Tag: Alan Moore

  • Resenha | John Constantine, Hellblazer – Origens Vol. 1: Pecados Originais

    Resenha | John Constantine, Hellblazer – Origens Vol. 1: Pecados Originais

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    Em janeiro de 1988 estreava a primeira revista solo de John Constantine, com roteiros de Jamie Delano (que permaneceria no título até a edição 41) e arte de John Ridgway. As publicações originais do encadernado vão até junho de 1988 e ainda eram publicadas pela DC Comics. Constantine foi criado por Alan Moore e teve suas primeiras aparições nas histórias do Monstro do Pântano. Sua faceta foi tão curiosa e carismática que fez deste um personagem muitíssimo popular, ganhando uma revista solo – Hellblazer – com tramas sobre o sobrenatural e carregadas de imundícies.

    A ambientação é toda feita num mundo imundo, repleto de associações a pecados capitais – sendo a fome, nesta primeira edição, o enfoque maior e mais lancinante. A nojeira e os insetos cobrindo Gaz dão um tom de terror absurdamente nauseante. O tema explorado por Delano varia entre possessão demoníaca, fantasmas e dominação do mundo por parte das forças das trevas. É tudo muito sujo, visceral e não poupa o leitor de escatologias.

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    Os desenhos de Ridgway aumentam o escopo de assombração e tornam as figuras, que já eram bizarras, em coisas mais aterradoras. A arte suja, rasurada e repleta de hachuras mostra o quanto John é perturbado por seus poderes paranormais. Seu cinismo corriqueiro não o exime da culpa que tem pela morte de quem o cercou um dia, tampouco o conforta diante de tudo o que o faz sofrer. Flagra também a humanidade com modos decadentes e vexaminosos.

    Não há complacência nenhuma por parte do texto; os dramas escatológicos não poupam os leitores. Fica uma dúvida ainda não respondida: se as pessoas que o protagonista/narrador vê são realmente espectros ou apenas frutos de seus delírios esquizofrênicos. A verborragia dos quadrinhos, com mil balões e descrições, proporciona ao público uma sensação claustrofóbica horrenda.

    Apesar de não serem humorísticas, as descidas do protagonista ao inferno possuem tom jocoso, visto que o modo medieval como o lugar é retratado é engraçado para as mentes contemporâneas, mas deve ter tido outro impacto no fim dos anos 80. No entanto, tudo isso é proposital. No terceiro número, Delano faz um paralelo com o cenário político britânico, brinca com as tendências econômicas e faz uma corajosa e clara associação (para quem quer entender) entre os conservadores extremos e a prática satânica.

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    A Londres de Hellblazer é grafada sob uma ótica pessimista, enfocando sua decadência como metrópole, flagrando grupos diversos de intolerância, em vez de mostrar a enorme cidade de primeiro mundo que engloba tantas raças, credos e nações.

    A quarta edição mostra os terrores que um ser humano pode causar ao outro, provando que por mais que o diabo e seus asseclas sejam ruins, ainda assim a figura humana pode impingir medo e pânico em seus semelhantes, e detalha como a crueldade – inerente ao ser humano – pode acontecer com pessoas comuns. Ela também apresenta um grupo extremista sedento por justiça feita com as próprias mãos.

    Este arco contém histórias auto-contidas, fechadas em si mesmas, o que permite explorar tramas de tiro curto, porém muito interessantes. O terror do Vietnã assombrou a opinião pública, o que ajudou a volta dos soldados aos seus lares. Escorraçados e tratados como assassinos a sangue frio, sofreram o desprezo por parte dos seus, além de amargarem enorme culpa e paranoia do pós-guerra – especialmente o grupo especial Marines. Delano evidencia essa questão explorando o drama de Frank, um ex-combatente, calvo, gordo, decadente por fora e mentalmente insano, que sofre de forte depressão. Constantine já entra na história reclamando de se inserir (forçadamente) ao horror claustrofóbico das vidas particulares das pessoas. Mais que o roteiro nada complacente, a arte de John Ridgway é pródiga não só em mostrar os horrores que a guerra impingiu, como também o terror que os soldados impuseram aos civis do país. A dúvida maior é se era a guerra que punha para fora os maiores defeitos éticos de seus participantes, ou se despertava nestes os sentimentos de exploração, depravação e narcisismo excessivo baseado no sofrimento do dito inimigo amarelo.

    O último número do encadernado faz menção ao Reino Unido novamente, rememorando visualmente o clássico Laranja Mecânica mas com uma temática (ainda) atual, com grupos neonazistas no lugar dos drugues. John C. se vê obrigado a enfrentar um opositor espiritual que tem um pé nos crimes urbanos britânicos – hooliganismo. As soluções que o anti-herói possui beiram o cinismo e são carregadas de sarcasmo. A história termina com um gancho, mostrando uma trama maior a ser explorada mais à frente. Não à toa, Jamie Delano ficou tanto tempo no título, dando lugar, mais tarde, a grandes artistas como Gaiman, Morrison e Ennis. No entanto, o personagem parece mais orgânico quando escrito pelo seu lápis, tamanho o conhecimento e identificação do anti-herói com o roteirista.

  • Resenha | A Liga Extraordinária – Volume Um

    Resenha | A Liga Extraordinária – Volume Um

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    A obra de Alan Moore e Kevin O’Neill, publicada em 1999, começa com uma citação de Campion Bond, em Memórias de um Agente Secreto Inglês de 1908, que é a síntese de todo o esquete:

    O império britânico sempre teve dificuldades para distinguir seus heróis de seus monstros”.

    Mina Murray é apresentada conversando com Campion Bond, a respeito de uma estranhíssima reunião, arquitetado pelo Senhor M., chefe do MI6. Moore deixa claro nas primeiras páginas que seu objetivo está longe de ser uma retratação chapa branca dos famosos personagens literários, ao contrário, a mesma corruptela que teria feito com os heróis mascarados em Watchmen, faria com esses ilustres senhores, mostrando as criações em domínio público de uma forma visceral, extremamente amoral e imperfeita. Os aforismos e liberdades tomadas por ele, acompanhado é claro da arte anárquica de Kevin O’Neill, tornam os empoeirados personagens em espécimes dignos e quase provindos do século XXI que se aproximava.

    Os desígnios da senhorita Murray parecem ser os de selecionar pessoas “extraordinárias” para constituir uma força-tarefa, ainda que de desajustados, com um viciado: Quatermain; um pirata: Nemo; um transmorfo homicida: Dr Jekill; um estuprador incógnito: Homem Invisível… Além é claro da participação diminuta mas não menos importante de Auguste Dupin.

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    Em uma frase, Quatermain resume o que para ele era o estado letárgico da aposentadoria: “É difícil parar, se você para tudo desmorona!”

    O grupo reunido tem capacidades além do alcance humano, ainda que suas mentes ou caráter não estejam nos melhores dias, A Liga é como uma reunião dos seres mais poderosos do Império Britânico, mas inseridos em uma fase descendente. A todo momento o autor relembra a decadência, deixando claro para o leitor que os tempos de glória do passado ficaram nos romances de Verne, Wells, Stevenson, Haggard e Stoker. A perspectiva de estarem do lado errado da Guerra que traria o Juízo Final deixa o grupo pasmo, especialmente Wilhelmina, que possui o código ético mais aproximado do ideal heroístico, mas cada um, à sua maneira, se mostra receoso.

    A imaginação do autor corre de forma desenfreada, as viradas de roteiro são frenéticas, mas perfeitamente cabíveis, num fino equilíbrio entre uma aventura escapista, mas sem deixar de lado o aprofundamento em personagens tão ricos como estes. Moore tem uma preocupação interessante com as personalidades canônicas, fazendo até referência ao tamanho diminuto de Mister Hyde na novela de Stevenson, coisa que a maioria dos filmes do Médico e o Monstro simplesmente ignora.

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    O desfecho é de um sensacionalismo folhetinesco dos mais bem construídos: sangrento e repleto de cenas de plasticidade exacerbada, abrilhantada pela arte anárquica de O’Neill, que na dupla com Alan Moore consegue capturar as nuances de cada um dos personagens de forma ímpar e os repagina para a nova era do entretenimento, em uma narrativa simples, porém muito bem urdida.

  • Resenha | Antes de Watchmen: Espectral

    Resenha | Antes de Watchmen: Espectral

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    Muito se falou a respeito do prelúdio de Watchmen, graphic novel aclamada pelo público e pela crítica, escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons, e que remodelou o universo dos quadrinhos dali para frente. Não é objeto desta resenha entrar nos méritos da editora sobre suas motivações (financeiras, logicamente) em voltar a essas personagens, muito menos compará-la com a série original, mas apenas analisá-la como uma história única.

    Antes de Watchmen: Espectral foi o segundo volume da série publicada pela Panini, logo após a minissérie do Coruja, e traz o roteiro de Darwyn Cooke e Amanda Conner, arte de Amanda Conner e o excelente trabalho de colorização de Paul Mounts. A HQ traz um pouco do passado de Laurie Jupiter, sua relação com a mãe e muitas referências à HQ original e ao contexto histórico da época narrada.

    Espectral não traz muitas diferenças em relação à HQ do Coruja: ambos se prestam a apresentar alguns dos personagens centrais da série original e o que as levou a se transformar naquelas figuras que conhecemos em Watchmen. Toda ação gera uma reação. Felizmente, a ação gerada nessa minissérie é muito melhor estabelecida do quem em Coruja.

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    A conexão com a história original é muito bem feita, detalhando toda a relação de Laurie com sua mãe, algo abordado anteriormente e esmiuçado aqui. As referências a Watchmen se dão de forma direta ou indireta, como através de objetos espalhados pela trama, como os quadrinhos eróticos da Espectral original, os buttons do Smile e o globo de neve. As referências históricas são representadas pela criação do LSD, o clima psicodélico dos anos 60, o rock and roll, manifestações políticas e sociais, e claro, a liberdade sexual.

    Cooke e Conner traçam uma trama mais introspectiva sobre o autoconhecimento de uma jovem superprotegida por uma figura materna coercitiva. A arte de Conner remete bastante aos quadros de Gibbons, e enquanto em Coruja a atmosfera pulp era presente página a página, em Espectral o traço é alegre e inocente, tudo isso somado às cores vivas e psicodélicas de Mounts.

    Antes de Watchmen: Espectral não é uma HQ que vai mudar o conceito de quadrinhos, mas é competente no que se propõe: detalhar as origens de uma personagem contando uma boa história.

  • Resenha | Superman: Para o Homem Que Tem tudo

    Resenha | Superman: Para o Homem Que Tem tudo

    Para o Homem Que Tem Tudo

    A Crise das Infinitas Terras se aproximava, e alguns heróis passavam a contar algumas de suas “últimas histórias”. Em Janeiro de 1985 Alan Moore e Dave Gibbons seriam responsáveis por uma destas histórias do Azulão.

    Para o Homem que tem tudo começa em Kandor – cidade kryptoniana engarrafada por Brainiac -, em uma festa surpresa para Kal-El. As crianças presentes vêem o seriado de Asa Noturna e Pássaro Flamejante. Enquanto isso, no Pólo Norte, os amigos do herói azulado – Batman, Mulher Maravilha e Robin – chegam para comemorar seu aniversário. A ideia de uma festinha com mascarados é pueril e é um resquício da infantilidade das historias da época, em contraponto com os temas abordados por Moore. O Batman recalca Jason Todd, que observa a Mulher Maravilha em trajes sumários, o proibindo de ter pensamentos impuros – piadas com a sexualidade do menino prodígio era uma prática comum.

    Ao se depararem com Superman os vigilantes percebem que ele está preso num simulacro, em uma realidade própria. Seu devaneio passa por estar em seu planeta natal – que não fora destruído – e com uma família, com esposa e filhos. Seu pai Jor-El caiu em desgraça após a sua profecia apocalíptica não ter se cumprido, no entanto a sociedade kryptoniana está em franco declínio.

    A ilusão é causada por uma planta alienígena chamada Clemência Negra, que daria ao seu portador tudo o que ele deseja. O artefato é um presente de Mongul, um antagonista do Super criado em 1980 por Len Wein e Jim Starlin (também criador de Thanos). O vilão pelas mãos de Gibbons é cruel e tem um traço visualmente intimidador. Seu plano maquiavélico põe a responsabilidade em sair da ilusão ao herói. Só o Superman pode escolher sair de seu “paraíso perdido” e salvar seus companheiros, a mercê do poderoso brutamonte amarelo.

    A situação e o caos político que atravessam Krypton é a forma do inconsciente do herói dizer que algo está errado com ele e com o que ele está vivenciando. O plano de Mongul era subjugar o Superman emocionalmente, com a recusa de seus desejos, uma dor muito mais profunda que qualquer acerto de contas físico.

    A batalha entre Superman e Mongul é homérica e de proporções titânicas. O embate faz perguntar por que este vilão não poderia ser utilizado em um filme do Azulão, ao invés de repetir as fórmulas de Lex Luthor ou “trios da Zona Fantasma”. A descrição de como seria o sonho de Mongul influenciado pela Clemência Negra é cruel, e com direito a incineração de Jason Todd e decapitação e empalamento do escoteiro, além da submissão de povos alienígenas ao Mundo Bélico. Para O Homem que tem tudo é uma das histórias clássicas do Super-Homem, não só por mostrar como seria sua vida caso não tivesse pousado no Kansas, mas também para reforçar seu caráter de auto-sacrifício, além de resgatar a sua aura de salvador, provando que, ao menos em seu universo, o mundo precisa sim de um Super-Homem.

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  • Resenha | O que Aconteceu com o Homem de Aço

    Resenha | O que Aconteceu com o Homem de Aço

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    Julius Schwartz, editor dos periódicos do Azulão, tinha em suas mãos a decisão de “fechar” as histórias do herói antes do Mega Evento Crise nas Infinitas Terras, e consequentemente, a reformulação de John Byrne em O Homem de Aço. Ele pensou em uma história definitiva, em que o personagem se veria diante de quase todos os elementos que o cercaram desde os anos 30. Ao saber da ideia, o velho barbudo Alan Moore ameaçou Schwartz, dizendo que o mataria se não o deixasse escrever a história. Em Superman 423 – Julho de 1986 – foi publicada a história, com arte de Curt Swan – o artista que mais desenhou o Super-Homem.

    O que Aconteceu com o Homem de Aço começa com um repórter entrevistando Lois Elliot – Lane abandonou o nome de solteira – a respeito do desaparecimento do último filho de Krypton. A jornalista aposentada começa os relatos contando sobre um surto de homicídios seguido por suicídio, deflagrados por Bizarro. Sem mais delongas, ela revela que a identidade de Clark é descoberta, após o Galhofeiro e o Mestre dos Brinquedos interrogarem e matarem Pete Ross, e depois do alter-ego exposto, ocorre um ataque ao Planeta Diário por clones de Metallo.

    Outros personagens clássicos também dão as caras. Lex Luthor e Brainiac reaparecem – como uma amalgama – assim como o Homem – Kryptonita e a Legião dos Super-Heróis, que entrega a ele uma estátua em miniatura, como forma de homenagem. Super entende que morrerá logo, e a solução que ele encontra é refugiar-se com seus amigos no Ártico.

    Estranhamente, as brigas conjugais de Perry e Alice White afetam muito o refugiado kryptoniano. Os vilões – acompanhados da Legião dos Super-Vilões do século 30 – arquitetam um ataque a Fortaleza da Solidão. Ao se defrontar com o onipotente alienígena, eles geram um campo de força impenetrável em volta de si. Outros heróis tentam ajudá-lo, mas seus esforços fracassam.

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    Jimmy Olsen e Lana Lang entram em uma parte escondida da Fortaleza, a fim de conseguir poderes para ajudar o Superman, enquanto o kryptoniano desabafa sobre sua vida amorosa com Perry White. Enquanto fala, ele assume que amou Lana na adolescência, mas que depois da vida adulta, passou a amar Lois, e que jamais teria coragem para falar isso a elas. Lana na outra sala adquire super-audição e ouve o que o herói diz e ao ser indagada por Jimmy se está bem, ela fala: “Não haveria de ter problema algum… vamos mostrar que ninguém amou o Superman como nós”.

    Diante da morte iminente, o casal White, reata, para passar os últimos momentos juntos. Todas as ações revelam-se como um plano de um vilão específico, e tal descoberta evidencia que seu Modus Operandi é mutável de acordo com o humor desse ser ultra-poderoso, oras sendo benevolente, oras sendo pouco intervencionista e em outras sendo completamente maligno – dá para se fazer até um paralelo, comparando tais atitudes ao comportamento de algumas divindades aduladas pelo homem.

    Mxyzptlk ganha uma importância enorme nas mãos de Moore, como jamais visto. Finalmente é explorado todo o seu poder e nível de periculosidade, ao invés de utilização deste como chacota e galhofa. O Plot Twist é interessante, e mostra outra faceta de sacrifício do herói, que não a própria morte. Superman se culpa pelo que se viu obrigado a fazer, sua consciência é o seu maior inimigo, e esse é o resumo de toda a sua trajetória. A história do Super-Homem sempre teve um caráter trágico por isso, ele se vê obrigado e compelido a ajudar os necessitados, e se culpa por faltar poder a ele para fazer mais. Uma história muito competente, e de grandes méritos para os seus autores.

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  • Resenha | Watchmen

    Resenha | Watchmen

    Watchmen

    Logo na primeira edição de Watchmen verifica-se como cada um dos heróis são. Certamente um dos pontos mais fortes da Graphic Novel de Alan Moore e Dave Gibbons é a densidade dos personagens e as relações entre eles.

    Rorschach é muito conservador, ultra-direitista. A razão a que ele atribui os horrores contemporâneos são os indivíduos liberais e comunistas, em algumas leituras ele pode ser encarado até mesmo como um vilão – o que leva o leitor a vê-lo como o herói da jornada é o fato dele ser o narrador. Seu caráter e intenções são firmes e conservadores, a aura em volta dele é de medo, o que ajuda a fortalecer esse argumento. É extremamente moralista, sua identificação com o Comediante também deve se dar pelo fato do herói ter trabalhado derrubando repúblicas marxistas latino-americanas.

    O Coruja II se tornou um sujeito inseguro, com a auto-estima arrasada e deprimido desde que aposentou o manto – sua obsessão é o vigilantismo, ele precisa disso. A forma de pensar de Ozymandias – o homem mais inteligente do mundo está muito acima dos ânimos exaltados pela Guerra Fria. Doutor Manhattan é um ser indestrutível, super-poderoso e inalcançável, até mesmo pelos dramas humanos. Ele está completamente alheio aos problemas cotidianos, a vida e a morte para ele são coisas indistinguíveis. Sua onipotência o torna insensível as virtudes da vida ordinária.

    A proposta de Watchmen seria analisar como o aporte de seres super-poderosos afetaria o mundo real. A vitória americana no Vietnã é prova de que muita coisa mudaria, pois é graças à intervenção de Manhattan que os EUA ganham o embate e consequentemente Richard Nixon garante sua reeleição. A presença do “Super-Homem” mudaria o Status Quo político norte-americano, e a vitória no oriente seria muito mais relevante que escândalos como o Watergate.

    A forma de Blake encarar os manifestantes na greve policial, e a sua interpretação do American Dream demonstra que a visão de Veidt sobre ele não é tão equivocada, o Comediante se aproxima demais do comportamento fascista padrão, mas ele não estava sozinho. Em Sob o Capuz, Hollis Mason diz que o Capitão Metrópole culpava negros e hispânicos pela criminalidade e que o Justiceiro Encapuzado mostrava-se favorável ao III Reich antes dos ataques a Pearl Harbor. Apesar de tudo isso, o apelo do livro parecia ir de encontro a validar as ações dos Homens-Minuto, que mesmo com tantos defeitos morais, ainda sim buscavam os ideais da justiça.

    As tirinhas do “Cargueiro Negro” que cortam a revista fazem paralelo com inúmeras situações. No primeiro episódio, a referência é com a solidão do Dr. Manhattan. A desilusão do pai de Osterman com a relatividade do tempo, e a consequente mudança nas pretensões profissionais para o seu filho, validam e testificam o isolamento de Manhattan. O senhor idoso morre dez anos após seu filho ser desintegrado, sem jamais descobrir o seu retorno ao mundo dos vivos. A rejeição ao pai talvez se deva pela opção de ofício de físico, que indiretamente o fez se transformar no ser mais poderoso do universo.

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    A razão que fez Rorschach se isolar foi sua terrível infância. Seu passado é que o fez associar a moralidade extrema como melhor método de viver – uma espécie de super correção, devido ao ofício de sua mãe. Kovacs usa uma máscara para esconder de si mesmo que é humano, ele tem desprezo pelo homem, por seu cinismo e por suas impurezas, é quase misantrópico.

    Nem mesmo os quadrinhos são uma forma de escapismo. O Cargueiro Negro reflete os conflitos e a situação barril de pólvora em que o mundo está. A sede de sangue do pirata é o equivalente a vontade dos jovens inconsequentes em espancar o Coruja Original. Não há alternativa de fuga da realidade.

    Veidt se sente como o pirata, após uma longa jornada, movida por sentimentos nobres, ele se vê diante de corpos desfalecidos, e suas mãos estão sujas de sangue. Ozymandias precisou vestir a máscara de assassino para realizar seu último feito heróico. Foi Edward Blake que abriu os olhos de Veidt para o fim iminente do mundo, no fim o Comediante estava certo, e para fazer o que era necessário, o herói precisou arcar com atos hostis, sua atitude não é pueril, ele faz o que é preciso, mesmo que ele se torne um vilão aos olhos de seus colegas.

    Ao contrário do que pode se pensar, o fim da guerra não significa que o cessar fogo seria definitivo. A utopia de Ozymandias poderia funcionar, até porque se existe alguém capaz de comandar o mundo assim, certamente seria ele. Watchmen é uma história que possibilita múltiplas interpretações, graças ao seu caráter ambíguo, seu valor histórico, suas sub-tramas e aos paralelos que faz com a realidade contemporânea. Estes fatores tornam a sua leitura muito rica e uma das melhores coisas que Alan Moore criou.

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  • VortCast 26 | Zack Snyder

    VortCast 26 | Zack Snyder

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    Bem-vindos à bordo. Nesta edição Flávio Vieira (@flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Nicholas Aoshi (@aoshi_senpai), Mario Abbade (@fanaticc) e Carlos Voltor (@carlosvoltor) se reúnem em um bate-papo descontraído sobre a filmografia de Zack Snyder, o “rei” do slow e fast-motion. Divirtam-se.

    Duração: 102 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: Bruno Gaspar

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    Lista dos filmes comentados

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    Crítica 300  – DVD | Bluray
    Crítica Watchmen  – DVD | Bluray
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    Crítica Sucker Punch – Mundo Surreal  – DVD | Bluray
    Crítica O Homem de Aço

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    Watchmen – Edição Definitiva
    Antes de Watchmen
    Bastidores de Watchmen
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    Os Últimos Dias de Kripton
    Superman – O Que Aconteceu ao Homem de Aço
    Grandes Astros Superman
    Superman – Origem Secreta

  • Crítica | Watchmen

    Crítica | Watchmen

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    No inicio Edward Blake assiste um comercial de Nostalgia antes de ter sua casa invadida. Fica claro que ele sabia que seria atacado. A luta é muito bem filmada, como poucas em filmes de super-heróis e a música na trilha – Unforgettable de Nat King Cole – deixa tudo com o ar de suspensão e até incredulidade. O começo promissor tende a enganar, faz parecer que Watchmen de Zack Snyder seria algo bom e que o velho Alan Moore estava errado, mas logo na cena posterior as ilusões são esmagadas.

    Snyder tem um talento nato para montar introduções, percebe-se isso em 300 e Madrugada dos Mortos, e seria assim também neste Watchmen, não fosse pela sutileza de rinoceronte com que ele trata alguns fatos apenas sugeridos na revista: o caso JFK, o beijo na enfermeira após o dia D e o encontro entre um “herói”, Mick Jagger e Ziggy Stardust em uma festa rosa – aliás essa é a primeira de uma série de cenas irritantes com o personagem.

    O filme não é um desastre completo por duas atuações distintas. A caracterização de Rorschach feita por Jackie Earle Haley é quase perfeita, seu personagem gera medo e emula toda a sociopatia de sua contraparte dos quadrinhos. Jeffrey Dean Morgan também faz um Comediante muito bom, suas cenas são disparadas as melhores do filme. Blake bate indiscriminadamente em mulheres e crianças, é cínico e se vale do argumento de estar em guerra. Apesar de ser até meio babaca, o personagem consegue ser o mais sóbrio da história, o que mais entende para onde o mundo está indo. Nem Patrick Wilson – que nunca foi grande coisa – compromete, seu Coruja 2 é crível, assim como os “veteranos” Carla Gugino – deliciosa nos anos 40 – e Stephen McHattie. Outro ponto positivo nesta versão é a cena de assassinato de Hollis Mason, intercalando os socos nos trombadinhas com suas ações na Era de Ouro – que gera outro bom momento,  com um rompante de raiva do Coruja II num bar no submundo. A Sala de Guerra onde Nixon faz suas reuniões também é uma ótima referência ao Dr. Fantástico de Stanley Kubrick.

    Os maiores problemas do roteiro não são as incongruências, mas sim as obviedades. No apartamento do Comediante há mil fotos das duas Espectrais. Para caracterizar o isolamento do Dr. Manhattan, decidiu-se retratá-lo como um altista, gerando assim a segunda pior atuação do filme – a sua cena vencendo o “Vietnã” é risível, tanto pela explosão dos adversários quanto pela música mal escolhida – que dá um tom de paródia que não cabe a atmosfera que Snyder pretende – este é outro problema, a seleção de músicas é ótima, mas o encaixe nas cenas em si é equivocado na maioria das vezes, vide o Hallelujah de Leonard Cohen numa cena de sexo.

    Watchmen é muito bem filmado, mas sua trama é repleta de furos. Seus poucos acertos são méritos da história original, o que faz a película se assemelhar a uma paródia da HQ. O pior de tudo está guardado para Ozymandias. O herói é transformado em vilão na primeira cena em que aparece, é afetado, franzino, fraco e não parece carismático em momento nenhum, é como uma versão reduzida e decadente do original, ele não aparenta arrependimento ou reticência nenhuma por seus atos. Todas as tentativas de Matthew Goode em melhorar isso falham miseravelmente. Nem seus feitos como pegar uma bala com as mãos faz sentido e sua nova versão do “plano redentor” é cheia de falhas. A culpa recair sobre os ombros do Dr. Manhattan justificaria um ataque soviético imediato aos americanos, não haveria porque gerar uma união mundial. O script de Alexsei Trotsenko e David Hayter privilegia a ação e reduz a ambigüidade dos personagens a movimentos óbvios.

    O Axaque de Daniel e seus socos em Veidt são demonstrações patéticas e piegas de moralidade – motivadas supostamente por desejos dos produtores. O “vilão” tem que ser retratado de forma isolada, solitária e triste. A Versão do diretor, com suas 3 horas de duração, melhora um pouco a obra, mas ainda está muito aquém da história de Moore. As cenas extras dão mais sentido a algumas pirações do realizador, mas esse filme custou a Zack Snyder o posto de “visionário”, tornando-o apenas “elegante”.

    Ouça nosso podcast sobre Zack Snyder.

  • Resenha | Hellboy Edição Histórica: Vol. 2 – O Despertar do Demônio

    Resenha | Hellboy Edição Histórica: Vol. 2 – O Despertar do Demônio

    “Um homicídio em um museu de cera de Nova York e o desaparecimento de um cadáver levam Hellboy e o Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal à Romênia, em busca de uma lendária figura: Vladimir Giurescu, um antigo integrante da nobreza – e um vampiro. Como se Giurescu não fosse ameaça suficiente, a deusa das trevas Hecate surge para confrontar Hellboy com aterradoras revelações a respeito de seu propósito na Terra. Enquanto isso, cientistas nazistas descongelados após décadas de hibernação preparam-se para o retorno de Rasputin, o monge insano e precursor do fim do mundo.”

    O Despertar do Demônio, apresentado na segunda edição histórica do Hellboy, é uma continuação direta dos acontecimentos de Sementes da Destruição e nos leva de volta a uma imersão ao oculto, obscuro e fantástico do universo de Mike Mignola, com a qualidade de sempre já conhecida do autor.

    A história vai explorar de maneira sutil a busca pelo propósito e a razão de existir do herói vermelhão; dessa vez, porém, colocando Hellboy para enfrentar um famoso vampiro e uma deusa da mitologia grega (Hecate). A história é tão bem desenvolvida e cheia de nuances que é seguro dizer que Mignola explora quase que um novo olhar sobre essas lendas.

    A excelente história novamente se encaixa perfeitamente na arte de Mignola, definida por Alan Moore como sendo a amálgama do expressionismo alemão com Jack Kirby. Sua profundidade e a coesão entre preto e branco inundam as páginas da HQ, criando a atmosfera perfeita para se contar uma boa história sobre fantasia e horror.

    Mais uma vez o álbum da edição histórica não deixa a desejar em seu acabamento impecável e que enche os olhos de qualquer colecionador. É uma relíquia indispensável para a coleção de qualquer amante dos quadrinhos.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • VortCast 20 | V de Vingança

    VortCast 20 | V de Vingança

    Remember, remember, the fifth of November… Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Pedro Lobato (@pedrolobato), Bruno Gaspar, André Kirano (@kiranomutsu) e os convidados Felipe Morcelli (@terra_zero) e Delfin (@DelReyDelfin) do Terra Zero se reúnem para discutir a obra de Alan Moore, David Lloyd e Steve Whitaker: V de Vingança.

    Duração: 119 mins.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Agradecimentos

    Aos amigos Lucas Amura e Mari Bonfim pela leitura emocionante de trechos da obra original. Segue informações de contato:

    Lucas Amura
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