Resenha | Armas, Germes e Aço – Jared Diamond
Biólogo, Fisiólogo, Biogeógrafo são alguns dos campos de formação de Jared Diamond. Contudo seus livros de não ficção abrangem uma gama cientifica de inúmeras áreas, como arqueologia, história e linguística. Justamente essa amplitude de conhecimentos permitiu que fosse possível condensar 15 mil anos de história humana nas 400 páginas de Armas, Germes e Aço.
Claro, não se pode incorrer no erro, e o próprio autor ressalta esse fato, de criar uma obra completa, máxima, sobre o tema. Contudo é possível ter um vislumbre e, porque não, uma síntese da estrutura das sociedades humanas e sua evolução pela geografia da terra nesse tempo evolutivo. Não é um baque revolucionário onde dormimos homo erectus e acordamos homo sapiens, essa taxação passa a não servir na perspectiva de que estamos sempre em transformação, já que o termo evolução não é sinônimo direto de melhora, sendo que nessa visão o termo mais correto seria adaptação, portanto, o ambiente nos força a adaptar, no caso, por meio de transformação. O incrível do discurso do autor é que há uma manutenção nessa lógica a partir dos homens primitivos que passam eles a mudar o ambiente, mas sempre sofrendo a pressão do mesmo.
Dentre os objetivos principais de Diamond nesse livro, que ganhou o prêmio Pulitzer de não-ficção em 1998, é demonstrar que as influências geográficas é que definiram quais regiões do planeta permitiriam que sua população habitante tivesse condições de subjugar as demais durante o tempo. Negando qualquer relação biológica pra esse fato, largando mão de qualquer tipo de determinismo, o autor usa a geografia e toda a influência vinda desse fato para atestar que as escolhas que aparentam ser uma decisão consciente de um grande homem, de um grupo, tribo ou civilização de uma região, na verdade não passam de uma construção feita por pessoas ou civilizações anteriores e, em muitos casos, influenciadas apenas pela necessidade ou pelo ambiente que dispunham acesso. Interessantes conclusões que essa pesquisa realizada no livro nos traz, ampliam, mesmo para alguém da área, o campo de conhecimento, pois oferece novas relações entre os acontecimentos além de abranger inúmeras áreas do conhecimento para fornecer uma análise relativamente complexa e bem estruturada da nossa história como espécie.
A explicação baseada na geomorfologia mostra, por exemplo, porque o eixo Leste-Oeste da eurásia proporcionou importantes trocas e descobertas pelo homem primitivo ao contrário do eixo Norte-Sul americano, que tornou problemático a difusão da domesticação de animais e plantas entre as sociedades nativas, bem como os desertos, montanhas e mares que provocaram o isolamento de diversas proto-civilizaão promissoras sob a visão tecnológica. Além disso, dificuldades de nível biológico, como a mosca tsé-tsé que impedia o sul e centro da África de possuir animais domésticos importantes, como cavalos e/ou a ausência de plantas selvagens de fácil domesticação ou com um valor nutricional muito baixo. Essas são algumas das respostas levantadas pelo autor, que acerta, baseado em dados de diferentes origens, inclusive heranças linguísticas e seus desdobramentos, que as civilização que “deram certo” são em partes vinculadas ao ponto de partida geográfico e não á herança genética, ou seja, o determinismo biológico ou alguma espécie de eugenia.
Uma obra acessível, atraente tanto para estudantes e/ou conhecedores da área afim como para leigos que gostariam de estruturar melhor seu entendimento sobre a caminhada de nossos antepassados até aqui, pois mesmo com um bom conhecimento as relações realizadas por Diamond são bem originais, além de unir diversos segmentos de estudo para formular sua tese, tornando-a, mesmo que sintética, é bem abrangente.
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Texto de autoria de Róbison Santos.
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