Resenha | Tomb Raider e Witchblade (1 e 2)
Poucas coisas são tão odiosas para um leitor de quadrinhos vanguardista do que crossovers. Algo que também incomoda muito esta mesma “instituição”, é a adaptação a partir de personagens de vídeo games. E para o leitor mais cascudo, os espécimes da Image Comics são dignos de ódio e reprimenda. Juntando esses três fatores e acrescentando a arte e roteiro acumulados em cima de Michael Turner, fazendo às vezes de Jim Lee, surgiria Tomb Raider e Witchblade, publicada em dezembro de 1997.
Havia dois números, o primeiro encontro denominou-se Vendetta, e começaria com um relatório policial de Sara Pezzini (alter-ego de Witchblade), mas mostra primeiro Lara Croft em ação, em trajes sumários, mostrando agressivamente as suas sensuais curvas, já preconizando que a história primaria pelo visual – justo, uma vez que ambas personagens são símbolos sexuais. No entanto, esse parece ser o único ponto destacável nos quadrinhos. Lara se enfia numa perseguição a uma criatura monstruosa, que atravessa a cidade de Nova Iorque, e logo é parada pela detetive Sara Pezzini.
O caso que levou a arqueóloga até aquele ponto é genérico, e envolve uma estreita relação com o sobrenatural – lugar comum nas histórias da heroína da Imagem Comics. Mas a ação é mal construída, parece feita somente para Turner desenhar enfoques em peitos enormes e flagrar as protagonistas apontando suas derrières para a lua. O velho Scarponi, vilão vencido pela dupla de mulheres e que se transformava em uma imitação do Alien, de Hans Ruegi Giger e Carlo Rambbaldi, sobrevivera, apesar de vencido. A edição ainda contava com uma demonstração da extinta Ação Games sobre o jogo Tomb Raider 3, que deveria ser bem mais valiosa do que a história em si.
O segundo encontro começa polêmico, com um recordatório da detetive de NYPD fazendo uma declaração um tanto “voluptuosa” em relação a Lara Croft, dizendo que seu estilo James Bond de ser é atrativo. O argumento desta vez é de Turner e Bill O’Neil, mas mesmo com o acréscimo de mais um escritor o foco nos decotes generosos mudou. Ao menos o vilão desta história é melhor apresentado, não à toa, o algoz é uma mulher, a grande ladra (grisalha, mas gostosa) Genvieve Lecavaler, que tem uma rixa pessoal com Lara, quando a vilã decidiu roubar um ídolo felino pertencente a musa dos vídeo games.
O roteiro está tão em segundo plano que praticamente dá para se entender tudo somente analisando as figuras. Quase toda a interação entre as heroínas é homo-afetiva e por meio de pin-ups de cunho sexual, as expressões de quando elas estão atreladas uma a outra é semelhante a intimidade de uma relação de cunho lésbico, feita para atingir os fetiches de fãs de quadrinhos e games.
Logo, o plano da grisalha vilã é mostrada, liberando do além Bastet, uma egípcia em trajes sumários, que já teria enfrentado Lara Croft antes. Sua figura reforça o caráter fetichista da publicação, que tenta vender a ideia de que todas as mulheres são malhadas e fazem de seus corpos motivo para qualquer exibição de cunho erótico, geralmente de alto grau. A história denominada O Segundo Encontro é datada de julho de 2000, e termina com um gancho para uma possível nova aventura, coisa que certamente não deve ter enchido o público de muitas expectativas, visto o quão ordinárias e genéricas foram estas duas aventuras do saudoso Michael Turner.