Resenha | Se a Vida Fosse Como a Internet
Se a Vida Fosse Como a Internet é uma HQ de autoria de Pablo Carranza, publicada pelo selo Beleléu, de quadrinhos independentes do Rio de Janeiro, em Julho de 2012, sob licença de Creative Commons (que por si só, já é uma atitude louvável). Ela usa metáforas e analogias, como seu próprio titulo sugere, para fazer graça e refletir sobre esse “novo mundo” digital, e como ele afeta nossas vidas.
Se a Vida Fosse Como a Internet é um álbum de tiras e algumas histórias curtas, que usa situações do nosso cotidiano – cada vez mais mixado entre o mundo real e o virtual – para extrapolar situações da vida real, e qual seria o resultado disso se agíssemos como na Internet. Tudo levado com um humor escrachado, e usando de absurdos, que nos levam a situações impensáveis e engraçadíssimas, como o submundo dos arquivos excluídos, em que um cara, querendo de volta uma foto de sua ex-namorada pelada, adentra a lixeira do seu computador, e é claro que por lá ele encontrará figuras de todos os tipos, em situações bizarras. Outro exemplo é a história em que Felix (um dos poucos personagens que tem um nome), vai para o Rehab internético, que além de criar o Facebook analógico para suprir seu vicio, entra em parafuso quando ouve a palavra Fax.
As situações usadas por Carranza, vai dos vícios com a internet, a falta de virgulas, os memes e piadas sem graça, quase todos os “hábitos” de internet são alvo de piada, e a cereja do bolo é uma dessas manias, que segue por todo o álbum e que culmina na história final, que são as citações fora de contexto e com autores trocados. Tanto a história final, quanto as citações me fizeram “rir litros kkkkkkkkkkk” sem deixar de pensar no que aquilo significa, e a crítica realizada.
O traço da HQ em tom descontraído, me faz arriscar a dizer que o artista tem grandes quadrinistas como referência, Robert Crumb por exemplo (nesse caso tanto na arte, como no tipo de humor). Além de uma influência das próprias tiras que fazem muito sucesso na internet, muito bem trabalhadas e bem executadas. A arte tem também muitos Easter Eggs, some a isso, o fato que vários dos personagens são “anônimos”, a obra então nos passa a impressão, é tanto parte, como fruto, daquilo que ela mesmo satiriza, que é o mundo digital. Outro aspecto que contribui para isso, é o trabalho gráfico de diagramação, feito por Stêvz, que usa as orelhas do livro como se fossem um menu iniciar do Windows. A primeira página tem uma “tela” de login e senha. E a fonte do prefácio é uma mono-espaçada típica de terminais ou MS-DOS. Entre outros exemplos.
Se a Vida Real Fosse Como a Internet é uma ótima HQ de humor adulto, realizada com o apoio do Programa Ação Cultural 2011, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Altamente recomendada, em todos os pontos que posso avaliar, arte, mensagem, humor. Está disponível para compra no site da Beleléu na versão impressa, autografada e com um poster. Ou a versão digital no site do Pablo Carranza via doação. Site este, também recomendado, com várias tiras relacionadas ou não, com a obra aqui citada.