Resenha | Aniquilação – Jeff Vandermeer
Fruto da trilogia Comando Sul, iniciada em 2014, Aniquilação é uma obra de ficção científica que toma emprestados elementos do gênero terror para narrar a sua história. O desbravamento de terras até então desconhecidas remete às aventuras do Professor Challenger, criação de Sir Arthur Conan Doyle em seu Mundo Perdido, mas com uma ameaça misteriosa, temática antiga atualizada nos moldes de uma nova geração de consumidores de cultura.
A Área X é isolada do restante do mundo. As expedições anteriores ao local diziam que este era um lugar intocado, mas as outras equipes que tentaram ir à região ou desapareceram misteriosamente – tragados pelo local – ou voltaram catatônicos, traumatizados para toda a vida. Uma nova esperança surge, e o novo grupo formado é deveras singular: uma bióloga, uma topógrafa, uma antropóloga e uma psicóloga, o que já demonstra a preocupação com um ambiente aparentemente inabitado e as consequentes condições mentais de quem tenta explorá-lo. A jornada das mulheres caracteriza-se por examinar um local inóspito, no entanto o que elas carregam consigo faz diferença direta na jornada que as espera.
Narrando em primeira pessoa, como em um diário de bordo, a bióloga fala diretamente ao receptor, esmiuçando as condições adversas que ela e as colegas enfrentam ao se embrenharem na mata para continuar as investigações do governo. A capa da publicação – bela e simples, mantida pela Editora Intrínseca – remete ao ambiente lamacento do pântano que domina aquela região do mapa. Tudo isso ajuda a assinalar ainda mais o clima aventuresco, capturando um pouco o escapismo da história, que logo é cortado graças aos obstáculos apresentados ao quarteto.
A preparação mental a que as moças se submetem mostra o quão grande é a preocupação com a autoestima das pesquisadoras, além do óbvio bem estar mental necessário para a jornada. A precaução é exigida depois do retorno de outras caravanas a Área X e logo apresenta-se como uma decisão sábia, pois as criaturas, que aparecem no local, são de proporções monstruosas e gigantescas, dantescas como nos livros baratos de ficção científica. A ausência dos nomes das personagens ajuda, obviamente, a inserir o leitor na trama, e maximiza o sentimento de alienação que teima em acometer o grupo de exploradoras. A Área X parece abalar quem se atreve a adentrá-la.
Ao explorarem a mata, as mulheres têm sua jornada atravessada por um mistério: o desaparecimento de algumas companheiras. O isolamento causa na bióloga uma estranha sensação saudosista que a faz recordar dos momentos com seu marido. O lugar é tão inóspito e insuportável que em determinados pontos a narradora prefere remeter a lembranças anteriores à sua expedição, desde os tempos com o seu esposo até os momentos em que se preparava para a viagem, investigando sobre o que deu errado nas outras expedições. À medida que se embrenha na mata, ela nota um rastro de violência e, aos poucos, deixa de lado o sentimento para abraçar a fúria que tenciona acometê-la. A paranoia anunciada dá lugar ao stress factual que envolve as atitudes da protagonista. Em determinado ponto ela quebra qualquer protocolo em nome do desespero que tenta dominá-la e, eventualmente, consegue.
Jeff Vandermeer consegue segurar o suspense durante quase toda a curta duração de seu romance. O pouco número de páginas dos escritos mostra uma tendência da indústria de editar histórias em um formato episódico, mesmo que o volume do livro não justifique isso. Tal prerrogativa é deveras discutível, pois, apesar de funcionar bem comercialmente, angariando maiores vendas casadas, pode acabar por denegrir a qualidade do produto final.
Os últimos momentos variam entre momentos de terror e de thriller, com uma sufocante sensação. A expectativa pelos acontecimentos vindouros é enorme, mas esbarra no terrível incômodo da divisão da trama em volumes separados e na falta de uma peroração mais bem urdida – a desesperança prosseguirá nas páginas das continuações já anunciadas: Autoridade e Aceitação. Apesar disso, Vandermeer consegue imprimir um estilo arrojado em sua trama.