Resenha | O Teorema Katherine – John Green
“[…] E era por isso que ele gostava dela […] Ela falava com ele numa língua que, não importava a quantidade de horas que fosse estudada, não poderia ser totalmente compreendida.”
De quem será a verdadeira voz das terceira-pessoas de John Green? Será realmente a de seus protagonistas, jovens e ainda imaturos, como no caso de Colin Singleton, ou será a voz um tanto forçada e panfletária dos seus próprios leitores que adoram se ler, com (quase) a mesma forma ávida e desregrada de se expressar nos livros de Green com que respondem a comentários nas redes sociais, ou gravam seus vlogs nerds ou de maquiagem no YouTube? Qual seria a autoria dessas vozes? Seja como for, Green é um esteta no sentido clássico da palavra, e que sabe perfeitamente bem como reproduzir essa linguagem em seus livros, estruturando-os na verdade em torno do poder desse linguajar próprio, direto e popular.
Suas histórias são rápidas, mastigadas, com toques de previsibilidade e feitas para serem subestimadas por leitores de gosto mais exigente – poderiam ser da Disney se nelas não tivesse sexo. Como se não bastasse sua esperteza, e versatilidade comercial com seus contos de açúcar, injeta-lhes elementos de óbvia identificação geral, e voilá: receita pronta, fast-food servido; basta degustar. O Teorema Katherine não ofende, mas também não ousa enquanto literatura, ficando na famosa zona de conforto das circunstâncias que levam um ator amado por adolescentes a escrever um romance acerca de um garoto que já namorou dezenove vezes (se fosse uma garota, ninguém iria ver com bons olhos esse número) garotas com o mesmo nome: Katherine.
Por quê? Logo no início, para assegurar o romantismo da história e algum mistério a pergunta,a trama sobre superações deixa de lado o desenrolar da genialidade na qual Colin é creditado a ter, com meros dezessete anos, para focar na cura de sua última paixonite aguda que não deu certo, de novo. Deprimido, o jovem Colin se isola mais do que nunca, oportunidade desperdiçada do livro para revirar enfaticamente a alma do seu protagonista, e nisso, é “salvo” por seu melhor amigo, Hassan, e levado a uma viagem às pressas que iria mudar suas vidas, e com potencial ao longo de uma narrativa dinâmica, como de praxe, de redefinir as suas visões de mundo.Mas por que Colin só tem olhos para as Katherine’s?
O livro tenta criar alusões de como é sentido e encarado o amor para um adolescente de Q.I. altíssimo, mas apenas sugere situações interessantes sem se aprofundar em nenhuma – até certo ponto. Ao longo da viagem, Colin elabora uma espécie de gráfico matemático para representar o amor entre duas pessoas, do começo ao fim, vendo nisso respostas para explicar a duração de um relacionamento amoroso, ou mesmo as suas paixões de mesmo nome. Explorando a genialidade desse “momento eureca”, e a possibilidade de Colin poder ter de volta a sua última Katherine, John Green se apaixona pela ideia de racionalizar um sentimento, decodificá-lo, literalmente, e torna a jornada do jovem gênio conflituosa ao cubo para alguém que pensa saber de tudo, e ter o controle da emoção das pessoas, afinal, os números garantiriam isso – só que não.
Já que aqui estamos lidando com os dilemas (white people problems) de um garoto cujo sobrenome Singleton já denota a solteirice que as suas quase dezenas deex’s o fazem experimentar, Green acerta em cheio quando em certos momentos resolve parcialmente desenvolver a personalidade solitária, distante e pragmática de um garoto que, de tanto estudar, desinteressou as Katherine’s de sua vida, e acaba nos seduzindo para quem ele é. Muito antes de sequer estarmos familiarizados com a história do livro, a viagem dos dois amigos, ou o teorema aparentemente idealizado, Colin já nos é tridimensional, quase palpável, e esse é um efeito muito especial e obrigatório para um bom romance juvenil começar a tomar forma, agradar e se sustentar, até o fim. É o que de fato acontece aqui, num dos melhores e mais doces (claro) romances de Green.
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