Resenha | O Preço da Desonra
O Preço da Desonra é o primeiro mangá publicado no Brasil do autor Hiroshi Hirata. Conhecido no Japão por apresentar histórias de samurai elogiadíssimas, entre elas, Satsuma Gishiden, a história deste é adulta, denominada como Gekigá e foi lançada entre 1971 e 73. Suas histórias são curtas, narradas a partir das experiências de Kubidai Hanshiro, que vem a ser um tomador de promissórias, que vai atrás da dívida entre os dojos e clãs de samurais.
A primeira história já começa em meio a ação, com um samurai tentando comprar o direito à sua vida com uma promissória, regra essa estabelecida em algumas vertentes dos combates japoneses, embora essa prática seja atrelada a guerreiros covardes e não comprometidos com a tradição e principalmente, com a honradez. A desonra do título mora na dívida que o clã não quer assumir, e logo, aparece o cobrador das promissórias.
O traço de Hirata é absurdo, em momentos de calmaria é super bem detalhado, nas batalhas, o nanquim transborda fluidez. É um trabalho único visualmente , os quadros valorizam demais os cenários, e as paisagens limpas tornam os combates em eventos ainda mais épicos, seja no conflito entre clãs ou no combate em que Hanshiro em alguns pontos é obrigado a fazer.
As lutas com cavalos, os saqueadores, o abuso as mulheres, tudo é retratado de forma visceral, onde a beleza da violência se mistura a uma reflexão sobre atitudes profanas. Hirata desconstrói a imagem de super honrado ligada aos samurais, mostra homens mesquinhos, ingratos, onde até a covardia é um pecado subalterno perto dos tanto outros equívocos desses que deveriam ser defensores da honra burguesa.
Os conflitos dentro dos clãs e as discussões sobre o monetário revelam dois aspectos, sendo o mais importante, a total desglamourização da figura dos guerreiros japoneses, e isso seria agravado até na série Satsuma Gishiden. O outro aspecto é o quanto aos samurais, que eram vistos como as pessoas mais honradas e corretas do Japão feudal eram tão humanas, cheias de falhas, sendo egoístas e até deploráveis, seja ao negar o compromisso pré-estabelecido com as promissórias, ou no suplicar por sua vida, sem pensar em todo o código de honra feito no juramento à espada que é feito. O Preço da Desonra é visceral, violentíssimo e tem em Hanshiro um protagonista perfeito para a condução de seu drama, tornando esse trabalho inglório em uma história rica, mesmo que o foco seja em momentos de descrédito e mácula.
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