Resenha | Tarzan: Contos da Selva
Tarzan, Homem-Macaco, Demônio das Árvores… impossível nunca ter ouvido falar deste icônico e centenário personagem pulp criado por Edgar Rice Burroughs. Incontáveis adaptações já foram feitas, mas hoje falarei de uma história em quadrinhos muito interessante e que surpreende pelas diversas qualidades.
Confesso que, ao receber esta obra, não dei a devida atenção, pois Tarzan nunca foi um personagem que despertou meu interesse. Por outro lado, seria uma ótima oportunidade de conhecer um pouco mais sobre este ícone. E que bela surpresa! Convido você, leitor, a deixar de lado qualquer ideia negativa sobre Tarzan dos Macacos e conhecer esta pequena grande obra em quadrinhos.
Tarzan: Contos da Selva, publicado pela Pixel Editora, reúne 12 histórias curtas. A arte de cada uma das delas ficou a cargo de um artista diferente, o que dá uma variedade interessante no visual de cada uma. Todos foram bem competentes em retratar a história proposta e, certamente, contribuíram para a fluidez e o dinamismo da leitura.
Porém o ponto que mais me chamou a atenção foram os roteiros. Todas as histórias são assinadas por Martin Powell, que se mostrou um ótimo escritor. As histórias, inclusive, funcionariam muito bem em formato de contos, sem a necessidade das ilustrações, uma vez que Powell descreve tudo que está acontecendo no ambiente e, claro, na mente do nosso herói. Não significa que as imagens são dispensáveis, muito pelo contrário, elas engrandecem ainda mais o texto de Powell. As narrações são enfáticas, sempre com aquele ar de grandiosidade, dando uma pompa bem interessante às histórias.
As doze histórias curtas relatam aventuras diversas de Tarzan, algumas cheias de ação e perigos, outras mais intimistas e reflexivas. Um bom exemplo desde último tipo é a história O Deus de Tarzan, em que ele tenta descobrir quem ou o que é Deus, palavra que ele encontrou em um livro de seu falecido pai. Não há discussões filosóficas ou teológicas, mas sim a tentativa de compreender de acordo com a observação do mundo ao seu redor. Outra sutileza é o fato do livro pertencer a seu falecido pai, ou seja, esta informação simples já nos mostra que o personagem é órfão e daí vamos entendendo cada vez mais a seu respeito.
Ao mesmo tempo que Tarzan é ingênuo e primitivo, também é bom e justo. Tudo isso sob a ótica da lei da selva, onde apenas os mais fortes sobrevivem. O Homem-Macaco não hesitará em matar uma fera caso ela ataque seus amigos ou a ele próprio. Martin Powell consegue trazer muitos elementos interessantes a partir de premissas extremamente simples, afinal estamos falando de um homem que vive na selva entre animais. Esta simplicidade é o que impressiona.
Recomendo fortemente esta compilação de histórias para conhecer o personagem e quebrar algum tipo de preconceito em relação a ele, que foi o meu caso. Tarzan é um personagem simples, mas não simplório, tampouco unidimensional. Conheça-o que valerá muito a pena.