Autor: Bernardo Mazzei

  • Resenha | Dylan Dog: O Marca Vermelha

    Resenha | Dylan Dog: O Marca Vermelha

    No segundo volume do Investigador do Pesadelo, a história escolhida pela Mythos Editora foi O Marca Vermelha. Publicada originalmente em janeiro de 1991, no número 52 da série italiana, a história conta com roteiros de Tiziano Sclavi e ilustrações de Gianluigi Coppola e conta com uma certa inspiração dos assassinatos cometidos por Jack, O Estripador na Londres do século XIX.

    Na trama, o imigrante ilegal Yuri Wolkoff é preso e condenado após matar mulheres da alta sociedade inglesa. Yuri foi encontrado próximo ao corpo de uma vítima portando uma navalha. Condenado à morte, Yuri comete suicídio na cadeia. Porém, cinco anos após sua morte, assassinatos semelhantes voltam a acontecer em Londres. Todos os detalhes encontram-se meticulosamente reproduzidos, desde a forma de matar até o W vermelho deixado desenhado próximo de cada vítima. É nesse contexto que Dylan Dog é chamado, pois inicia-se uma crença de que O Marca Vermelha voltou do túmulo para continuar a sua matança.

    O roteiro de Sclavi é carregado com uma forte crítica social. Durante a história, Dylan Dog é sempre colocado frente fortes desigualdades sociais, tais como a invisibilização dos mais pobres, a marginalização dos imigrantes, legais ou não, além da indiferença com que os mais abastados desfilam sobre esses pontos e os seus privilégios. Com relação ao desenvolvimento da história, Sclavi nos apresenta a um “whodunit”, com o Investigador do Pesadelo trabalhando bastante como um detetive mais tradicional, mas sem deixar o aspecto sobrenatural de lado. Tudo é contado de forma bem fluída, entrecortada por depoimentos de testemunhas dos crimes originais, até que se chega a um desfecho inesperado e muito interessante. A arte de Coppola ampara tudo isso muito bem, chega até ser um pouco caricata em alguns momentos, principalmente naqueles que retratam Volkoff, mas entende-se o intuito de reproduzir a forma como cada uma daquelas testemunhas via o personagem.

    O Marca Vermelha mantém o nível de qualidade iniciado com o volume anterior, Horror Paradise, e proporciona uma ótima leitura para os fãs antigos e para os recém-iniciados no universo de Dylan Dog.

    Compre: Dylan Dog – O Marca Vermelha.

  • Resenha | Assassinatos na Rua Morgue e Outras Histórias – Edgar Allan Poe

    Resenha | Assassinatos na Rua Morgue e Outras Histórias – Edgar Allan Poe

    Como a própria contracapa diz, não fosse Edgar Allan Poe é possível que não tivéssemos toda uma gama de histórias e autores de mistério que o sucederam. Arthur Conan Doyle, Agatha Christie e muitos outros foram influenciados pelo estilo e pelas histórias criadas pelo autor ao longo de sua vida. É interessante ver que até mesmo personagens foram influenciados, tal como Sherlock Holmes é claramente inspirados em August Dupin, detetive que é o protagonista do conto “Assassinatos na Rua Morgue”, história que dá título ao livro e é a grande cereja do bolo aqui.

    A edição de bolso da editora L&PM Pocket reúne seis histórias de Allan Poe: “O Demônio da Perversidade”, “Hop-Frog e os oito Orangotangos acorrentados”, “Os fatos que envolveram o caso do Mr. Valdemar”, “O Gato Preto”, “Nunca aposte sua cabeça com o diabo” e “Assassinatos na Rua Morgue”. A escolha da editora é interessante, pois os contos, ainda que carregados de suspense e mistério, não são tão semelhantes quanto possa parecer. As histórias tratam de diversos temas, desde uma jornada filosófica sobre os instintos e os motivos que podem fazer com que uma pessoa cometa um crime (O Demônio da Perversidade), quanto uma história de um homem que se encontra à beira da morte e aceita se submeter à hipnose para continuar a viver até que uma cura para sua grave doença possa ser encontrada (Os fatos que envolveram o caso do Mr. Valdemar), história essa que flerta com o sobrenatural e o fantástico.

    É notório que ao longo de toda sua biografia e obra, o autor se especializou em retratar o lado negro da humanidade. Os contos presentes no livro não são diferentes. Durante todo o tempo, o leitor é colocado de frente com personagens insanos, autodestrutivos, melancólicos ou completamente desprovidos de qualquer bússola moral. Porém, ainda que de forma rápida, é muito bacana a forma como o autor consegue dar o estofo necessário para cada um deles, sem deixar cair no lugar comum ou mesmo no maniqueísmo de apontar quem é certo e quem é errado.

    Novamente, ainda que seja uma edição de bolso que contenha um número reduzido de contos em relação a outras edições, Assassinatos da Rua Morgue e Outras Histórias é uma ótima opção para quem deseja se iniciar no universo das histórias de Poe, pois a seleção de contos é muito boa. Além de proporcionar uma grande leitura, ainda que breve, faz com o que o leitor fique sempre querendo ler mais.

    Compre: Assassinatos da Rua Morgue e Outras Histórias.

  • Resenha | Martin Mystère: O Exército de Terracota

    Resenha | Martin Mystère: O Exército de Terracota

    Confesso que não sou fã dos formatos das histórias de Martin Mystère. Os arcos que duram várias edições ainda vão lá, mas alguns que duram uma edição e meia como esse O Exército de Terracota não me são muito atraentes. De qualquer forma, o arco que se iniciou no primeiro volume, O Mistério em Pequim, encontra uma conclusão bastante divertida, já que abraça de vez o absurdo e a galhofa.

    Com roteiro de Alfredo Castelli e ilustrações de Salvatore Deidda, Os Guerreiros de Terracota corresponde à edição 74 das aventuras do Detetive do Impossível lançada em 1988. A trama complicada e de certa forma clichê se iniciou na edição anterior onde Martin e sua trupe viajam até a China e se metem numa enrascada política e se vêem as voltas com mercenários, artefatos místicos, espionagem e eventos que podem ter conclusões catastróficas. Ao final dessa primeira edição, Martin se vê tendo que enfrentar um dragão e a grande vilã da história que foi rejuvenescida após uma baforada dele.

    A conclusão da história é um tanto mais movimentada e divertida do que seu início e meio que pareciam um tanto arrastados. Aqui, Martin tem que usar de todo o seu repertório para escapar até mesmo dos Guerreiros de Terracota que em um determinado ponto ganham vida. É interessante observar como que o roteiro joga abusa dos predicados do Detetive do Impossível, visto que a todo momento um novo evento mágico ou absurdo surge para ele enfrentar. Enfim, a conclusão é por demais divertida e salva uma história que parecia fadada a ser apenas razoável.

    Já a segunda história, que conclui na edição seguinte, coloca Mystère e sua equipe em uma trama onde eles vão investigar uma série de crimes violentos e inexplicáveis que aconteceram na fronteira da Califórnia com o México. Impossível não traçar um paralelo com Arquivo X e Supernatural, principalmente com a primeira, pois o clima de mistério que permeia a trama em muito lembra os episódios de “Monstro da Semana” do já clássico seriado. Porém, a interrupção da história me faz lamentar, pois a curiosidade pra saber o seu desfecho é muito grande.

    Enfim, ainda que eu tenha uma certa preferência por seus companheiros de editora como Dylan Dog e Nathan Never, essa edição de Martin Mystère me fez olhar com mais carinho para as suas aventuras.

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  • Resenha | Tex Graphic Novel: O Herói e a Lenda – Volume 1

    Resenha | Tex Graphic Novel: O Herói e a Lenda – Volume 1

    Meu avô foi a primeira pessoa que me falou sobre Tex Willer. Apesar de ávido leitor de livros, as histórias do personagem criado em 1948 por Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini talvez sejam os únicos quadrinhos que ele leu. Não me recordo dele falando de algum outro. Li algumas vezes quando era bem novo as revistas que tinham na minha casa e depois nunca mais. Até que recebi O Herói e a Lenda. Antes de ler, procurei algumas histórias icônicas do personagem para melhor compreender todo o seu universo, afinal, meu contato com os fumetti do Tex se deu na infância. Fica difícil lembrar de coisas lidas há mais de 20 anos e uma breve recapitulação foi necessária para que ao menos eu pudesse compreender melhor a graphic novel de Paolo Serpieri.

    A primeira coisa que percebi, foi que essa história se diferenciava dos tradicionais fumetti da Bonelli. Tex aqui é bem mais violento e mata os seus inimigos sem o “romantismo” de salvar uma vida em perigo ou a sua própria. Confesso que foi um choque, mas dentro do contexto da história, funciona muito bem. As ilustrações do mestre Serpieri são de uma beleza e precisão ímpar, visto que são anatomicamente perfeitos e enchem os olhos do leitor. O autor intercala beleza e brutalidade numa naturalidade que impressiona. As cenas de batalha então são quase storyboards ultra detalhados de algum faroeste dirigido por um John Huston ou um Sergio Leone. Quando retrata ambientes fechados, insere o leitor no local, provocando um verdadeiro deleite visual.

    Tudo isso casa perfeitamente com o roteiro do próprio autor. Seu roteiro é rápido e preciso, mas nem por isso apressado. Usando metalinguagem de uma forma muito interessante, Serpieri introduz um velho Kit Carson retratando sua história para um jovem jornalista. Porém, em nenhum momento Paolo deixa claro se aquele ali é o verdadeiro Kit amigo de Tex, um impostor, se a história é verdadeira ou mesmo se estamos diante do Kit Carson histórico que viveu no século XIX. O autor provoca questionamentos sobre as versões da verdade e a forma de cada um enxergar de forma peculiar os eventos que testemunham. Serpieri joga com a figura do narrador não confiável de uma forma que intriga e instiga o leitor, ao mesmo tempo que não esquece das características principais de Tex Willer. Pros leitores mais antigos é uma experiência fascinante, pois abandona o caráter um tanto quanto ingênuo e paladino do personagem e abraça com força uma personalidade de múltiplas facetas que não ofende a sua mística, apenas o torna mais humano. A moral e a ética de Tex permanecem ali, só estão mais palatáveis.

    Ainda que no editorial escrito por Mauro Boselli exista um esforço para delinear que essa é uma história que acontece em uma espécie de universo alternativo, Tex: O Herói e a Lenda é mais do que obrigatória para os fãs do personagem. Além de tudo que foi ressaltado acima, a graphic novel conta um ótimo texto introdutório que enumera fatos históricos, além da história brilhantemente contada que possui um final tão bom que serve para potencializar tudo o que foi lido.

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  • Crítica | Code 8: Renegados

    Crítica | Code 8: Renegados

    Disponível desde o dia 13 de dezembro em alguns serviços de streaming do Brasil, Code 8: Renegados é um esperto filme de ação/ficção científica que foi concebido inicialmente como um curta-metragem de 16 minutos cujo financiamento se deu via Kickstarter e outras plataformas de crowdfunding. Devido aos elogios, os roteiristas Jeff Chan e Chris Paré conseguiram transformar o projeto em um longa-metragem que conta com boa parte do elenco do curta. Ainda que o resultado não seja tão impactante quanto o curta-metragem, Code 8: Renegados é um competente filme que abre possibilidades para a criação de um universo bem interessante.

    Na trama de Code 8, somos apresentados a um planeta Terra em que 5% da sua população possui poderes sobre-humanos como telepatia, super força, a habilidade de conduzir eletricidade, fogo ou mesmo habilidades de cura. Num primeiro momento, esses super-humanos se inserem na sociedade sem maiores problemas, levando o mundo a uma era prosperidade. Especialmente nos EUA, eles fundam um município chamado Lincoln City, que se torna o mais desenvolvido da nação. Porém, uma onda de preconceito passa a assolar a sociedade e os super humanos são substituídos por máquinas e robôs, acabando marginalizados. Existe ainda uma epidemia de consumo de Psike, uma droga feita a partir do liquido da medula dos mutantes. É nesse contexto que Connor Reed vive. Trabalhador braçal, Connor luta para ajudar sua mãe a ter uma vida digna, visto que ela também tem poderes e está sofrendo de câncer. Ao ficar desempregado, Connor se alia a uma gangue de super seres e juntos passam a cometer uma série de crimes pela cidade, despertando a atenção de um policial e seu parceiro.

    O roteiro de Jeff Chan e Chris Paré estabelece muito bem o contexto do filme. Através de uma ótima e bem sacada sequência de créditos iniciais, toda a linha temporal dos eventos desde o surgimento dos super humanos é apresentada ao espectador. Tudo é feito a partir de notícias de telejornais, recortes de documentários e programas especiais, entrevistas… Ainda que seja um artifício expositivo, a forma como é feito faz desperta o interesse de quem assiste e ainda estabelece alguns paralelos interessantíssimos com a nossa sociedade atual, principalmente no que tange ao preconceito e a opressão das minorias, além de toda a questão econômica e ideológica que está em evidência atualmente no mundo. Outro ponto positivo do roteiro, é que tudo isso é estabelecido de forma natural, sem parecer panfletário ou forçado. Entretanto, em um determinado ponto do filme, há uma virada que acaba o tornando um pouco mais comum, pois o filme deixa de ser uma ficção científica para se tornar um filme de assalto. É evidente que essa virada se dá muito mais por limitações orçamentárias do que propriamente por intenção dos roteiristas, mas não chega a ser algo absurdo.

    Chan se mostra um diretor bastante competente, principalmente nas cenas de ação. Porém, como dito no parágrafo anterior, as limitações orçamentárias acabam por prender o diretor a um básico, ainda que muito bem executado. Ele joga muito bem com os efeitos especiais simples do filme e usa de soluções criativas de câmera quando os robôs da polícia estão em cena. Aliás, o design desses robôs é bem bonito e lembra um pouco a robô de I Am Mother, produção da Netflix. Já o elenco, que tem como rostos mais conhecidos Sung Kang (o Han de alguns Velozes e Furiosos), os primos Stephen e Robbie Amell (respectivamente o Arqueiro Verde de Arrow e o Nuclear de The Flash) defende muito bem os seus papéis, mas sem entregar nenhuma atuação memorável.

    Enfim, com todo esse mundo interessante que foi bem apresentado, não é de se estranhar que Code 8 ganhe seu próprio universo. Recentemente saíram notícias de que uma rede de streaming pretende desenvolver uma série com os personagens do filme dando continuidade aos eventos apresentados no longa e ainda apresentando outros personagens que teriam suas próprias tramas em outras séries ambientadas nesse mundo alternativo. Veremos como os ambiciosos planos se desenrolarão.

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  • Crítica | As Golpistas

    Crítica | As Golpistas

    Convenhamos: As Golpistas é um nome bem mequetrefe pra um filme tão bom quanto esse. Aliás, seria um nome mequetrefe até mesmo pra um filme ruim. Infelizmente estamos diante de mais um caso de tradução ruim que faz com que o filme seja inicialmente interpretado de forma diversa daquela pretendida. O seu título original é Hustlers, que além de fazer uma alusão à polêmica revista masculina criada por Larry Flynt, é uma gíria de rua que designa alguém batalhador que quer crescer na vida, porém também serve pra descrever uma pessoa que usa de meios fraudulentos ou inescrupulosos para ganhar dinheiro. As protagonistas de As Golpistas personificam a união desses dois significados.

    Baseado em fatos reais, o longa conta a história de um grupo de strippers que se une durante a crise de 2008 depois que os clientes abastados vindos de Wall Street somem do clube onde elas trabalham. Dispostas a subir de vida, elas tramam um plano para lucrar e, de uma certa forma, se vingar daqueles que ajudaram dilapidar a economia mundial.

    Explicado dessa forma, o longa baseado em um artigo da revista Rolling Stone parece ser simplório. Porém, é o exato oposto disso. O roteiro escrito pela também diretora Lorene Scafaria tem uma estrutura muito próxima dos filmes de máfia, principalmente Os Bons Companheiros. A inspiração fica nítida na forma ágil em que estabelece o background de cada personagem, nos interlúdios e principalmente nas sequências de montagem. Scafaria vai provocando a imersão do espectador naquele mundo, na vida de cada personagem, mas sem estabelecer as mulheres como uma espécie de Robin Hood que tira a roupa, mas como pessoas decididas a crescer na vida e prover para a sua família tudo do bom e do melhor que elas não puderam ter acesso quando na infância. Outro aspecto muito bacana é o desenvolvimento das relações interpessoais, primeiro as de mestra e aprendiz e depois quando um laço forte de amizade é estabelecido entre o grupo e principalmente entre as personagens de Constance Wu e Jennifer Lopez. Já no terço final, quando a situação do grupo degringola, o roteiro fica dramático, porém na dose correta, desembocando em um final agridoce comovente.

    Como diretora, Lorene Scafaria se sai ainda melhor, bebendo na fonte de Martin Scorsese e deixando clara sua inspiração no diretor. A diretora também emula um pouco do estilo que Adam McKay imprimiu nos últimos tempos, principalmente no ótimo A Grande Aposta e de Steven Soderbergh nos seus filmes de assalto como Onze Homens e Um Segredo e Logan Lucky. Entretanto, a diretora imprime sua marca ao misturar as influências e criar um estilo próprio, às vezes usando de uma câmera mais ágil que gira por todo o ambiente captando as reações das pessoas e a dinâmica dos arredores e também de uma mais estática, onde capta as emoções das protagonistas em todas as suas nuances. Há de se elogiar também seu trabalho de direção de elenco, onde cada personagem coadjuvante tem seu momento de destaque, além das ótimas atuações que entregam. Só que o ponto alto é a dupla Constance Wu e Jennifer Lopez. A diretoria trabalha muito bem a dinâmica das duas, tirando momentos sensacionais quando estão juntas em cenas e outros quando estão separadas. Só que apesar da grande atuação de Wu, o grande destaque é J Lo. Além de sua beleza magnética, Lopez entrega uma atuação vibrante, com muita alma e coração. Não são à toa os elogios que ela vem recebendo e toda indicação à prêmio que ela receber será totalmente merecida. Ela está um deleite.

    De todos os filmes que pude assistir no ano de 2019, As Golpistas talvez foi a maior surpresa. Um grande filme com ótimas atuações, uma diretora sensível e segura, que sem dúvida nenhuma estará presente na minha lista de melhores do ano.

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  • Crítica | Esquadrão 6

    Crítica | Esquadrão 6

    Quando você inicia Esquadrão 6 na Netflix, surge o aviso “Algumas cenas contém efeitos estroboscópicos que podem afetar espectadores fotossensíveis”. Não me lembro de ter visto algo semelhante em algum filme de Michael Bay, mas nesse aqui é um aviso que não deve ser ignorado. O diretor está no auge da sua forma aqui, o que não significa que seja algo bom. Tirando uma ou outra sequência de ação, Esquadrão 6 é um amontoado de coisas que são explosivamente jogadas na tela, com um fiapo de trama genérica que tenta se passar como espertinha e uma narrativa que deixa o espectador mais perdido que funcionário das Lojas Americanas na Black Friday.

    Na trama, Ryan Reynolds é um bilionário que forja a própria morte e reúne um grupo de profissionais altamente treinados em suas áreas de atuação (e que também forjam a própria morte) para atuar em missões ao redor do mundo. A primeira empreitada deles é derrubar o ditador de um país fictício chamado Turgistão e substitui-lo por seu irmão, um democrata idealista amado pelo povo da nação.

    Esquadrão 6 se inicia com uma perseguição absurda pelas ruas de Roma, onde o diretor Michael Bay mostra toda a sua capacidade de construir algo simultaneamente alucinante e confuso. Alguns momentos da perseguição de uma pirotecnia visual que chega a ser sublime, enquanto outros exigem algum tempo para que o cérebro processe o que acabou de acontecer. Após essa perseguição inicial, o filme segue entre uma sequência de ação e outra enquanto é mal costurado pelo roteiro extremamente genérico da dupla Rhett Reese e Paul Wernick, idealizadores da duologia Zumbilândia. Não é exagero dizer que o ponto do alto do filme é o início e depois a qualidade despenca vertiginosamente, provocando um cansaço no espectador que não aprecia algumas outras sequências engenhosas que acontecem ao longo do filme. Nessas sequências, Michael Bay mostra que tem capacidade de fazer coisas boas, mas prefere elevar tudo à enésima potência e entregar uma pornografia de explosões, tiros, gritaria e piadas ruins.

    Como dito anteriormente, o roteiro não ajuda nada ao resultado final da fita. Ainda que tente conferir background a cada um dos personagens, as histórias não tem nada de crível e nem conseguem despertar simpatia no espectador. Os flashbacks são tão confusos que é muito fácil se perder nos eventos e pra piorar, foi feito à moda dos filmes de início de carreira do cineasta inglês Guy Ritchie. Só que enquanto esse artifício funciona muito bem até mesmo nos filmes ruins do ex-marido de Madonna, aqui só pesam contra a narrativa. As relações interpessoais dos personagens são as mais artificiais possíveis, com direito à romances forçados, cenas de sexo sem o menos contexto e tornando enfadonho o conceito estabelecido por Ryan Reynolds de que o esquadrão não deve ter nenhum tipo de relação afetiva entre si e a derrubada dessa proposta com o desenrolar do filme. No tocante às atuações, Reynolds se esforça em tela e segura bem a onda, assim como a sempre competente Melanie Laurent, mas o resto do elenco fica preso diálogos ruins e piadas sem graça, o que é uma pena porque todos tem capacidade pra muito mais.

    O sentimento que fica após Esquadrão 6 é bem agridoce, pois ao mesmo tempo que gera uma decepção pelo que acabou de ser assistido, fica a esperança de que Michael Bay coloque a mão na consciência e reflita que tem potencial para entregar ótimos filmes de ação. Só precisa segurar a onda e não sucumbir aos seus delírios pirotécnicos.

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  • Crítica | Bons Meninos

    Crítica | Bons Meninos

    A comédia adolescente e de jovens adultos é um tema explorado exaustivamente pelo cinema americano. Se antes tínhamos filmes com temática exclusivamente sexual como Porky’s e American Pie, nos últimos tempos ganhamos alguns ótimos exemplares como Superbad, filme da mesma equipe criativa de Bons Meninos, que apesar de ter como ponto de partida a perda de virgindade de um trio de amigos, acaba sendo um agridoce filme sobre crescimento, amadurecimento e a perspectiva de uma vida adulta. Já em Bons Meninos, temos uma comédia de pré-adolescentes e o ponto de partida é um pouco mais brando: a molecada só quer aprender a beijar na boca e ser legal aos olhos dos colegas. Porém, nem por isso os roteiristas Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky pegaram leve.

    A trama do filme coloca o engraçadíssimo trio formado pelos garotos Keith L. Williams, Jacob Tremblay e Brady Noon em uma encruzilhada: eles foram convidados para uma festa na casa do garoto mais popular da escola onde haverá uma brincadeira que pode levá-los ao primeiro beijo na boca. A partir daí, começa uma jornada que envolve vizinhas mais velhas, um drone, drogas, brinquedos sexuais, a descoberta da pornografia, um encontro com um policial numa loja de bebidas e até uma grande briga com membros de uma fraternidade de uma universidade. Tudo isso entrecortado com diálogos impagáveis entre os três e um ou outro conflito.

    O primeiro terço de Bons Meninos é um pouco problemático. A narrativa parece estar com o freio de mão puxado, visto que a edição faz com que o filme pareça uma série de esquetes cômicos e as piadas ficam jogadas na tela, ainda que sejam engraçadas, tanto pelo texto quanto pela molecada falando uma série de atrocidades (o que por si só já é engraçadíssimo). Não há contexto estabelecido e fica uma impressão de que o filme não vai pra frente. Porém, a partir do segundo terço, tudo passa a se desenvolver de forma mais fluida e o filme engrena de vez. Os diálogos e situações vão se tornando cada vez mais impagáveis e fica perceptível o amadurecimento do trio no curto espaço de tempo em que a trama se desenvolve e desemboca em um final que além de emocionar, provoca reflexões.

    O roteiro de Greg Stupnitsky e Lee Eisenberg trata os garotos de uma forma bem especial. Em nenhum momento eles são infantilizados. Toda a ingenuidade dos garotos é vista de uma forma quase que reverencial, sendo tratada até mesmo como esperteza e sabedoria em vários momentos, principalmente naqueles que envolvem sexo e o uso de drogas. Isso deixa faz com que o espectador se encante por eles ao mesmo tempo em que dá risada de tudo. O elenco não poderia ter sido melhor escolhido: tanto o trio de protagonistas quanto os seus colegas de escola são impagáveis nas atuações, enquanto que os adultos também tem momentos hilariantes.

    Não fossem os problemas de ritmo no início do filme, Bons Meninos seria praticamente perfeito, pois toca em temas espinhosos como abuso, bullying, minorias e feminismo utilizando-se de diálogos e situações dotadas de uma carga crítica e que vão direto na ferida, apesar de serem engraçados, sem usar de caráter panfletário para tal. De qualquer forma, Bons Meninos é um grande filme e uma comédia das mais inteligentes.

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  • Crítica | Rambo II: A Missão

    Crítica | Rambo II: A Missão

    Pois bem. Em  Rambo Programado Para Matar, o veterano John Rambo era um homem atormentado pelos horrores que viveu no Vietnã que se rebelava contra uma o xerife preconceituoso de uma cidadezinha interiorana dos Estados Unidos. O filme baseado no livro de David Morrell era excelente em vários aspectos, carregava uma crítica à Guerra do Vietnã e ao tratamento dado aos seus ex combatentes. Porém, em uma virada inesperada, Rambo acabou adotado por Ronald Reagan e acabou se tornando um símbolo de seu período como presidente da nação mais bélica do planeta. O ex-boina verde passou a ser um símbolo do conservadorismo dos militantes do Partido Republicano.

    O ano era 1985 e a Guerra Fria estava no fim. A União Soviética estava enfraquecida e os EUA se consolidando como potência mundial. Porém, havia a mancha da derrota da Guerra do Vietnã. É nessa esteira que o Coronel Trautman (vivido por Richard Crenna) tira Rambo da prisão para uma última missão: resgatar soldados americanos ainda feitos prisioneiros pelo exército vietnamita. Supervisionada pelo burocrata Marshall Murdock, a missão é praticamente suicida, mas os traumas de Rambo, a possibilidade de se livrar da pena a que fora condenado depois dos eventos do primeiro filme o fazem aceitar e uma espécie de revanche simbólica (talvez este o maior motivo) contra o Vietnã fazem Rambo aceitar a missão. O que sucede depois disso é uma colagem de cenas de ação inventivas e icônicas, além de algum drama e uma ou outra reviravolta .

    Baseado em uma história de Kevin Jarre, o roteiro do filme foi escrito por James Cameron e Sylvester Stallone. Infelizmente, a diferença é gritante para o primeiro filme. Há uma indigência muito grande no script, reduzindo a complexidade do personagem e o tornando em uma unidimensional máquina de matar. Há uma clara xenofobia no texto, com os não americanos sendo tratados como sádicos, selvagens e inferiores. Fora que a ideia de prisioneiros de guerra sendo mantidos até 10 anos depois do fim do combate sem nenhum proposito maior por trás não faz o menor sentido. Resumindo em poucas palavras, o roteiro é apenas pretexto para mostrar Stallone destruindo tudo em sequências de ação muitíssimo bem orquestradas.

    George Pan Cosmatos, que também dirigiu Stallone Cobra, conduz de forma primorosa algumas sequências de ação, com destaque especial para aquelas em que Rambo usa o arco e flecha e o helicóptero. Porém, a minha preferida é aquela que Rambo se camufla na floresta e vai abatendo o pelotão de soldados um a um das formas mais inventivas possíveis. A cena da lama é maravilhosa. Cosmatos até consegue extrair uma dinâmica interessante entre o ex boina verde e Co Bao, seu contato vietnamita. A moça passa longe de indefesa e salva John em alguns momentos, inclusive trazendo de volta um pouco da sua humanidade esquecida em grande parte do roteiro. São os melhores momentos dramáticos de Stallone no filme, visto que o ator desfila sua canastrice de forma espetacular na tela, enquanto Crenna (coronel Trautman) e Charles Napier (o burocrata Murdock) se dedicam basicamente a discutir e suar abundantemente durante quase todo o filme. Julia Nickson se vira bem enquanto está em cena e o eterno vilão Steven Berkoff faz aquilo sabe melhor: ser um odioso vilão sádico.

    Quando esquecemos o caráter panfletário, Rambo II se mostra como um grande filme de ação e ótimo exemplar do cinema brucutu que tomou de assalto os anos 80. Porém, ao ligarmos o senso crítico e prestarmos atenção na história, a trama do filme acaba se tornando difícil de engolir. Sendo assim, é melhor desligar o senso crítico e apreciar todas as grandes sequências de ação do filme que ainda possui uma grandiosa trilha sonora do mestre Jerry Goldsmith.

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  • Resenha | Universo Hanna-Barbera: Corrida Maluca

    Resenha | Universo Hanna-Barbera: Corrida Maluca

    Parte da iniciativa da DC Comics de reimaginação das criações dos estúdios Hanna-Barbera, Corrida Maluca caiu nas mãos do roteirista Ken Pontac do ilustrador argentino Leonardo Manco. Pontac é conhecido por variar entre shows infantis como Lazytown e desenhos animados de humor negro como Happy Tree Friends e seu spin off Kapow!, enquanto Manco foi desenhista de vários quadrinhos da Marvel e da DC Comics, com trabalho destacado em Hellblazer e a união dos dois criou algo bem interessante, ainda que irregular, para essa releitura de Corrida Maluca.

    Situada em um futuro apocalíptico, Corrida Maluca conta uma nova história para os velhos personagens. Aqui, Dick Vigarista, Muttley, Penélope Charmosa e toda aquela galeria de personagens do desenho da produtora Hanna-Barbera, estão numa corrida capitaneada pela Locutora, uma misteriosa personagem que em algum ponto salvou os personagens apenas para coloca-los em carros dotados de inteligência artificial e batalharem até que somente um competidor reste vivo. Podemos dizer que é basicamente uma mistura de Mad Max com Corrida Mortal.

    O roteiro de Ken Pontac se destaca não pela corrida em si, mas pela história criada para cada um dos personagens. A exposição dos seus passados rende os melhores momentos desse encadernado que reúne as seis primeiras edições da HQ, com destaque especial para o trágico passado de Penélope Charmosa e para as histórias das duplas Muttley e Dick Vigarista e Tio Tomás e Ursão (talvez o melhor momento de todo o volume). Entretanto, quando vai para o presente e relata o que ocorre durante e depois das corridas, a inspiração de Pontac cai um pouco, com uma narração bem padrão e situações um tanto quanto previsíveis. Outro ponto que não tem tanta atenção do roteirista é a inteligência artificial dos veículos. Apesar de possuírem personalidade, esse aspecto não é bem explorado na história.

    Já as ilustrações de Leonardo Manco é um tanto irregular. O desenhista consegue excelentes quadros e produz designs inspirados para os bólidos dos personagens, mas peca nos momentos de maior ação, com transições confusas e uma certa poluição visual que acaba por diluir a tensão da história. Uma sequência em especial exemplifica bem isso: na corrida em que os competidores são atacados por nano robôs, as ilustrações não conseguem transmitir devidamente a ameaça da situação e toda a tensão acaba sendo diluída.

    Enfim, apesar de ser um quadrinho um pouco irregular, Corrida Maluca é bastante divertido e demonstra bastante potencial nessas primeiras edições. Espero que as edições seguintes consigam elevar o padrão e tornar essa história tão divertida quanto era o desenho animado.

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  • Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 2

    Resenha | Monstro do Pântano: Raízes – Volume 2

    No segundo encadernado de histórias do Monstro do Pântano, somos apresentados às histórias compreendidas entre as edições 7 e 13 de Swamp Thing. Ainda com roteiros de Len Wein, o titulo de terror da DC Comics mantém a sua média de ótimas histórias, além de plantar uma ideia muito interessante que viria a ser abordada futuramente por Alan Moore.

    É interessante observar que Wein vai adicionando cada vez mais camadas ao Monstro do Pântano, fazendo com que ele forme algumas alianças que poderiam soar improváveis. É o que acontece na primeira história, quando Alec Holland chega a Gotham City e se une ao Batman. É uma pena que em dado momento o protagonista tenha que ceder muito espaço para o Homem Morcego, porém ainda assim a dinâmica é bem interessante. O mesmo pode ser dito de Mutt, o cão que o Monstro meio que adota. Há um acontecimento no final dessa história que a faz marcante, ainda que não seja das melhores.

    O roteirista continua fazendo uso de referências históricas e culturais ao longo dos roteiros. H. P. Lovecraft surge como inspiração em vários momentos, assim como obras de ficção-científica como Star Trek. Há ainda alguns sub-textos sociais bem interessantes adicionados a algumas histórias, principalmente em O Homem que Não Quis Morrer, onde Wein mistura elementos de horror à escravidão dos negros nas plantações de algodão dos sul dos Estados Unidos. Todas essas referências e inspirações do autor Len Wein conferem uma profundidade a história e também aos personagens, tanto o protagonista quanto a alguns coadjuvantes.

    A arte de Bernie Wrightson se mantém ótima e muito condizente com toda a pretensão da HQ. Porém, O Homem que Não Quis Morrer marca a ultima edição do ilustrador no comando da arte. A partir de As Minhocas Gigantes ele é substituído por Nestor Redondo, que apesar de ser um ótimo desenhista, não tem um estilo que encaixe tão bem com o personagem. Há uma espécie de humanização do Monstro do Pântano, com seus traços se tornando menos bestiais e mais humanos.

    O compilado da Panini se encerra com a história A Conspiração Leviatã, história que funciona de forma dupla para o Monstro Pântano: caso a série não tivesse continuidade, fecharia o arco do personagem com uma descoberta bombástica para ele, visto que a trama se concentra em uma espécie de desvendamento da origem do estranho ser. A história também poderia servir como um reboot leve, com o Monstro do Pântano adquirindo novas características e pavimentando um início de caminho para quem viesse assumir os roteiros posteriormente, visto que Len Wein não mais queria fazer nada com o monstro desde a saída de Wrightson.

    Enfim, esse segundo volume de Monstro do Pântano: Raízes apresenta mais um compêndio de histórias desse intrigante personagem da DC Comics, que apesar de não serem brilhantes, tem alguns ótimos momentos.

  • Resenha | O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo?

    Resenha | O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo?

    Com esse nome, poderia ser uma história do Flash. Porém, é uma das grandes histórias que tive a oportunidade de ler nos últimos tempos. Com roteiro de Dave West e desenhos de Marleen Lowe, O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo? conta a história de Bobby Doyle, um homem comum com um poder extraordinário. Com uma narrativa simples, porém intrigante e magnética, essa HQ ganhou um lugar especial na minha prateleira.

    Interessante ressaltar, que essa edição brasileira foi bastante elogiada pelo roteirista Dave West, visto que a Gal Editora procurou incluir todo o material original publicado, desenhos pin-ups, textos extras e uma história bônus. Essa iniciativa, mencionada por West em comentários reproduzidos na edição, só enriquece a leitura.

    A história narra a saga de Bobby Doyle, um rapaz comum que possui o dom de parar o tempo. Porém, dentro dessa bolha temporal, Bobby continua a envelhecer normalmente. Quando uma bomba gigantesca ameaça toda uma área da cidade de Londres, Bobby resolve utilizar o seu poder para salvar todas as pessoas que ali vivem. É nesse momento que uma história intrigante e ao mesmo tempo muito sensível se inicia.

    Já de cara somos absorvidos para a vida de Bobby através da capa da HQ, que reproduz uma matéria de jornal que narra um dos grandes feitos do protagonista. Doyle retirou todas as pessoas de dentro de um trem antes que um grave acidente matasse todos. Nos relatos, alguém fala de um borrão, ou uma sombra, mas ninguém conseguiu perceber o rapaz. Após essa introdução, somos introduzidos a mais um dia comum na vida de Bobby até que a ameaça terrorista surge no noticiário, dando o pontapé para a trama principal.

    Durante o desenvolvimento da história, o roteiro dialoga muito com o senso de responsabilidade do protagonista. Em alguns momentos, podemos até mesmo traçar um paralelo com o lema “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” do Homem-Aranha. West joga muito bem com isso e também ao demonstrar os esforços de Bobby para cumprir seu objetivo heroico. Ao passo que vamos acompanhando tudo, somos cada vez mais tragados para a peleja do protagonista e nos tornando cada vez mais simpáticos a ele e seus dilemas. A narrativa é fluida e sem barrigas, o que faz a leitura ser prazerosa até chegar no seu terço final, que possui um viés um pouco mais investigativo e muito interessante até o desfecho que não poderia ser mais adequado e comovente. Tudo isso é devidamente amparado pela belíssima arte de Lowe, que capta com precisão as emoções do personagem, além de criar uma Londres viva apesar de congelada no tempo.

    Além da sensacional história principal, ao final somos presenteados com uma prequel. Um conto sobre um evento marcante da infância de Bobby, onde ele descobre e usa pela primeira vez os seus poderes. Toda a inocência e doçura que o personagem demonstra nessa história, só fazem aumentar a admiração pelo grande herói que ele um dia se torna.

    Correndo o risco de ser redundante, O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo? é uma dessas histórias que ganham o coração do leitor, principalmente daquele que cresceu lendo histórias de super-heróis. A breve saga do incrível Bobby Doyle é uma pequena obra-prima e merece ser lida e relida.

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  • Crítica | Escape Room

    Crítica | Escape Room

    Depois de Jogos Mortais esgotar a premissa de mutilar e matar pessoas através de armadilhas e engenhocas idealizadas por um lunático, parecia que o cinema ia dar uma descansada dessa fórmula. Parecia. Em 2017, Jigsaw voltou a nos assombrar com suas tramoias absurdas no reboot da franquia e um tempo depois começou o hype em torno desse Escape Room. Os trailers lançados eram bem interessantes e a trama era promissora. Uma pena que não fez jus ao que prometia.

    Na trama, seis pessoas são convocadas através de um complexo quebra-cabeça a participarem de uma sala de fuga (escape room). De acordo com o convite, caso eles saiam da mais “imersiva e inovadora” experiência do setor, receberão um prêmio de 10 mil dólares. Parece simples, mas não é.

    Lendo dessa forma, a premissa é bem interessante. Fica mais legal quando você vê aquelas pessoas totalmente diferentes entre si tendo que cooperar para um objetivo comum. Com esse clima, o espectador é tragado pra dentro do filme e passa a procurar por pistas e sinais em qualquer parte do cenário. A cada sala nova eu me vi fazendo o mesmo que os protagonistas, observando tudo o tempo todo e ainda prestando atenção no filme. Dessa forma, o filme não fica só no suspense, mas vai se enveredando por um caminho mais aventureiro e intelectual ao invés de partir pra nojeira sádica de Jigsaw e sua saga. É o grande acerto do roteiro de Bragi F. Schut dirigido por Adam Robitel. O problema é que os erros também são grandes e comprometem demais a experiência.

    A contextualização dos personagens se dá através de algumas lembranças rápidas durante a trama. O que dificulta a experiência são nos momentos que ocorrem situações extremamente convenientes. Pra piorar, cada armadilha tem uma relação pessoal com o passado de cada um dos protagonistas, provocando uma sensação absurda de inverossimilhança. É algo exagerado e desnecessário. Pra piorar ainda mais, o filme conta com um antagonista que parece ter saído de um filme antigo do 007, faltando apenas que ele se vire, em uma poltrona e segurando um gato, já que o restante ele segue à risca nessa cartilha. Parece que os roteiristas e o diretor não confiam na inteligência do espectador e se sentiram no direito de contar tudo novamente de forma reduzida.

    Em resumo, quando acerta, Escape Room é um suspense bem angustiante e divertido. Quando erra, a película faz de uma maneira que chega a eclipsar o seus acertos, fazendo com que a experiência tenha um sabor agridoce por todo potencial que havia ali.

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  • Crítica | Calmaria

    Crítica | Calmaria

    “Isso muito Black Mirror!”. A frase que se transformou em uma espécie de meme na internet poderia se encaixar aqui. Vejam bem, poderia. Caso Calmaria fosse um bom filme, com certeza seria comparado a algum episódio da bem sucedida série sci-fi que tem surpreendido pessoas por seus roteiros inventivos. Entretanto, esse thriller estrelado por Matthew McConaughey e Anne Hathaway só conseguiu me remeter ao clássico trash O Passageiro do Futuro.

    Dirigido e roteirizado por Steven Knight, britânico que roteirizou o sensacional Senhores do Crime (dirigido pelo mestre David Cronenberg), escreveu e dirigiu o ótimo Locke (estrelado unicamente por um inspiradíssimo Tom Hardy), além de fazer parte das ótimas séries Peaky Blinders e Taboo, ao mesmo passo que cometeu os argumentos de A Garota na Teia de Aranha e de O Sétimo Filho, seu novo longa é um thriller neo-noir estrelado pela proeminente dupla de atores mencionada acima (McConaughey e Hathaway), Djimon Hounson, Diane Lane e Jason Clarke. Na trama, um pescador obcecado em fisgar um atum que ele jura o provocar pessoalmente é procurado por um antigo amor de seu passado que quer o contratar para matar seu marido. Enquanto se decide sobre cometer ou não o assassinato, fatos estranhos passam a acontecer ao redor do pescador.

    O roteiro é uma completa bagunça. A tentativa de Knight criar algo “inteligente” acaba se tornando somente pedante. O cineasta tenta incluir elementos de clássicos literários como O Velho e o Mar e Moby Dick, mas o faz de forma rasa e pretensiosa. Pior, só faz a história se tornar mais desagradável ao paladar do espectador. Ao longo do desenvolvimento da trama, elementos noir são adicionados, mas de forma atabalhoada e incoerente. Aos trancos e barrancos a história vai se tornando cada vez mais sentido e cômica até culminar em um plot twist que praticamente cospe na cara do espectador. Nem M. Night Shyamalan em seus piores momentos conseguiu conceber algo tão bizarro quanto o que é visto em tela.

    No que diz respeito à direção, Knight é ainda mais equivocado. O cineasta não consegue criar um clima decente de mistério e todas as suas tentativas de subir o tom soam bregas. Há um momento especial que resume isso: a primeira aparição de Hathaway. É uma cena tão caricata que poderia estar Uma Cilada para Roger Rabbit. O que deveria causar admiração, causa risada. A direção passeia com a câmera mostrando detalhes da atriz. Sua aliança é mostrada em destaque, sua forma de andar, a trilha sonora ganha um tom mais solene… até que ela diz que vai pagar a bebida do personagem de McConaughey. Nesse momento há um movimento de câmera súbito que fecha no rosto de Hathaway fazendo uma tentativa de expressão de femme fatale enquanto corta subitamente para McConaughey engolindo a bebida rápido em um momento de surpresa. Não tive como não pensar no clássico filme de Robert Zemeckis. A diferença é que Eddie Valiant (Bob Hoskins) e Jessica Rabbit atuam muito melhor que a dupla de protagonistas de Calmaria. Além não estarem bem separadamente, a dupla não tem a menor química. Simplesmente não convencem. Clarke está tão canastrão que acaba odioso por sua interpretação preguiçosa, não pela natureza horrenda de seu personagem. Já Lane e Hounsou são completamente desperdiçados pelo diretor. No final das contas, o longa se torna um sofrido exercício cinematográfico pretensioso que subestima a inteligência do espectador.

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  • Resenha | Nathan Never: Inferno

    Resenha | Nathan Never: Inferno

    Nessa segunda edição, que ocorre cronologicamente após a primeira, mostrando que a Editora Mythos pretendia editar o título na ordem em que foi lançado originalmente, a história do Agente Alfa tem uma pegada um pouco diferente do clima noir do primeiro volume. Há um viés mais político, com crítica social embutida de forma muito interessante no roteiro, o que demonstra todo o dinamismo dos roteiristas e das histórias de Nathan Never.

    Em Inferno, Never está no encalço de Hans Schneider, um rapaz que luta pela afirmação dos direitos dos “Mutados”. Após um assalto, Schneider foge para os subterrâneos da cidade e o agente parte atrás dele. Porém, Hans recebeu abrigo do padre Homero. Entram em cena os mercenários do comandante Edwards, que estão à procura de Schneider com o propósito de receber a recompensa que o influente político Franz Hoenzoller prometeu por sua cabeça e cabe ao herói combater essa ameaça e também se manter vivo no hostil ambiente subterrâneo.

    Quando eu disse que há uma crítica social no texto, não era mentira. A luta dos Mutados pela afirmação de seus direitos faz referência à vários movimentos de minorias discriminadas ao longo do tempo. Os seres modificados do universo de Never batalham por direitos iguais. O assalto perpetrado por Hans Schneider em conjunto com um mutante é o estopim para uma onda de ódio e preconceito, fomentada por uma imprensa sensacionalista que atribui uma escalada de violência aos seres subterrâneos e por um candidato a prefeito incendiário e preconceituoso que toma isso como bandeira para fazer sua campanha. Apesar de ser uma história de 1992, o antagonista Franz Hoenzoller está muito próximo alguns políticos estúpidos e belicistas que surgiram no cenário nacional ultimamente, ainda que a referência usada na época tenham sido o apartheid.

    No concernente ao desenvolvimento da história, o roteiro ágil de Bepi Vigna e as ilustrações da Dante Bastianone casam muito bem. A forma como a história se desenvolve me remeteu ao clássico filme Warriors, dirigido por Walter Hill, com o protagonista quase sempre em movimento. O ritmo é frenético, porém não é apressado, com as soluções da trama acontecendo de forma fluida. Os Mutados também remetem aos Morlocks, os mutantes renegados do universo dos X-Men. Na introdução da edição, é falado que A Divina Comédia, de Dante Alighieri também serve como inspiração para a história, o que realmente ocorre, visto que quando mais se aprofunda nos subterrâneos, mais Nathan Never presencia a degradação. Porém, no caso dessa história, a descida ao submundo vai retratando a degradação da sociedade. Em resumo, Inferno é mais uma grande história desse ótimo personagem e de seu intrigante universo.

    Compre: Nathan Never: Inferno.

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  • Resenha | Homem-Aranha: Negócios de Família

    Resenha | Homem-Aranha: Negócios de Família

    A mistura de Homem-Aranha com espionagem internacional talvez não seja a das mais comuns nos quadrinhos. Francamente, não me recordo de uma história com essa mistura. Caso alguém lembre, deixe aqui nos comentários. Já estou meio velho e a memória não é mais a mesma de outros tempos. Enfim, em Negócios de Família, a proposta dos roteiristas Mark Waid e James Robinson é essa. Se funciona? Funciona. Muito bem, por sinal.

    Na trama, Peter Parker se envolve em um sequestro realizado por um misterioso time de elite e termina sendo salvo por uma mulher que se diz chamar Teresa Parker e seria sua irmã. A dupla é perseguida devido ao fato de serem filhos de Richard Parker, que todos já devem saber que era um espião internacional. Caçados por meio mundo e ainda pelo Rei do Crime, a dupla precisa trabalhar junta para resolver uma conspiração que pode abalar o planeta ao passo que vão descobrindo cada vez mais sobre o passado de seu pai. Ainda no meio disso, o Cabeça de Teia se vê em um dilema. Seria sua irmã uma pessoa confiável ou uma futura inimiga?

    O roteiro de Mark Waid e James Robinson é ágil e lotado de referências a grandes filmes de espionagem. Talvez o melhor momentos seja o do cassino, onde Peter tenta emular James Bond, porém sem a mesma classe do espião britânico. Nos momentos em que precisa ser mais dramático, o texto não fica piegas ou soa forçado. Pelo contrário, é de bom gosto. A dinâmica entre os dois irmãos é bem natural e um complementa bem o outro, até mesmo por traços semelhantes de personalidade. Os roteiristas se deram ao cuidado de incluir alguns momentos onde Peter se sente mais próximo ao pai, devido a algumas revelações sobre sua personalidade. Entretanto, a história é prejudicada por ser breve demais. Contendo só 99 páginas, o desenrolar da história vai ficando um tanto apressado e as relações humanas vão ficando prejudicadas. Uma pena porque a riqueza da premissa da relação entre os dois irmãos poderia render bem mais sem causar dano à ação.

    Um ponto positivo que faz uma grande diferença são as ilustrações da dupla Werther Dell’ Edera e Gabrielle Del’Otto. Werther capta muito bem as intenções dos roteiristas, enquanto as cores vivas de Dell’Otto complementam as ilustrações criando painéis de uma beleza única. o estilo torna a história fluida, fazendo com que ela pareça estar em movimento diante de seus olhos, tal como um filme. Nos momentos em que a ação toma grandes proporções, o duo capricha fazendo sequências empolgantes. Entretanto, existem alguns momentos em que eles se destacam: na sequência de abertura, onde o Homem-Aranha gasta seu repertório de habilidades acrobáticas em uma cena de ação que nada deve aos filmes da Marvel. A atenção aos detalhes e a coesão dos painéis daria inveja a muito diretor de cinema. O outro momento é o do cassino, onde captam o humor pretendido pela dupla de roteiristas e depois fazem uma sequência de ação digna de um grande filme de espionagem.

    Porém, como eu disse, nem tudo são flores. Ainda que Negócios de Família seja uma ótima história do Cabeça de Teia, seu potencial para ser um clássico acaba esvaziado por sua curta duração. Entretanto, é uma daquelas histórias que vale a pena ter na coleção para uma releitura rápida sempre que quiser se divertir com um conto que traz o querido Peter Parker em bom momento (e não sendo trucidado pelos roteiristas de suas histórias regulares).

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  • Resenha | Black Hammer: Origens Secretas – Volume 1

    Resenha | Black Hammer: Origens Secretas – Volume 1

    A capa de Black Hammer remete muito mais a um filme de terror do que a um quadrinhos. Um pouco ao momento em que Carrie liberta seus poderes na já clássica adaptação da obra de Stephen King para os cinemas, Carrie: A Estranha, pelas mãos de Brian De Palma. Fato é, que a história criada pelo roteirista Jeff Lemire e pelo ilustrador Dean Ormston tem uma narrativa tão intrigante quanto um livro de King.

    Na trama de Origens Secretas somos apresentados a Abraham Slam, Gail, Barbalien, Coronel Weird, Talky Walky e Madame Libélula. Todos possuem características e poderes bem peculiares e foram habitantes de Spiral City. Em um passado não muito distante, o grupo salvou a cidade de várias ameaças. Porém, ao enfrentarem um poderoso inimigo, acabaram sendo transportados para uma idílica fazenda em uma dimensão paralela. Os antigos campeões da cidade foram exilados e os habitantes da cidade que tantas vezes eles salvaram não fazem a menor ideia do que aconteceu, só que eles desapareceram. Já se passaram dez anos e ninguém do grupo sabe como foi parar ali, nem o motivo e nem se um dia vão conseguir dali.

    O volume lançado pela editora Intrínseca reúne os seis primeiros volumes da história. Ainda que bastante introdutórias, as histórias são bem intrigantes, com idas e vindas temporais, mostrando os heróis em seu passado glorioso e seu melancólico presente. Nesse ponto, a trama faz lembrar um pouco da série Lost, com suas idas e vindas e desenvolvimento de personagens, ainda que as histórias idealizadas por Lemire sejam mais interessantes e procuram aos poucos resolver seus mistérios. O roteirista e criador se esmera pra ir criando uma ambientação que prenda o leitor, ao passo que recheia tudo com diálogos inteligentes e influências bem vindas de outras histórias de quadrinhos e obras literárias de ficção científica. Outro ponto de destaque é o desenvolvimento dos personagens, com enfoque em seus dramas pessoais, no isolamento e nas suas emoções. Assim, o roteiro acaba dialogando com grandes obras dos quadrinhos, como Watchmen, Astro City e The Umbrella Academy. Watchmen talvez tenha sido a primeira com a qual pude estabelecer uma relação, principalmente no que tange à narrativa em linhas temporais distintas que mostram os heróis em seu auge e posteriormente já decadentes, com seus conflitos emocionais aflorando e regendo as relações interpessoais. Ormston capta bem as intenções de seu parceiro e cria um traço que prima por ter uma certa crueza, mas que evidencia o sentimento de cada personagem, favorecendo a empatia do leitor com os personagens. A colorização de Dave Stewart também é muito bem sacada, alternando tons vibrantes nos flashbacks com uma paleta mais dark nos momentos do presente.

    Desde o início, nota-se que Jeff Lemire idealizou uma obra referencial e também reverencial, pois seus personagens guardam semelhanças com alguns dos principais super heróis dos universos Marvel e DC, além de alguns outros de quadrinhos pulp. Examinando atentamente, vemos que o Devorador de Mundos é inspirado (e também presta homenagem) em Galactus e Darkseid, respectivamente grandes vilões cósmicos da Marvel e da DC; Black Hammer é inspirado em Thor e Superman, tanto pelo martelo quanto pela sua força e disposição em fazer o sacrifício supremo para proteger o mundo; Abraham Slam pode ser visto como uma mistura de Capitão América e Batman, pois é o único que não possui superpoderes e vive até certo ponto satisfeito com a sua condição atual; a Menina de Ouro é o equivalente ao Capitão Marvel e sua irmã Mary Marvel ,e possui até palavra mágica para transformação, mas sua condição impede seu envelhecimento, o que a torna uma mulher aprisionada no corpo de uma criança de nove anos; Madame Libélula tem suas influências dos quadrinhos de terror da EC Comics e Eerie Comics, com um certo quê das histórias do Monstro do Pântano e uma referência visual que evoca a Ravena dos Novos Titãs; o Coronel Weird é um misto de Adam Strange (o aventureiro cósmico da DC Comics) e do Doutor Estranho, pois é capaz de transitar entre dimensões, universos (e tem como sidekick a robô Talkie Walkie, cujo sentimentalismo lembra Marvin, de O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams) e não vivencia o tempo como o restante dos seus companheiros; e o Barbalien pode ser visto como uma reimaginação do Caçador de Marte (que eu ainda insisto em chamar de Ajax).

    Enfim, Black Hammer é uma história não convencional de super heróis e seu acerto é justamente esse. Com personagens bem trabalhados, um roteiro que prende a atenção e uma arte em sintonia com tudo isso, a HQ talvez seja uma das melhores coisas surgidas nos últimos tempos e não à toa recebeu o Prêmio Eisner de melhor nova série no ano de 2017.

    Compre: Black Hammer: Origens Secretas.

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  • Resenha | Nathan Never: Os Olhos de um Estranho

    Resenha | Nathan Never: Os Olhos de um Estranho

    De todos os títulos relançados da Sergio Bonelli Editore pela Mythos, Nathan Never foi o que mais me despertou interesse. Incrivelmente, foi o que eu mais negligenciei por algum estranho motivo que eu não sei explicar até o momento que eu escrevo essa resenha. Entretanto, posso afirmar que foi disparado o melhor fumetti que eu li. Digo isso porque apesar de leitor ávido de quadrinhos, nunca fui familiarizado com os quadrinhos italianos da Bonelli. Só que esse novo mundo que me foi apresentado é por demais interessante, e dentre eles, Never foi o que mais me agradou.

    Criado por Michele Medda, Antonio Serra e Bepi Vigna, as histórias de Never são ambientadas em um futuro mais ou menos distópico em que o combate ao crime é feito por agências policiais e corporações privadas de detetives, como a Agência Alfa onde Nathan trabalha. Na trama de Os Olhos de um Estranho, o Agente Alfa investiga o assassinato de Hannah Owens, uma mulher solitária e introvertida que levava uma vida aparentemente comum. Com a ajuda de Sigmund Baginov, Never descobre que outras mulheres com perfil semelhante ao de Hannah também foram mortas da mesma forma que ela. A partir daí, Nathan descobre que o caso pode ser mais complicado do que imaginava.

    Originalmente publicada em Nathan Never nº 9 (fevereiro de 1992), a HQ conta com roteiros de Michele Medda e desenhos de Stefano Casini. É bom observar como o ambiente onde a história é passada guarda enormes semelhanças com Blade Runner: O Caçador de Andróides. Até mesmo o protagonista tem um certo quê de Rick Deckard, o protagonista do filme de Ridley Scott que foi interpretado por Harrison Ford. O ritmo do roteiro é vertiginoso desde o início, ainda que possua uma forte pegada noi Os diálogos são espertos, principalmente na interação do Agente Alfa com alguns ótimos coadjuvantes como Sigmund Baginov e Legs Weaver (declaradamente inspirada em Sigourney Weaver). Os desenhos de Stefano Casini em certos momentos parecem storyboards detalhados de algum filme, com planos que caberiam perfeitamente em uma tela de cinema. Em vários momentos me peguei viajando nos quadrinhos e imaginando tudo em movimento como se fosse um filme.

    Sintetizando em poucas palavras, Nathan Never foi o fumetti mais interessante que li dessa leva que a Mythos relançou e digo sinceramente que me tornei um fã de suas histórias.

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  • Resenha | Martin Mystère: Intriga em Pequim

    Resenha | Martin Mystère: Intriga em Pequim

    De todos os relançamentos da Editora Mythos, Martin Mystère talvez seja o que menos me agradou. Nem tanto pelo personagem, mas pela história escolhida para a sua reintrodução ao público brasileiro. Ao contrário de outros personagens como Dylan DogNick Raider e Nathan Never que tiveram histórias fechadas publicadas em uma única edição, as do detetive do impossível quase sempre ocupam duas edições. Sendo assim, Intriga em Pequim só é concluída no segundo volume.

    Publicada originalmente em 1988 na edição italiana de número 73, Intriga em Pequim tem roteiro de Alfredo Castelli e arte de Salvatore Deidda. Na trama, Mystère, sua noiva Diana e seu assistente Java vão para a China documentar um dos maiores tesouros arqueológicos do mundo: o exército de terracota. Chegando lá, acabam envolvidos em uma trama rocambolesca que envolve artefatos místicos, espionagem, conspirações e questões políticas da China que podem ter consequências catastróficas.

    A maioria das histórias de Mystère que foram publicadas agora pela Mythos têm como incômoda característica se iniciarem em um número e serem concluídas na edição seguinte. Isso não é necessariamente uma coisa boa, visto que as histórias acabam sendo esticadas além da conta para preencher esse quesito. É exatamente o que acontece aqui. O roteiro de Castelli tem um ritmo engessado, se alongando demais a fim de que a história se sustente por duas edições. A trama fica mais interessante ao final, quando o roteirista abraça o trash e lança mão até de um dragão que rejuvenesce a grande vilã da história com uma baforada em sua cara. Os desenhos de Deidda não são tão refinados como os de outros desenhistas dos fumettis irmãos de Mystère, mas são marcantes e eficientes. Ainda que seja uma enciclopédia ambulante de clichês, o protagonista é um personagem bem divertido e interessante, assim como Java e Diana, seus fiéis sidekicks.

    Uma pena que a história escolhida pela Mythos não seja das mais interessantes. Martin Mystère vale muito a pena ser lido pelos fãs de quadrinhos, só nos resta torcer para que as próximas publicações tragam melhores histórias.

    Compre: Martin Mystère: Intriga em Pequim.

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  • Crítica | 22 Milhas

    Crítica | 22 Milhas

    Mark Wahlberg e Peter Berg tem um longo histórico de colaboração. 22 Milhas é a quarta parceria da dupla, iniciada com o O Grande Herói e seguida por Horizonte Profundo: Desastre no Golfo e O Dia do Atentado. Dá até pra dizer que Wahlberg é o ator fetiche do diretor, já que em breve teremos Wonderland, mais um filme que o ator protagonizará e que será dirigido por Berg. Entretanto, se as três primeiras parcerias renderam bons filmes, o mesmo não pode ser dito desse novo longa, que até conta com um roteiro intrigante, mas uma péssima execução.

    Na trama, o antigo Marky Mark é o super agente James Silva, líder de uma grupo secreto de espionagem chamado Overwatch. Após uma missão desastrosa em solo americano, Silva e seu grupo estão em um país asiático não identificado. É nesse momento que um oficial da polícia do país se rende na embaixada e oferece informações sobre um material radioativo desaparecido desde que os EUA lhe garantam asilo. Nesse momento, Silva e sua equipe são destacados para escoltar o policial até a pista de um aeroporto que fica a 22 milhas de distância da embaixada. Só que a tarefa não será simples, pois agentes secretos da Indonésia também querem o policial e vão fazer de tudo para pegá-lo.

    O roteiro em um primeiro momento é até interessante, visto que ele joga com idas e vindas temporais que são pontuadas por depoimentos dados pelo personagem de Wahlberg. Só que com o tempo tudo vai ficando confuso e a linha narrativa se torna extremamente frágil, com o filme parecendo apenas um emaranhado de confusas cenas de ação cujo alto nível de violência é gratuito em muitos momentos. Entretanto, o plot twist do final se mostra bem interessante. Berg, notório por filmar boas sequências de ação, aqui erra a mão. Ao se utilizar da técnica de câmera na mão popularizada por Paul Greengrass nos filmes da saga Jason Bourne, o diretor nos apresenta a cenas confusas em que fica difícil acompanhar o que acontece na tela. A única cena digna de nota é uma luta entre Iko Uwais (o policial Li Noor) e dois agentes indonésios. Uwais poderia ser o trunfo da fita, já que é capaz de lutas espetaculares, visto suas atuações nos dois Operação: Invasão.

    Outra situação que ocorre é que os personagens são terríveis, não despertando nenhum tipo de simpatia ou empatia do espectador, especialmente o protagonista. Nos créditos iniciais, somos apresentados ao personagem de Mark Walhberg, descrito como mentalmente instável, hiperativo e com propensão à violência. Parece uma tentativa de criar algo parecido com o que foi apresentado em O Contador, onde Ben Affleck é um super agente que sofre de autismo. Porém, o James Silva de Wahlberg é extremamente histérico e fica boa parte do tempo gritando, ofendendo e estalando um elástico no braço, o que é extremamente irritante. O elenco de apoio não ajuda, com Lauren Cohan servindo apenas como garota propaganda de um aplicativo que filtra mensagens mal criadas entre casais que estão se divorciando. John Malkovich apenas desfila em tela no piloto automático, sendo uma espécie de supervisor Jedi da equipe e conferindo credibilidade a uma peruca que faria inveja em Nicolas Cage e John Travolta. Iko Uwais é o único que consegue ser minimamente convincente, apesar de poucas cenas dramáticas e tendo seu maior talento mal utilizado na fita. Enfim, 22 Milhas poderia ser um filme bem interessante. Só conseguiu ser desagradável em boa parte do tempo.

    https://www.youtube.com/watch?v=aEy9MikE14w

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  • Resenha | Nick Raider: A Quarta Testemunha

    Resenha | Nick Raider: A Quarta Testemunha

    Criado por Cláudio Nizzi no ano de 1988, Nick Raider é considerado por muitos uma espécie de Tex urbano e contemporâneo. Detetive idealista, Raider é praticamente uma ilha de honestidade em um ambiente um tanto quanto corrupto, o Departamento de Polícia da cidade de Nova York. Sua concepção é até um tanto clichê, visto que o personagem dirige um Pontiac Firebird com a placa NYC 777. Lendo dessa forma, pode até parece um quadrinho ruim, mas está longe disso. É muito divertido.

    Nesse A Quarta Testemunha, volume 1 lançado pela Editora Mythos, escrito por Giuseppe Ferrandino e desenhado por‎ Gustavo TrigoNick se vê às voltas em uma colaboração com o FBI. O detetive é encarregado de transportar uma bela testemunha de Nova York para Los Angeles para que ela se pronuncie no julgamento do mafioso Joe Bonsanto. Porém, a tarefa não será nada fácil, já que o meliante já conseguiu eliminar outras três testemunhas que poderiam provar sua culpa.

    A história se desenrola como um road movie que em vários momentos me fez lembrar de Fuga à Meia-Noite, clássico oitentista estrelado por Robert De Niro e Charles Grodin. O roteiro é ágil e cheio de situações empolgantes, mas que em certos momentos parecem se resolver de forma apressada. A trama apresenta pontos muitos semelhantes com vários filmes e outras histórias, porém o roteirista pega esses clichês e faz ótimo uso deles. Um ponto muito positivo é colocar a personagem Alice Wilson como uma mulher inteligente que complementa Raider na história ao invés de ser somente a donzela em perigo. Os autores ainda homenageiam Marilyn Monroe e Robert Mitchum, protagonistas de O Rio das Almas Perdidas, o que acaba provocando uma sensação muito gostosa no coração dos cinéfilos saudosistas. Os coadjuvantes amigos do tira Nick também são clichês ambulantes, mas são divertidíssimos e funcionam muito bem na história. Além disso, a classuda arte de Mario Rossi provoca a imersão do leitor na história, já que em certos momentos parecemos estar diante de um caprichado storyboard de um filme.

    Não fosse o ritmo demasiadamente excessivo em vários momentos, esta “A Quarta Testemunha” seria um clássico instantâneo, mas ainda que não seja, é um grande cartão visitas do personagem nessa nova fase das publicações da Mythos.

    Compre: Nick Raider: A Quarta Testemunha.

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