Resenha | Arlequina: Se Jogando na Cidade
Reformulada após o início da fase Os Novos 52 da DC Comics, a personagem de maior sucesso na editora dos últimos tempos ganhou uma revista mensal solo em novembro de 2013 nos EUA, e seu primeiro arco de nove edições foi publicado por aqui no encadernado de capa dura Arlequina: Se Jogando na Cidade. A revista foi uma das mais bem-sucedidas no mercado norte-americano, tendo várias reimpressões e uma nova série com a chegada da fase Renascimento. O sucesso dessa fase da ex-namorada do Coringa (ops, vítima de relacionamento abusivo) se deve à talentosa roteirista e artista Amanda Conner, com eventual participação de seu marido Jimmy Palmiotti. Conner entrega uma Arlequina altamente carismática, ao mesmo tempo fofa e psicótica, com uma violência extrema em certos momentos que, paradoxalmente, nos fazem rir.
A Arlequina desse gibi já superou seu passado com o Príncipe Palhaço do Crime (embora tenha alguns deslizes de paixonite que servem apenas como alívio cômico), e é uma personagem completa e independente. O estilo de humor utilizado no texto e as situações absurdas em que os personagens são colocados não combinam com o restante dos títulos com o selo Novos 52 na capa, o que nem de longe é um defeito. O ambiente em que as histórias se passam permite que o leitor não precise de mais nada para compreender e se divertir com o encadernado, e parece por vezes nem mesmo fazer parte do Universo DC regular. a primeira história, publicada no número zero da revista americana, brinca com todos os estereótipos possíveis da indústria, inclusive com a hiperssexualização de personagens femininas e desenhistas que não conseguem cumprir prazos, e cada página é desenhada por um artista diferente (os maiores nomes da DC na atualidade). Na história seguinte começa o arco propriamente dito.
Harleen Quinzel ganha uma herança de um falecido paciente psiquiátrico, e precisa se mudar para Coney Island – o lugar perfeito para ela. Ela se torna a senhoria de um prédio que abriga uma trupe de freak show, nos apresentando personagens bizarros que se tornam seu elenco de apoio. Enquanto tenta uma vida normal como Dra. Quinzel, seu alter-ego precisa enfrentar uma série de caçadores de recompensa que querem um prêmio oferecido pela sua cabeça, velhinhos espiões de uma guerra há muito encerrada, disputar partidas no time local de roller derby e lidar com… cocô de cachorro! Sim, esses são os tipos de problemas que surgem – e sobra até pra equipe criativa da própria DC em determinado momento. Harleen ainda ganha uma coadjuvante de peso quando Pamela Isley (a Hera Venenosa) passa a integrar o elenco como sua melhor amiga (às vezes, com benefícios).
A arte de Conner é estupenda em suas capas, e muito competente no desenrolar da história, com algumas oscilações compreensíveis para uma série em que a função de roteirista é acumulada com a de desenhista. As cenas de página inteira ou duplas são um deslumbre, e a Arlequina de Conner é ao mesmo tempo engraçada e sexy. Conner já disse em entrevistas que procura dar à Arlequina um visual que, embora atraente, possa ser usado facilmente por cosplayers em convenções de quadrinhos sem necessariamente hiperssexualizar a personagem. Esse pensamento só é possível por ter uma roteirista/desenhista mulher, garantindo a diversidade em seus títulos e empatia com o público feminino, que pode ler sem medo de objetificação. Ponto pra DC! Dito isso, é interessante notar o quanto o clima das histórias nos lembra o de outro personagem da DC que não tem absolutamente nada de inclusivo ou feminista: o Lobo! Sim, o tipo de violência misturada com comédia é bastante parecido com as edições mensais do Flagelo da Galáxia publicada nos anos 1990, por mais estranho que isso possa parecer (inclusive, mais tarde, os dois personagens co-estrelariam um crossover na casa). Arlequina: Se jogando na cidade pode não vir a ser um clássico, tem seus defeitos, mas faz algo que é o mais importante para uma história em quadrinhos: diverte seu leitor como nenhuma outra série em andamento!
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