Resenha | John Constantine, Hellblazer – Infernal Vol. 8: O Filho do Homem
Último volume apresentando a passagem de Garth Ennis pelo título de John Constantine, Hellblazer: Infernal – Vol 8 traz o irreverente e assustador arco de histórias O Filho do Homem. Ennis assumiu o roteiro de Hellblazer no número 41, com o excelente arco Hábitos Perigosos, escrevendo até o número 83 e voltando, em 1998, para esse último arco entre as edições 129 e 133. Existe uma diferença bastante clara entre o estilo narrativo de O Filho do Homem e seus outros textos, que é a quebra da quarta parede. Constantine frequentemente interrompe o que está fazendo para olhar diretamente para o leitor e narrar a história, não com recordatórios, mas com balões de fala. Isso pode soar estranho para alguns leitores – afinal, ele não é o Deadpool! – mas não atrapalha a história, e dá um tom bastante sarcástico em alguns momentos.
A história começa com Chas, o amigo taxista de John, se envolvendo por acaso com um assassinato. Devido a um equívoco, Chas foi confundido com o motorista de fuga de um crime e acabou cúmplice de um gângster por acidente, e ao fugir da polícia, o bandido é baleado e morto dentro de seu carro. Ele procura abrigo no apartamento de Constantine, que o ajuda a se livrar do carro e do corpo, mas descobre que o criminoso envolvido faz parte de seu passado.
Em uma sequência de flashbacks, descobrimos a relação de John com o chefão do crime Harry Cooper. O criminoso foi responsável pela saída de Constantine do hospício de Ravenscar, pedindo a ele um “favor”: trazer seu filho de oito anos de volta à vida! Chantageado para poupar as vidas de sua irmã e sobrinha, John reúne seu grupo de amigos (mortos em edições passadas, mas importantes nos flashbacks e muito bem representados!) para resolver a situação do único jeito que ele sabe: com trapaça! A equipe sacana trabalha num esquema (também enganados por John, obviamente) que traria um demônio diretamente do inferno para habitar o corpo inanimado do garoto. O demônio deveria, supostamente, servir a Constantine, porém essa servidão tinha um prazo de validade que John não contou aos seus companheiros.
Doze anos depois desses acontecimentos, o demônio (não mais sob o poder de Constantine) continua no corpo do garoto, que não envelheceu um ano sequer e domina o submundo do crime. Além disso, tem um plano diabólico de trazer o anticristo ao mundo. Como uma paródia da virginal concepção de Jesus, o anticristo milagrosamente nasceria do ventre de um homem: o chefão Harry Cooper. Com um desfecho bizarro e assustador, a história toma um rumo bastante inesperado, com John tendo que tomar uma atitude drástica e até mesmo cruel, embora acertada dentro deste cenário.
Ennis trabalha de forma ao mesmo tempo grotesca e divertida esses temas, e parece muito à vontade ao satirizar elementos da fé cristã. As tramas paralelas também são muito interessantes, como o caso que Constantine acaba tendo com uma garota lésbica – que garante umas boas risadas ao leitor – ou a forma como o demônio manipula um prostíbulo para manter sua juventude. A arte de John Higgins é acertada, longe dos exageros e experimentações das edições anteriores, e garante a atmosfera necessária para a trama. A narrativa de horror nunca esteve tão afiada, e o volume encerra a série Infernal brilhantemente.