Os Dinossauros e o Cinema – Parte 3
Dando continuidade a nossa série de textos sobre os dinossauros no audiovisual, em 1991 estreou Família Dinossauro, que retratava a história de Dino, seus três filhos, esposa e sogra, além de seu emprego maçante, que só exerce para ter como pagar suas contas, onde basicamente recebe para desmatar uma floresta. A comédia mostra os dinossauros como seres inteligentes antes dos humanos, e como os homens depredam tudo, inclusive levando a existência para algo que em breve deve se findar. A série contou com 43 episódios, e foi criada por Michael Jacobs e Bob Young, em parceria da Disney com a The Jim Henson Company. Seu fim é discutido até hoje, por conta do cunho ecológico e o denuncismo existente.
Em 1993, tudo mudou com a chegada do clássico moderno de Steven Spielberg: Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros. Nos primeiros minutos do filme é mostrado um dinossauro comendo um dos funcionários do parque, deixando claro que apesar de ser voltado para crianças, ainda existe elementos de terror no longa. Na adaptação, há um enfoque em Alan Grant (Sam Neil), e não em Ian Malcolm (Jeff Goldblum) como no livro de Michael Crichton. Ao tocar o tema musical de John Williams é impossível ficar indiferente, da mesma forma que ocorre com a primeira cena em que o brontossauro aparece.
A continuação, também baseada em um livro de Michael Crichton, O Mundo Perdido: Jurassic Park começa na Ilha Sorna, chamado de Sítio B. Os dinossauros deveriam ter morrido, por conta da necessidade de lisina, a que foram acometidos quando criados, mas sobreviveram. Hammond (Richard Attenborough) convoca Malcolm, para liderar uma equipe que fotografará a ação dos dinossauros, provando que eles estão vivos, basicamente para pedir ajuda governamental na preservação do local, já que até a sua empresa, a Ingen, está prestes a ser retirada do seu poder. Malcolm se recusa, e acusa John de ter mudado de capitalista para ambientalista em 4 anos, no entanto, acaba mudando de ideia ao saber que sua namorada Sarah (Julianne Moore) está na Ilha.
A primeira cena do filme mostra um incidente com uma garotinha, a filha de um magnata, e essa situação foi usada para tirar o velho Hammond do comando de sua empresa, os investidores mandaram um grupo de caça, e a partir daí o filme ganha uma licença poética para se tornar um épico de ação, com mais cenas de chuva (como o primeiro), ações com o filhote de tiranossauro e sequências maravilhosas. Por mais que o filme tenha deixado de ser fantasioso para os núcleos familiares, esse é um roteiro que fala de clã e da necessidade de se sentir pertencente a um grupo.
A robótica Stan Winston garantiu mais cenas com os T-Rex em detalhes grandiosos, e o final que emula o romance de Arthur Conan Doyle é sensacional. É lamentável a recepção ruim que boa parte do público teve com este filme, na verdade ele lembra bastante o exercício que James Cameron fez com duas continuações que comandou, Aliens e O Exterminador do Futuro 2, mudando de Terror para Ação em ambos. Aqui obviamente que se mudou de outros gêneros, de fantasia e aventura para uma ação mais frenética, e ainda contém momentos bastante épicos, diferente demais do que aconteceria em Jurassic Park 3, comandada por Joe Johnston, lançado em 2001.
A história se passa na mesma Ilha Sorna, e Alan Grant (Sam Neil) volta, enganado por dois empresários. Talvez o maior problema seja a mudança do antagonismo principal, já que o Espinossauro apesar de ser maior e mais agressivo, claramente não tem o mesmo carisma do outro dinossauro, e esse “erro” foi de certa forma repetido em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, ainda que ali tenha sido melhor explorado. Ainda assim, o filme de Johnston tem seus momentos. A tensão é bem construída e fora as piadinhas com os personagens que contratam Grant, é divertido acompanhar o protagonista do primeiro filme novamente.
Ainda em 1993, Steven Spielberg produziu um longa animado, através da Amblin Entertainment, Os Dinossauros Estão de Volta, uma animação divertida sobre quatro dinossauros que viajam pelo tempo e fazem amizade com duas crianças, que mais tarde, tentam ajuda-los eles a fugirem para o seu lugar de origem. A animação é comandada por Dick Zondag, Ralph Zondag, Phil Nibbelink e Simon Wells e cada um deles esteve envolvidos em obras seminais, desde Balto e Fievel, até o filme da Disney Dinossauro. O longa explora o lado lúdico dos Dinossauros, tornando as figuras de Jurassic Park algo mais próximo do universo infantil.
O filme que tenta traduzir o jogo Super Mario Bros também tem dinossauros. A premissa inclusive trata disso, mostrando que o meteoro que teria matado os dinossauros, na verdade divide a realidade em duas, e Koopa (ou Bowser) vivido por Dennis Hooper tenta raptar a princesa de sua dimensão, Daisy (Samantha Mathis), que seria a chave para unir os dois mundos. Daisy é arqueóloga, o que a faz se aproximar da ideia dos dinossauros. Na realidade onde Koopa vive, os dinossauros evoluem para humanos, e o mundo é desolado, um deserto que só tem uma cidade grande, que é Koopa City, onde o vilão é o soberano. O boneco que faz o Yoshi é até bem feito, e foi executado antes de Jurassic Park, e ele até usa a língua, como nos jogos, mas a transformação do inimigo em T-Rex é risível, e claramente é uma vergonha para todo elenco ter participado desse filme, inclusive para Bob Hoskins e John Leguizamo, que fazem Mario e Luigi.
A partir de 1993, houve uma trilogia produzida por Roger Corman, chamada de Carnossauro, em que basicamente se mostrava uma figura reptliana que ao consumir carne ia crescendo com o tempo. Em 1995, Louis Morneau dirigiu a continuação, Carnossauro 2. Esta versão tem 82 minutos, e demora-se demais para finalmente aparecer o tal vilão, com mais de meia hora decorrido de filme, sendo esse uma figura parecida com um velociraptor terrivelmente mal feito. Esse segundo capítulo é monótono, com praticamente um cenário fechado que tenta reunir diversos clichês. Há um tiranossauro que aparece no final, basicamente para relembrar a proximidade dessa saga com Jurassic Park.
Somente em Carnossauro 3, ou Criaturas do Terror como foi chamado no Brasil, existe uma explicação melhor de como funcionam os carnossauros, que emulam características de algumas espécies do animal. Esse terceiro longa é basicamente igual aos anteriores, só estava lá para tentar angariar pessoas que queriam mais aventuras como as de Spielberg. O curioso é a que a trilogia foi concluída em dezembro de 1996, antes mesmo do lançamento de O Mundo Perdido: Jurassic Park, em maio de 1997.
Em 1994, levando em conta o sucesso não só de Jurassic Park mas também de Família Addams (1992), foi realizado Os Flintstones: O Filme, com um elenco repleto de astros e bons atores. A adaptação do desenho clássico de 1960 ocorreu em uma parceria entre a Amblin e a Hanna-Barbera e o escolhido para a tarefa de direção foi Brian Levant. A história começa com o plano maligno de um homem ganancioso, e logo depois mostra-se uma cena que faz lembrar a abertura clássica, com o apito da pedreira tocando e Fred (John Goodman) descendo e encontrando seu amigo Barney (Rick Moranis). A primeira cena do filme mostra um brontossauro trabalhando. Nesse momento é claramente um robô que faz a cena, mas quando se trata de mostrar o pet da família, Dino, sua realização é toda por computação gráfica, e os efeitos são quase perfeitos, aliás toda a atmosfera que Levant traz é muito condizente com a do seriado animado, desde as gags visuais, até a amizade inabalável de Fred e Barney.
O começo do filme, as caracterizações e sacadas são muito boas, mas a ideia central do roteiro e o final carecem de uma qualidade maior, semelhante ao resto, mas ainda assim é um filme bem digno, em especial se comparado a outras animações baseadas em desenhos, ainda que Dino merecesse um pouco mais de participação na trama, como era no desenho. Em 2000, lançaram Os Flintstones em Viva Rock Vegas, que é uma continuação/prequel também conduzida por Levant, e que não leva praticamente ninguém do elenco original, exceto um ou outro figurante, e apesar de tudo, não chega a ser um filme terrível, embora perverta boa parte dos bons conceitos do filme anterior, em especial no Barney de Stephen Baldwin, que é um imbecil.
Já em 1995, Jonathan Betuel dirigiu Meu Parceiro é um Dinossauro, e na trama mostra um futuro alternativo, onde dinossauros foram recriados por engenharia genética, e vivem com os humanos. A policial Katie Coltrane (Whoopi Goldberg) ganha um novo companheiro, chamado Theodore. O visual dos animais pré-históricos lembram muito o utilizado em Família Dinossauro, mas o filme em si tem quase nenhuma graça. Isso foi em 1995, em 1999 mais uma vez O Mundo Perdido foi adaptado, agora para a televisão. Durou três temporadas, tendo mais de sessenta episódios. Os efeitos evidentemente deixavam a desejar, mas era uma diversão juvenil descompromissada, em especial para as crianças brasileiras que assistiam na Record. Obviamente que tinha um certo apelo sexual, em especial com a personagem Veronica (Jennifer O’Dell), que parecia um Tarzan feminina, sempre de biquíni de tanga.
1998 foi a vez do telefilme Gargantua, sobre uma ilha na Polinésia, onde ocorrem atividades sísmicas estranhas, incluindo diversos afogamentos, que alegam ser obra de uma espécie de anfíbio, aparentemente, de tamanho gigante. As criaturas se assemelham demais a dinossauros, mas são mostrados com efeitos visuais terríveis, e o filme não passa de uma Sessão da Tarde terrivelmente mal pensada.
Em 2000, a Disney lançou Dinossauro, uma animação divertida e aventuresca, com um caráter muito parecido com o de Rei Leão. Lançado para TV, Dinotopia é uma minissérie conduzida por Michal Bramblia, o mesmo diretor de O Demolidor filme com Sly e Wesley Snipes. Na trama, conhecemos a história de dois irmãos que viajam com seu pai e acabam parando em um lugar estranho, onde homens e dinossauros vivem em harmonia e parceria. O especial tenta ser lúdico, mas tem uma história enfadonha e que causa bastante sono em quem a acompanhou, passava aqui no Brasil no SBT e contém um elenco cheio de rostos conhecidos, como David Thewlis, Colin Salmon, Jim Carter, Wentworth Miller, Geraldine Chaplin e outros, mas tanto o elenco quanto os dinossauros são bem sub-aproveitados, já que não há quase conflito nenhum e o discurso excessivamente politicamente correto também faz todo o drama em volta da minissérie desimportante.
Como parte dos filmes e séries mais recentes, pode-se destacar o terrível O Som do Trovão, um longa dirigido por Peter Hyams. A história é baseada levemente em um conto de Ray Bradbury, mas sua execução é ruim em um nível inaceitável. Uma empresa presta serviços de viagem no tempo a quem pode pagar muito, levando os endinheirados ao passado para matar um dinossauro que já morreria sem interferência dos mesmos, o problema é que essas viagens tem de ocorrer muito protocolarmente, sem alteração nenhuma, se não todo o futuro mudará.
A ideia, apesar de um pouco absurda, não é de todo mal, mas a execução… a maior parte dos cenários parece ter sido retirada de um show de horrores, se assemelhando demais as fitas de ficção cientifica da Asylum ou do canal Syfy, e o filme de 2005 ainda possui um elenco recheado de atores que em breve estariam em alta ou que já estiveram, como Ben Kingsley, David Oyelowo, Catherine McCormack, Corey Johnson. Ainda assim, o maior enfoque parece mesmo o de fazer um dos efeitos de computação gráfica mais mal feitos da história recente do cinema. Sequer o dinossauro que aparece é risível e não causa espécie em quem está vendo, completamente esquecível.
Em 2008, houve uma outra versão do livro de Jules Verne, Viagem ao Centro da Terra: O Filme é conduzido por Eric Brevig, mostrando o (na época) astro Brendan Fraser vivendo o cientista malfadado Trevor Anderson, tentando provar suas teorias. Já aparecem dinossauros no início do filme, em uma espécie de epilogo, antes mesmo da ação começar, mostrando o que aconteceu a Max (Jean Michel Paré), irmão do personagem principal, que desapareceu. A vida do sujeito é bagunçada e ele recebe a visita de seu sobrinho, Sean (Josh Hutcherson),e ele vem junto com uma caixa de pertences do pai de Sean.
O livro de Verne existe no universo do filme, ou seja, serve de inspiração para os personagens, além de obviamente ser baseado no romance. As anotações em uma cópia barata do livro os levam a um novo paradeiro, decidindo viajar até os pontos do mundo onde a pesquisa dele levou. Há todo um grupo de fãs do escritor que acreditam que o que o autor falava era realidade. As cenas de computação gráfica usada nos dinossauros são fraquíssimas, em especial, envolvendo um T-Rex, o que é no mínimo lamentável. Em 2012 houve uma continuação, Viagem 2: A Ilha Misteriosa, em que se mudou o diretor e Fraser foi trocado The Rock, mas esse não possui dinossauros, e é baseado em outra obra de Verne.
Em A Era do Gelo 3, ainda sob a tutela do diretor Carlos Saldanha, Sid, Diego e Manny se deparam com seres que aparentemente já estariam extintos. Lançado em 2009, o filme era ainda um exemplar decente da franquia, antes de se tornar totalmente desprezível. O longa mostra a preguiça encontrando três ovos, que se revelam ser de tiranossauro. O mamute inclusive cita que os T-Rex deveriam estar extintos, mas há um vale onde os dinossauros vivem em paz e isolados. O problema seria dali para frente, onde até a suspensão de descrença ultrapassaria seus limites.
Ainda em 2009, como parte da tentativa de fazer filmes remakes de séries famosas, Brad Silberling conduziu O Elo Perdido, tendo Will Ferrell no papel principal. O filme pega emprestado a mitologia do seriado para ser mais um show de Ferrell, e apesar de fazer muita piada com os clichês do programa, é extremamente reverencial, e repleto de piadas que desconstroem o conservadorismo típico das comédias típicas dos anos 1990/2000. Seu final é um pouco complicado, e o filme não deu o retorno esperado ao estúdio, mas é bem mais que um filme bobo. Bastante subestimado, na verdade.
Caminhando com Dinossauros foi um filme em 3D de 2013, dirigido por Barry Cook e Neil Nightingale. Ele conta com uma introdução mostrando humanos chegando a um lugar esmo, para logo depois mostrar animais falantes, que recontam histórias com dinossauros do período cretáceo, que são obviamente dublados, contendo voz de famosos como Leguizamo e Justin Long. O filme é baseado num programa de TV que fez sucesso, e tem um tom lúdico, mas não fez muito sucesso além do público infantil. Visualmente o filme é interessante, mas a historia é boba e superficial, sem grandes atrativos para o público mais velho.
Assim também é o filme da Pixar O Bom Dinossauro, de Peter Sohn. A história acompanha o frágil Arlo, um pequeno filhote de apatossauro que vive com a sua família, que por sua vez, cultiva uma fazenda de leguminosas. Nessa realidade, o asteróide que teria acertado a Terra desviou do planeta, dessa forma homens e dinossauros coexistiram. Apesar de lidar com sentimentos de perda e orfandade, em comparação com outros filmes da Pixar, o longa é fraco, rivalizando com Carros, suas sequências e Procurando Dory, como produto menos elogiável.
Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros deu um novo fôlego para a franquia e para a exposição dos dinossauros no cinema, e apesar de não ter sido um primor de história, ajudou a tornar o assunto popular novamente. Nesse meio tempo, a Asylum e outras companhias semelhantes fizeram diversos filmes de baixo orçamento com dinos. Um pior que o outro. Depois de Jurassic World, de Colin Trevorrow, a continuação que J.A. Bayona trouxe, em Jurassic World: O Reino Ameaçado ajuda a resgatar um tipo de cinema como os das matinês, onde o espectador ia ávido por assistir filmes onde o escapismo imperava e os personagens eram afortunados unicamente por terem uma existência capaz lidar com acontecimentos grandiosos, que fogem do ordinário, e tudo por conta do encontro com criaturas de proporções dantescas, o mesmo fascínio que encantou Doyle, Burroughs, Crichton, O’Brien e Spielberg, além é claro do espectador, que certamente age como as crianças que encontraram o brontossauro na árvore, no clássico Jurassic Park, se encantando com as criaturas que já reinaram sobre a Terra.
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