Crítica | Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa
Não é a toa que o nome do longa Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa foi mudado para Arlequina em Aves de Rapina, para muito além do insucesso de bilheteria que ele sofreu, pois o filme de Cathy Yan é todo montado para que Margot Robbie brilhe. O início da trama se dá em um monologo franco, que se confunde com uma narração que fala direta ao público, onde a palhacinha fala a respeito de sua jornada trôpega e violenta rumo a independência.
Yan acerta na direção ao abordar a historia de uma forma lisérgica , lidando de um jeito divertido com as situações graves vividas pela personagem nessa encarnação, fazendo tudo soar leve, acompanhado claro de uma edição frenética e videoclíptica. É bem curioso como mesmo tendo adjetivos bem parecidos com os vistos no péssimo Esquadrão Suicida de David Ayer, não há uma desordem ou falta de identidade como no filme anterior, ao contrário, cada personagem secundário e a própria protagonista são muito bem justificados, fugindo da pecha clichê de família forçada ou vilões e contraventores que praticam sacrifícios que nada tem a ver com o caráter de cada um.
A dedicação a jornada de emancipação das integrantes das Aves de Rapina tem uma configuração bem diferente da dos quadrinhos, isso não necessariamente é ruim, mas fato é que essas encarnações estão muito distante do que é conhecido por essência e caráter das personagens. Entre os mais fiéis, certamente a Caçadora de Mary Elizabeth Winstead (soberba em sua jornada de vingança) é a que mais lembra a personagem original. A Renee Montoya que Rosie Perez faz tem boa parte das características, mas é um personagem de alívio cômico um pouco exagerado, já as versões da Canário Negro de Jurnee Smollett-Bell é bem diferente, mas nessa versão há camadas que deixam a personagem bem complexa. Por parte do grupo de protagonistas, apenas a Cassandra Cain de Ella Jay Basco decepciona um pouco, pois só pega emprestado o nome da ex-Batgirl, mas sua personagem move a historia tão bem que não compromete toda a trama.
O filme é visualmente deslumbrante, a edição brinca com entradas e saídas dos lugares onde as mulheres aparecem, quase como se elas adentrassem portais em uma metáfora digna de desenhos animados dos irmãos Fleischer e os vistos nos clássicos dos Looney Tunes. Há todo um aspecto cartunizado que faz referencia a origem de Harleen Quinzel no desenho animado do Batman de Bruce W. Timm, ainda que aqui isso não seja levado tão a serio.
A quebra da quarta parede só ocorre bem porque Robbie está muito afinada, e porque ha uma bela química entre ela, Winstead, Smollet-Bell e Basco. Mesmo Ewan McGregor está muito bem, embora seja um pouco apagado durante a trajetória das mulheres que buscam sua independência. Seu Roman Sionis tem poucas características do Máscara Negra original, mas a releitura é bem digna do vilão que chegou a ser um dos maiores antagonistas do Morcego durante os nos 2000. Fica a curiosidade para ver o Batman dentro dessa versão de Gotham, mesmo que por ser essa uma historia contida, se entenda porque ele não aparece.
O desfecho de Aves de Rapina é um pouco truncado, a tentativa de justificar a metalinguagem é desnecessária e expositiva em excesso, o espectador não é bobo e não é preciso que se reforce a ideia de que a Arlequina é uma versão feminina do mercenário tagarela Deadpool (em alguns pontos,essa pecha é até justificada, como nos quadrinhos recentes pós novos 52), mas ainda assim o final possui o humor negro e o gore que ajudaram tantos filmes baseados em quadrinhos a se tornarem populares, é realmente lastimável o resultado ruim de bilheteria, pois esse nem pode ser chamado de um filme de nicho, tampouco é uma obra preocupada em lacrar ou qualquer panfletarismo barato que tanto acusam essa versão de Birds of Prey.