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  • Review | The Flash – 2ª Temporada

    Review | The Flash – 2ª Temporada

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    A boa primeira temporada de The Flash impôs aos produtores do canal CW o desafio de superar as expectativas ou, ao menos, manter o mesmo nível na segunda temporada, que começou morna e foi lapidada durante o desenvolvimento da série, para a alegria dos fãs. A segunda parte da história de Barry Allen (Grant Gustin) foi no mínimo ousada, uma vez que resolveu entrar de vez na ficção científica e na física teórica, sem medo de causar uma confusão no telespectador. Aqui pudemos nos aprofundar nas teorias do multiverso (bastante conhecido e usado pela DC Comics), além de outros temas bastante intrincados como teorias de força de aceleração e alterações do espaço-tempo e suas linhas temporais alternativas. Podemos dizer que, além das boas subtramas que praticamente todos os personagens estavam envolvidos, foram esses os assuntos principais dessa temporada.

    E não é por menos.

    Por conta dos adventos ocorridos no season finale da temporada anterior, o Flash, por ter salvado Central City de um colapso, participa do seu primeiro Flash Day quando é atacado pelo Esmaga Átomo. Porém, quando Cisco Ramon (Carlos Valdes) e Caitlin Snow (Danielle Panabaker), cientistas do S.T.A.R Labs, descobrem a identidade do vilão, percebem que ele já havia sido morto há um bom tempo. É quando temos o primeiro contato com Jay Garrick (Teddy Sears), um velho conhecido dos quadrinhos. Garrick, que também é um velocista, alega estar preso nessa Terra há alguns meses depois de ser sugado por um buraco negro aberto na sua versão de Central City enquanto lutava com seu mais poderoso inimigo, o velocista Zoom (voz de Tony Todd). Todos chegam à conclusão que tal buraco é o mesmo do final da temporada anterior que serviu de portal entre as Terras. Não demora muito para perceberem que a chuva de vilões meta-humanos dali para frente com o único objetivo de capturar o Flash estão sob o comando do demoníaco Zoom. Com a ausência do Flash da Terra 2, Zoom conquistou aquela Central City. Desses vilões, devemos destacar o Tubarão Rei, que, assim como o gorila Grodd, foi feito completamente num convincente CGI. Vale destacar que na primeira aparição do gigante monstro, Flash é salvo pelo Dr. Harrison Wells (Tom Cavanagh) da Terra 2 que decide capturar os meta-humanos e derrotar Zoom para salvar sua filha Jesse (Violett Beane). Foi formada, portanto, a premissa principal de toda a temporada. Cabe ressaltar a performance de Cavanagh, o melhor ator disparado do elenco.

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    Como dito anteriormente, todos os personagens tiveram seus arcos e subtramas bem desenvolvidos. No caso da família West, Joe (Jesse L. Martin) e Iris (Candice Patton) são surpreendidos por Francine West (Wanessa Williams), esposa de Joe e mãe de Iris que acreditava estar morta. Francine, arrependida de seu passado regado a bebidas e drogas, pede uma segunda chance a Joe para que possa conviver um pouco com sua filha, uma vez que possui uma doença incurável e está há poucas semanas da morte. Ela também traz consigo outro conhecido dos fãs, Wally West (Keyinan Lonsdale), o filho cujo detetive Joe jamais soube de sua existência. Tal acontecimento imprime ao núcleo familiar uma dinâmica interessante, haja vista que, mesmo sendo pai e filho, são duas pessoas que não se conheciam. Importante mencionar que Joe virou o detetive chefe da subdivisão criada especialmente para cuidar da atividade meta-humana na cidade por causa de sua parceria com o S.T.A.R Labs. A primeira agente a se inscrever ao programa é a jovem Patty Spivot (Shantel VanSanten), uma ótima personagem, durona, com um potencial enorme, mas que foi, de certa forma, mal aproveitada, uma vez que serviu apenas para ser interesse amoroso de Barry Allen.

    Cisco e Caitlin Snow, juntamente com o Dr. Wells, aqui abreviado de Harrison para Harry, continuam a ajudar Joe e Barry. Porém, Cisco, por conta da explosão do acelerador de partículas logo no início da primeira temporada, adquiriu poderes que só agora começa a controlá-los, o que traz uma dinâmica interessante, uma vez que o jovem cientista, muitas vezes, foi primordial para a solução de algum impasse durante a temporada. Já Caitlin, a personagem mais fraca de toda a série, teve momentos de protagonismo, já que conhecemos a sua versão diabólica da Terra 2, a Nevasca.

    Além da trama principal, tivemos alguns outros bons momentos, como o retorno do gorila Grodd, Capitão Frio (Wentworth Miller) e do Trapaceiro (Mark Hamill) e da estreia da personagem Kendra Saunders (Ciara Renee) desde o começo da temporada. Sua aparição na série foi para dar origem ao crossover com Arrow e Legends Of Tomorrow. Desta vez, podemos dizer que a reunião dos heróis foi completa, uma vez que Vandal Savage (Casper Crump) tenta assassinar Saunders, a Mulher-Gavião, o que obriga o “Team Flash” a pedir ajuda ao Arqueiro Verde e sua equipe, desta vez contando com todos os personagens das duas séries mais o Gavião-Negro (Falk Hentschel). Esse episódio serviu como aquecimento para a já citada série Legends Of Tomorrow.

    Os crossovers com Arrow não pararam por aí. Ainda tivemos um episódio com o Tubarão Rei, no qual a equipe do S.T.A.R Labs conta com a ajuda da A.R.G.U.S, mais precisamente de John Diggle (David Ramsey) e Lyla Michaels (Audrey Marie Anderson), além de produzir a aparição vilanesca de Laurel Lance (Katie Cassidy) em sua versão da Terra 2 para a Canário Negro, aqui chamada de Dark Siren, cujos poderes são exatamente como nos quadrinhos. E ainda tivemos a viagem sem querer de Flash à Terra 3 para fazer uma participação especial na série da Supergirl que agora passará a ser produzida pela CW.

    No decorrer dos episódios, podemos perceber que a trama principal é severamente mais séria e urgente e a história passa a se centrar nas motivações de Zoom, que quer a todo custo a velocidade do Flash, e na identidade do “homem da máscara de ferro” preso em seu covil. Isso entrega ao telespectador e, principalmente ao fã um final de temporada emocionante e ao mesmo tempo chocante, que chega a fazer um link com o antigo seriado do Flash nos anos 90, estrelado por John Wesley Ship que faz Henry, o pai de Barry Allen, englobando ainda mais a teoria do multiverso. Não só pelo que aconteceu, mas também pelo que está por vir por conta da última atitude de Barry Allen nessa temporada, abrindo um leque enorme de opções e caminhos a seguir daqui para frente, algo que pode dar muito certo ou muito errado. De qualquer forma, os produtores têm uma ótima oportunidade de consertar aquilo que deu errado na série. O ponto de ignição foi marcado.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Resenha | LJA: Terra 2

    Resenha | LJA: Terra 2

    JLA - Terra 2 - capa - Grant Morrison - Frank Quitely
    Terras paralelas sempre foram um elemento chave da DC Comics, embora a editora tenha tentado acabar com o conceito nos anos 1980 com a maxi-série Crise nas Infinitas Terras. Para tornar seu universo de personagens mais coeso e aberto a novos leitores, a Crise serviu como uma forma de simplificar as muitas Terras tornando-as uma só. Isso facilitou a vida tanto de roteiristas quanto de novos leitores, embora elementos cruciais da cronologia da editora tivessem sido varridos pra baixo do tapete. Na saga em questão, universos inteiros morreram, e o primeiro a ser extinguido da existência foi o que comportava a Terra-3. Esse planeta era uma cópia às avessas da Terra principal, onde havia uma versão maligna da Liga da Justiça e o único herói era Alexander Luthor. O conceito de “cópia maligna”, apesar de parecer uma solução preguiçosa pra arranjar bons vilões, sempre foi usado na editora e se perdeu com a reformulação.

    No entanto, muitos personagens e várias linhas narrativas acabaram ficando prejudicados com a Crise. Se não existiam mais Terras paralelas, os roteiristas pós-Crise passaram a ter que justificar a existência de heróis que tinham sua origem fortemente ligadas a esses mundos. Assim, malabarismos precisaram ser feitos para explicar as origens de personagens como a Supergirl, a Legião dos Super-Heróis e a Poderosa. A maioria dos roteiristas apenas aceitou as mudanças e fizeram o melhor que puderam com um universo único.

    Mas Grant Morrison não era como a maioria dos roteiristas.

    Na metade da década de 90, Morrison reformulou a Liga da Justiça trazendo de volta vários elementos clássicos da Era de Prata, principalmente a formação da equipe com os sete maiores heróis do universo. Sua fase na revista LJA foi aclamada por público e crítica – cometendo alguns deslizes típicos do autor, de certa forma perdoáveis – e revitalizou o título, que havia se tornado uma comédia pastelão com heróis secundários desde o final da década de 80 até então. A Liga de Grant Morrison era grandiosa e empolgante.

    Morrison pretendia trazer de volta o conceito de Terras paralelas – algo que recentemente se mostrou fixação do autor, com a série Multiverso DC – mas parecia que não havia um jeito, devido à Crise. Mas o universo de antimatéria ainda era um conceito válido na época, e foi disso que ele se aproveitou para escrever LJA: Terra 2.

    Lançada nos Estados Unidos como uma graphic novel, Terra 2 passou quase que despercebida pelas terras brasileiras. Na época, a Editora Abril lançou uma ousada e questionável iniciativa na sua linha de hqs de super-heróis, abandonando o consagrado formatinho e adotando a linha Premium. Essa nova linha, embora maior e melhor, tinha um preço pouco acessível aos leitores da época, e muitos acabaram abandonando o hábito de ler quadrinhos. LJA: Terra 2 foi publicada na primeira edição de Superman Premium e nunca mais relançada em português, até agora com a Coleção de Graphic Novels da DC Comics, da editora Eaglemoss.

    Na trama, Morrison revela que o universo de antimatéria abriga uma versão espelhada da nossa Terra, tal qual a extinta Terra-3 pré-Crise. Mas esse universo parece muito mais sombrio do que sua extinta versão, adaptada para a realidade do fim do milênio (mais sombria e realista). Alexsander Luthor, único herói dessa Terra (tal qual a versão pré-Crise) descobre um universo livre da tirania do Sindicato do Crime e pede ajuda aos heróis da Liga da Justiça. Após um momento de deliberação, Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde (Kyle Rayner) e Flash (Wally West) resolvem ajudar, ficando apenas Aquaman e Caçador de Marte na nossa Terra. Os heróis descobrem que nesse universo, as coisas funcionam de forma bastante diferente do que estão acostumados: lá, o Mal sempre ganha!

    Temos alguns momentos interessantes, como o encontro de Batman com a versão de seu pai – o Comissário Thomas Wayne – e descobrimos que Ultraman e seu Sindicato do Crime dominam a Terra. Supermulher (versão da Mulher-Maravilha) tem um relacionamento com Ultraman, mas mantém um caso com o Coruja (o Batman de lá). Há uma “troca de lugares”, e o Sindicato do Crime vem parar na Terra da Liga e, invertendo a ordem das coisas, passa a chama-la de Terra 2! A Liga da Justiça vê-se então forçada a retornar para reestabelecer a ordem. Com uma trama bastante simplória, vence o Sindicato. Isso porque, em nosso mundo, o bem sempre vence o mal.

    É sempre interessante perceber como Grant Morrison utiliza conceitos simplistas de forma magistral. O autor costuma pegar elementos que a maioria dos fãs prefere ignorar e fazer deles algo bem construído e agradável de se ler. Além disso, a arte de Frank Quitely casa perfeitamente com o estilo de narrativa do autor. Quitely colabora com Morrison eu outras ocasiões, como em Novos X-Men ou Grandes Astros: Superman, e sempre adiciona a dose certa de modernidade e saudosismo à trama.

    Morrison prova, mais uma vez, que até o mais simples dos conceitos pode ser bem trabalhado e render uma boa história. A Eaglemoss acertadamente nos traz essa pérola há muito esquecida pelas editoras nacionais, ainda com uma história secundária de 1961 que mostra, pela primeira vez, o conceito de Terras paralelas. A história O Flash de Dois Mundos é simples e direta, mas alicerça a longa tradição de infinitas Terras da DC Comics.

    LJA: Terra 2 foi o pontapé inicial para que as Infinitas Terras voltassem com força total nos anos posteriores e retomassem lugar de destaque nas histórias da DC.

    Compre: LJA – Terra 2

    LJA - Terra 2 - 01

  • Superman: Do Cinema Para a Eternidade

    Superman: Do Cinema Para a Eternidade

    SUPERMAN, Tom Mankeiwicz, Marlon Brando, Director Richard Donner, Pierre Spengler, 1978

    Toda a história a respeito da produção da franquia de Superman no cinema passa pela trajetória de Alexander Salkind, que é bastante curiosa por si só. O produtor, natural da Polônia, era filho de Michael Salkind, o mesmo que produziu alguns clássicos, como o conto kafkiano O Processo de Orson Welles e a versão de Os Três Mosqueteiros, dirigido por Richard Lester. Alexander vinha da experiência de filmes dramáticos, como Vidas em Jogo, de Claude Chabrol, além de alguns trabalhos com seu pai, e foi seu filho Ilya que indicou a ele a compra dos direitos para a produção de um filme sobre o último descendente de Krypton.

    Após o sucesso de O Poderoso Chefão, o clã decidiu chamar o escritor Mario Puzo para participar do roteiro inicial. A primeira opção para direção era Guy Hamilton, que acabava de sair de quatro continuações de 007 – Goldfinger, Os Diamantes São Eternos, Viva e Deixe Morrer e O Homem com a Pistola de Ouro. O filme seria rodado na Inglaterra, e já tinha inclusive datas marcadas para as gravações. Mas a possibilidade de mudar a locação para a Inglaterra, onde os custos seriam bem menores, impossibilitou o prosseguimento de Hamilton no projeto, graças a um problema com imposto que só o permitia ficar no país por 30 dias no ano.

    O nome de Richard Donner surgiu graças ao seu sucesso em A Profecia, fator que seria bastante curioso, ligando as bases desta nova versão a filmes de terror, uma vez que seu realizador surgiu a partir desse tipo de produção, assim como a mocinha, Margot Kidder, que havia feito Noite de Terror (Black Christmas) de Bob Clark, A Reencarnação de Peter Proud, além de protagonizar Horror em Amityville pouco tempo depois de Superman. Com Donner, houve também o acréscimo de Tom Mankieewicz como consultor de roteiro – e roteirista, função esta não oficialmente creditada, o que demonstra o quão injusta poderia ser a indústria nestes tempos, tratando quem faz dela realidade como seres descartáveis.

    O boom de Star Wars fez toda a engrenagem do cinema funcionar nas direções do seu sucesso, elevando a necessidade de efeitos especiais mais esmerados, além de fazer do espaço um novo cenário a ser explorado pelo mainstream. Como foi com Alec Guinness no filme de Lucas, Superman também precisava de um chamariz poderoso e renomado, e coube a Marlon Brando introduzir o início da trama, ainda em uma Krypton existente, mostrando que a bravura já estava presente em Jor-El, o pai biológico do herói que ostentava o mesmo emblema.

    A presença de Brando se deu em específico por dois fatores primordiais, com o envolvimento de Puzo, que em parte foi o responsável por seu retorno ao estrelato no filme de Coppolla, e claro, pela enormidade de dinheiro que ganhou, fato este informado em qualquer entrevista que concedia, sem o menor pudor.

    Por já contar com uma estrela no elenco, o estúdio começou a descartar figuras fáceis para o herói, como Paul Newman e Robert Redford, não só por questões financeiras, mas também por correr o risco da fama do intérprete rivalizar com a do ícone. Christopher Reeve foi descoberto em peças de teatro obscuras e participações escassas na televisão. Os testes de cena do ator eram engraçados, e ele mantinha as mãos na cintura o tempo inteiro, fato este que servia de símbolo de uma época, na formalidade em relação ao cumprimento ao público.

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    A parte técnica do filme também seria destaque dentro da super produção, seja na música de John Williams, que vinha do sucesso em Star Wars e Tubarão, como também nos efeitos visuais de Roy Field, que inclusive venceu o Oscar de sua categoria. Foram utilizadas escalas bem diferentes para as cenas de avião, que variavam de tamanho de acordo com a aproximação da lente de Reeve. O auxílio de John Barry também foi importante, pois foi de sua mente que surgiu a ideia de usar os flashbacks com Brando fazendo Jor-El falando em momentos psicodélicos, bem como a difícil tarefa de tornar aquilo o mais real possível.

    Todo o material, provindo dos documentários especializados e financiado pela Warner, não é plenamente claro sobre a saída de Donner e sua demissão para o segundo filme, que já estava sendo rodado em paralelo. As cenas restantes são acopladas à continuação de Richard Lester, fazendo de Superman 2: A Aventura Continua um monstro de Frankenstein, repleto de outros corpos já falecidos.

    O cunho do filme e da franquia mudou, deixando de ser uma aventura fantasiosa carregada de escapismo para obter um ideal mais ligado a comédia. Donner ficou além de contrariado, mas bastante magoado, em especial por Alexander e Ilya Salkind tentarem interferir em seu papel de realizador. Uma das razões declaradas a respeito de sua saída seria o corte das cenas com Brando na parte 2, para que não pagassem ao ator o cachê alto que já haviam dado no primeiro.

    Junto a Donner sairia Mankewicz, o editor Steve Baird e John Williams, que teria seus acordes tocados por Ken Thorne. Lester assumiria a cadeira de direção a contragosto, uma vez que fez a mediação entre Donner e o estúdio durante a execução do primeiro filme, e teria seu trabalho dificultado pela recente morte do cinematógrafo Geoffrey Unsworth e do produtor de design John Barry. Donner seria convidado a retornar a sua função, mas as suas exigências eram grandes, contando a demissão do co-produtor Pierre Spengler, além de uma autonomia maior nos rumos da saga.

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    Superman II pareceria em sua versão de cinema apenas o protótipo do que seria a versão terceira. Superman III é co-protagonizado pelo astro Richard Pryor, que, na prática, assume o papel principal e finalmente dá vazão à esteira humorística que habitava o ideário dos Salkind, e que foi refreado até então por Donner. Lester era um bom diretor, mas seu pulso não era nem de longe tão firme quanto de seu homônimo.

    Puzo não estava mais escrevendo o esboço do roteiro, então mudou por completo o caráter da franquia. Até os efeitos visuais foram mudados, privilegiando efeitos paupérrimos. Fatores externos, como cachês altos, influenciaram em pedaços da trama, como a saída de Lois Lane como par romântico, para explorar a Lana Lang de Anette O’Toole, sendo um retorno ao passado que poderia ser mais emocional e que nunca atinge o ponto. Outro fator ignorado foi o Luthor de Hackman, excluído e nem mencionado.

    Mesmo no material complementar e nos making-offs, os roteiristas David e Leslie Newman assumem que erraram ao tentar aludir a um aspecto de Dr. Jekyll e Mr Hyde, algo que foi agravado por não ter qualquer possibilidade de ser levado a sério. Com o tempo, os Salkind deixaram de lado os filmes com Reeve – que claramente ficou contrariado e topou versão da Cannon para seu Superman IV – e começou a investir em spin-offs, voltados para outra faixa de público, primeiro com o fracasso de Supergirl, em 1984 e depois com o seriado Superboy em 1988, ambos com orçamentos em nada condizentes com os dos filmes originais.

    A trajetória dessas produções terminou de maneira melancólica, encerrada por um time que não tem identidade, nem participações de todos os que fizeram o Superman do cinema ser algo crível, e muito distante de fazer o homem acreditar que é capaz de voar. O pioneirismo da obra de Donner, supervisionada de perto pelos produtores, foi o embrião de toda a exploração do cinema ao termo super-herói, inaugurando um filão que antes era bastante tímido e que se tornou uma fonte inesgotável para toda a parcela do público afeita à fantasia e ao escapismo, especialmente para aqueles que ainda guardam um carinho especial por um personagem tão retilíneo e moral como modelo. O herói que fez a humanidade se elevar, segundo o pensamento nietzschiano a respeito do Super Homem, em parte cumprindo o paradigma sem tanta complexidade, e com muito mais sentimento e emoção.

  • Crítica | Olhe Para o Céu: A Incrível História do Superman

    Crítica | Olhe Para o Céu: A Incrível História do Superman

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    Roupa azul, capa vermelha – as primeiras cenas de Look, Up in the Sky! são cortadas por personificações do primeiro super-herói (como a sua editora gosta de chamá-lo). O documentário de Kevin Burns reúne depoimentos de fãs ilustres dos quadrinhos e de muita gente da indústria, além de rememorar momentos clássicos da trajetória do Superman em diversas mídias.

    Voltando a sua origem, o herói foi criado como uma resposta a grande depressão econômica pela qual passava o país. O Superman de Jerry Siegel e Joe Shuster teria surgido primeiro num escrito chamado O Reino dos Superman, em que era um vilão telepático. Revisitando a ideia, é que mudou-se o perfil, e se decidiria por tornar o personagem no ápice do poderio físico humano.

    O filme faz um resgate das aventuras do herói por mídias audiovisuais e dentro dos quadrinhos também. Mostra as famílias reunidas ouvindo o show de rádio protagonizado por Bud Collyer (que viria a dublar também o desenho animado de Dave Fleischer). O rádio-seriado foi responsável por popularizar e muito o personagem fora do nicho das tirinhas de jornais e revistas.

    O documentário gasta um tempo demasiado com a figura de George Reeves, que interpretou o herói no cinema (Superman and the Mole-Men, um filme lançado em 1951) e na televisão, em 102 episódios – Adventures of Superman (de 1952 a 1958). Reeves teria pretensões artísticas maiores do que ser simplesmente um herói fantasiado, e cogitava até o ofício de diretor, mas teve sua vida interrompida por um incidente suicida.

    Nos quadrinhos, é destacada a administração de Julius Schwartz como editor dos periódicos do herói, mas o foco mesmo é nas produções para o grande ecrã. O período de preparação para Superman: O Filme é retratado, e os detalhes são até esclarecedores até certo ponto. São mostrados Alexander e Ilya Salkind (produtores) tencionando em chamar Mario Puzo para escrever o roteiro, e depois contratando o diretor. Mas a questão de divergências entre Richard Donner e os Salkinds é citada muito de leve, de forma bem chapa branca. O único argumento “a favor” de Donner é a ênfase que se dá pelo fato de que o segundo episódio da franquia já estaria 70% filmado. Os outros dois filmes também são comentados, assim como os outros produtos dos Salkinds – Supergirl e Adventures of Superboy.

    Nos quadrinhos, é destacada a reformulação de John Byrne e  A Morte de Superman, além dos produtos televisivos dos anos 90 – a comédia romântica Lois e Clark, e os desenhos animados de Bruce Timm. Há um enfoque considerável em Smallville, e o documentário afirma que o sucesso da série é que possibilitou a volta do herói aos cinemas.

    A parte final faz um belo resgate da memória de Christopher Reeve, e sua luta contra a paralisia até a sua morte. O efeito é parecido com a abordagem com George Reeves, claro, com uma visão bem mais otimista do que a do suicídio.

    O último ato foca em Superman: O Retorno de Bryan Singer. Look Up in the Sky! The Amazing Story of Superman é interessante, apesar de ser superficial em alguns pontos importantes da trajetória do herói. Ainda assim funciona muito como memória afetiva nas poucas partes em que se aprofunda. Ao passar os créditos são mostradas cenas das muitas encarnações dos produtos de Superman, desde cenas de bastidores até erros de gravação, com Singer, Brando, Reeves etc.

  • Resenha | Anjo Caído – Volume 1

    Resenha | Anjo Caído – Volume 1

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    Peter David é um dos grandes nomes dos quadrinhos desde a década de 1980, tendo trabalhado com fases importantes de personagens clássicos como Homem-Aranha, onde voltou a lhe dar um ar juvenil que suas histórias haviam perdido, Hulk sendo principal responsável pela sua humanização, desconstruindo a caracterização preta e branca dada por Stan Lee – referência do clássico O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Além disso, foi o responsável pela melhor fase do Aquaman, dando um caráter mitológico ao personagem, transformando ele de fato em um rei mal-humorado, preocupado com questões ecológicas e sobre sua origem, tudo isso somado ao melhor visual que o personagem já teve. Duvida?

    No início dos anos 2000, David tendo trabalhado com as histórias da Supergirl no passado, criou um Anjo Caído, uma personagem misteriosa que tinha uma ligação direta com a Supergirl. A personagem ganhou uma série própria escrita por David. Sua ideia era revelar Linda Danvers, a Supergirl da época, como a verdade identidade de Anjo Caído. David planejava transformar Linda em Anjo Caído e assim retomar Kara Zor-El, a Supergirl original, ao universo da época. Contudo, apesar do aumento de mais 50% das vendas, o título foi cancelado pela DC comics com 20 números publicados. Cerca de um ano depois retornaram com Kara Zor-El e nenhum crédito foi dado para o autor da ideia original.

    Alguns meses depois, David foi contatado pela editora IDW para que continuasse publicando a história de Anjo Caído em uma série dentro da própria IDW. O roteirista fechou um contrato com a editora mas optou por reformular toda a personagem, para que os novos leitores não precisassem conhecer as histórias publicadas anteriormente pela DC Comics. Uma nova origem teria de ser criada para a personagem, já que ela já não mais seria Linda Danvers. Para isso, David contou com a incrível arte de James Kenneth Woodward onde reformulou toda a personagem, tornando-a, provavelmente, muito mais interessante do que tinha imaginado inicialmente. Após toda essa explicação chegamos finalmente a primeira história escrita de Anjo Caído dentro da IDW, a série Servir no Paraíso, publicada agora em um encadernado pela Mythos Editora.

    Dito isso, finalmente chegamos na obra em questão, onde conhecemos um pouco sobre a história de Liandra, uma professora de educação física durante o dia e combatente do crime da cidade de Bete Noire durante à noite. No entanto, em Bete Noire, nada é o que parece, a cidade tem vida própria e é quase como um invólucro entre o céu e o inferno, comandada pelo magistrado, Doutor Juris. O roteiro se desenvolve em duas linhas narrativas, o passado de Liandra, e de como ela caiu do paraíso, narrados através de flashbacks, e a linha de tempo atual, onde o magistrado procura um substituto para sua função dentro da cidade e Liandra precisará impedi-lo.

    Peter David trabalha muito bem a origem de sua personagem e as complexidades trazidas em sua personalidade, sua história é interessante e traz conceitos interessantes sobre livre arbítrio, fé, religião e Deus, que trazem uma reflexão que quadrinhos de super-heróis não costumam abordar. A visão de David é bastante crítica a religião em si e sua visão sobre a razão de nossa existência é bastante intrigante, o que por si só já vale uma olhar mais atento para o trabalho dele em Anjo Caído. Se tudo isso já não fosse o bastante, os painéis pintados por J. K. Woodward são absurdamente detalhados e belíssimos, remetendo a enquadramentos muito comuns no cinema expressionista alemão e o próprio cinema noir, que é uma referência do próprio David nesse trabalho.

    Anjo Caído consegue um respiro no mar de publicações de quadrinhos de super-heróis, trazendo um roteiro coeso, sólido e criticando, de forma contundente e objetiva, a religião e sua forma de visão unilateral do mundo. Além disso tudo, conta ainda com uma arte incrível.

  • GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    E eis que finalmente se iniciou a tão aguardada Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba, a Gibicon. Em sua primeira edição neste ano – considerando que a edição de 2011 foi chamada de edição 0 -, o evento conta com diversos debates, palestras, oficinas, exposições e sessões de autógrafo simultaneamente até o domingo (dia 28 de outubro).  Muito conteúdo para os fãs das histórias em quadrinhos, sem a menor sombra de dúvidas.

    Chegamos no Paço da Liberdade para conferir um dos debates e pudemos conversar um pouco com Juliano Lamb, um dos membros da organização do evento, que não escondeu seu entusiasmo com a edição deste ano. Evidenciou as grandes melhorias e o aumento exponencial da equipe, organização e dimensão do evento desde o ano passado para cá e ainda é otimista quanto ao futuro do evento. “A Gibicon é um evento de extrema importância para fazer com que quadrinhos sejam acessíveis a um público diversificado e não somente àqueles que estão acostumados com essa cultura. O evento tende a crescer cada vez mais, permitindo uma expansão cultural na cidade e atraindo cada vez mais pessoas”, diz Lamb.

    O entusiasmo de Juliano não era para menos, após seguir adiante para dar uma volta e conhecer a exposição “O Quadrinho Russo”, é facilmente perceptível o interesse de vários tipos de pessoas que se envolvem com essa forma tão peculiar de fazer arte.  Esta exposição é um ponto alto do evento, pois a Rússia passou por um período de estagnação da pesquisa estética das HQs, devido as proibições do governo comunista. Mesmo assim, ao observar obras de Askold Akishin, Egoroff, Lumbricus, Komardin e Surzenzo, visualizamos que por mais que tenha existido um hiato na história das HQs no país, os artistas fizeram e ainda fazem um excelente trabalho.

    Posteriormente a isso, nos dirigimos para o debate “Cor nas HQs”, contando com a presença de Rod Reis, colorista da DC Comics (tendo trabalhado nas revistas do Superman, Supergirl, Teen Titans e atual colorista do Aquaman e do Asa Noturna), Renato Faccini, colorista da BOOM! Studios (G.I. Joe, Farscape e Planeta dos Macacos), Marcio Menyz, coordenador e professor de colorização digital na Impacto Quadrinhos, além da presença do mediador Érico Assis, jornalista e tradutor de histórias em quadrinhos. Uma conversa completamente descontraída e animada se desenrolou por toda a extensão do debate. Cada um dos participantes contou um pouco de sua carreira pessoal, como fizeram para virar coloristas e não se conteram em contar histórias engraçadas da profissão. As histórias em quadrinhos são narrativas e os coloristas, enquanto parte da equipe criativa, ajudam a desenvolver a mesma. O colorista é aquele responsável em provocar uma imersão psicológica do leitor através da cor. Assim como o desenhista, aqueles também dão um toque interpretativo para as artes que conferimos nas HQs. Compararam inclusive com a fotografia e a sensibilidade que deve ter um colorista em observar uma paleta de cores e conseguir criar as melhores composições para os desenhos. Perguntados se gostariam de colorir os desenhos de Rob Liefeld, não exitaram em dizer que não o fariam em tom de gargalhada, com a exceção de Renato que disse que acharia uma experiência interessante. Todos do salão estavam completamente a vontade com os convidados e todos se divertiram bastante.

    Ao fim do debate, percebia-se o contentamento por parte das pessoas que ali estavam quanto ao conteúdo precioso de informações que ali foi divido. Logo após, corremos para o Memorial de Curitiba, com o intuito de verificar como andava o evento por lá. Vários estandes estavam montados, de várias editoras e revistarias. Tínhamos a presença da Itiban Comic Shop (loja especializada em HQ de Curitiba) e da Comix Book Shop (de São Paulo), representando os grandes comerciantes de quadrinhos, mas o destaque maior fica a cargo dos vários artistas independentes que estavam por lá divulgando e vendendo seus trabalhos. Pausa para algumas compras e trocar algumas ideias com os artistas antes da solenidade de abertura oficial da Gibicon no Solar do Barão.

    Isso é o que podemos dizer por ora do primeiro dia do evento. A atmosfera extremamente empolgante do local evidencia que o evento tem tudo para ser um grande sucesso novamente. Os fãs de quadrinhos com certeza vão estar muito agradecidos até o final dessa semana pela presença de um evento de tamanho porte na cidade de Curitiba.

    E o Vortex Cultural continua a jornada pela Gibicon!

    Texto de autoria de Pedro Lobato.