Crítica | Zimba
Zimba é um híbrido entre documentário e ficção, dirigido por Joel Pizzini. A obra se debruça sobre a carreira e vida do ator e diretor de teatro Zbigniew Ziembinski, com suas palavras, interpretadas por atores que trabalham com ele e pelo próprio, em vídeos de performances gravadas no passado.
O documentário é levado pela personalidade do diretor polonês. A participação das narradoras Nathália Timberg, Nicette Bruno e Camilla Amado ajudam a ter noção da dimensão e importância de Zimba para a construção do que se entendeu por teatro brasileiro. Além delas, há boas citações de personagens como Jardel Filho, Walmor Chagas, Paulo José, Paulo Autran e Domingos de Oliveira. O filme mostra um personagem imigrante que viu a possibilidade de vir ao Brasil após a invasão de Varsóvia, quando dirigia uma peça e, por conta do bombardeio, fugiu.
O Brasil se tornou então um lugar de seus sonhos e de sua vida, a alça de salvação de um homem que poderia ter morrido nas guerras europeias. As entrevistas gravadas em vídeo e os teatros filmados impressionam pelo fato dele dominar muito bem a língua, com um sotaque imperceptível. É dito por ele mesmo que esse foi um dos seus principais esforços, de entender o idioma brasileiro e de entender a alma dos brasileiros, embora isso seja discutível, pois Camilla Amado, ao imita-lo, faz um sotaque estrangeiro, abrindo a possibilidade dele só se esforçar em frente as câmeras ou no palco.
O roteiro destaca a parceria dele com Nelson Rodrigues, compara-o com um demônio e um anjo fundindo forças no teatro. A montagem de Vestido de Noiva de Ziembinski foi marcada por uma revolução nos palcos, principalmente pelo uso da luz, mudada 240 vezes durante a peça. Na época, o teatro não mudava a luz em momento algum. Também se fala abertamente de algumas polêmicas, como o uso de black face e as normas teatrais de não permitir atores negros protagonizando peças. Nem o espírito transgressor do estrangeiro o fez ser capaz de bater de frente com isso.
Zimba é um filme bonito e poético, não é só uma biografia sobre um artista completo e inovador mas também um documentário histórico da arte, que ajuda a remontar a evolução do segmento, seus primórdios, além de também ajudar a traçar o panorama do que era a sociedade e como chegamos até aqui. Pizzini mira homenagear o personagem histórico e traça o retrato de uma geração, mostrando que ela não acabou e existe além dos atores que trabalharam e conheceram Ziembinski, um sujeito que se doou em vida para o teatro e que é louvado em morte.