem ele tencionava falar. Aos trinta anos, tornara-se líder sindicalista, apoiando as eleições diretas, ao invés do regime ditatorial, como “único modo do povo se manifestar”. A partir daí, se explora o começo da trajetória do metalúrgico enquanto um governante.

    O horizonte mostrava o povo como um parceiro do político, feliz com o seu modo de tratar as relações exteriores, alguns até surpresos pelas origens humildes de sindicalista, mas as críticas também são devidamente documentadas, ainda que o cunho destas seja deveras tímida e comedida.

    A feitoria do filme foi logo após a reeleição de Lula, e não menciona em nenhum momento os escândalos políticos de seu partido, como o Mensalão, ainda que haja uma pequena menção nos letreiros ao final, claro, destacando-se o crescimento do país em um cenário mundial. A sensação de O Mundo Segundo Lula é um filme institucional é enorme, ao analisar-se seu caráter chapa-branca, mas é importante de ser analisado na contemporaneidade, especialmente pela avalanche de desinformação que corre a rede mundial em relação aos avanços do país nos anos em que Luiz Inácio foi presidente da República Federativa do Brasil, e a respeito de quem tem ou não lutado ao lado do proletariado brasileiro. Nisto, o filme de Gutierrez traça um bom prospecto, obviamente atentando para o bom mocismo do político.

  • Crítica | Marighella (2012)

    Crítica | Marighella (2012)

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    O documentário capitaneado por Isa Grinspum Ferraz visa mostrar várias facetas de Carlos Marighella como o de um sujeito pacato e ligado a família, longe demais da imagem pintada pelos mandantes do regime que o pintavam como o pior dos terroristas subversivos e inimigo número um do Estado. A narração da sobrinha de Carlos revela que o filme começou a ser feito de fato após a morte do líder revolucionário.

    No início da fita, são lidas cartas do próprio punho do “anarquista da Sicília”, provindo de uma miscigenada herança entre o italiano Augusto Marighella e da negra Maria Rita, criado em uma casa onde tinha spaghetti e caruru, não havia como crescer sem ser questionador, desde a infância ele não entendia porque o pobre precisava se matar de trabalhar para chegar ao final da vida sem ter absolutamente nada.

    Já muito novo ele se engajaria ao comunismo autodeclarado, levando à Bahia, sua terra, o discurso contra a oligarquia, incitando o povo à revolução. O comunismo baiano dos anos 1930 era contra o integralismo principalmente, e não era alinhado a Karl Marx, até pela dificuldade do acesso, era feitos de mulatos, como Jorge Amado, Edson CarneiroCouto Ferraz, um grupo que vivia a utopia, mas não se desgarravam da realidade marginal baiana. Os intelectuais precisavam sair da neutralidade e se declarar fascistas, comunistas ou liberais, graças ao novo quadro político mundial, aos poucos “os pingos eram postos nos is”. A ida de Marighella ao Rio de Janeiro já culminara numa prisão, acusado pela imprensa à época, de perturbar a paz e não colaborar com a boa ordem do Estado.

    A escolha pelas imagens das paisagens e belezas naturais contrastam com os recortes de jornais, quase sempre explicitando uma luta e perseguição muito violenta ao “cavalheiro Marighella”, que variam entre prisões e comícios. Carlos e outros militantes de bigodes grossos se associavam a Luis Carlos Prestes, sua dificuldade nas manifestações era o de parar de falar e terminar seus discursos. Graças ao Presidente Dutra, o Partido Comunista Brasileiro foi tornado ilegal e Carlos Marighella passou a viver na clandestinidade, seu primeiro filho só viria a conhecê-lo aos sete anos de idade. Em meio a paranoia mundial, eram veiculados comerciais estadunidenses muito engraçados, com “animações desanimadas” mostrando o poderio soviético, explodindo símbolos do capital, como A Estátua da Liberdade.

    A posição de Marighella era diferente da de Brizola, Goulart e outros tantos pensadores. Ele viajou para a China, para a União Soviética a fim de conseguir instrução sobre o estado totalitário socialista. Um momento emocionante é quando sua esposa Clara Charf, declara que ele não sabia falar chinês e que ele havia feito um dicionário desenhado do idioma, mas que o livro foi tomado pelas autoridades, numa das invasões da polícia a sua residência. O “mulatão” cada vez se precavia mais e alertava seus colegas de que eles não resistiriam a caça após o Golpe Militar. Seu argumento era de fuga, mesmo após as falas de Jango de que o vice, uma vez empossado presidente, teria uma resposta rápida a ação dos militares. Ele era muitíssimo bem informado, parecia prever as artimanhas e a movimentação dos homens de farda.

    Sua postura se tornaria ainda mais extremista, rompendo com o partido após a sua prisão e a ida a Cuba, em uma viagem clandestina. Se declarara um revolucionário, ligado às massas e inconforme à maneira cordata com que a esquerda se portava de forma muito inocente e submissa aos caprichos militares, e até essas reprimendas são publicadas carregadas de um conteúdo poetizado. Para ele, o revide devia ser na mesma força e medida, era inspirador, de confiança e admiração, e sobretudo era uma figura simples, ao mesmo tempo que estudiosa e muito inteligente.

    Apesar de sua afeição ao modo de revolução chinês, Marighella queria um comunismo genuinamente nacional, com samba, futebol e cores tão caracteristicamente brasileiros. Ele não era um teórico, participava dos assaltos de forma ativa e veemente. Suas ações não eram freadas pela possibilidade de perecer ou do sacrifício de vidas alheias, das dos seus, em ações de guerrilha que os adeptos já tinham conhecimento e claro, dos seus opositores.

    O modo como a realizadora apresenta a morte do guerrilheiro é sem muito apuro do modo como ocorreu o assassinato, tal artifício emula tanto a forma sem respostas do Regime ao assassinar o seu opositor e também a não necessidade de ser lógico, e claro que o próprio Marighella usava em seus poemas, ainda que nestes escritos ele não retire os seus pés do chão. Carlos Marighella era o libertário utópico, munido da informação, mas que prestou a sua imagem para inspirar o ideal da liberdade do país, o que Isa Grinspum Ferraz fez é uma homenagem muito competente a sua figura, sem ser chapa branca, destacando até seus erros, mas focando a aura do contestador imberbe que ele era, dando à revolução um nome estrangeiro, de difícil dicção e de fácil identificação.