Resenha | Y: O Último Homem – Extinção
O cromossomo Y é o principal responsável por definir o sexo no homem, ele é passado apenas pelos pais aos filhos homens. Enquanto os homens possuem um cromossomo X e um cromossomo Y, as mulheres possuem apenas o cromossomo X. A carência desse cromossomo sexual Y ou de outro X, acarretará na impossibilidade de nascimento de um homem.
A Trama de Y: O Último Homem, Graphic Novel publicada pela Vertigo em 2002, narra a história de Yorick, um jovem ilusionista, que repentinamente se torna o único sobrevivente do sexo masculino no Planeta Terra. Uma praga de origem desconhecida extermina instantaneamente todos os seres com cromossomo Y, dentre eles homens, animais, embriões e espermatozoides com exceção de Yorick e seu macaco de estimação.
Difícil imaginar um mundo onde os motoristas de caminhão, pilotos comerciais, trabalhadores das indústrias mecânicas e elétricas e de construção estão mortos, bem como militares e trabalhadores da área rural. 92% dos presidiários condenados por crimes hediondos também estão mortos. Padres, rabinos judeus ortodoxos e imãs da comunidade muçulmana não existem mais.
O que esperar de uma sociedade que emerge de uma catástrofe como essa? Do dia para a noite, o mundo se torna um caos, o impacto emocional e político que isso causa nas mulheres ao redor do planeta é gigantesco, e elas não veem alternativas a não ser se adequar a esse novo cenário. Todo esse “generocídio” acabou exterminando 48% da população global, aproximado a 2,9 bilhões de homens. Com isso, o modelo de gestão de toda uma sociedade entra em colapso e seus sistemas de governo ruem.
Nesse mundo repleto de mulheres conhecemos Yorick Brown, o último homem da Terra. Yorick foi de um desempregado formado em literatura inglesa para a possível solução de evitar a extinção do ser humano. Essa dinâmica envolvendo o protagonista e as mulheres que passam por ele ao longo da história merecem um destaque especial, mesmo que por poucos quadros, como é o caso onde Yorick se senta junto de uma mulher, para observar o monumento de Washington, agora uma ode em homenagem a todos os homens, e comentam que em um só dia perderam os Rolling Stones, Bob Dylan, U2, The Who, além de outros imortais do Rock e terminam o diálogo, citando “American Pie” de Don McClean.
Yorick viaja o mundo em busca de uma resposta para essa catástrofe e também à procura de sua namorada que está na Austrália, aliás seu principal objetivo é esse, ir até lá e dar um jeito de ajudar a humanidade fazendo papel de Adão e Eva com ela (hehehe). A história é cheia de reviravoltas e mistérios, e no decorrer dela, vamos descobrindo como a sociedade lidou com a praga, nos deparamos com situações bem-humoradas com algumas mulheres que tem segundas intenções com Yorrick (if you know what I mean) além de conhecermos as Filhas das Amazonas, um segmento da sociedade, extremistas que alegam que o mundo dos homens acabou por intervenção divina. E que farão tudo, para que continue assim. Apesar de a todo momento a obra ressaltar que um planeta sem homens estaria perdido, vale salientar, que Y – O Último Homem não tem nenhuma conotação machista.
As referências contidas na hq são inúmeras, além disso, é possível notar influências de O Último Homem da Terra, de Mary Shelley e também Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson. Indo mais longe, o filme Os Filhos da Esperança de 2006, de Alfonso Cuarón, traz a premissa que em um futuro próximo as mulheres não conseguem mais engravidar, colocando o futuro da humanidade em cheque. Quinze anos depois uma jovem aparece grávida e pode se tornar a salvação de todos. O filme é uma adaptação da obra da escritora P. D. James, The Children of Men, publicado em 1992.
Brian K. Vaughan é um roteirista competente e já demonstrou isso em outros trabalhos como Leões de Bagdá, Ex Machina e Fugitivos, mesclando momentos de tensão e ótimos diálogos em um grande roteiro central. O modelo de sociedade distópico criado em Y: O Último Homem é muito interessante e bastante incomum. A arte de Pia Guerra só vem somar ao trabalho de Vaughan, apesar de simples, se encaixa perfeitamente à proposta do texto. Os traços são dinâmicos, coesos e nítidos, além de um grande acerto em colocar uma mulher desenhando a série.
Y: O Último Homem é uma história de ficção científica com um olhar humano e repleto de mistérios, metáforas à nossa sociedade e indivíduos, referências à cultura pop, tudo isso mesclado com bom humor, pitadas de drama e assuntos polêmicos que vão desde clonagem a preconceito.