Resenha | Erótica Steampunk
Coletânea de contos de temática erótica, mas ambientada numa estética Steampunk, a proposta do livro de reunir histórias em um formato pouco comum na literatura brasileira é interessante e bastante louvável. Devido à pluralidade de escritores, é difícil achar pontos em comum nas histórias narradas do livro, mas isso não compromete a leitura e nem diminui o prazer de fazê-la. A arte de capa é fenomenal: tanto a paleta de cores, como o desenho central, a imagem é belíssima.
Abaixo, uma pequena explanação sobre alguns dos escritos do livro:
O Autômato de Mr. Wilde: A brincadeira com o gênio literário, a exploração da sua controversa sexualidade e a exposição do pensamento preconceituoso e julgador da época são abordados de forma perfeita. O autor Marcus Borges Siani toca nestes temas de maneira sutil, delicada e sem vulgaridade; até um leitor mais conservador conseguiria consumir o conto e dificilmente não o acharia agradável. O narrador não escolhe lado, e deixa para o público escolher quem está certo. O conto é o ponto alto do livro, principalmente por conter um drama tocante exposto com uma sensibilidade ímpar.
A Esquadra Fantasma: Davi Gonzalez usa seu conto para discutir o belicismo e a erotização da figura do homem fardado, além de tratar também do anseio do soldado pela Guerra. A história corre em paralelo com a Primeira Grande Guerra Mundial.
Investigação Profunda: começa com o depoimento em primeira pessoa de uma mulher, nada afeita aos hábitos puritanos da Inglaterra na Era Vitoriana. A protagonista do conto de João Norberto é uma detetive particular que investiga o sumiço de uma prostituta. Seus cenários são clubes de swing, casas de burlescos e quartos de motéis mofados. A temática abrange desde a rotina sexual dos escravos britânicos até a repressão dos desejos carnais femininos.
O Balanço das Águas: impressionante como Coral consegue atingir o leitor com tão poucas palavras e tão poucas ações. Mesmo sem haver nenhum contato físico entre os personagens, esta certamente é história mais sensual da coletânea. Além dos méritos citados, a autora aborda e critica de maneira contundente a demonização da faceta sexual feminina.
Reanimatrix: flertando com o bizarro, Daniel Dutra toma emprestado elementos fantásticos Mary Shelley. Ultrapassa as leis da natureza, da ética e da moral, usando como ícone a necrofilia, a vida após a morte e algumas formas de relação sexual marginalizadas por grande parte da sociedade. O conto é um dos mais bem escritos e não é de mau gosto, mesmo abordando tais temáticas. Erótica Steampunk é organizado por Tatiana Ruiz – também escritora – e foi lançado em 2013 pela Editora Ornitorrinco.