Crítica | A Última Floresta
Luiz Bolognesi é conhecido por seus trabalhos como roteirista em Como Nossos Pais, Bingo: O Rei das Manhãs e Elis, todas histórias biográficas ou sobre um Brasil comum, embora a maioria dos personagens desses filmes sejam pessoas abastadas com dramas pessoais aflorados mas, ainda assim, parte de uma elite. Recentemente, além de roteirista, assumiu a função de diretor e voltou sua carga para as raízes desse mesmo Brasil de maneira diferenciada.
Em 2018, em Ex-Pajé, misturou documentário e ficção mirando a história de um sacerdote indígena que se converteu ao mundo dos brancos. Em A Última Floresta prossegue seu estudo sobre as tribos nativas brasileiras, usando o xamã Davi Kopenawa Yanomami para mostrar dificuldades das tribos oriundas da Amazônia em manter vivas suas tradições e transmiti-las para outras gerações dos Yanomami, que não são tão isolados quanto eram os seus antepassados.
Os Yanomani vivem ao norte do Brasil, na fronteira com a Venezuela. Estão lá há muito tempo, mais até do que a data de chegada dos colonizadores portugueses. Portanto, até mesmo pela questão cronológica, não há o que discutir a respeito do pertencimento e posse da terra por parte deles. Em Ex-Pajé, Bolognesi utilizou sua historia pessoal em vários momentos dramáticos, e aqui também faz uso disso. A maneira com que a quebra metalinguística ocorre é ainda menos sutil em comparação com o outro filme. Há embates com os brancos, acompanhado de uma trilha sonora instrumental bem intrusiva, que manipula e causa no espectador uma espécie de apreensão bem artificial, por sinal. Nenhuma dessas sequências parece de fato real.
A tentativa de estabelecer uma narrativa por meio dos contos e pequenas historias de Davi gera alguns bons momentos, mas na maior parte do tempo, parece que o filme tinha fôlego para resultar em um curta-metragem, não em um longa. Seu roteiro é esticado e ainda mais vazio que Ex-Pajé. Tem a pretensão de parecer realista, de contar histórias tradicionais com pessoas que entendem dessa atmosfera e carga mítica, mas não soa natural, nem narrativamente e nem no desempenho do elenco, mesmo que eles estejam ali vivendo situações familiares.
Uma história naturalista jamais pode pecar pela artificialidade, e A Última Floresta é exatamente isso: verborrágico, pretensioso. Lembra um filme do início da carreira de Aaron Sorkin, com os mesmos pecados e excessos de um roteirista que se julga tão esperto, que precisa explicitar suas ideias para o público, e esse tipo de presunção é ofensiva, mas até Sorkin alcançou alguma maturidade, o mesmo não se pode dizer de Bolognesi até o momento.