Autor: Almighty

  • Review | Bloodstained: Ritual of the Night

    Review | Bloodstained: Ritual of the Night

    Castlevania: Symphony of the Night é um dos jogos mais importantes da geração Playstation. Duas décadas após seu lançamento, ainda é lembrado com muito carinho e apreço pelos fãs. Há algum tempo, o diretor do jogo, Koji Igarashi, iniciou um projeto de financiamento coletivo para desenvolver uma espécie de sucessor espiritual de Symphony of the Night. Após alguns contratempos e atrasos, finalmente o projeto foi concluído, e o resultado será analisado a seguir.

    As inspirações de Igarashi são óbvias. Podemos dizer, sem medo de errar, que Bloodstained é praticamente um novo Symphony of the Night sem ser Castlevania. Estilo visual, temáticas, jogabilidade, tudo é muito familiar ao clássico do Playstation.

    Optou-se pelo 2.5D, ou seja, gráficos 3D com jogabilidade do plano 2D. Mas isso não impediu que, em diversos momentos, a protagonista Mirian saia da ” linha reta” e ande circulando partes do cenário. O plano de movimento continua 2D enquanto que o cenário vai girando, dando a impressão de maior liberdade de exploração. Os gráficos são bonitos, e a direção de arte ajuda bastante.

    Tanto cenários quanto inimigos lembram bastante a fonte inspiradora. Lobos gigantes que, ao serem mortos, uivam e se esvaem em fogo; cabeças flutuantes; sinos enormes; subterrâneo cheio de água. Estes são apenas alguns exemplos que deixarão o jogador nostálgico se sentindo em casa. E como se não bastasse, o mapa é praticamente IGUAL, tanto na estética quanto da cor.

    A jogabilidade é bem semelhante ao clássico, com ataques, pulos, magias e esquiva para trás. Existe um vasto arsenal de armas, com forças, habilidades e manuseio variados. Algumas possuem habilidades ativadas por um comando. A grande novidade é a implementação de armas de fogo, o que traz mais variações nos combates (apesar de não ter visto muitas vantagens). Grande também é a variedade de equipamentos (armaduras, chapéus/capacetes, anéis etc), sendo importante escolher os melhores em cada situação. Também é possível fabricar itens a partir de coisas adquiridas ao longo da jornada (o famoso “craft”).

    Um dos pontos mais fortes do jogo é a quantidade de magias e habilidades. São adquiridas por fragmentos deixados pelos inimigos ou encontrados ao longo da jornada. São diversos tipos, de acordo com a cor do fragmento. Os fragmentos vermelhos, por exemplo, são as magias “comuns”. Já os amarelos trazem habilidades passivas, geralmente aumentando algum atributo. Outros trazem magias direcionadas pela mão da personagem, utilizando o analógico da direita.

    Não poderíamos deixar de pontuar mais alguns exemplos de referências diretas à Symphony of the Night. Vamos lá: magia que recupera energia com o sangue dos inimigos; familiares de suporte, dentre eles uma fada, uma cabeça flutuante e uma espada; uma armadura pesada que muda completamente o visual e a jogabilidade da personagem, que no clássico era o Axe Lord (e em Bloodstained temos uma grande homenagem a um jogo indie muito querido – deixo para vocês descobrirem qual); o super-pulo das Gravity Boots foi substituído por uma habilidade que faz jus ao nome do item e tem o mesmíssimo comando de ativação.

    Além disso, alguns easter eggs bem interessantes. Existe uma determinada sala em que vários espinhos estão espalhados. Você precisa pular os espinhos até chegar ao final dela e adquirir uma Armadura de Espinhos. Quem é das antigas vai se lembrar que existia uma armadura para quebrar espinhos do cenário. Aqui o fã é levado a crer que esta armadura fará a mesma coisa. Esse Igarashi é um brincalhão.

    Quando ouvir a trilha sonora, também soará familiar. Não por acaso, afinal a compositora é a talentosíssima Michiru Yamane, responsável por diversas trilhas de Castlevania, inclusive Symphony of the Night. A compositora seguiu o estilo que lhe é peculiar e realizou diversas músicas muito boas.

    De uma forma geral, o jogo ficou excelente, um verdadeiro presente aos fãs de Symphony of the Night. Alguns problemas existem, como certas partes do level design e o combate frustrante em certos momentos (seja pela dificuldade excessiva de alguns chefes, seja pelo fato de o inimigo ser difícil de acertar com sua arma). Os diálogos também são cansativos e não me trouxeram nenhum ânimo para entender a história. Pelo menos as atuações de vozes são legais, e merece destaque a participação de David Hayter, a eterna voz de Solid Snake e Big Boss na série Metal Gear Solid (que por ironia do destino, também é da Konami, tal como Castlevania). Fãs do clássico, joguem sem medo. Novos jogadores, apreciem um belo metroidvania da nova geração com a essência da velha guarda.

    Disponível para PC e consoles.

  • Review | Bioshock

    Review | Bioshock

    Bioshock, lançado em 2007, é um jogo narrativo que, por acaso, se valeu das mecânicas de FPS (first person shooter – vulgo “jogos tipo Doom”). Não por acaso, afinal ele é uma continuação espiritual de outro FPS com grande foco em narrativa, System Shock. Diversos aspectos em Bioshock impressionam, já outros tornaram-se falhos após uma década. Vou explicar, então por gentileza, me acompanhe.

    Andrew Ryan acreditava na máxima liberdade das pessoas, e resolveu criar uma sociedade nestes moldes. Para isso, fez o impossível (nas palavras do próprio) e construiu uma imensa cidade no fundo do mar batizada de Rapture. Ele convidou os mais notáveis intelectuais, artistas e profissionais do mundo inteiro para compor esta nova sociedade, e por certo tempo tudo correu bem.

    Dentre as várias inovações científicas desenvolvidas no local, a maior delas foi a descoberta de Adam, uma substância que permite modificações genéticas. Ao mesmo tempo que várias coisas foram inventadas, o Adam começou a degenerar a mente das pessoas, tornando-as viciadas e loucas. Este foi um dos vários estopins para a derrocada de Rapture, que mergulhou no absoluto caos e destruição.

    O jogo começa em 1960, com seu personagem, Jack, dentro de um avião sobrevoando o oceano. Porém, uma pane derruba a aeronave, e Jack se vê no oceano cercado de fogo e escombros do avião.  Por coincidência (?), à sua frente está um grande farol. Ele nada até lá e entra. Não é um farol qualquer. Ali dentro há uma grande estátua com os dizeres “NO GODS OR KINGS, ONLY MAN” (“sem deuses ou reis, apenas homem”, em tradução livre). Jack explora o lugar e encontra uma espécie de capsula. Ele entra, puxa uma alavanca dentro dela e então começa a descer. Durante a descida, um pequeno filme é passado, onde Andrew Ryan fala um pouco sobre seus pensamentos e apresenta sua grande criação: Rapture.

    Este início de jogo é fabuloso, tendo influências claras do estilo narrativo de Half-Life (outro início que fez história nos videogames). O acidente aéreo, a descoberta do farol, a primeira visão de Rapture com a voz de Andrew Ryan… continua primoroso uma década depois.

    Desde o primeiro contato, Rapture intriga. Todo aquele visual dos anos 1950, tecnologias steampunk, é muito interessante. Ao longo da jornada, Jack descobrirá mais sobre a causa de todo esse caos. Rapture está bagunçada, ensanguentada, quebrada. O cenário também contará muito da história, juntamente com arquivos de áudio, nos mesmos moldes de System Shock. Isso faz com que a compreensão das coisas não seja fácil, uma vez que as informações estão esparsadas e nem sempre tão diretas. É um longo quebra-cabeça que será montado ao longo das aproximadas 10 horas de jogo.

    Por se tratar de um FPS, é claro que haverão diversas armas, todas com visual retrô. As armas terão diversos tipos de munição, e será muito importante utilizar cada uma nos inimigos certos, caso contrário haverá gasto excessivo de munição.

    Para auxiliar suas armas de fogo, teremos os plasmids, poderes adquiridos pela tecnologia genética de Rapture. Eletricidade, fogo e insetos são apenas alguns exemplos desses poderes, que deverão ser utilizados com estratégia para facilitar os combates.

    Mas quem são os seus inimigos? Na maioria das vezes, serão os splicers, pessoas viciadas em Adam, uma espécie de crackudos de Rapture. Eles vão te atacar até a morte, então cuidado, os caras são nóia.

    Durante seu turismo por Rapture haverá duas figuras bem peculiares: as Little Sisters e os Big Daddys. As primeiras são garotinhas de aparência bisonha carregando uma espécie de seringa que extrairá Adam dos cadáveres espalhados por Rapture. Já os Big Daddys são pessoas vestidas com um escafandro e fortemente armados, pois o objetivo é proteger as Little Sisters dos splicers. É possível (e necessário) matar os Big Daddys para, com isso, extrair Adam das Little Sisters. Você poderá matar ou “exorcizar” as Little Sisters, sendo que a primeira lhe dá mais Adam. Isso influenciará no final do jogo.

    Para você, o Adam servirá como moeda de troca por novos plasmids e habilidades. Além de uma extensa árvore de habilidades, o uso correto dos plasmids, dos tipos de munições, o hackeamento de robôs e câmeras de segurança, todos estes aspectos são essenciais para o sucesso. Esses elementos de RPG, atrelados ao aspecto mais narrativo, tornam Bioshock bem interessantes. Não é o melhor FPS do mundo, muito pelo contrário, as partes de ação possuem diversos problemas e não envelheceram tão bem.

    O grande trunfo de Bioshock está na construção de mundo e de história. Rapture é o personagem mais marcante do jogo, com seu visual único e história instigante. Quem conhece a história de System Shock 2 vai notar uma fórmula bem parecida, e talvez não tenha grandes surpresas nas reviravoltas. Pouco depois da metade, a história perde um pouco a qualidade, tornando-se não tão interessante assim.  Mas a grande diferença está na ambientação.

    Enquanto System Shock é um sci-fi no espaço, Bioshock é um sci-fi retro steampunk. A construção de Rapture é sensacional, e seus personagens igualmente interessantes. A ideologização radical de Andrew Ryan, com referências diretas a Ayn Rand (inclusive as letras de seu nome), mostraram a liberdade total gerando o caos. O desenvolvimento científico e genético não tiveram limites éticos, ocasionando na criação dos plasmids e, por consequência, o surgimento de splicers, que ficaram completamente loucos pela dependência insaciável de Adam. Mas o grande debate do jogo é sobre a sua própria liberdade de escolhas.

    Desde que você chega em Rapture, um tal de Atlas se comunica via áudio com você e lhe dá instruções. Você está jogando um jogo, então obviamente vai obedecer e fazer tudo. Afinal, queremos saber onde isso vai dar, certo? Mas ao longo do jogo, isso vai sendo questionado. Mas você continua seguindo as instruções. E existe um grande porquê disso tudo, que é a revelação mais bombástica do jogo. Uma pena que, em meio a tantas coisas boas, a reta final quebrou a qualidade e quase colocou tudo a perder.

    Estamos aqui, doze anos depois, falando de Bioshock, que já ganhou uma versão remasterizada e está disponível nas principais plataformas. Ele trouxe elementos interessantes e em geral é um bom jogo. Com a ótica atual, vemos problemas, especialmente nos combates e em algumas decisões de level design. Fora isso, é um jogo que instiga você a terminar, por mais que algumas partes sejam maçantes.

  • Resenha | Witches

    Resenha | Witches

    Witches é um mangá em dois volumes do autor Daisuke Igarashi publicado no Brasil pela Editora Panini. A obra consiste em várias histórias curtas envolvendo bruxas, conforme sugere o título. Porém, o que impressiona é que Igarashi traz diversos conceitos de bruxas, fugindo inclusive de algumas ideias padrões que geralmente temos ao lembrar dessas figuras místicas.

    A primeira história, por exemplo, traz o conceito mais tradicional, e para ajudar, se passa em localidade européia. Sempre teremos uma menina ou mulher no foco das tramas, e por muitas vezes, irá tratar do “despertar”. Esta ideia já está presente na primeira história, ocorrendo inclusive um grande lapso temporal, mostrando o crescimento da personagem.

    A segunda história já quebra a ideia inicial de que teríamos as “bruxas tradicionais”, especialmente pelo fato de ser um mangá japonês, então o esperado seriam figurar as bruxas europeias ou orientais. Felizmente o engano vem rápido. Na segunda trama teremos a ambientação em uma floresta tropical, sendo a bruxa em questão uma espécie de xamã. Inesperada também a mensagem ambientalista da história.

    Cada segmento tem uma abordagem diferente, seja na trama, seja da própria ambientação. Uma delas ocorre boa parte em um navio, alternando com uma ilha que possui supostos elementos místicos. Neste ponto, o mangá é bem interessante e cria um interesse ao leitor, evitando que a leitura se torne enjoativa. Aqui podemos tecer elogios a Igarashi, que traz um estilo narrativo eficaz, apesar de, às vezes, ser um tanto brusco nas transições.

    No quesito artístico, a obra pode trazer divergências de opinião. O traço de Igarashi é um tanto “rabiscado”,  parecendo que foi desenhado às pressas. Isso não significa que os desenhos sejam ruins, mas trazem uma impressão de pressa. Se isso é bom ou ruim, vai depender do gosto do leitor. Para não ser injusto, vale ressaltar que alguns quadros são belíssimos e detalhados.

    Porém, uma coisa que merece destaque é o surrealismo da arte. Todas as histórias trazem elementos fantásticos, afinal estamos falando de bruxas. Mesmo que, por vezes, as bruxas sejam apenas garotas com algum tipo de poder místico, e de resto levarem uma vida bem normal, alguns momentos transbordam cenas surreais e bizarras. Diversas sequências de quadros malucos e grotescos, sem balões de falas, são o ponto alto da obra. Aqui a arte mais “rabiscada”  é bem eficiente, e merece elogios.

    Em suma, Witches é um mangá que pode agradar aqueles que querem uma leitura rápida e que fuja um pouco dos padrões shonen. Apesar das protagonistas serem todas femininas, não parece um mangá voltado especificamente a esse público. Portanto, não há restrições a fazer, leia e divirta-se.

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  • Review | Kengan Ashura

    Review | Kengan Ashura

    Desde o Período Edo existia os torneios Kengan. Cada lutador representava um mercador e quem vencesse levava um grandioso prêmio em dinheiro. Esta tradição sobreviveu até os dias atuais, onde os mercadores foram substituídos pelas empresas bilionárias. Daí teremos torneios selvagens.

    Selvagem porque as lutas são brutais, sem maiores regras, e, parafraseando o filósofo Ivan Drago, “Se morrer, morreu”. A história do anime começa quando o misterioso lutador Ohma Tokita cruza o caminho de Kazuo Yamashita, um típico assalariado japonês na casa dos 50 anos de idade. Ohma representará a empresa de Yamashita no torneio Kengan, e daí começa a porradaria.

    Impossível não se lembrar de vários outros animes de porrada, especialmente Baki, que também foi lançado recentemente pela Netflix. Kengan Ashura segue uma fórmula bem manjada, abusando de clichês, história rasa, personagens caricatos com motivações simplórias. É por isso que o anime é bom.

    Bom porque ele não se leva a sério. E seu grande foco são as cenas de lutas sensacionais. Foi utilizada aquela técnica de animação 3D que simula o 2D. Muita gente não gosta desse tipo de animação, mas ela permitiu dar um visual mais sujo e detalhado aos personagens, além de movimentações mais fluidas e realistas. As cenas de porrada são muito boas, violentas e sangrentas. Há exageros, claro, mas nada de raios e poderes mágicos.

    Os episódios disponibilizados até o momento mostram pouca coisa, basicamente a introdução de Ohma, de outros personagens e do torneio Kengan. A história, conforme dito antes, é rasa e simplória, obviamente um mero pretexto para criarem um torneio onde os participantes cairão na porrada sem dó nem piedade. Não há muito o que falar além disso, afinal o destaque são as lutas. Em suma, as lutas, visual e animação são bem legais, deixando, mais uma vez, a ressalva sobre o estilo gráfico. A técnica 3D emulando o 2D desagrada algumas pessoas, mas deu possibilidade de deixar os personagens mais detalhados e a animação mais fluida. Para intensificar a ação, a trilha sonora é calcada no rock pesado, que combina perfeitamente com a brutalidade do anime.

    Kengan Ashura é baseado em um mangá homônimo lançado entre 2012 e 2018. O roteiro é assinado por Yabako Sandrovich e a arte por Daromeon. A obra ganhou adaptação em anime graças a uma maciça votação dos fãs.

    Segundo informações, os novos episódios chegarão em outubro. Até lá, vale assistir estes que já estão disponíveis. E para quem curte, a dublagem brasileira ficou bem legal, com vozes conhecidas e experientes.

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  • Resenha | Feridas

    Resenha | Feridas

    Feridas é protagonizada por duas crianças de 11 anos de idade. Poderia ser um fator que amenizaria as coisas. Poderia. Não foi, muito pelo contrário. A densidade foi inversamente proporcional à idade dos protagonistas, e isso impressiona.

    Keigo e Asato se tornam amigos na escola. Os dois garotos têm algo em comum: problemas familiares graves (um mais que o outro). Asato descobre ter um poder incomum de transferir feridas dos outros para si. A transferência pode ser total ou parcial. Ao longo do tempo, Asato desenvolve sua habilidade, tornando-a cada vez mais eficaz. E ele passa a agir de maneira cada vez mais altruísta, o que aparentemente é bom, mas existe um motivo obscuro por trás disso.

    Publicado pela JBC, Feridas é mais uma parceria excelente entre o artista Hiro Kiyohara (Another, Coin Laundry Lady) e Otsuichi, responsável pela história. A outra parceria, Só Você Pode Ouvir, segue um estilo parecido, onde uma história simples com elementos leves de fantasia serve como pano de fundo para assuntos mais profundos. Em Feridas, o acerto foi ainda maior.

    Este mangá é corajoso por colocar crianças em situação de vulnerabilidade no protagonismo. Keigo sofre agressões físicas constantes de seu pai alcoólatra, enquanto que Asato foi esfaqueado pela própria mãe. Sim, a obra faz jus ao título: não são meras feridas físicas. São feridas na alma e no coração. De duas crianças.

    Quanto mais Asato desenvolve seu poder, mais ele quer ajudar os outros. A consequência é carregar a ferida dos outros, e cada vez mais os machucados se acumulam. O pequeno Asato carregando feridas de inúmeras pessoas. Um fardo muito pesado para uma criança, não é?

    Keigo tenta apoiar o amigo, mas chega num ponto em que essa ajuda começa a ficar perigosa ao próprio Asato. Sendo o bom amigo que é, Keigo diz para ele parar de ajudar, caso contrário a própria vida estará em risco. Asato não interrompe seu ímpeto altruísta, e Keigo encontra uma solução que, obviamente, não vou contar.

    Aqui temos uma alegoria óbvia quanto ao poder de Asato. Uma criança, símbolo da pureza e inocência, tem uma espécie de poder divino capaz de ajudar os outros. Porém, Asato teve o corpo e a alma feridos pela própria mãe, o que, à primeira vista, tiraria a inocência do garoto. Ao mesmo tempo, coloca-o quase num patamar de mártir. Foi a real intenção de Otsuichi? Não sei, mas como dizem por aí, o artista perde o monopólio de interpretação a partir do momento em que publiciza sua obra. Esta é uma das visões possíveis.  Minha sugestão é que você leia o mangá e tire suas próprias conclusões, é uma obra que vale muito a pena pela forma como temas tão pesados são tratados.

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  • Review | Forest of Piano

    Review | Forest of Piano

    O novo aluno, Shuhei Amamiya, não tem a melhor recepção do mundo quando chega em sua nova escola. Alguns valentões da classe resolvem fazer bullying com o garoto, deixando-o bem desconfortável. Porém, há males que vêm para o bem. Dentre as “brincadeiras saudáveis” feitas com Amamiya, uma delas leva o novato a conhecer Kai Ichinose e o famigerado piano da floreta. Kai mora em uma casa próxima a esse piano, que está quebrado e não emite sons. Porém, o pequeno Kai, por algum motivo, consegue extrair som do instrumento. E que som! Kai é extremamente talentoso e possui um estilo de tocar muito envolvente, o que deixa Amamiya perplexo, encantado e frustrado. Mas por que?

    Na verdade, Amamiya também é pianista. Mais que isso, seu pai é um pianista profissional muito renomado, e acaba gerando muita pressão ao jovem Shuhei para que se aprimore a cada dia. Com isso, Shuhei vê em Kai um amigo e, ao mesmo tempo, seu maior rival.

    Na escola dos jovens pianistas há um professor de música, Sousuke Ajino. Vamos descobrir que Ajino foi um grande pianista mundialmente famoso, porém teve sua carreira interrompida após sofrer um acidente e perder o pleno movimento de uma de suas mãos. Mas quando Ajino vê Kai tocando o piano da floresta, ele se dispõe a lapidar aquele talento.

    Forest of Piano (Piano no Mori, no original japonês) faz uma mistura perfeita de história simples e emocionante. Se por um lado existe um tom leve, por outro há entrelinhas surpreendentemente pesadas. Por exemplo, Kai é filho de uma prostituta, mora com ela e a ajuda nos afazeres do local onde trabalha (lavando louça, varrendo o chão). Apesar das dificuldades e do ambiente desfavorável, o amor de mãe e filho é muito bonito. Kai alivia a atmosfera suja daquele ambiente quando, à noite, toca o piano da floresta, e isso traz muita alegria à sua mãe.

    A partir do momento que Ajino se torna o mentor musical de Kai, ele assume claramente uma figura paterna ao garoto, mesmo que nenhum deles diga isso explicitamente. Ajino viu um talento inigualável em Kai, e toma como missão de vida elevar o garoto ao patamar que ele merece, sem pedir nada material em troca. Alguns momentos de atrito vão existir, como qualquer boa relação, mas o respeito que Kai tem por seu professor sempre é muito claro.

    Ao longo das duas temporadas, Kai  terá um grande crescimento, tanto nas habilidades musicais quanto na idade. O pianista prodígio conhecerá novos ares e alçará voos que nem ele imaginava. Diversos outros pianistas aparecerão em sua vida, e histórias pouco felizes também.

    Obviamente precisamos destacar a parte musical do anime. Simplesmente maravilhosa. Muito piano e música clássica tocadas pelos personagens em momentos lindos. Alguns episódios são praticamente inteiros de música, com inserções narrativas e desenvolvimento de história muito bem feitos. Curioso notar que a trilha incidental do anime raramente tem piano.

    Na primeira temporada, utilizou-se animação 3D quando os personagens tocam o piano, primando pela fidelidade dos movimentos das mãos apertando as teclas. O visual causa contraste, mas até que funciona bem. Poderiam ter focado mais nas mãos, assim a estranheza seria menor. A segunda temporada deixou esse recurso de lado (só utiliza em um momento bem especial) e deu prioridade a alguns elementos sinestésicos nos momentos de piano, que já eram utilizados na primeira temporada.

    Se analisarmos a história em pontos separados, não parece algo que se destaque. Porém, ao juntarmos tudo, o resultado é uma obra belíssima. A música foi usada de forma magistral e, por mais que o mangá original tenha sido premiado, provavelmente sofre do mesmo problema de Your Lie in April: papel não emite som, e isso tira grande parte da emoção da obra. Forest of Piano foi uma das melhores surpresas que tive nos últimos tempos. Todos os episódios estão disponíveis da Netflix com uma excelente dublagem brasileira.

    https://www.youtube.com/watch?v=EQ9JIe-AWws

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  • Resenha | Tsumitsuki: Espírito da Culpa

    Resenha | Tsumitsuki: Espírito da Culpa

    Hiro Kiyohara tem como obra mais conhecida o mangá Another. O artista japonês também produz diversas histórias curtas, contadas em volumes únicos, por exemplo Só Você Pode Ouvir, ou mesmo um compilado de esquetes bizarras (Coin Laundry Lady).  Aqui temos mais um exemplo de mangá em volume único: Tsumitsuki: Espírito da Culpa, publicado pela Editora JBC.

    Em uma cidade do interior do Japão, uma nova aluna, Chinatsu Takada, chega à escola. A jovem Takada, aos poucos, vai conhecendo as lendas locais, em especial sobre os tsumitsukis, espíritos que se alimentam do remorso humano. As coisas ficam mais sinistras quando Takada conhece Kuroe, um garoto que sabe muito sobre os tais espíritos. Os dias vão passando e coisas estranhas começam a acontecer na cidade. Mortes bizarras ocorrem e ninguém sabe a causa. Mas nós sabemos, claro: são os tsumitsukis.

    A ideia destes espíritos é interessante. Entidades que tomam o corpo da pessoa e, aos poucos, vai tomando seu controle, como se fosse corroendo a pessoa de dentro para fora. É semelhante a uma doença progressiva terminal, não há cura, não há escapatória, e cedo ou tarde você vai ser tomado por ela e morrer.

    Por vezes esquecemos que a história tem uma protagonista. Há foco em alguns núcleos narrativos que dão uma boa dinâmica. Kuroe acaba sendo o personagem mais interessante por seu ar misterioso. Apesar de não haver um desenvolvimento tão profundo, os personagens são bem definidos em suas convicções e personalidade na medida do possível, afinal é um mangá de volume único.

    Há um bom clima de suspense, aliando-se aos belos traços de Kiyohara e sua boa habilidade narrativa. A história se desenvolve bem, os personagens idem, apesar de não ser algo extraordinário. É o tipo de obra com ideias legais e história básica, o que não chega a ser algo ruim. Existem momentos tensos e impactantes, às vezes inesperados. Ponto positivo. De resto, a trama se mostra um pouco arrastada, mas não ao ponto de gerar desinteresse ou vontade de abandonar a leitura.

    Muitas pessoas podem olhar a capa, ler a premissa e esperar ler um mangá de terror. Não é. Existe suspense, momentos de horror, mas não espere algo assustador ou perturbador à la Junji Ito. Espere algo na linha de Another com alguns momentos sangrentos e grotescos. O resultado final é interessante, mas não memorável. Vale a leitura, especialmente aos apreciadores ou fãs do trabalho de Kiyohara.

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  • Review | Ingress: The Animation – 1ª Temporada

    Review | Ingress: The Animation – 1ª Temporada

    Pouco antes de estourar a febre do Pokémon Go, um outro jogo ganhou certa notoriedade: Ingress. A desenvolvedora Niantic utilizou boa parte dos dados de Ingress para montar Pokémon Go, mas isso é outro assunto.

    Ingress é um jogo de celular que utiliza o ambiente e a localização real para funcionar. Existem diversos portais espalhados pelas cidades do mundo inteiro, cabendo ao jogador capturar e defender esses portais para sua respectiva facção (Iluminados ou Resistência). Para fazer isso, o jogador deve ir até o local com o celular conectado à internet e, claro, com o jogo aberto. Na tela há o mapa do local, como se fosse um GPS, e os portais estão ali. Quando uma facção captura três portais próximos, eles fazem uma área triangular entre esses portais, tornando-a um espaço da facção. É possível capturar portais neutros e de outra facção.

    Com base nesta ideia, por que não fazer um anime? Eis que a Netflix disponibiliza a primeira temporada da animação de Ingress, feita com aquela técnica 3D que simula o 2D. Tanto o visual quanto a animação têm boa qualidade.

    Criou-se uma trama com pano de fundo interessante. Os cientistas descobrem uma estranha substância chamada XM capaz de influenciar a mente humana. Tal substância tem origem nos portais espalhados pelo mundo. Com isso, as duas facções, Iluminados e Resistência, entrarão em conflito para dominar os portais e, com eles, a XM.

    A história gira em torno de Makoto, um jovem investigador que possui o poder de visualizar momentos presenciados por aquilo que ele tocar, seja pessoa ou objeto. Durante sua vida inteira ele se sentiu deslocado por conta desta habilidade. Quando Sarah cruza seu caminho, as cisas se tornam caóticas.

    Sarah sobreviveu a um experimento com a XM, e agora está sendo perseguida. Um de seus algozes é Jack, o personagem mais interessante do anime. As relevações sobre a XM e as tramas paralelas envolvendo corporações poderosas tornam o anime bem interessante, muito mais do que o esperado.

    Existe uma tentativa de fazer um paralelo com o jogo da vida real, trazendo uma espécie de justificativa para ele existir. Os personagens utilizam o Ingress em seus celulares para interagir com os portais, algo forçado para incluir o jogo na animação. Seria mais funcional algum outro dispositivo ou método de interação com os portais, mas OK, isso toma destaque em breves momentos que não chegam a prejudicar o todo. Na verdade, era difícil esperar algo realmente bom deste anime, e o resultado final surpreende. O ritmo da narrativa é bom, com alguns deslizes, mas não há grandes dificuldades para assistir a todos os episódios.

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  • Review | The Seven Deadly Sins

    Review | The Seven Deadly Sins

    A jovem princesa Elizabeth sai em uma jornada solitária em busca dos poderosos guerreiros denominados Os Sete Pecados Capitais. O motivo? Vencer a tirania dos Cavaleiros Sagrados que tomaram o poder em seu reino, Liones. Porém, os Sete nunca mais foram vistos após serem expulsos pelos Cavaleiros Sagrados.

    Na verdade, os Sete foram acusados de tentar um golpe de Estado no reino de Liones, e os Cavaleiros Sagrados, a princípio, se mostraram como os mocinhos da história. Mas foram os Cavaleiros Sagrados que acabaram dando o golpe e tomando o poder em Liones. Agora, os Sete estão desaparecidos e Elizabeth precisa encontrá-los, pois são os únicos que têm poderes equiparados aos Cavaleiros Sagrados. Elizabeth encontra uma curiosa taverna administrada pelo fanfarrão Meliodas. Em determinada situação, ele acaba se revelando o líder dos Sete Pecados, e acompanhará Elizabeth em sua jornada para encontrar seus outros companheiros e vencer a tirania dos Cavaleiros Sagrados.

    Até aqui, não parece algo original. Entretanto, os personagens carismáticos junto à narrativa competente tornam The Seven Deadly Sins (Nanatsu no Taizai) um baita anime divertido e envolvente, no melhor estilo shonen. Ao longo dos episódios, a história cresce bastante, e os personagens acompanham. Elizabeth se mostra corajosa e Meliodas um tremendo guerreiro poderoso.

    Por enquanto, temos duas temporadas do anime, disponibilizadas na Netflix, além de alguns episódios de transição entre elas. Na primeira, teremos a saga pela libertação de Liones, enquanto que na segunda aparecerá uma ameaça grandiosa: Os Dez Mandamentos, demônios extremamente poderosos. O misterioso passado de Meliodas também revelará situações macabras.

    O ponto forte do anime são os personagens, muito variados e carismáticos. Os membros dos Sete Pecados são muito distintos, com poderes e características únicas. Sua lealdade ao capitão Meliodas é enorme, existindo um laço muito especial entre todos eles. Situações extremas são constantes no anime, e muitas vezes surpreendem pelo nível de maturidade em um anime aparentemente infanto-juvenil. Questões profundas são abordadas, especialmente nas reflexões internas de Meliodas e no passado melancólico de Bam, outro dos Sete.

    Diversos elementos visuais criam a mitologia daquele mundo, que se assemelha à Europa Medieval com toques de fantasia. Por exemplo, a taverna de Meliodas fica nas costas de uma porca verde gigante (!), que é mãe do porquinho falante Hawk, companheiro de Meliodas. As armas e poderes são bem diversificados e, muitas vezes, criativos, com exageros que intensificam as cenas de ação. Existem monstros e demônios com influências da cultura oriental e ocidental. Nestes pontos, o anime é muito bom.

    Por mais elementos criativos que tenha, o anime, obviamente, não se exime de clichês, o que não chega a ser um problema, pois são bem utilizados. É claro, existem pontos que podem incomodar algumas pessoas, como os momentos em que Meliodas fica apalpando Elizabeth das formas mais esdrúxulas e gratuitas possíveis. Existe uma nuance bem sensível aqui, pois, apesar de não haver um relacionamento formal entre eles, claramente há um forte laço emocional que os une, e Elizabeth não demonstra reprovação (apesar de ficar desconcertada). Porém, contudo, entretanto, todavia, é totalmente aceitável se incomodar com isso, pois não acrescenta nada à história, e sim, é muito desnecessário. Coisa dos japoneses…

    No final das contas, é um anime que vale muito a pena acompanhar. O ritmo frenético, história crescente, personagens carismáticos, é um belo entretenimento. Aproveite para fazer uma maratona antes do lançamento da terceira temporada, prevista para este ano. Vale dizer que a dublagem brasileira está excelente, com boas atuações e vozes  compatíveis. A qualidade tem uma queda na segunda temporada, e com algumas mudanças de vozes devido a mudanças de estúdio e problemas diversos.

    https://www.youtube.com/watch?v=kuj4d1TWesQ

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  • Review | Megalo Box

    Review | Megalo Box

    No submundo das lutas clandestinas,  um sujeito se destaca. Sem nome, sem origem conhecida, ele luta para ganhar algum dinheiro e sobreviver. Até que seu “empresário” e treinador sugere alçar voos mais altos: ingressar no Megalonia, o grande torneio de megalo box.

    Megalo box? O que diabos é isso? Basicamente o nosso boxe, porém os lutadores utilizam um gear, equipamento acoplado nos braços. Seria um boxe cyberpunk futurista dos anos 1960.

    À primeira vista, o anime parece antigo, seja pela ideia ou mesmo pelo estilo gráfico. Apesar de ter sido lançado em 2018, Megalo Box é uma comemoração aos 50 anos (sim, eu disse CINQUENTA anos) do mangá Ashita no Joe, um grande clássico no Japão, mas praticamente desconhecido aqui no Brasil. Recentemente, a série foi disponibilizada na Netflix.

    Nosso protagonista sem nome vai iniciar uma árdua trajetória para ingressar no Megalonia. O primeiro passo, vejam vocês, é forjar uma identidade falsa. Daí ele adota o nome Joe. Para ganhar destaque rápido, ele subverte o megalo box e passa a lutar sem utilizar o gear, equipamento básico do esporte. A duras penas, ele consegue vencer seus oponentes, e o nome Joe Sem Gear (ou Gearless, em inglês) ganha notoriedade e chega aos ouvidos dos organizadores do Megalonia.

    O grande objetivo de Joe é vencer o campeão do Megalonia, Yuri, um lutador extremamente habilidoso que utiliza um gear diretamente ligado em seu corpo. Ao longo da história, Yuri se identifica muito com Joe e passa a nutrir um grande desejo em enfrentá-lo.

    Toda a jornada de Joe é acompanhada por seu treinador, Nanbu, um trambiqueiro de marca maior que arranjava lutas para o protagonista. Ele será o grande responsável pela ascensão de Joe até o Megalonia, apesar de vários problemas no processo, inclusive atritos na amizade. O pequeno Sachio, um garoto órfão, acaba se juntando a eles para acompanhar de perto essa jornada.

    Como podem notar, a história é bem simples. O que traz boas doses de emoção são as lutas, muito legais por sinal. Não há superpoderes, tudo é bem calcado na realidade.Até mesmo os gears, que seriam o elemento fantástico da obra, são verossímeis, a maioria deles seriam possíveis de existirem nos dias atuais.

    São 13 episódios que fecham bem a história, e não deixa muitos indícios se haverá continuação. Existe a possibilidade de continuar a história? Sim. Mas já é bem satisfatório o modo em que ela termina. É uma sensação de “fechamento de um ciclo”. Recomendado para quem gosta dessa pegada mais antiga dos animes, ou mesmo quem quer apenas um bom passatempo.

  • Resenha | Arakawa Under The Bridge

    Resenha | Arakawa Under The Bridge

    Da glamourosa vida no mundo corporativo à debaixo da ponte. Tudo isso por causa de sua calça que foi roubada. E depois quase se afogar.  Loucura? Não, isso é Arakawa Under the Bridge com seu humor nonsense, demente e muito divertido, publicado pela Panini.

    Calma, não se assuste, tudo parece (é) confuso, mas vamos (tentar) explicar melhor. Nosso protagonista é o jovem Kou, filho de um grande empresário japonês. Ele trabalha com o pai e segue um lema de vida: nunca dever favores a ninguém. Porém, uma situação esdruxula o faz cair no rio Arakawa e ser salvo por Nino, uma garota que diz ser de Vênus. Para Kou, esse não é o pior dos problemas: agora, ele deve um favor a Nino, afinal ela salvou sua vida. E ela quer que Kou seja seu namorado. A partir daí, Kou passará a morar embaixo da ponte onde Nino e diversas outras figuras peculiares vivem.

    Peculiares em que sentido? Por exemplo, o prefeito da “comunidade embaixo da ponte” é um kappa, criatura mitológica japonesa. Mas ele é claramente um humano fantasiado porcamente. Estrela é outro sujeito peculiar, com uma máscara de… estrela. Ele tenta ser músico e é apaixonado por Nino, portanto Kou será um grande rival.

    Outro sujeito peculiar é Sister, um inglês loiro, alto, com cicatrizes de guerra, especialista em armas e vestido de freira. Seu instinto sanguinário aflora de vez em quando, mas é uma boa pessoa.

    Diante dessas loucuras, o que exatamente é este mangá?  Fica óbvio que ele aposta no humor. E, de forma impressionante, é muito bom e, de certa forma, inteligente. Os capítulos geralmente são curtos, alguns com 2 ou 3 páginas, dando um ritmo mais frenético às coisas. Porém, essa divisão em capítulos é mais psicológica do que qualquer coisa, pois muitas situações se estendem por diversos capítulos, sendo essas quebras um respiro para o leitor. É uma estratégia narrativa interessante, pois o nível de nonsense é alto. Por conta disso, a leitura, apesar de agradável, pode ser mais demorada.

    Ao longo da história, Kou se acostuma com a nova vida e vai achando cada vez mais normal aquele bando de malucos. O mais preocupante é que você, leitor, seguirá pelo mesmo caminho, e acreditará em diversos momentos que o prefeito é realmente um kappa. A própria situação de Kou em morar debaixo da ponte passará a ser normal tanto para ele quanto para o leitor. E por maiores loucuras que aconteçam, existe subtextos interessantes de amadurecimento.

    Podemos dizer que o mangá é uma sucessão de esquetes, não havendo uma grande linha narrativa sendo construída. O que temos é a familiarização com os personagens, que indiscutivelmente são carismáticos, divertidos e bem diferentes entre si. Aqui precisamos dar méritos à autora Hikaru Nakamura. Ela conseguiu despejar inúmeros personagens bizarros, definiu personalidades únicas para cada um, os desenvolveu ao longo das páginas e, em certo ponto, o leitor já se sente em casa (ou melhor, na ponte). As situações criadas são muito divertidas, sendo uma leitura bem agradável e leve. É aquele mangá que pode facilmente ser lido devagar, algumas páginas por dia, de forma bem casual. Vale dizer que é voltado aos leitores que já gostam das “japonesices” habituais dos mangás, ok? Pra essa galera é diversão garantida!

     

  • Resenha | The Legend of Zelda: Majora’s Mask | A Link to the Past – Perfect Edition

    Resenha | The Legend of Zelda: Majora’s Mask | A Link to the Past – Perfect Edition

    E lá vamos nós falar de mais um mangá de Zelda, desta vez abarcando os jogos Majora’s Mask e A Link to the Past. O primeiro é uma continuação de Ocarina of Time, mas que funciona como uma história autônoma. Já A Link to the Past é uma história fechada enquadrada na cronologia louca de Zelda, e sim, também funciona sozinha. A arte, mais uma vez, ficou a cargo de Akira Himekawa, pseudônimo de uma dupla de artistas muito talentosas.

    Majora’s Mask é uma relíquia poderosíssima capaz de realizar desejos. Quando a famigerada máscara cai em mãos erradas, o mundo é fadado a um apocalipse: a lua colidirá com o mundo, destruindo-o. Nosso herói Link entrará em uma jornada para evitar esta tragédia.

    Esta p primeira história é um pouco mais sombria, com um bom clima de urgência. Link encontrará criaturas mitológicas para que ajudem o mundo. E claro, usará diversas máscaras com poderes diversos para vencer os obstáculos. A história flui bem, há momentos mais leves e divertidos, e no geral, é satisfatório.

    Logo após o término de Majora’s Mask teremos uma história original feita por Akira Himekawa contando a origem da poderosa máscara. É uma espécie de fanfic autorizado, e ficou muito legal.

    A segunda metade do volume terá como base A Link to the Past, o clássico do Super Nintendo, um dos jogos preferidos dos fãs de Zelda. Como é de praxe, a aparência de Link muda em relação às outras histórias (Majora’s Mask é uma exceção, pois manteve a aparência de Ocarina of Time, afinal é uma continuação direta).

    Link é órfão e mora com seu tio. Ambos têm uma vida calma plantando maças. Porém, na fatídica noite chuvosa, Link ouve uma voz em sua mente, uma garota pedindo socorro, dizendo que etá presa no palácio. Ele percebe que seu tio não está em casa e decide ir até o palácio verificar.

    Para sua total infelicidade, encontra seu tio gravemente ferido, e ali descobre uma terrível ameaça: o mago Aghanim pretende tomar o poder de Hyrule. Para isso, oferecerá como sacrifício a princesa Zelda, a dona da misteriosa voz que chamou por Link. O jovem garoto carregará o pesado fardo de evitar esse plano nefasto de Aghanim.

    Este segmento do mangá já não é tão bom. Por mais que o jogo seja querido pelos fãs e tenha coisas interessantes, há um pequeno excesso de textos e explicações que tiram a fluidez da leitura, tornando-a cansativa.  A história não é tão interessante a ponto de exigir tantos detalhamentos, e talvez este seja o erro de A Link to the Past. Talvez seja uma impressão errada que tive, ou mesmo que o estilo da narrativa e das histórias dos mangás de Zelda tenham me saturado um pouco, afinal existe uma certa fórmula que traz semelhanças entre as histórias. Em geral, todos os mangás resenhados até agora possuem hkstórias simples, com algumas pitadas de complexidade, mas que na essência são aventuras básicas (o que não é um problema).

    Dito isso, este volume, assim como todos os outros até aqui  resenhados (Ocarina of Time e Oracle of Seasons/Ages) são mais voltados aos fãs dos jogos. Nada impede que outras pessoas se divirtam com as aventuras do Link e apreciem a excelente arte da obra, mas saibam que não há tramas extraordinárias. A simplicidade funciona muito bem nos jogos, que são aliados à jogabilidade característica da série. De qualquer forma, é muito bom ter esse material no Brasil, e a edição da Panini é caprichada, com ótimo papel e acabamento.

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  • Review | Kakegurui XX – 2ª Temporada

    Review | Kakegurui XX – 2ª Temporada

    “Vamos apostar até a loucura!”, diz Yumeko. Em seu ímpeto lunático por jogos de azar, a jovem se mantém cada vez mais próxima do risco. Mesmo bilionária, Yumeko não foge das oportunidades de se arriscar a perder tudo.

    Após todas as loucuras da primeira temporada, restou a dúvida: conseguirão manter o nível? De certa forma, conseguiram, e logo no primeiro episódio temos uma prévia disso. Um jogo onde as perdedoras terão o dedo decepado.

    Desta vez, o Grêmio Estudantil abriu eleições. E claro, não será uma eleição comum. Cada estudante recebeu uma ficha que vale um voto. Eles jogarão entre si, e ao final de um mês, quem tiver mais fichas vence. Para deixar as coisas mais interessantes, um grupo de novos alunos que possuem um laço familiar ingressam na escola e farão parte da disputa eleitoral.

    Não houve mudanças quanto ao estilo do anime. As apostas malucas continuam, jogos mirabolantes, tudo está ali. Porém, os riscos diminuíram em relação à temporada anterior. Antes, a aposta envolvia muito dinheiro e a própria dignidade. Agora, o risco é basicamente perder as fichas de votos. Obviamente alguns alunos, incluindo nossa querida protagonista Yumeko, não se contentarão em apostar apenas as fichas. Sempre vão colocar algo mais arriscado na mesa de apostas, e é essa loucura que gera a diversão do anime.

    Diversos personagens novos foram introduzidos, alguns mais, outros menos interessantes e aprofundados. Vários conhecidos também retornam, e é bom destacar, a mulherada continua tendo o maior destaque, tanto em quantidade quanto em qualidade. A beleza no traço e a alta qualidade da animação ajudam bastante na construção do carisma. Nos momentos de expressões mais intensas, o rosto e os olhos ficaram mais detalhados, porém este recurso visual foi pouco utilizado nesta temporada.

    No geral, a temporada flui bem, sem muitas enrolações, e  o final de cada episódio deixa a vontade de assistir o próximo. Alguns momentos escorregam e tiram um pouco o interesse, tornando um pouco maçante, mas na grande parte do tempo é diversão garantida.

    Se você está lendo até aqui, é provável que já tenha assistido à primeira temporada. Se não o fez, faça. Esta é uma boa continuação que mantém a qualidade. Talvez não seja tão boa quanto a primeira por causa do impacto. A primeira era algo novo, você estava conhecendo aquele mundo louco das apostas estudantis. Já na segunda o impacto da novidade se dilui um pouco. Caso tenha gostado da primeira, não hesite, assista à segunda e divirta-se!

     

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  • Resenha | Another

    Resenha | Another

    Dentre as várias obras de Hiro Kiyohara, provavelmente esta é a mais conhecida. Seguindo uma praxe em sua carreira, Kiyohara adaptou uma obra escrita para as páginas de um mangá. O autor da obra original é Yukito Ayatsuji, que não poupa elogios ao artista pela ótima adaptação que fez. Diz que houveram mudanças bem-vindas e adaptações dignas de nota. Estas declarações podem ser conferidas no último volume.

    Another tem uma atmosfera de suspense e terror envolvendo jovens estudantes de uma escola japonesa. O protagonista Sakakibara, ao ingressar no terceiro ano, começa a perceber atitudes estranhas de seus colegas, e dentre eles, uma solitária garota de tapa-olho, Mei Misaki. A trama se desenvolve em torno dos mistérios da Sala 3-3 onde Sakakibara e Misaki estudam. Há uma espécie de maldição que acomete aquela sala, matando alguns de seus integrantes. E a terceira turma do terceiro ano sofre desse mal há décadas.

    Existem diversos elementos interessantes na história. O primeiro deles é a dúvida de Sakakibara em relação a Misaki: ela está viva ou morta? Só ele enxerga a garota? São dúvidas que prendem a atenção do leitor e causam certa intriga. A narrativa é bem desenvolvida e, aos poucos, conhecemos um pouco mais da história de Misaki e sobre a famigerada maldição. Por mais que exista o elemento fantástico (maldição), a história se mantém muito próxima da realidade.

    Vale destacar a arte de Kiyohara, sempre muito boa e precisa, com grande habilidade narrativa. O artista consegue compor cenas bonitas com toques de macabro, nada aterrador ou bizarro do nível Junji Ito, até porque esta não é a proposta de Another. Aqui temos um quê mais psicológico, gerando inúmeras e constantes dúvidas sobre o que está acontecendo e sobre a própria sanidade dos personagens. Mas não se engane, existe cenas sangrentas no mangá, mas geralmente a violência não é tão explícita.

    A princípio, o mangá teria apenas 2 volumes, mas o artista insistiu que fosse mais prolongado, e no final das contas, conseguiu. A história é bem desenvolvida, com alguns detalhes sutis que se fazem importantes no final, e não há enrolações. Em sua maior parte, há um clima de mistério com pontuais momentos de humor. No geral, destaca-se a tentativa de descobrir os mistérios por trás dessa maldição. Há alguns momentos cansativos na leitura, mas nada que comprometa em demasia o resultado final.

    Vale destacar alguns subtextos interessantes. Sakakibara é órfão de mãe e seu pai é bem ausente, pois o jovem foi morar em outra cidade e acaba mantendo apenas esporádicos contatos via telefone. Sua figura materna acaba sendo Reiko, irmã de sua falecida mãe. Em relação a Misaki, há reflexões sobre ser ignorada e solidão, que será desenvolvido e justificado ao longo da obra.

    Foi um grande acerto da Editora JBC publicar Another aqui no Brasil. É uma obra conhecida pelos fãs de anime/mangá, e com razão. Temos muitas qualidades aqui, que às vezes parece apenas um “terrorzinho adolescente”, mas logo o estereótipo cai por terra. Além do que, o desfecho é visceral. As edições possuem páginas iniciais coloridas, outro acerto na edição brasileira.

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  • Resenha | Innocent #1

    Resenha | Innocent #1

    Enquanto grande parte dos mangás tem como base a cultura japonesa e o próprio Japão, Innocent vai à Europa, mais especificamente na França do século XVIII, anos antes da importante e sanguinária Revolução. O foco se dá na família Sanson, designada a serem os carrascos de Paris. Todos os condenados à morte serão executados por membros desta família. E aqui teremos nosso protagonista, o jovem Charles-Henri Sanson.

    Charles não quer se tornar um carrasco. Não quer ser um assassino, mesmo que de criminosos. Mesmo assim, seu destino parece inevitável, pois o próprio rei, que na época era tido como o representante de Deus na Terra, incumbiu a família Sanson a esta nefasta tarefa. Como ignorar ordens do próprio Deus?

    Este primeiro volume traz de maneira primorosa o início do desenvolvimento de Charles, com todas as suas dúvidas e embates morais. O jovem, como bem diz o título da obra, carrega uma inocência que não quer perder. A sensibilidade e até fragilidade é acentuada por seus traços femininos, que traz uma ideia maior de delicadeza. O pai tenta a todo custo impor o destino a Charles, inclusive mediante tortura. Apesar da primeira página já mencionar a Revolução Francesa, a história começará anos antes, e provavelmente terá seu desfecho ali. Vale destacar a ótima retratação da França, especialmente da nobreza, tanto nos cenários quanto nas roupas.

    Não podemos deixar de tecer efusivos elogios à arte deste mangá. É algo espetacular, um dos mais lindos que já vi. O autor Shin’ichi Sakamoto e seus assistentes não pouparam esforços para elaborar quadros extremamente detalhados. Roupas, cabelos, cenários, tudo com riqueza de detalhes, e mesmo assim os desenhos ficam limpos e inteligíveis. A própria capa já nos mostra a qualidade do miolo, realmente é uma obra de arte.

    Outro ponto a ser destacado é a habilidade narrativa do autor. Tudo é bem contado, a história flui bem e não há dificuldades em ler este volume de uma só vez. Talvez o único defeito tenha sido a apresentação da família Sanson. Em uma sequência de quadros, os personagens vão sendo apresentados com nome e grau na linhagem da família. Por serem muitos personagens, e cada um com nomes extensos, não é uma decisão muito efetiva para que o leitor se lembre dos nomes futuramente. De qualquer forma, não é algo que comprometa a qualidade final.

    Aparentemente, o roteiro tem certa precisão histórica. Sendo verdade ou não, Innocent é um belíssimo mangá que retrata um momento e cenário pouco comuns nas obras japonesas. A edição da Panini traz papel de qualidade, páginas inicias coloridas, capas com orelha, um produto de alta qualidade.

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  • Resenha | Cântico – Ayn Rand

    Resenha | Cântico – Ayn Rand

    Ayn Rand foi uma grande defensora da liberdade e do individualismo no século XX. Nascida na Rússia em 1905, emigrou para os Estados Unidos já em 1925. Passou a desenvolver uma filosofia denominada Objetivismo que, de uma forma extremamente resumida, poderia ser definida como uma ode ao individualismo, à liberdade e ao anti-coletivismo. Para difundir suas ideias, além de publicar livros e artigos sobre o tema, escreveu histórias de ficção com bases em sua filosofia. As obras mais icônicas são A Nascente e A Revolta de Atlas, este último um dos livros mais influentes nos EUA.

    Outra obra icônica de Rand é Cântico (Anthem, no original), um livro curto, porém visceral. Ele segue a proposta de apresentar uma história de ficção onde a autora expõe suas ideias objetivistas, seja de forma direta ou indireta. No romance, vemos uma sociedade distópica onde os avanços tecnológicos regrediram e o coletivismo foi levado às últimas consequências. A palavra “eu” é proibida, o que gera a curiosa escrita do livro onde os personagens  se referem a eles mesmos como “nós”. Nomes também seguem um formato bizarro: palavra + número, mais uma característica que elimina o aspecto individual de cada um, como se fossem mero gado ou prisioneiros. O protagonista, por exemplo, é o Igualdade 7-2521.

    Ainda adolescentes, as pessoas dessa sociedade já têm designadas pelos líderes suas funções permanente. Igualdade 7-2521 foi designado Varredor de Rua, e assim será até sua morte, sem possibilidade de mudança. Porém, o jovem já tem diversos questionamentos sobre aquela sociedade, e sente-se estranho por pensar determinadas coisas. Em certo momento, ao explorar uma floresta nos arredores da cidade, encontra resquícios de uma sociedade antiga, que seria a nossa atual, e ali começa a descobrir uma arma poderosa: o conhecimento. Descobre elementos importantes que poderão trazer benefícios a toda sua sociedade, mas há um grande problema. Caso ele revele sua descoberta, ele estará se mostrando melhor que seus “irmãos”, logo quebrará um preceito fundamental da igualdade torta em que acreditam.

    Essa loucura maniqueísta soa completamente exagerada, mas nas entrelinhas é nítida qual a intenção de Rand. Justamente pelo exagero que surgem as pesadas críticas da autora sobre regimes totalitários, coletivistas, ou mesmo pelo cerceamento de liberdade de pensamento e de ação que tentam forjar uma igualdade distorcida. Não deixa de ser uma alegoria que reflete, de forma assustadora, algumas verdades.

    A narrativa é muito boa, com inúmeras reflexões que surgem de forma até orgânica, sendo a mistura de ficção com filosofia uma ferramenta muito eficiente para expor suas ideias. A ausência do pronome “eu” deixa o texto propositadamente estranho, e talvez, ao longo da leitura, você acabará se acostumando.

    Cântico é uma boa introdução ao pensamento da autora e à sua obra. Além da história em si, há um longo prefácio com análise aprofundada do Objetivismo e da obra da autora de uma forma geral, além de tecer comentários importantes para a melhor compreensão deste livro. O romance não precisa ser visto apenas como uma crítica a determinadas ideologias, mas também como uma nova proposta de enxergar as coisas. Não à toa, a filosofia de Rand tem impactos até hoje, muitas vezes sem sabermos que está lá. Para citar um exemplo famoso, o disco 2112, da banda canadense Rush, tem suas letras inspiradas fortemente em Cântico. O baterista Neil Peart já afirmou que, após finalizar as letras do disco, notou que, de forma inconsciente, teve fortes inspirações no livro de Ayn Rand. Para não correr o risco de ser acusado de plágio, ele declarou abertamente que 2112 foi baseado em Cântico. Outro exemplo conhecido é o jogo Bioshock, onde as ideias de Andrew Ryan, fundador da cidade submersa Rapture, tem diversos elementos do Objetivismo (“A man chooses, a slave obeys” – um homem escolhe, um escravo obedece). Revisite essas obras após ler Ayn Rand, será um execício interessante.

    O texto do autor não expressa a opinião dos editores do site em relação a obra de Ayn Rand.

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  • Resenha | Carnaval Glare: O Caçador de Bruxas

    Resenha | Carnaval Glare: O Caçador de Bruxas

    Histórias contadas em volume único precisam de certo cuidado. Por terem uma quantidade de páginas mais limitada, é necessário foco na proposta. A impressão é que Carnaval Glare, publicado pela Nova Sampa, não soube muito bem qual sua verdadeira proposta.

    Não temos uma premissa super original: criaturas denominadas “bruxas” atacam os humanos para matá-los ou transformá-los nesses seres repugnantes. O governo criou uma organização militar para combater estas ameaças, uma espécie de tropa especial. Seu líder é Hansel Takamine, que teve sua irmã Gretel assassinada por uma bruxa. Esta é a grande motivação para que Hansel entre nesta perigosa luta. E aqui vem o problema.

    Em momento nenhum o protagonista inspira empatia ou carisma. As motivações são rasas e mau exploradas, às vezes confusas e duvidosas. Não há qualquer problema na premissa simples, até porque a questão das bruxas poderia gerar uma história interessante. Inclusive as bruxas são interessantes, classificadas como “desastres”, e trazem um ar bizarro à trama. A primeira metade do volume desenrola até bem, tendo mais foco na ação. Depois a narrativa se torna cada vez mais confusa, estranha e mau executada. Há uma tentativa de aprofundar os personagens, as motivações, dar explicações sobre as bruxas e até sobre as armas usadas para matá-las. Tentativas que não logram êxito e tornam a obra extremamente enfadonha, inconstante, sem ritmo e desinteressante.

    Nem mesmo as referências mais diretas, como o nome do protagonista e de sua irmã, ajudam muito (Hansel e Gretel é o nome original da famosa história João e Maria) O que sobra é um punhado de elementos que não despertam interesse algum. Triste pensar que existem elementos interessantes que poderiam gerar uma trama minimamente interessante, mas a falta de habilidade narrativa torna a leitura um calvário.

    No final das contas, é difícil afirmar se a trama enfadonha é culpa das poucas páginas de desenvolvimento ou simplesmente incompetência do autor Kazuomi Minatogawa. Pelo menos a arte é bonita, embora confusa em alguns momentos e  com ausência de cenário que atrapalha bastante o entendimento. Havia bom potencial para criar uma história minimamente interessante, mas infelizmente o resultado ficou aquém das expectativas. Não era pra menos, afinal, se nem o protagonista consegue ser carismático, como o leitor se importará com o resto da história? A sensação é que a leitura demorou dias para ser finalizada, e ao término deste esforço hercúleo, provavelmente poucas lembranças restarão. Fica difícil recomendar este mangá.

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  • Crítica | Death Note (2006)

    Crítica | Death Note (2006)

    Cabe destacar logo de início que este filme, dirigido por Shusuke Kaneko, foi lançado em junho de 2006, ou seja, é posterior à conclusão do mangá e anterior ao anime. É um ponto curioso, visto que, em muitos casos, as versões live action são produzidas após o mangá e anime. Isso poderia justificar as boas doses de originalidade deste filme.

    Death Note conta a história de Light Yagami, um estudante japonês genial. Certo dia, ele encontra um misterioso caderno que pode matar qualquer pessoa, basta escrever o nome dela enquanto mentaliza seu rosto. Com esta ferramenta macabra, Light quer se tornar uma espécie de deus e limpar o mundo dos criminosos e pessoas ruins, subjugando-as de acordo com seu senso torto de justiça.

    O genocídio se espalha pelo mundo, e a polícia se vê obrigada a pedir ajuda a L, um detetive anônimo que já solucionou casos complicados. A partir de então, Light tem um algoz  de extrema inteligência e precisará tomar o máximo de cautela possível, caso contrário será descoberto.

    Este filme conseguiu utilizar a essência da obra original, sendo fiel nos pontos principais ao mesmo tempo que modificou algumas coisas sem desvirtuá-la. Light consegue passar um ar de intelectual e psicopata de uma forma menos intensa que no anime, o que é positivo, caso contrario poderia soar um tanto caricato. Mérito para o ator Tatsuya Fugiwara, que anos antes protagonizou o mórbido Battle Royale (confira nossas análises do filme e do livro). Fugiwara conseguiu dosar suas emoções e ficou bem convincente, porém diferente do Light do anime. O mesmo podemos dizer de Kenichi Matsuyama, que deu vida a L. Ele manteve os trejeitos do personagem de forma menos exagerada, e funcionou bem. Sua aparência também remete ao original. O shinigami Ryuk é feito em computação gráfica de qualidade decente para a época, e o ator responsável por sua voz, Shido Nakamura, seria o mesmo do anime posteriormente. O Ryuk do filme é um pouco mais “humano” que na obra original, e por vezes fica pasmo com as atitudes de Light. Não que isso inexista no original, mas aqui ele demonstra um pouco mais de emoção.

    Ao invés de seguir à risca a trama do mangá, o filme preferiu modificar algumas coisas. Por mais que o resultado leve ao que o original criou, os trâmites mudaram e ficou ótimo. O roteiro se valeu, inclusive, de algumas regras específicas do caderno para que Light executasse seu plano de forma brilhante e cruel. As principais artimanhas de Light e L estão ali, mas por vezes modificam alguns detalhes. Certos momentos carecem de mais detalhes e desenvolvimento, mas considerando que o tempo do filme é escasso, não há muito do que reclamar. O ritmo é muito bom e as duas horas passam rápido.

    Diferente da versão americana de 2017, este filme pode ser uma boa porta de entrada para conhecer Death Note. A essência da obra original está aqui, e para quem não gosta de animações, esta versão em live action poderá suprir este obstáculo. A história termina em um ponto muito importante, deixando um belo gancho para a continuação, que sairia poucos meses depois, no mesmo ano.

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  • Crítica | ReMastered: O Diabo na Encruzilhada

    Crítica | ReMastered: O Diabo na Encruzilhada

    Para os ouvintes assíduos de blues, um homem gera questionamentos e mistérios há décadas: Robert Johnson. Um verdadeiro mestre na arte da música, Johnson possuía um jeito ímpar de tocar seu violão. Uma técnica incompreendida na época (e por muitos até hoje). Tão misteriosa quanto sua técnica foi a vida do bluesman. Nascido no Mississipi nos primórdios do século XX, pouco se tem registrado além das 29 músicas gravadas, certidão de óbito e pouquíssimas fotografias.

    Fazendo uma verdadeira exumação da história, a Netflix produziu o documentário O Diabo na Encruzilhada (Devil At The Crossroads), título diretamente ligado à maior lenda envolvendo o músico: teria ele vendido sua alma ao Diabo em troca da famigerada técnica musical? Esta lenda torna-se mais verossímil à medida que o documentário, dirigido por Brian Oakes, avança em seus quase 50 minutos. Havia todo um contexto cultural e social da época envolvendo o forte cristianismo da região, que constantemente taxava o blues como “música do Diabo”. Afirmação esta corroborada constantemente pelos participantes do documentário, que vão de músicos a especialistas em cultura afro-americana. Talvez este seja um dos poucos elementos negativos do filme, visto que existe uma vontade quase fanática-religiosa de bater nessa tecla de “os cristãos demonizavam o blues”. Mesmo sendo verdade, houve uma certa forçação de barra para salientar esse ponto e, com isso, fortalecer a lenda da encruzilhada. Nada que desqualifique as demais qualidades da obra.

    Para quem não conhece a lenda, Robert Johnson sumiu por cerca de um ano, e quando reapareceu, estava com uma técnica musical extraordinária (até aqui é fato). Juntando este ponto às diversas referências em suas letras, Robert teria ido até uma encruzilhada, encontrado o Diabo, e lá o capiroto pegou o violão de Johnson e o afinou. “O violão por sua alma. Negócio fechado?”, e o resto é história (ou mito).

    Além dos especialistas em cultura afro-americana e diversos músicos, dentre eles o imortal Keith Richards, temos os depoimentos do neto e do filho de Robert Johnson. Mesmo que não haja esclarecimentos contundentes da história, foi feito um belo apanhado do que temos disponível sobre o bluesman. E claro, muita música por conta dos participantes e da trilha sonora do documentário. A dinâmica do filme é muito boa, não ficou tão engessada naquele formato padrão de documentários. Há os depoimentos, claro, mas estes são intercalados e até sobrepostos a cenas externas e animações muito bacanas, fazendo com que o depoente se torne um narrador momentâneo. Com isso, os 50 minutos passam rápido.

    ReMastered é uma série de documentários com diversos já disponíveis na Netflix.

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  • Review | Baki: O Campeão

    Review | Baki: O Campeão

    Em dezembro de 2018, um anime apareceu na Netflix: Baki, o Campeão. Muita gente não sabe, mas Baki é um anime/mangá antigo, e esta série é, na verdade, a terceira temporada. Isso poderia afastar os novos espectadores, mas ocorre o contrário. Após assistir este, caso lhe agrade, você acabará correndo atrás das temporadas anteriores. Já falamos delas em outra postagem, então confira AQUI.

    Em locais diferentes do mundo, cinco condenados à morte escapam da prisão. Eles não se conhecem, mas simultaneamente fogem com um único objetivo: querem conhecer a derrota. Para isso, vão ao Japão, pois ouviram falar que ali encontrarão pessoas fortes que poderão realizar este desejo.

    Todos os cinco são extremamente fortes, cada um seguindo um estilo de luta (não necessariamente uma arte marcial específica). Por serem tão fortes, nunca foram derrotados, e por isso desejam encontrar alguém forte o suficiente para lhes dar uma luta digna.

    Eles vão até Tokyo Dome, local onde ocorreu o grande torneio na segunda temporada. Ali eles encontram os cinco lutadores que lhes farão frente, dentre eles o próprio Baki. Todos os personagens do lado do “bem” tiveram destaque no torneio da segunda temporada, e colocarão toda sua força em jogo. Agora, poderemos vê-los em qualidade de animação melhor e com aparência modificada, alguns mais, outros menos.

    Se fôssemos avaliar a história de Baki, o resultado seriam apenas risadas. Tudo é muito maniqueísta, totalmente voltado às lutas, caricato e esdrúxulo. O objetivo de praticamente todos os personagens é serem fortes.  Mas  isso não é um problema, muito pelo contrário. O grande barato da série é justamente isso, ver a galera caindo na porrada em lutas extremamente exageradas, seja pela força, seja pela resistência física, ou mesmo pela situação onde a batalha ocorre.

    As temporadas anteriores já tinham esse viés “porradístico”, sem haver uma ameaça ao mundo ou perigos à cidade. Não, os personagens lutam por si, querem ter duelos extraordinários e levar o inimigo ao chão com os punhos.

    Por mais exageros que tenha, o anime traz diversas artes marciais existentes e as retrata muito bem. Posturas, movimentos e golpes são identificáveis, quem gosta de artes marciais vai perceber isso. E vale lembrar, a qualidade de animação está muito melhor que as temporadas anteriores. Movimentos fluidos, lutas mais dinâmicas e violência gráfica visceral. A testosterona jorrará com sangue e ossos quebrados.

    Toda a ação é embalada com heavy metal, potencializando a atmosfera de fúria. A primeira abertura, que inicia os 13 primeiros episódios (metade da temporada), segue o mesmo estilo, com uma excelente música da banda Granrodeo. Aliás, a primeira abertura é um baita fan service, uma vez que traz diversas cenas de lutas da temporada anterior, terminando com a icônica luta final entre Baki e Jack Hammer (os músculos pulsantes das costas tem um significado maior do que parece). Já a segunda abertura remete àquela da segunda temporada, com Baki dando golpes no ar. Porém, diferentemente da animação horrenda da antiga, agora a movimentação é excepcional, muito fluida e realista. A música ficou a cargo da banda Fear and Loathing in Las Vegas, que já fez aberturas de Kaiji, Hunter X Hunter e outros animes. O som da banda é bem peculiar, onde as guitarras pesadas e vocal gutural são acompanhados de um tecladão frenético e, em algumas músicas, por outro vocalista cheio de efeitos sintetizados.

    Na primeira metade da temporada, Baki não tem muito destaque. Quem não viu os episódios antigos pode até pensar que ele não é nada de mais, que é só um moleque que luta mais ou menos.  Aos poucos, este cenário se inverte, principalmente depois da “iniciação” do garoto (que rendeu uma cena constrangedora, bizarra, mas que mantém o espírito galhofa da série).

    São inúmeros personagens, todos muito fortes e protagonistas de lutas homéricas. Com exceção dos cinco vilões, todos os outros lutadores são velhos conhecidos. Alguns sofreram mudanças no visual, mas a essência está ali. Várias cenas dos episódios antigos foram refeitas com o visual novo e melhor qualidade de animação, em alguns flashbacks, e ficou bem legal. Isso ajuda inclusive quem não assistiu aos episódios antigos.  Se você leu até aqui, acho que já deu pra notar que a história de Baki é qualquer coisa, um fiapo de roteiro pra justificar as cenas de porrada. Nessa proposta, o anime é sensacional. É daqueles pra assistir vários episódios seguidos, diversão pura. A Netflix foi cruel em disponibilizar apenas metade em dezembro de 2018, e somente em abril de 2019 liberou o resto. A dublagem brasileira merece elogios, com boas adaptações, atuações e vozes bem escolhidas.

    Para quem devemos recomendar Baki? A todos que buscam um anime exagerado, com muita porrada, sem se preocupar em tramas mirabolantes e bem elaboradas. Baki não tem vergonha de ser ridículo e estereotipado. Justamente por isso é um anime tão bom e divertido. O final da temporada deixa muito claro que a história continuará. Enquanto não sair, busque as temporadas antigas, vale a pena conhecer, são tão ridículas e maravilhosas quanto.

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  • Review | Baki the Grappler

    Review | Baki the Grappler

    “Todo homem, pelo menos uma vez na vida, já sonhou em ser o mais forte”.

    Neste anime, praticamente todos  se valem desta máxima para conduzirem suas vidas, inclusive o jovem Baki, de 13 anos de idade. Baki é filho do homem mais forte do mundo, Yujiro, e tem como objetivo de vida superá-lo. A princípio, vemos que Baki é um prodígio na luta, possui habilidades e força muito acima da média. Entretanto, muita gente é mais habilidosa que ele, e o jovem de cabelos ruivos vai apanhar pra caramba em sua jornada de aprimoramento.

    Baki the Grappler é um anime shonen até dizer chega. O foco é quase total nas lutas e nos personagens querendo ser mais fortes. Muita gente conheceu Baki pelos episódios da Netflix, que correspondem à terceira temporada. Já digo de antemão que é plenamente possível assisti-la sem conhecer as duas temporadas anteriores, que serão o assunto deste review.

    A história de Baki é bastante rasa, o que não é um problema, muito pelo contrário. Queremos ver a pancadaria e os exageros extremos de cada luta. Na primeira temporada, temos Baki se aprimorando para, finalmente, enfrentar seu pai e testar sua força. E, por mais clichês que o anime tenha, uma coisa é muito interessante: Yujiro, pai de Baki, está muito acima de qualquer um. Ele não só é extremamente forte e resistente, mas também um exímio conhecedor de inúmeras artes marciais e técnicas poderosas de luta. Quando Baki fica a temporada inteira treinando arduamente, consegue aumentar sua força de maneira exponencial. Porém, ao confrontar seu pai, temos um lampejo de esperança de apenas alguns segundos. “Baki superou seus limites e vai, ao menos, causar algum dano a Yujiro”. Mesmo quando o garoto monta no pescoço do pai e começa a esmurrar sua cara, Yujiro nem sente os golpes. Ele é um verdadeiro monstro, e isso fica muito claro durante toda a série. Yujiro poderia ser o deus ex machina de qualquer série, porém ele é um vilão. Ou pelo menos um anti-herói. Paralelo a isso, a mãe de Baki mantém uma relação estranha com o filho, e uma idolatria doentia a Yujiro. O desfecho da história dela é bizarro, mas no mínimo impactante e inesperado, que será o divisor de águas na história do jovem Baki (e o fim da primeira temporada).

    A segunda temporada tem foco quase total em um torneio clandestino. Baki viaja o mundo buscando novos oponentes até descobrir a existência do famigerado torneio, que ocorre em Tóquio. Aqui começa a parte alta do anime. O torneio não tem premiação. Os participantes querem somente lutar com pessoas extremamente fortes e se provarem. É pura e totalmente paixão pela luta, sentimento presente em todos os personagens da série, a vontade de ficar mais forte, de enfrentar oponentes grandiosos, de esmurrar a cara de alguém. A atmosfera fede a testosterona, transborda o instinto selvagem do homem, e tudo gira em torno das lutas. Não existe ameaça no mundo, Freeza não vai explodir Namekusei daqui a 5 minutos, nada disso. É a luta pelo prazer e pela paixão de enfrentar oponentes poderosos.

    Este sentimento não é inédito em obras japonesas. Basta lembrarmos do próprio Goku, já que citamos Dragon Ball logo acima. Goku sempre luta para conter um grande mal, porém, como já deixou claro em um episódio, o objetivo principal dele é enfrentar alguém mais forte do que ele. Goku quer salvar a Terra? Sim. Mas antes disso, o sangue sayajin que corre em suas veias coloca em prioridade o prazer pela batalha. Em Baki, todos possuem esta vontade sayajin.

    É bom deixar claro que este anime é daquele tipo “japonês ao extremo”, ou seja, exageros babacas estarão presentes em 99% do tempo. Muitas situações são toscas, motivações ridículas, mas é tão ruim que dá a volta e fica bom. É um grande torneio de Street Fighter, cada um com seu estilo de luta, técnicas exageradas e muita violência. As técnicas são baseadas em estilos de luta reais em sua maioria, sem raios ou magias. O exagero fica a cargo da força, agilidade e execução dos golpes. A retratação dos estilos de luta são bem legais, e realmente seguem alguns aspectos da realidade, desde posturas de luta até golpes e princípios.

    Estas duas temporadas foram produzidas há bastante tempo, então não espere grande qualidade de animação. Praticamente todos os personagens são extremamente musculosos. Os diálogos e situações  são simplórios e focam na emoção da luta. Baki the Grappler se propõe a isso e faz de forma magistral. Assista como uma obra trash, entre no espírito, ignore as situações toscas e deixe a testosterona invadir seu coração.

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