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  • Culturama e os Novos Quadrinhos Disney

    Culturama e os Novos Quadrinhos Disney

    Após o hiato em que ficaram os quadrinhos Disney no Brasil devido ao cancelamento do contrato com a Editora Abril, finalmente os fãs de Mickey, Donald e toda a turma tiveram contato com o material da nova casa das aventuras de Patópolis. A editora gaúcha Culturama lançou em março suas cinco revistas mensais, todas com histórias inéditas e com a numeração reiniciando do zero. Além da distribuição avulsa normal em bancas, a editora aposta em outros pontos de vendas para popularizar a leitura de quadrinhos Disney, principalmente entre crianças – por isso, a princípio, não teremos os encadernados de luxo que foram descontinuados pela editora anterior, que era mais caro e voltado ao público adulto. Também está disponível um sistema de assinatura que, ao invés de oferecer um desconto ao assinante, oferece brindes exclusivos como canecas, chaveiros e miniaturas exclusivas. A Culturama oferece ainda uma terceira modalidade de venda: o box contendo as cinco edições e uma cartela de adesivos. Foi com essa caixa que o Vortex Cultural teve contato, e iremos analisar cada uma das edições a seguir. Todas elas têm 68 páginas e apresentam o mesmo texto introdutório, contando um histórico da própria Culturama, das publicações Disney no Brasil e os planos futuros da nova editora.

    *Os textos a seguir são as opiniões pessoais do redator, e não refletem necessariamente a posição dos editores do site.

    Tio Patinhas nº zero

    Comecei a ler pelo título do meu personagem favorito, o que seria o mais lógico a se fazer. O gibi do Tio Patinhas apresenta um formato de publicações de histórias que me pareceu o ideal, e se continuar assim tem grandes chances de ser minha revista favorita. A primeira história é uma publicação italiana, que costumam ser mais longas e com menos quadros por páginas. Pessoalmente, não sou um grande fã da Disney italiana. Embora eu reconheça a liberdade criativa dos autores e desenhistas, o traço mais estilizado típico dos artistas do país da pizza me incomodam às vezes. Mas o que me incomoda sempre é a falta de comprometimento com uma cronologia razoável. Isso fica muito claro na primeira história intitulada O grande amor do Tio Patinhas. Escrita por Bruno Concita e desenhada pelo mestre Giorgio Cavazzano, a história me induziu a um erro logo no título. Eu esperava que fosse sobre Dora Cintilante, a vigarista que roubou o ouro e o coração do velho sovina nos tempos de garimpo no Klondike. Bem, nada disso apareceu, e vemos uma personagem totalmente nova chama Miriam MacGold. Como assim, ela é o grande amor do Tio Patinhas? O que houve com Cintilante? Como eu disse, os italianos tomam certas liberdades criativas e acabam simplesmente ignorando qualquer coisa já feita antes por autores de outras nacionalidades. Mas devo confessar que a história é bem interessante e me peguei rindo em algumas situações. As histórias a seguir são mais curtas (e com mais quadros por página), com um traço mais clássico e consistente, e aparentam estar mais alinhadas com Barks e Don Rosa. Produzidas na Dinamarca, essas hqs apresentam tudo que se espera de um conto dos Patos: Invasão à Caixa-Forte, os Irmãos Metralha, Maga Patalójika, uma viagem ao antigo garimpo do Tio Patinhas… Mas apesar de manter o visual clássico, temos tecnologia atualizada, como smatphones por exemplo. Diferente das histórias de Don Rosa, que se passam em uma eterna década de 1950, os dinamarqueses atualizam o que julgam necessário para dialogar com a nova geração de leitores.

    Pato Donald nº zero

    Eu tinha uma grande expectativa pra ler o novo gibi do Pato Donald. Afinal, foi com ele que começou a publicação mensal de hqs Disney no Brasil, na Editora Abril. Não me decepcionei. Suas 68 páginas foram bem recheadas de histórias que se alternavam entre mistério, aventura e humor, todas elas na média de dez páginas. Me surpreendi ao ler a primeira história com o teor mais sério e atual. Um golpe na Escandinávia mostra Donald e seus sobrinhos de férias em Oslo e retrata de forma bem realista algumas das paisagens nórdicas mais famosas. Mais histórias dinamarquesas seguem a essa, com tom mais leve, e duas histórias italianas (além das gags de uma página estreladas pelo Peninha). Temos Professor Pardal, Metralhas, Gastão, uma história de exploração espacial com Tio Patinhas e claro, o Peninha aprontando das suas! Pra quem gosta de humor leve e descompromissado, ou procura por algo mais infantil, esse gibi é certamente a melhor opção.

    Mickey nº zero

    Após ler as duas revistas que eu mais estava esperando, resolvi tirar logo o elefante da sala. Nunca gostei muito das histórias do Mickey, então resolvi ler de uma vez pra terminar logo. Ah, como eu estava errado! O gibi do Mickey realmente aqueceu meu coração e superou qualquer coisa que meu preconceito com o ratinho pudesse me permitir esperar. Loo na primeira história, aquela surra de nostalgia: Francesco Artibani escreve um conto da juventude de Mickey, Donald e Pateta que remete às primeiras animações do trio, lá do início do século passado. A arte de Lorenzo Pastrovicchio emula perfeitamente o espírito da época, e vemos aquele Mickey aventureiro e cheio de energia dos clássicos animados em uma empreitada com seus amigos como limpadores de chaminés, e enfrentam o Bafo de Onça e cientistas malucos em uma história de 30 páginas que me levou diretamente aos VHS da Video Collection Walt Disney de quando eu era criança. A segunda história não deixou por menos. Contando a história do romance entre Mickey e Minnie desde quando se conheceram (mais uma vez adaptando o estilo ao dos anos 1920 em um flashback), Giorgio Fontana e Massimo De Vita nos mostra como é a vida a dois do casal mais famoso da Disney. Apenas duas histórias italianas nesse gibi e PRONTO! Já não sou mais um hater! Quem diria que um gibi do Mickey iria abrir minha mente para experimentar essas liberdades criativas? (Ou talvez tenha sido justamente o fato de manterem uma cronologia? Veremos nos próximos lançamentos…)

    Pateta nº zero

    Ah, o Pateta! Hahaha, não tem como errar numa revista dessas! É o Pateta, ele é o mais engraçado dos três personagens principais, haha… ha? Oi, como assim, ele não é o personagem principal de sua própria revista? É isso mesmo que estou vendo? Infelizmente, é isso sim. Assim como no título do Mickey, a revista do Pateta apresenta duas histórias longas produzidas na Itália. Mas o Pateta sequer é o protagonista! Nem mesmo secundário ele é na primeira história, que dá mais importância a uma personagem que eu só conhecia de longe (a arqueóloga Eurásia). Já na segunda história, Pateta faz dupla com Horácio (o cavalo, não o tiranossauro herbívoro) para desbaratinar os planos de uma empresária inescrupulosa que descobriu a “água fóssil” e… Ah, cara! Que história genérica, qualquer outra dupla de personagens poderia estar ali que daria na mesma! Podia ser com Donald e Peninha, Mario e Luigi, Cebolinha e Xaveco… A história não mudaria em nada. Espero que as próximas revistas tragam histórias mais curtas ou ao menos mais engraçadas.

    Aventuras Disney nº zero

    Ah, a cereja do bolo! Deixei por último pois sabia que ia gostar, já que lembra o mix de histórias do antigo Almanaque Disney. A revista abre com uma história longa do Superpato, que eu gostei mas confesso não ter conseguido identificar se é a versão clássica ou a nova, futurística, pois pra mim parecia mesclar elementos de ambas. (“Ain, Dan, você tem que pesquisar mais antes de escrever!” – É, eu sei, mals aí! Tô tentando.) A seguir uma história curta do único Lobão que vale a pena prestar atenção, uma história muda do Pardal com o Peninha e um conto de mistério da Vovó Donalda – eu senti um certo orgulho em ter desvendado o roubo antes do desfecho, mas depois me lembrei que é um gibi pra crianças! Pra terminar, uma história do Superpateta bem divertida e leve (meio bobinha até), mas que pode tirar um riso ou outro.

    Conclusão: os italianos são legais, Dan!

    Após terminar os cinco gibis, cheguei à conclusão de que não devo torcer o nariz pras histórias italianas. Elas são divertidas! E as novas revistas estão com uma material muito melhor na Culturama do que na antiga casa. Papel de maior gramatura, capa em couché, excelente impressão. Teve um ou dois errinhos de diagramação nos balões, mas nada que prejudique o resultado final. Resta agora esperar que essa qualidade se mantenha, e que venham também as prometidas publicações diferenciadas, além da retomada da produção nacional. Ah, e tem cartela de adesivos! Todo mundo gosta de adesivos!

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  • Os 10 Melhores Momentos do Mickey Mouse

    Os 10 Melhores Momentos do Mickey Mouse

    Em novembro de 2018 o camundongo mais famoso do mundo completa 90 anos de sua primeira exibição ao público norte-americano. Entre altos e baixos, com produções memoráveis e outras nem tanto, Mickey Mouse permanece como um símbolo da Walt Disney Company até hoje e influencia até mesmo as leis de direitos autorais através de lobby no governo dos EUA. Em homenagem a essas nove décadas, preparamos uma lista com os melhores momentos do ratinho na televisão, cinema e videogames!

    10. O Point do Mickey (2000)

    Especial de Dia das Bruxas de House of Mouse, Os Vilões da Disney fez sucesso em home video

    Em último lugar nessa lista, o desenho animado House of Mouse ficou conhecido no Brasil por uma gíria que não sobreviveu à metade da primeira década do século 21. O tal “point” era uma espécie de clube ou casa noturna da qual Mickey era sócio junto ao Pato Donald na série. O clube era frequentado por praticamente todos os personagens animados Disney, desde os clássicos Pateta, Pluto, Minnie e Clarabela até personagens de filmes como O Rei Leão, Pinóquio e Dumbo. Era possível ver na mesma cena o urso Balu, a sereia Ariel e os Sete Anões. A maioria dos personagens não tinha fala, apenas faziam uma ponta – a não ser que o roteiro assim pedisse. No palco, Mickey apresentava segmentos de desenhos clássicos e novos, alternadamente, dando uma sobrevida ao programa anterior que havia sido cancelado, Mickey Mouse Works (no Brasil, com o péssimo nome OK Mundongo da Disney). A série seguiu esse formato por quatro temporadas e 52 episódios, sendo que os episódios de natal e halloween são até hoje reprisados com certa frequência. Embora a animação das cenas no “point” seja bastante limitada, a série merece entrar nesta lista por apresentar material antigo – e de qualidade – a um público novo.

    09. A Casa do Mickey Mouse (2006)

    Mickey e sua turma conquistam pais e filhos com programa educativo

    Seguindo a linha de programas educativos para crianças bem pequenas, como Dora, a Aventureira, A Casa do Mickey Mouse fez um estrondoso sucesso também com os pais. Fofinho, colorido e mantendo o visual clássico dos icônicos personagens, era também uma novidade por ser um programa feito completamente em computação gráfica. Os roteiros são bem infantis e os personagens se envolvem em situações que só parecem problemas reais para crianças de cinco anos, mas isso é o suficiente para manter olhinhos atentos na tela. Para resolver os problemas, Mickey conversa com a câmera representando as crianças, e espera um tempo para que elas respondam em casa, num exercício de quebra da quarta parede pra pato nenhum botar defeito (“É mole?”, diria um certo penoso semi-famoso nas redes sociais). Para ajudá-lo a resolver os problemas, Toodles surgia com os Mickey Objetos – que sempre vinham a calhar e nunca eram inúteis.

    A Casa do Mickey Mouse, embora não tenha um primor de roteiro para aqueles que já são alfabetizados, ganha lugar de destaque nessa lista pelos seus 125 episódios que, disputando com o fenômeno nacional Galinha Pintadinha, manteve o interesse da criançada no personagem.

    08. Hora de viajar! (2013)

    Passado e presente, juntos na mesma animação

    No final de 2013, uma “febre congelante” avassalou as crianças do mundo inteiro com o longa animado Frozen. O que poucos comentam, contudo, é que antes do lérigou foi apresentado nos cinemas um dos curta-metragens mais divertidos do Mickey desde a sua criação. Hora de viajar! mistura animação clássica em preto e branco com o que há de melhor em efeitos visuais 3D. Em uma sequência alucinante, a impressão que temos é que os personagens realmente saem da tela e interagem com a sala de cinema. Talvez por isso esse curta seja tão pouco lembrado, pois só quem assistiu no cinema e em 3D obteve a sensação de imersão necessária, nunca reproduzida totalmente em home video.

    07. Castle of Illusion (1990/2013)

    Diversão eletrônica

    É impossível falar de Castle of Illusion sem citar suas duas versões: a clássica, de Mega Drive e Master System dos anos 90, e o excelente remake de 2013 para PlayStation e XBox. Ambas as versões seguem a mesma história: Minnie foi sequestrada pela bruxa Mizrabel. O jogo apresenta todos os clichês presentes em jogos de plataforma como Mario ou Sonic, mas aposta em um personagem igualmente carismático e imensamente mais popular.

    Cada fase do jogo apresenta um tema diferente do universo mágico da bruxa, sendo florestas sombrias, bibliotecas encantadas, casa de brinquedos e até doces e guloseimas os cenários que, magicamente, se escondem no castelo de ilusões de Mizrabel. Os chefões das fases não são muito difíceis de derrotar, apresentando uma certa lógica bastante previsível em seus movimentos. Diferente de DuckTales Remastered (que usou exatamente o mesmo jogo de NES com uma roupagem gráfica moderna), a nova versão reformulou completamente as fases, mecânicas e jogabilidade do cartucho original, e é ainda hoje uma excelente experiência tanto para o público mais novo quanto para os saudositas.

    06. Epic Mickey (2010)

    Clima sombrio marca retorno de personagem esquecido

    Epic Mickey é um marco não só nos videogames como também na história recente dos Estúdios Disney por reintroduzir na empresa o primeiro personagem de Walt Disney: Osvaldo, o Coelho Sortudo. Walt havia perdido os direitos do personagem pouco depois de criá-lo, e por muito tempo o coelho ficou nos estúdios de Walter Lantz, o mesmo da turma do Pica-Pau. O personagem faz nesse jogo seu retorno triunfal, antagonizando seu “irmão” Mickey numa terra de personagens esquecidos ou rejeitados que é uma paródia sombria aos parques temáticos da Disney, incluindo animatrônicos defeituosos de personagens como Pateta e Margarida. O jogo foi lançado para Nintendo Wii e utilizava-se da tecnologia de captura de movimentos que era novidade na época com o Wiimote, que servia para simular o pincel mágico que Mickey “emprestou” do feiticeiro Yen Sid (o mesmo de Fantasia).

    O jogo tem um roteiro deslumbrante e gráficos espetaculares, mas apresenta alguns problemas de jogabilidade, principalmente com os ângulos de câmera, que ficaram ainda mais limitados na sua sequência direta, Epic Mickey 2: The Power of Two. O jogo ainda rendeu uma adaptação em quadrinhos roteirizada por Peter David (conhecido por sua longa fase no Hulk, da Marvel e pela revitalização do Aquaman na DC nos anos 90).

    05. Mickey Mouse (2013)

    “O meu amor está no Carnaval!”

    Também chamada popularmente de Curtas do Mickey, essa série mantém o ritmo alucinante e o espírito aventureiro e jovial dos primeiros desenhos em preto e branco do camundongo. A série mistura design clássico com humor nonsense e a agilidade das mais modernas animações de comédia para revitalizar os personagens de forma estranha e hilária ao mesmo tempo. Os episódios são totalmente independentes entre si, e não mantém nenhum compromisso com cronologia ou mesmo tempo e espaço. Vemos Mickey e sua turma morando e trabalhando na França, na Rússia ou em qualquer parte do globo, e nesses episódios eles falam a língua local, sem precisar de dublagem localizada (com exceção dos episódios no Brasil que foram redublados, talvez para não causar estranheza ao ouvir o Mickey falando português com outra voz que não seja a do seu atual dublador, Guilherme Briggs).

    Os roteiros também não se intimidam em fazer piada com nada. Em um episódio, Pateta é um zumbi em decomposição, rodeado por moscas. Em outro, descobrimos que Donald nunca foi marinheiro! Nos dois episódios ambientados no Brasil (o primeiro sobre futebol e o segundo, claro, carnaval) temos a aparição rápida, porém pontual, do nosso representante no Universo Disney, Zé Carioca, e são episódios muito divertidos. A série está, atualmente, em sua quinta temporada.

    04. Runaway brain (1995)

    Ah, os anos 90!

    Um dos melhores curtas já feito, Runaway Brain trouxe o Mickey dos anos 1940 para os anos 1990. Tudo nele lembra seus episódios clássicos, mas aqui ele come pizza e joga videogame. O roteiro é bastante sombrio para um desenho do Mickey, com referências a diversos filmes de terror – sendo os mais evidentes O Exorcista e Frankenstein. Mickey tem seu cérebro trocado com o de um monstro com a cara do Bafo de Onça ao tentar arrumar um jeito de agradar sua namorada Minnie. O curta apresenta vários easter eggs, desde um jogo de videogame estrelado pelo Dunga, de Branca de Neve e os Sete Anões, até a aparição de um certo mordomo real da Pedra do Rei. Apesar de esquecido do grande público, merece um lugar bem perto do topo na nossa lista de grandes momentos!

    03. Fantasia – O aprendiz de feiticeiro (1940)

    Com grandes poderes…

    Segmento de Fantasia,  terceiro longa animado de Walt Disney, O aprendiz de feiticeiro é talvez o mais importante papel que Mickey já atuou em todos os tempos. Prova disso é a constante volta a essa história em outras mídias, como no especial de halloween Os vilões da Disney, ou em videogames, como o já citado Epic Mickey e o mundo aberto de Disney Infinity.

    No curta, Mickey é ajudante do feiticeiro Yen Sid (nome digno de personagens de rpg pouco inspirados, como Namtab, Alucard ou Redav Htrad) e descobre poderes cósmicos fenomenais ao colocar o chapéu mágico de seu mestre. Claro que os grandes poderes a ele concedidos fogem ao seu controle e o ratinho precisa lidar com as consequências da magia ilimitada! A trilha sonora de Paul Dukas, baseada na obra de Johann Wolfgang von Goethe encaixa perfeitamente com a magistral animação e o primoroso roteiro de um dos maiores clássicos Disney.

    O curta está entre os top 3 dessa lista por um motivo curioso: o Mickey roubou o papel que seria de outro personagem Disney famoso na época! A princípio, o aprendiz de feiticeiro seria interpretado por Dunga, de Branca de Neve e os Sete Anões. Aparentemente, o senhor Mouse deve ser um ator influente nos estúdios, roubando até mesmo alguns dos trejeitos e parte do figurino do anão para esse filme…

    02. Uma cilada para Roger Rabbit (1988)

    Miska, muska, o que que há, velhinho?

    Uma cena épica no cinema aconteceu no longa de Robert Zemeckis Uma Cilada para Roger Rabbit: quando o detetive humano Eddie Valiant cai de um edifício em Toontown (ou Desenholândia, dependendo da dublagem), dois paraquedistas aparecem para ajudá-lo (mais ou menos). Trata-se do primeiro encontro entre Mickey Mouse e Pernalonga da história!

    O filme em si já foi um marco, tanto pela técnica que misturava cenas reais com animação quanto pela quantidade absurda de personagens de estúdios diferentes em cena ao mesmo tempo. Mas a cena do paraquedismo com Mickey e Pernalonga é realmente icônica, pois ambos os personagens são considerados os maiores representantes de seus respectivos estúdios. Os estúdios Disney e Warner, após longa negociação, concordaram em ceder os dois personagens, desde que tivessem o mesmo tempo de tela. O resultado não poderia ter sido mais satisfatório, e merece o segundo lugar nessa lista!

    01. Steamboat Willie (1928)

    Clássico é clássico!

    Em primeiríssimo lugar, não poderia ser diferente! O barco a vapor foi lançado em 18 de novembro de 1928 e é um marco da animação mundial! Aqui, vemos um Mickey muito diferente do que estamos acostumados nos dias de hoje: embora já fosse aventureiro e enfrentasse problemas muito maiores que ele mesmo, o Mickey desse curta é também atrapalhado como o Pateta seria mais tarde e se irritava com facilidade da mesma forma que o Pato Donald!  Essas características seriam diluídas anos mais tarde entre seus dois co-protagonistas, e se perderiam com o tempo, dando espaço apenas ao bom-mocismo do personagem-símbolo da Disney. Mas em seu primeiro trabalho, Mickey se mostra mais disposto a burlar regras, como trazer sua namorada à bordo do barco com um anzol ou desrespeitar o comandante. O design do personagem também não era algo original , pois emprestava muitas características do Gato Félix e do Coelho Osvaldo. O desenho também não foi o primeiro a ser produzido com o ratinho: Plane Crazy surgiu antes, mas com o advento do cinema sonoro, O barco a vapor viu as telas e o público antes e fez história! Hoje, o segmento em que ele pilota o timão do barquinho enquanto assobia se tornou a vinheta de abertura dos longas animados do estúdio. E assim se vão 90 anos do camundongo mais famoso do mundo! Parabéns, Mickey Mouse!

  • Crítica | O Conto de Natal do Mickey

    Crítica | O Conto de Natal do Mickey

    O Conto de Natal do Mickey, também conhecido como A Canção de Natal do MickeyO Natal do Mickey Mouse, foi um marco nas animações Disney nos anos 1980. O curta-metragem produzido e dirigido por Burny Mattinson, marca o retorno do camundongo às telas em 1983, após 30 anos de hiato. Mattinson, que coincidentemente havia começado a trabalhar com animações na Disney exatamente quando o último desenho do Mickey foi lançado, não podia estar mais empolgado com a empreitada que lhe foi confiada.

    Assim, escolheu a dedo um time de animadores de forma com que cada um se sentisse o mais confortável possível com o personagem ao qual iria dar vida no celuloide. Da mesma forma, o elenco vocal original contou com a presença de uma equipe que já tinha trabalhado em uma versão de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, em um LP dez anos antes. Para a voz do personagem principal, Ebenezer Scrooge (encarnado pelo Tio Patinhas), Alan Young foi o escolhido e sua interpretação foi tão acertada que, poucos anos mais tarde, reprisou o papel do Pato Mais Rico do Mundo na série animada Duck Tales (e em 2013, no videogame Duck Tales Remastered). Young consegue captar soberbamente os contrastes de personalidade de Scrooge/Patinhas, tanto sua avareza quanto, ao final, sua conversão, além de imitar o sotaque escocês de forma natural. No Brasil, Ebenezer Scrooge foi também brilhantemente dublado pelo veterano Isaac Bardavid, a voz do Wolverine nos cinemas.

    Se o clássico de Dickens tinha como óbvia a escolha de Patinhas McPato para representar Ebenezer Scrooge (inclusive, seu nome original “Uncle Scrooge” o referencia), para interpretar Bob Cratchit ninguém seria melhor indicado do que o próprio Mickey Mouse. Para tanto, o técnico de som Wayne Allwine foi escalado e se tornou a terceira pessoa a interpretar o camundongo (o primeiro, de 1928 a 1946, tinha sido o próprio Walt Disney), e continuou como a voz de Mickey até sua morte, em 2009. A personalidade de Mickey se manteve fiel ao que ele sempre foi, mesmo 30 anos depois: pacato e carismático, e um tanto quanto modesto. Um personagem adorável, que mesmo com todos os problemas que enfrenta na vida se mantém otimista e confiante em um futuro melhor. Cratchit trabalha duro, sendo subserviente ao seu inescrupuloso patrão, para sustentar sua mulher e três filhos, sendo o mais novo, Timmy, muito doente.

    A história, como no clássico conto, gira em torno de Ebenezer e sua avareza se confrontando com os espíritos dos natais passado, presente e futuro. Scrooge demonstra prazer em enriquecer de forma ilícita, e tem momentos de pura crueldade, como quando, no passado, executou a hipoteca da própria noiva. O sovina recebe a primeira visita do além quando o fantasma de seu falecido sócio Jacob Marley surge para alertá-lo do que o espera no pós-vida. Marley, “interpretado” pelo atrapalhado Pateta, tinha sido em vida ainda mais cruel que seu sócio e, na morte, foi condenado a arrastar correntes pela eternidade “ou até mais”. Pateta/Marley o avisa que receberá a visita de três espíritos ainda nessa noite, véspera de natal, e o deixa aterrorizado.

    O primeiro espírito, o Fantasma do Natal Passado é interpretado pelo Grilo Falante, e sua introdução traz uma solução visual no mínimo interessante ao vermos uma câmera em primeira pessoa pulando pelo quarto. O fantasma leva Ebenezer Scrooge a revisitar seu passado, desde quando ainda era um jovem tímido, porém promissor, numa cena onde aparece a maior parte das “participações especiais” do curta (incluindo uma rara presença da Vovó Donalda), até sua transformação em um ser detestável e avarento. Contrastando com o grilo, o Fantasma do Natal Presente é representado por Willie, o Gigante de Mickey e o Pé de Feijão (segmento do clássico Como é bom se divertir). O ator vocal Will Ryan procurou manter-se fiel ao personagem, reprisando frases do gigante do curta anterior. Em um momento marcante e bastante sentimental, o gigante mostra para Scrooge como seu empregado Cratchit está passando o natal.

    Alheio à forma como “pessoas normais” vivem, Scrooge mal conseguia imaginar que o salário que pagava a seu empregado não garantiria sequer uma refeição digna. Scrooge se choca mais ainda ao ver o pequeno Timmy, doente e andando com ajuda de muletas, ter sua vida interrompida precocemente. Numa abrupta mudança de cena, vemos a família do camundongo no cemitério, chorando a morte do caçula. Ainda no cemitério, Scrooge vê seu próprio túmulo junto ao Fantasma do Natal Futuro (Bafo de Onça), sendo enterrado solitário, sem família e amigos, e uma clara alusão ao inferno no fundo de sua cova. Ao acordar desesperado, Ebenezer tem então sua conversão, distribuindo dinheiro aos pobres e fazendo a ceia de natal de seu empregado um momento mais feliz, tornando-o seu sócio.

    É possível ver a leveza do personagem de Scrooge ao fim em comparação com o peso que carregava no começo do filme. Até mesmo na forma de andar, antes com as costas arcadas como se carregasse o mundo em seus ombros com todo o peso de seus pecados passados. Em seu despertar, o peso das costas se esvai e Ebenezer fica visivelmente mais leve e, consequentemente um tanto atrapalhado com a súbita mudança, porém uma pessoa mais feliz e altruísta. Talvez a noção cristã de pecado e remissão esteja presente nesse momento, mesmo não se falando em momento algum sobre religião. O natal, nos desenhos Disney, não é exatamente uma data cristã, mas um momento de celebrar com a família e amigos, de desejar paz na Terra a todos, e assim é o final desse desenho, otimista e reconfortante, agradando crianças e adultos igualmente e principalmente nos fazendo refletir junto ao Tio Patinhas sobre nossos atos e nossos anseios para o futuro.

    Se Um Conto de Natal já foi adaptada para todos os meios possíveis, de peças teatrais a longa animado em computação gráfica, passando por novelas radiofônicas e inúmeras sátiras, O Conto de Natal do Mickey é uma das versões mais acalentadoras do conto de Dickens. A produção prima tanto pela qualidade da animação quanto trilha sonora e interpretações vocais, além de colocar personagens consagrados interpretando outros igualmente atemporais. Um clássico que honra as produções Disney anteriores e deixa um legado para as que vieram depois.

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  • Crítica | Aconteceu no Natal do Mickey

    Crítica | Aconteceu no Natal do Mickey

    Lançado ainda na época do VHS para o mercado de home video mundial em novembro de 1999, Aconteceu no Natal do Mickey logo se tornou um clássico natalino das locadoras. A fita em animação tradicional apresentou três curta-metragens estrelando os personagens clássicos da Disney em contos de natal, não relacionados entre si.

    O primeiro curta apresenta uma história ao estilo “dia da marmota”, na qual Huguinho, Zezinho e Luisinho desejam que todos os dias sejam natal e se veem presos num eterno 25 de dezembro. Os sobrinhos do Pato Donald parecem menos maduros do que suas versões em Duck Tales, de 1987, com suas personalidades assemelhando-se muito aos primeiros curtas em que aparecem. Os garotos aproveitam que já sabem tudo o que vai acontecer durante o dia para aprontar as maiores confusões, principalmente quando o natal diário se torna entediante. Ao fim, como seria de se esperar, aprendem uma grande lição sobre a importância da família. Interessante notar que, na reunião de família, Tio Patinhas surge com um visual mais parecido com sua versão original, com as suíças grisalhas, embora sua personalidade seja muito mais carismática do que o habitual. Também nessa reunião aparece uma tal “Tia Gertie”, que não aparece em mais nenhuma animação ou história em quadrinhos. Seu visual lembra muito a Madame Patilda da série clássica de Duck Tales, embora aparente ter bico de ganso e não de pato – talvez seja do lado da família do Gansolino? – e serve apenas ao propósito da história.

    O segundo curta apresenta Pateta e seu filho Max, em um conto familiar mais intimista, no qual as angústias da infância e as incertezas da vida adulta se chocam. Max, mais novo do que sua versão na série A Turma do Pateta (de 1992), começa a duvidar da existência do Papai Noel quando seu vizinho Bafo de Onça tira suas esperanças de ganhar presentes no natal. Pateta, atrapalhado como sempre, faz de tudo para que esse seja um natal inesquecível, e parece legitimamente acreditar na existência do Bom Velhinho e quer prová-la ao seu rebento a  todo custo ao mesmo tempo que lhe ensina a importância da caridade ao ajudar os menos favorecidos a ter uma ceia de natal. O curta apresenta uma breve aparição dos Irmãos Metralha, além de vários easter eggs do universo Disney.

    O último curta é estrelado pelo Mickey Mouse em pessoa, reprisando mais uma vez o papel de garoto pobre com bom coração. O camundongo pretende presentear sua namorada Minnie, mas toma um duro golpe de seu chefe Bafo de Onça (em sua segunda aparição na coletânea, porém com um visual diferente) e passa todo o episódio tentando arrumar um jeito de comprar uma corrente para o relógio dela. Ao final, mesmo conseguindo comprar a corrente e ganhando também um presente da amada, acaba sendo frustrante. Esse que deveria ser a cereja do bolo da fita acaba sendo o menos inspirado, talvez devido à personalidade insossa do protagonista que, na virada do milênio, ainda não havia encontrado uma maneira de se reinventar.

    Aconteceu no Natal do Mickey não é uma obra-prima como O Natal do Mickey Mouse, de 1983, mas ainda assim diverte e emociona, e pode ser apreciado ainda hoje pelas crianças, que substituíram as locadoras pelos serviços de streamming.

  • Resenha | Bafo-de-Onça: 90 Anos

    Resenha | Bafo-de-Onça: 90 Anos

    Bafo - Vortex Cultural

    O mais antigo personagem Disney ainda em atividade acaba de completar 90 anos. Sim, João Bafo-de-Onça já estava por aí antes mesmo de um certo camundongo dar as caras nas telas do cinema. Inicialmente um animal parecido com um urso, Bafo foi transformado em um gato para melhor antagonizar o ratinho Mickey. De lá pra cá, mudou de personalidade várias vezes, sendo ora um criminoso incorrigível, ora um vizinho mal-humorado, ou até mesmo um amigo meio incompreendido, como no desenho A Casa do Mickey Mouse.

    Seguindo a linha das outras edições comemorativas – como Superpateta: 50 Anos – a Editora Abril lançou um especial de 300 páginas para celebrar o aniversário do vilão. O volume segue a mesma estrutura dos outros, dividido em três fases (Americana, Italiana e Brasileira), sem seguir uma rigorosa ordem cronológica. A importância histórica dessas hqs para o personagem parece ter sido o principal quesito na seleção, muito mais do que a qualidade das histórias ou a participação do Bafo nelas.

    A primeira história, de 1930, mostra a estreia do gatuno em uma história em quadrinhos. Publicada originalmente em formato de tiras, o leitor deve virar a edição no sentido horizontal para acompanhá-la. Essa história do Mickey foi escrita pelo próprio Walt Disney – embora o roteiro tenha sido finalizado pelo talentoso Floyd Gottfredson, que também ficou responsável pelos desenhos. É uma história ainda seminal, em que Bafo não passa de um capanga do vilão principal, e muito do que viria a ser as personalidades de Mickey e Minnie ainda estava sendo desenvolvida. Os personagens moram numa área pouco urbanizada, e vemos o cenário rural bastante presente, com seus elementos típicos ao fundo. A história gira em torno de uma herança que Minnie ganhou de um velho tio, embora a namoradinha do Mickey quase não tenha falas ou ações relevantes. O tom é de aventura, e o camundongo ainda mantém algumas características que sumiram com o tempo, sendo divididas aos poucos com outros personagens (ele se irrita fácil como o Pato Donald e se atrapalha como o Pateta). A história que vem depois mostra mais a personalidade do Bafo-de-Onça, que nessa época ainda tinha uma perna de pau. Nela, Bafo é o “homem da carrocinha” que persegue Pluto. Em seguida temos a primeira história de Carl Barks na qual o Bafo faz uma aparição, já com a perna “restaurada”. É basicamente uma história do Donald, e Bafo aparece muito pouco, embora seja essencial mais pro fim. A fase americana encerra com três histórias do Mickey, nas quais, além de ter maior relevância, Bafo apresenta a personalidade que iria consagrá-lo no quadrinhos: um verdadeiro e perigoso bandido.

    Na fase italiana, João Bafo-de-Onça ganha uma importância maior nas histórias. Não apenas o bandidão unidimensional, mas um personagem mais complexo e de personalidade maleável. Em terras italianas ele ganha uma “famiglia”, com direito a uma noiva (Tudinha) e sobrinhos terríveis (Bafito e Bafildo). O Bafo italiano ainda é um mau-caráter, mas se permite fazer uma macarronada na casa do Mickey e almoçar em sua mesa enquanto conta a história de seu tio-avô. Ou ainda, confia no camundongo para cuidar de seus sobrinhos enquanto cumpre pena na prisão. Claro que, no fim, sua verdadeira face vem à tona. Mas é interessante a forma como ela é construída ao longo das histórias. Vale lembrar que os autores italianos são mais propensos a criar novos personagens. Nas histórias dessa fase selecionadas para essa edição, não aparece o Pateta como “fiel escudeiro” e sim dois personagens menores. Atomino Bip Bip (um ser de outra dimensão) ajuda o Mickey na história de 1960 “O colar Quirikawa”, na qual a noiva Tudinha faz sua estreia. Já na história mais recente “A Ilha Nefausta” (de 2004, escrita pelo renomado Casty e desenhada por Giorgio Cavazzano), o companheiro de aventuras é Brutus, um corvo filho adotivo do Amadeu. Brutus é um personagem pouco conhecido do grande público, principalmente por ter sido traduzido em várias histórias nacionais erroneamente com o nome de seu pai. Essa é, de longe, a melhor história da edição.

    Já a fase brasileira deixa muito a desejar. Embora mostre a primeira vez que Bafo é desenhado por um artista brasileiro (Jorge Kato, pioneiro dos quadrinhos Disney brazucas), as histórias são rasas e superficiais. Mickey e Pateta contracenam com Zé Carioca em duas histórias bastante insossas, com roteiros ingênuos mesmo para a época (1961). As duas outras histórias dessa fase são melhores e realmente engraçadas, embora mais curtas. São da década de 1980, quando os quadrinhos Disney no Brasil tinham uma produção de excelente qualidade. Morcego Vermelho e Superpateta contracenam com o Bafo, com aquele humor brasileiro que Gérson L.B. Teixeira e Verci de Mello combinavam muito bem! Mas é pouco, comparado às mais de 260 páginas dedicadas aos autores americanos e italianos.

    Se levarmos em consideração que essa é uma edição dedicada a um personagem específico, podemos dizer que na maioria das histórias ele não foi lá muito relevante. Embora contenha boas histórias, o homenageado aparece muito pouco na primeira metade do volume, ganhando status de co-protagonista em apenas uma (A Ilha Nefausta). Na história de Barks, por exemplo, Bafo aparece em apenas nove dos cento e sessenta e cinco quadros! O material extra, com textos e fotos raras, é bem interessante. Mas não chega a ser uma edição tão boa quanto suas antecessoras.

    pietro gambadilegno