Resenha | Mitologia Nórdica – Neil Gaiman
Neil Gaiman tem seu lugar assegurado em torno da fogueira dos grandes contadores de histórias. Não é de hoje que o autor britânico, erradicado nos Estados Unidos, desvenda os cosmos mitológicos ao redor do globo. Tudo ganhou forma com Sandman, onde ele usou inspirações de várias mitologias para criar uma própria ao redor dos perpétuos e seus reinos; depois, povoou alguns de seus livros, como Os Filhos de Anansi, Deuses Americanos, etc, com os próprios deuses mitológicos; agora, com Mitologia Nórdica, publicação da editora Intrínseca, o autor reivindica o assento dos primeiros poetas da humanidade que compilaram os mitos de seus povos. Neste livro, especificamente, reconta os nórdicos.
O ponto de partida de Mitologia Nórdica são as diversas traduções da Edda em Prosa, de Snorri Sturluson e Edda Poética, textos com mais de novecentos anos de idade; com esse material e dicionários a mão, Gaiman selecionou as histórias de que dispunha mais informações, em conjunto com certa ordem cronológica dos mitos, e preencheu as lacunas com seu próprio oficio de contador de histórias. O resultado é um livro informativo, coeso, bem estruturado e literariamente agradabilíssimo que apresenta de forma muito honrada os mitos nórdicos aos leitores.
Quinze mitos povoam o livro e, do primeiro ao último, o material é pródigo por incitar uma ordem no caos mitológico. Decerto, excluindo a criação e o desfecho nórdico (o relembrado Ragnarök), as histórias não aconteceram na sequência proposta pelo autor, contudo, o ordenamento facilita a compreensão do leitor no meio do emaranhado de deuses, gigantes, heróis, encantamentos e maldições perpetuados pelos poetas do passado.
Escrita afiada, o inglês tece ótimos diálogos com seus personagens. Só para citar os que mais aparecem, Odin, o Pai de Todos nórdico, varia entre momentos de sabedoria (afinal ele deu um olho por isso) e outros de estupefação, sem qualquer descrédito ou perda de qualidade; Tor é um brutamontes que fala sem qualquer zelo, orgulhoso por seus instrumentos de poder; Loki é o instrumento do caos, deus da trapaça e da enganação, sibila para armar conflitos entre os deuses e seus inimigos, e quando é pego, sempre consegue se safar. Outros deuses e variados gigantes compõem o cenário, todos encarnando em diálogos bem feitos os princípios que defendem ou suas vontades e propósitos.
Diferente de livros do tipo Mitologia para apressados e parecidos, Mitologia Nórdica não entrega pílulas sem sabor traduzidas a esmo, ao contrário, temos um livro muito bem pensado, de leitura fácil e encantadora, que não peca por alguma superficialidade. O grande mérito da obra também reside no fato de não substituir outros livros sobre aquele passado mitológico, mas antes, os atualiza e serve como porta a imaginação dos povos nórdicos. Livro muito recomendado.
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Texto de autoria de José Fontenele.
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