Crítica | Com Amor, Simon
Eu odeio o fato do cinema americano precisar ser tão people pleasure business como acabou sendo, ou como foi engenhado pra ser, mesmo. Me refiro a essa parada de satisfazer as plateias a todo custo e evitar desconfortos, ou discussões a ponto de comprometer comercialmente uma franquia inteira, tal como ocorreu com Star Wars: Os Últimos Jedi. É um dos custos do entretenimento. Um dos custos de traduzir prazer em imagens em movimento, ao invés de preservar os culhões de um projeto de Cinema real, oficial. Com Amor, Simon é um projeto de cinema. Arriscado pela sua segmentação de público, raro por não ser mais uma comédia romântica de Nicholas Sparks, e falho por não saber ser tudo ou ao menos parte significativa do que poderia ter sido. Saudades do querido Lionel, de Dear White People…
Não há nada de errado com filmes, ou livros e games criados a partir do próprio marketing que vende-os no mainstream. Nadinha. Como não promover bem, até para um leigo em publicidade, o rótulo de uma “comédia romântica gay”, sendo o “filme” em questão um que não passa disso: Um rótulo, uma promessa. O problema, justamente, é quando a experiência não vai além das estratégias moldadas para a sua promoção; quando o produto se encerra em sua venda, algo que o universo da DC na telona amarga de forma simbólica, na cultura popular atual. Sobretudo, hoje, as pessoas compram muito pela emoção, pela validação social no status do WhatsApp do amiguinho, por exemplo, e foi também nessas peculiaridades da propaganda que Com Amor, Simon se apoiou com malandragem para ser um sucesso passageiro no competitivo mercado de cinema dos EUA, saturado de contos crepusculares sobre a relação de dois gêneros “opostos” que ninguém aguenta mais.
A história não poderia ser mais previsível em torno de um garoto, branco, hétero (ops) e seus amiguinhos, todos de classe média e que passam pelas mesmas coisas que todo adolescente sob a influência da cultura norte-americana passa: Ansiedade, espetacularização de tudo, desconfiança familiar, estilização dos próprios sentimentos, etc. Curioso é perceber como o cineasta Greg Berlanti tentou florescer a vibe teen John Hughes para retratar os mesmos adolescentes da década de 80 que nunca mudam suas dúvidas, atritos e inseguranças nessa fase de turbulências gerais, aqui representadas na situação que muda tudo para o jovem e simpático (até demais) Simon: A primeira paixonite online (quem nunca, não é mesmo?). A faísca que ascende o motorzinho pra bombear mais rápido o coração virginal é tratada de forma objetiva pela história, até porque o romantismo anda capenga demais, e quando rola o primeiro beijinho sob os aplausos da panelinha, “ah, toda uma geração de LGBT’s jovens vai se sentir representada”, pensaram os marketeiros. E, de novo, eles estavam certos! O filme, ou melhor, o hype construído ganhou uma legião de fãs que só saíram do Tumblr e do Snapchat para irem nos multiplex de shopping glorificar algo que parece ouro, mas é de tolo. Isso é tão pós-moderno que chega a doer.
Uma esquete de YouTube com um fiapo de roteiro que alongaram por duas horas e que emblema um par de fatores, extremamente atuais: A intolerância levemente menor do grande público por “novas” histórias com arranjos inusitados, devido talvez a falta de originalidade na ultra saudosista Hollywood de 2018, sem contar a verdadeira e cada vez maior não-necessidade dos jovens gays, e de todas as vertentes sexuais, de não precisarem, ao menos no Ocidente, se esconder mais nos armários que seus tios precisaram se refugiar, e onde tanto lutaram para seus sobrinhos não respirarem aquele ar, mofado. Com Amor, Simon encapsula a realidade do romance juvenil hoje em dia de forma realmente plena, sem exagero algum, tendo a noção realista de como as coisas são para os adultos de amanhã, e como certas normalidades se configuram para os que a vivem, algo minimamente esperado para um filme que escolhe debater na sua publicidade, sendo que na estória mesmo é tudo moldado de forma apática e inexpressiva, as paixões e a problemática que qualquer menino gay de dezessete anos é por elas imune de ser assolado.
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