Crítica | Uma Dobra no Tempo
O filme perfeito para mostrar aquele(a) amigo(a) que não valoriza o trabalho de James Cameron em Avatar. O irônico disso mora justamente no quanto a proposta criativa de Uma Dobra no Tempo casa com o cinema family friendly da Disney: Após ir para o espaço em busca de novas comprovações de uma teoria científica, um piloto interespacial fica perdido em algum recanto celestial (E felizmente não é interpretado por Matt Damon, mas por Chris Pine, cada vez mais um ótimo ator) e nunca mais é resgatado, literalmente ficando perdido no espaço. Nisso, seus dois filhos acabam entrando em contato com entidades de universos paralelos, e embarcam numa aventura alucinógena em busca do elo emocional perdido que tanta falta faz, em casa.
Só que às vezes uma fórmula dá errado – e a quebra da mesma, também. A Disney e todos os conglomerados de mídia parecem estar aprendendo isso hoje em dia, sendo que tudo muda mais rápido do que nunca nos tempos atuais. Talvez o público não esteja mais interessado em histórias assumidamente sentimentais sobre deterioração familiar e como isso pode ser revertido pela ótica da ficção. Talvez o apelo também para esse padrão universal de história precise ser reavaliado, mas nada exclama mais auto que o péssimo roteiro de Uma Dobra no Tempo ter sido o fator decisivo para seu absoluto fracasso crítico, e comercial. Ao juntar alternativas para uma aventura genuinamente memorável, como essa parece querer ser, é preciso saber o que se quer contar, não? A história totalmente indecisa se atropela, se sabota, com suas decisões narrativas retirando o próprio brilho que poderia surgir de determinadas cenas, e a direção evocativa de Ava DuVernay tampouco ajuda o filme na memória.
Isso porque DuVernay mostra-se extremamente hábil com os momentos familiares dos Murry, entre os filhos do piloto e a sua esposa, deixados para trás para lidar com brigas familiares, e outros conflitos mundanos. Mas quando o filme carece de criar uma mitologia sólida e ser marcante com e por isso, a diretora falha em quase todos os aspectos, não conseguindo nem ao menos trabalhar elementos fantasiosos na tela para alcançarem o mínimo do impacto emocional que momentos reais (como a briga na escola, logo no começo do filme) produzem com a sensibilidade dos espectadores. Em determinado ponto, não se sabe mais aonde começa a tentativa de entretenimento e onde termina o esforço para não nos deixar dormir, tamanho o tédio e a previsibilidade que abocanha a história, minuto após minuto – e nós sabemos o quanto sessenta segundos são importantes numa tela, certo?
Um projeto de alegoria fílmica épica sem personalidade alguma, e que custou mais de 100 milhões de dólares, e apenas serviu tanto para se pagar, quanto para manchar a carreira de DuVernay, um grande talento em ascensão bom demais para as fórmulas recicladas das máquinas de marketing imperialistas. Diante de outros triunfos recentes e fracassos da mídia mainstream, Uma Dobra no Tempo, mesmo com um ótimo elenco e direção, amargura com gosto o uso do rótulo de decepção. E faraônica, se contar a dimensão do espetáculo – o grande pesadelo de Cameron. É também o pior fiapo de ideia dependente de um projeto de worlbuilding surreal em 3D que eu já vi em muitos anos, na Disney ou em qualquer outro estúdio americano de cinema com coragem o bastante para bancar uma brincadeira dessas (Sucker Punch, de 2011, faz tudo isso parecer elogio). Cruzes.
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