Resenha | Superman: Para o Homem Que Tem tudo
A Crise das Infinitas Terras se aproximava, e alguns heróis passavam a contar algumas de suas “últimas histórias”. Em Janeiro de 1985 Alan Moore e Dave Gibbons seriam responsáveis por uma destas histórias do Azulão.
Para o Homem que tem tudo começa em Kandor – cidade kryptoniana engarrafada por Brainiac -, em uma festa surpresa para Kal-El. As crianças presentes vêem o seriado de Asa Noturna e Pássaro Flamejante. Enquanto isso, no Pólo Norte, os amigos do herói azulado – Batman, Mulher Maravilha e Robin – chegam para comemorar seu aniversário. A ideia de uma festinha com mascarados é pueril e é um resquício da infantilidade das historias da época, em contraponto com os temas abordados por Moore. O Batman recalca Jason Todd, que observa a Mulher Maravilha em trajes sumários, o proibindo de ter pensamentos impuros – piadas com a sexualidade do menino prodígio era uma prática comum.
Ao se depararem com Superman os vigilantes percebem que ele está preso num simulacro, em uma realidade própria. Seu devaneio passa por estar em seu planeta natal – que não fora destruído – e com uma família, com esposa e filhos. Seu pai Jor-El caiu em desgraça após a sua profecia apocalíptica não ter se cumprido, no entanto a sociedade kryptoniana está em franco declínio.
A ilusão é causada por uma planta alienígena chamada Clemência Negra, que daria ao seu portador tudo o que ele deseja. O artefato é um presente de Mongul, um antagonista do Super criado em 1980 por Len Wein e Jim Starlin (também criador de Thanos). O vilão pelas mãos de Gibbons é cruel e tem um traço visualmente intimidador. Seu plano maquiavélico põe a responsabilidade em sair da ilusão ao herói. Só o Superman pode escolher sair de seu “paraíso perdido” e salvar seus companheiros, a mercê do poderoso brutamonte amarelo.
A situação e o caos político que atravessam Krypton é a forma do inconsciente do herói dizer que algo está errado com ele e com o que ele está vivenciando. O plano de Mongul era subjugar o Superman emocionalmente, com a recusa de seus desejos, uma dor muito mais profunda que qualquer acerto de contas físico.
A batalha entre Superman e Mongul é homérica e de proporções titânicas. O embate faz perguntar por que este vilão não poderia ser utilizado em um filme do Azulão, ao invés de repetir as fórmulas de Lex Luthor ou “trios da Zona Fantasma”. A descrição de como seria o sonho de Mongul influenciado pela Clemência Negra é cruel, e com direito a incineração de Jason Todd e decapitação e empalamento do escoteiro, além da submissão de povos alienígenas ao Mundo Bélico. Para O Homem que tem tudo é uma das histórias clássicas do Super-Homem, não só por mostrar como seria sua vida caso não tivesse pousado no Kansas, mas também para reforçar seu caráter de auto-sacrifício, além de resgatar a sua aura de salvador, provando que, ao menos em seu universo, o mundo precisa sim de um Super-Homem.