Resenha | Assassin’s Creed: A Cruzada Secreta – Oliver Bowden
Franquia de sucesso mais do que consolidado nos games, Assassin’s Creed já marca presença em outras mídias. Além de animações, quadrinhos e um filme em pré-produção, a série ganhou também adaptações literárias bastante fiéis de seus cinco jogos principais. A Cruzada Secreta segue em sua maior parte a trama do primeiro jogo e conta a história de Altaïr Ibn-La’Ahad, o lendário Mestre Assassino que viveu na época da Terceira Cruzada.
No início vemos Altaïr fracassar em uma missão, graças à sua enorme e arrogante autoconfiança. Desonrado perante sua Ordem, ele parte em uma jornada de expiação e redenção. Seguindo as ordens de seu mestre Al Mualim, ele deverá eliminar nove alvos, pessoas em posição de poder naquele cenário conturbado, que estão trazendo mais dor e sofrimento para o povo – na visão do Credo dos Assassinos.
Antes de qualquer coisa, preciso dizer que nunca joguei nenhum game da série: meu primeiro contato pra valer com Assassin’s Creed foi com este livro. Encarado simplesmente como um romance de ficção histórica, A Cruzada Secreta apresenta um enredo muito interessante. Ao colocar o Credo agindo por interesses próprios em meio à disputa entre cruzados e sarracenos, segue-se a sempre instigante fórmula de combinar personagens fictícios com reais. Por exemplo, Salah Al’din (ou Saladino) e Ricardo Coração de Leão, que inclusive têm um diálogo com o protagonista. O título se justifica tanto pela jornada pessoal de Altaïr quanto pelo conflito entre Assassinos e Templários, que se desenrola “por baixo dos panos” da História oficial.
A escrita de Oliver Bowden (pseudônimo de Anton Gill) pode ser definida como descritiva, porém não detalhista. Os ambientes, que incluem cidades como Jerusalém, Damasco e Acre, são situados da maneira mais básica possível. O foco é mesmo nos movimentos de invasão e combate de Altaïr, descritos com perfeição e facilmente visualizáveis. Ainda que fique bem óbvio que estamos lendo “fases” de um jogo, o que gera um certo cansaço pelo fator repetição, a leitura é bem leve e ágil. Os personagens e suas motivações são trabalhados de forma muito direta, sem qualquer sutileza, mas isso não chega a ser um problema.
Por outro lado, a imersão na cativante aventura de Altaïr é prejudicada pela estrutura narrativa, entrecortada entre três momentos. Aqui cabe um parêntese pra explicar que A Cruzada Secreta trata do primeiro jogo (e complementa-se bebendo também de Bloodlines e Revelations) mas, na série de livros, foi o terceiro a ser lançado, na sequência de Renascença e Irmandade. Ambos foram protagonizados pelo assassino Ezio Auditore da Firenze, que aqui aparece no prólogo e epilogo lendo um diário. Que, por sua vez, foi escrito por Niccolò Polo (pai de Marco Polo), cujo presente também é mostrado no livro. Ele conheceu um muito idoso Altaïr, ouviu suas histórias e está passando-as para frente.
Esse confuso Inception narrativo pode agradar aos familiarizados com o universo de Assassin’s Creed, por mostrar que tudo está interligado e atravessa os séculos. Mas, para os marinheiros de primeira viagem, serviu apenas pra quebrar o ritmo e tirar parte do impacto da história de Altaïr. Mesmo com os pontos perdidos, fica a recomendação de uma leitura rápida e divertida. E a curiosidade em conferir os demais livros da série.
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Texto de autoria de Jackson Good.