Crítica | Playdurizm
A relação entre fã e ídolo gera alta quantidade de fantasias, até mesmo em histórias de ficção. Playdurizm é um filme tcheco baseado nessa ideia de idolatria e fantasia. Narrando a história de Demir (vivido pelo diretor, Gem Deger), a trama apresenta um rapaz jovem, de orientação sexual LGBT, que passa seus dias vendo filmes de ação de qualidade discutível. Em um desses dias, ao acordar, percebe-se em uma realidade alternativa, dentro de um desses filmes que gosta. Passa, então, a interagir com Andrew (Austin Chunn), um ator de ação bastante canastra e seu ídolo nas telas.
Demir estranha um pouco o lugar onde acorda, mesmo que esteja familiarizado com os cenários super coloridos que o cercam e com a lisergia luxuriosa das obras cinematográficas. Afinal, há uma diferença grande entre o que se assiste, em um cenário idealizado, e o que se vive. Como o personagem sempre demonstrou estar cansado da vida, essa alternativa parece tudo que sempre sonhou.
Como diretor Deger faz escolhas não óbvias e bem vindas. Dribla a violência de maneira criativa, mostra o gore após algum momento de não consciência, oriundo de quedas, desmaios e outros eventos típicos de pessoas com algum nível de demência. Considerando que tudo pode ser apenas um sonho, é natural que seja assim. A transição para a sanguinolência mais direta soa natural, a evolução é bem feita e apresentada de maneira curiosa.
Essa é uma história de desajustados, de loucos com hábitos estranhos, que tem como animais de estimação bichos típicos de outras cidades – uma das pessoas tem um porco de estimação, mesmo morando em um apartamento. Então, estados alterados da mente influenciando em atos mundanos não é algo a se estranhar. Afinal, nada aqui parece ser de fato real.
A trilha sonora é cheia de sons agudos, lembra os instrumentos sintéticos utilizados nos filmes slasher dos anos 80, especialmente Halloween ou suas imitações. A música embala bem esse mundo de relações proibidas, ajudando a tornar natural a mistura entre desejos reprimidos, sonhos molhados, fantasias não cumpridas e confusão mental decorrente de toda essa trama. Demir é um misto do adolescente comum com o heróis de filmes XXX que conseguem fazer o que querem. E isso torna Playdurizm um terrir sexual curiosíssimo, para além do vínculo com os gêneros identitários. É divertido e descompromissado, escapista, trata pessoas que seriam normalmente excluídas como um grupo real.