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  • Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis

    Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis

    o exterminador do futuro - genesis

    Reiniciando a saga, pensada após o abandono de James Cameron a sua obra mais notória, O Exterminador do Futuro: Gênesis se baseia no que deu certo antes, resgatando nostalgicamente o futuro negro onde habitavam John Connor e Kyle Reese, claro, repaginando absolutamente tudo. Os novos intérpretes da dupla são Jason Clarke, como o pretenso salvador do lado humano da guerra, contracenando Jai Courtney, que faz Michael Bien, ainda que não seja tão deslocado quanto o primeiro Reese.

    A narração feita por Courtney serve de alerta para qualquer desavisado: o universo da franquia foi de novo modificado. Um longo tempo é gasto mostrando o modo de operar da resistência, nos anos de escravidão dos humanos. A tomada de poder por parte dos homens é apresentada em detalhes, incrivelmente bem realizados, em termos de cenas de ação, por Alan Taylor, que consegue não reprisar de modo tão tosco os erros de seu Thor: O Mundo Sombrio.

    A problemática do roteiro de Laeta Kalogridis e Patrick Lussier se nota essencialmente quando a trama passa a ocorrer pelos idos de 1984, época do primeiro O Exterminador do Futuro. A ação frenética invade a tela, inclusive fazendo referência ao vilão de O Exterminador do Futuro: O Julgamento Final, mostrando que as linhas temporais estão todas misturadas, fazendo mais uma bagunça com os personagens pensados por Cameron e Gale Anne Hurd.

    A miscelânea de citações inclui desde o terceiro episódio da franquia até os ditos do malfadado seriado The Sarah Connor Chronicles, inclusive com uma cena idêntica a do piloto do seriado, envolvendo uma das muitas viagens temporais do filme, artigo este que se torna banal, de tão comum.

    A apresentação de Arnold Schwarzenegger é interessante, mesmo com a quantidade de clichês que ele profere, repetindo inúmeras vezes a frase de que é apenas “velho, não obsoleto”. Pelo fato de ser um filme de ação, as frases de efeito não são um incômodo, se tornando irrelevantes graças à premissa empolgante, com outras tantas cenas de ação bem orquestradas.

    Há certo subtexto inteligente, além da discussão sobre a necessidade do homem em estar conectado o tempo inteiro – especialmente pela evolução que a Ciberdyne e o método de controle Genesys, um conceito novo na franquia, mas antigo desde os cyberpunks de Gibson. Outro aspecto positivo é a tentativa de multifacetar o Exterminador de Arnold, chamado por Sarah carinhosamente de “Papi”. Mas o entorno não corrobora na mesma qualidade, nem por parte da famosa Emilia Clarke, que exala sensualidade mas carece de talento dramatúrgico.

    O aspecto mais digno de críticas é o fato das viagens no tempo se tornarem comuns, defeito copiado do seriado. Ao final, o reboot se assemelha a um retcon tosco, especialmente na virada que sofre o personagem de Jason Clarke, já tratado como vilão nos trailers, pôsteres e materiais promocionais do filme. Qualquer efeito surpresa e expectativa positiva são encerrados neste ponto. A quantidade exorbitante de coincidências faz inclusive Arnold parecer deslocado em pedaços da trama.

    Apesar do belo grafismo apresentado na fita, há sérios problemas de lógica no argumento final, como o lançamento de T800 com máquinas tão melhores disponíveis, curiosamente reprisando os erros de O Exterminador do Futuro: A Salvação. No final da epopeia, fica o lamento pelas recaídas nos mesmos clichês, além da enfadonha questão de repetir o gancho para novas continuações – previstas até então para se ter mais dois filmes. A direção de Taylor não compromete o produto final, mas também pouco acrescenta, graças a um roteiro atrapalhado. Ao menos, no quesito diversão, a franquia retorna aos bons tempos. Ainda que não seja nada semelhante ao brilhantismo da fase de James Cameron como diretor.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final

    Crítica | O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final

    O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final

    Em geral, as sequências de grandes filmes de ação ou ficção tentam ser maiores e mais espetaculares que o original. Normalmente, isso acaba gerando filmes que, se não são completos desastres, em nenhum momento conseguem se aproximar do original. O espetacular O Exterminador do Futuro 2 é uma das exceções à regra. Orçada em estimados 105 milhões de dólares (filme mais caro da história até True Lies, coincidentemente também dirigido por James Cameron e estrelado por Arnold Schwarzenegger), contra o orçamento de 6,5 milhões de Exterminador do Futuro, a fita consegue unir perfeitamente uma boa história, interpretações inspiradas e efeitos especiais que, mesmo após 24 anos de seu lançamento, mantêm-se atuais e críveis.

    Na trama do filme, a Skynet envia o T-1000, um modelo avançado de exterminador ao ano de 1995 para eliminar John Connor, o líder da resistência humana contra as máquinas no ano de 2029, então com 10 anos. Porém, os humanos conseguem enviar um T-800 reprogramado para protegê-lo. Ainda que pareça simples, a trama vai se desdobrando à medida que o T-800, John Connor e Sarah Connor vão tentando desesperadamente fugir do assassino de metal líquido ao mesmo tempo que partem para impedir o “Dia do Julgamento” e reescrever o futuro.

    O diretor James Cameron mostra sua melhor forma, filmando grandes sequências de ação ao mesmo tempo que vai desenvolvendo bem a trama e as relações entre o trio de protagonistas. É interessante perceber como o filme é montado em pequenos arcos, com cada cena de ação sendo bem preparada antes de ocorrer. O ritmo inicial é alucinante e vai em um crescendo até que o diretor pisa bruscamente no freio para depois ir acelerando até o final da película. O trabalho técnico é irrepreensível. Com o orçamento turbinado pela Pepsi, que em troca do dinheiro investido teve uma exposição monstruosa de seus produtos ao longo do filme, a produção contratou a Industrial Light and Magic para cuidar dos efeitos visuais, o que resultou em um trabalho que não envelheceu nada desde 1991. Ainda que faça grande uso dos efeitos gerados por computador, os efeitos práticos não foram abolidos e foram idealizados por Stan Winston e sua empresa. O falecido mago da maquiagem e sua equipe possivelmente entregaram seu melhor trabalho de todos os tempos, trabalho esse que foi devidamente reconhecido com um Oscar, assim como os efeitos visuais.

    Há também uma mudança de tom em relação ao original. Enquanto o primeiro filme é praticamente todo passado à noite e possui uma fotografia bem escura, provavelmente para esconder as limitações referentes ao orçamento e a outras eventuais falhas, O Exterminador do Futuro 2 é um filme bastante “iluminado”, com grandes sequências ocorrendo durante o dia, principalmente no início da fita, e mesmo quando passa para locais fechados, em nenhum momento assume um tom dark. Podemos inclusive associar essa mudança de tom ao fato da diferença de objetivos de cada filme. Se no primeiro o futuro se pronunciava implacável e imutável, só restando a Sarah Connor sobreviver, nesse segundo surge a possibilidade de alterar e reescrever o futuro, aniquilando a existência da Skynet ainda nos primórdios de seu desenvolvimento.

    O roteiro de William Wisher e do próprio Cameron é bem escrito e acaba por estabelecer algumas discussões profundas, como a relação paterna que acaba surgindo entre o T-800 e John Connor. Nesse âmbito, cabe ressaltar as atuações de Arnold Schwarzenegger e Edward Furlong. O primeiro, ciente das suas limitações dramáticas, usa isso a seu favor e acaba entregando uma excelente interpretação para o papel que nasceu para fazer, pois o ator literalmente se torna uma máquina que vai evoluindo aos poucos para se tornar mais humano. Já o segundo consegue cativar a plateia com sua interpretação para um garoto longe de ser prodígio, mas que é muito inteligente e safo. Linda Hamilton cria com competência uma Sarah Connor amargurada e paranoica que passou anos preparando seu filho para se tornar o líder da resistência. Uma mãe superprotetora, mas que acaba se tornando muito mais um general do que uma figura materna, ainda que preserve resquícios de ternura.  Já Robert Patrick, o T-1000, se estabelece como uma presença constante e um perseguidor implacável, ainda que não tenha o carisma de Arnold quando interpretou a máquina assassina do primeiro filme.

    Clássico instantâneo, assim como a primeira parte, O Exterminador do Futuro 2 é um filme que, apesar de ter sido lançado há quase 25 anos, mantém-se atemporal e eletrizante, mesmo que seja visto pela milésima vez.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro

    Crítica | O Exterminador do Futuro

    Lançado no longínquo ano de 1984, O Exterminador do Futuro utiliza uma fórmula simples, mas muito bem executada, para fazer transcorrer a narrativa: um assassino está caçando sua vítima. Na trama, Sarah Connor (Linda Hammilton), uma garçonete comum, é duplamente perseguida por um homem (Michael Biehn) e um ciborgue assassino do futuro (Arnold Schwarzenegger).

    A abertura deixa mais ganchos do que respostas sobre o que estamos vendo naquela Los Angeles do futuro. O filme já começa apresentando o vilão, e logo em seguida o herói. Há pouquíssimos espaços vazios entre uma cena ou outra, e sequer vemos passar as quase duas horas de duração com alguma cena monótona.

    O trunfo do roteiro do diretor James Cameron ao aplicar nessa mesma fórmula de assassino à solta e um escopo de viagem no tempo é dar poucas explicações sobre que ocorre no futuro, mostrando migalhas em boas elipses entre algumas cenas. Tudo para exatamente manter o foco de que manter Sarah viva no passado é muito mais importante do que saber o que aquele futuro traz.

    Acompanhamos no início do filme três núcleos de personagens que vão se encontrar futuramente. Existem detalhes narrativos para contextualizar onde cada peça se encaixa no roteiro. A sensação de terror que o Ciborgue poderia nos trazer é em parte arranhada pelo sotaque carregado do Schwarzenegger, mas que compensa muito bem intimidando fisicamente, com a câmera fazendo questão de mostrar que o vilão é infinitamente superior ao herói, como deve ser.  Talvez o elemento que mais tire a tensão a todo o momento é a trilha sonora sintetizada, que parece ter sido feita toda em MIDI.

    Sarah se passa por vítima, como qualquer pessoa comum se sentiria ao ser caçada, mas conforme Kyle vai contando sobre o futuro, e dando seu parecer sobre o que ela representa, existe um crescimento na construção da personagem, que passa a lutar pela própria sobrevivência e a do seu filho prometido, que algum dia irá salvar a humanidade. Linda Hammilton consegue encarnar as duas facetas naturalmente, fazendo de fato parecer que houve ali uma tomada de decisão para a mudança quando tudo parece já estar acabado.

    É realmente intimidadora a forma como o ciborgue, já sem sua carapaça humana, é apresentado. O alto número de cenas de ação também serve para justificar a degradação do seu corpo, para finalmente, na cena final, ressurgir das chamas para matar. E, a despeito de o vermos muito pouco, é o suficiente pelo filme inteiro.

    Apesar de já ter visto mais de uma vez o segundo filme da franquia, nunca havia assistido o primeiro. Tal qual um Exterminador, voltei no tempo hoje e vi pela primeira vez o início de uma das franquias mais populares de ficção científica que pouco envelheceu em qualidade, e ainda nos traz um belo registro visual do que eram as roupas e penteados nos EUA dos anos 1980, que certamente deixam saudade.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Mad Max: Estrada da Fúria

    Crítica | Mad Max: Estrada da Fúria

    Tomando como base uma ordem mundial diferenciada, pautada no exacerbo do capitalismo e exibindo uma face ainda mais selvagem dos escritos de Marx e Engels, Mad Max: Estrada da Fúria resgata o cinema de George Miller, refundando a franquia que o fez famoso, renovando-a para uma nova geração de aficionados, mas sem ignorar os fanáticos pela antiga trilogia.

    A primeira cena inicia-se com um discurso inflamado de Max Rockatansky (Tom Hardy), lembrando-se de sua condição de cavaleiro solitário, como na outra encarnação de Mel Gibson, intensificada ainda por um trauma que proporciona a si um fantasma, seu tormento, recaindo sobre sua cabeça como uma cachoeira que lava seus pensamentos, inundando sua mente de culpas. A adrenalina destas sensações ataca-o de modo irônico, deixando-o mais uma vez desatento, a ponto de ser capturado, ficando uma boa parte dos primeiros momentos sem sequer ser citado.

    Miller mostra um novo fôlego em sua direção, se distanciando do que fizera na franquia Happy Feet: O Pinguim, apresentando o universo que estreou em 1979 no primeiro capítulo, e fundamentado em 1982 com A Caçada Continua, acrescendo, claro, a estética videoclíptica, não deixando dever nada à direção de realizadores “massavéio”, mas abordando de modo adulto a fita. As cenas de ação têm uma continuidade em estrada impressionante, não devendo em nada tanto aos recentes À Prova de Morte de Quentin Tarantino, quanto a Bullit. As cenas e câmera retrasada têm muito mais significado que os takes adorados por Zack Snyder, remontando a influência de Sam Peckinpah, tanto no ritmo quanto na visceralidade dos momentos violentos do filme.

    A abordagem lembra a de um road movie, por apresentar cenas titânicas– e em sequência – sobre quatro ou duas rodas, em terrenos arenosos, relembrando o eco da predação humana em relação ao seu próprio habitat. As conclusões e reflexões estão espalhadas pelos cenários, e servem a uma análise mais profunda por parte do público, que ainda tem uma miscelânea de sequências interessantíssimas, incrivelmente agressivas, mas sem tanta profusão de sangue ou gore.

    Outro aspecto interessante é a ausência de verborragia, fazendo do roteiro algo sucinto em matéria de falas. Estrada da Fúria é um filme essencialmente visual, seja pelas planícies belas, pelas falésias ou pelo visual grotesco dos antagonistas. O fetiche, tanto das personagens belas, como das parideiras que sofrem a ação de um déspota tirânico trazendo o sex appeal para uma figura grávida, contrasta com a beleza quase infinita de Charlize Theron, que mesmo masculinizada em sua Imperator Furiosa, consegue arrancar um misto de força e sensualidade, concentrando em si quase todo o conteúdo homoafetivo de todos os episódios da cinessérie, sem ter nada de caricatural. A riqueza dos personagens periféricos consegue compensar – mais uma vez – o fato de Max ser um coadjuvante de luxo, na fita.

    A trajetória de Rockatansky é mais uma vez de subida, passando da eterna solidão para a solidariedade capaz de gerar nele um complexo suicida. Max prossegue um pária, possivelmente por ainda não ter superado a perda dos seus no filme setentista, algo agravado, é claro, pelos espectros que o perseguem. O deslocamento dele é notado a todo momento, mesmo quando encontra sobreviventes, pessoas que estariam próximas de sua condição singular, inclusive quando os aventureiros retornam ao lugar onde foram oprimidos.

    A solução final abarca uma mensagem de compartilhamento, que, em análises mais conservadoras, pode ser associada à mensagem de Jesus, que exigia a divisão de riquezas dos que pediam para segui-lo, assim como também abraça uma prática mais socialista, acenando até para alegorias ao texto de Gene Rondenberry na franquia Star Trek. Miller apresenta um blockbuster maduro, inteligente, cuja trilha sonora e edição de som são absurdas e acrescentam demais à trama, ajudando a construir a atmosfera de pavor e enigma. Estrada da Fúria possivelmente abrirá uma sangria com novos rumos para a franquia, apresentando um mundo rico, cujas aventuras e desventuras têm tudo para captar a atenção de espectadores pelo mundo inteiro, e com um protagonista que não deixa nada a desejar à abordagem que Gibson havia inaugurado.

    Ouça nosso podcast sobre a série Mad Max.

  • Crítica | Mad Max

    Crítica | Mad Max

    Mad Max - Poster

    Mad Max tem possivelmente duas das cenas que mais me marcaram em toda a minha vida. Ficou gravada em minha mente a primeira sequência em que o maluco que se auto intitula Nightrider parte em uma louca escapada pelas rodovias australianas berrando seu próprio nome e provocando o caos. Seu olhar de insanidade é substituído por um de pavor quando o bandido avista o Interceptor pilotado pelo policial Max Rockatansky no seu encalço. É simplesmente sensacional toda a sequência que culmina em um espetacular acidente com um trailer que pertencia ao próprio diretor George Miller. A outra sequência marcante ocorre quando a gangue à qual Nightrider pertencia mata a esposa e o filho de Max. Após uma longa sequência de tortura psicológica, a mulher escapa do cativeiro com a criança e uma amiga idosa. Porém, a fuga acaba frustrada quando o carro deles quebra e ela foge com a criança nos braços. Enquanto ela corre, os motoqueiros avançam alucinadamente em seu encalço. Um rápido corte, e a morte dos dois fica somente representada pelo sapatinho da criança e um brinquedinho caindo no asfalto.

    A trama estabelecida pelo diretor/roteirista George Miller em conjunto com Byron Kennedy mostra um distópico e pós-apocalíptico futuro em que combustível é o principal estopim para disputas e crimes. O policial “Mad” Max Rockatansky patrulha as estradas combatendo implacavelmente os criminosos. Porém, ao acabar com a vida de Nightrider durante uma perseguição, acaba vendo seu mundo ruir ao passo que os companheiros do criminoso empreendem vingança contra sua família e amigos.

    George Miller, a despeito de todas as restrições orçamentárias, se esmerou em fazer algo memorável. As sequências de perseguição são incrivelmente bem orquestradas, com tomadas bem ousadas para a época. Talvez por serem mais cruas e não usarem nenhum tipo de efeito especial, elas acabam sendo muito mais vertiginosas do que as de qualquer filme sobre carros lançado recentemente (saga Velozes e Furiosos, eu estou falando com você). Mais interessante ainda de reparar é o excelente uso que o diretor faz das paisagens da Austrália. A aridez e o calor expressos na tela só tornam os eventos apresentados na tela ainda mais chocantes para o espectador.

    O diretor e o corroteirista Byron Kennedy criaram um roteiro bem amarrado e coerente, que flui naturalmente retratando toda a trama de vingança que se inicia com a morte de Nightrider e que muda de foco com o assassinato da família de Mad Max. Além do mais, conseguem estruturar bem os personagens centrais da trama, mesmo os membros da gangue de Nightrider que têm suas motivações muito bem delineadas, ainda que simples. Max poderia ser um simples herói unidimensional tal e qual vários outros da história do cinema, mas, favorecido pela sensacional atuação de um jovem Mel Gibson e pela idealização dos roteiristas, acabou se tornando um personagem cativante e, mais importante, marcante. Os vilões Johnny “The Boy” e Toecutter, interpretados respectivamente pelos desconhecidos Tim Burns e Hugh Keays-Byrne (que estará em Mad Max: Estrada da Fúria como Immortan Joe) também tem um ótimo desempenho em cena. Já Joanne Samuel, a esposa de Max, atua em um nível muito abaixo do restante.

    Talvez o grande ponto dissonante em todo o filme seja a trilha sonora, que em nenhum momento empolga ou magnifica o que acontece em tela. Porém, o conjunto figurino/fotografia/sequências de ação/bons personagens acaba suprindo esse defeito, e a música mal faz falta durante a duração da fita. Creio que George Miller não esperava, mas o diretor acabou criando uma obra-prima que entrou para a história do cinema e até hoje serve como referência para novas obras do gênero.

    Ouça nosso podcast sobre Mad Max.

  • Crítica | A Última Esperança da Terra

    Crítica | A Última Esperança da Terra

    the omega man

    A temática do fim do mundo foi explorada em inúmeras oportunidades. Dentre estas, a que talvez seja a mais notória em questão de influência, especialmente no meio do público que consome ficção científica e seus derivados, seja o romance de Richard Matheson, Eu sou a Lenda, que teria influído até no imaginário de infestação zumbi reinventado por George A. Romero em seu A Noite dos Mortos-Vivos. Até por seu repertório como roteirista, era natural que o texto de Matheson fosse explorado pelo cinema, também por seu potencial midiático. Uma destas versões seria protagonizada pelo herói de ação da época (1971), Sir Charlton Heston, em A Última Esperança da Terra.

    Logo no início o espectador é apresentado à temática da história, uma aparente tranquilidade com uma dose de violência pouco elevada. Até pelas já citadas influências que Eu Sou a Lenda deixaria na cultura pop, passou a ser comum associar a espécie que teve seu apogeu na trama como zumbis. No entanto, o diretor Boris Sagal deixa ainda mais evidente nesta versão – especialmente quando comparada com a mais recente interpretação – que os mortos-andantes são, na verdade, vampiros. Mesmo assim é curioso como o mundo arquitetado pela direção de arte guarda muitas semelhanças com o filão de filmes com mortos-vivos. Os ambientes áridos, cidades abandonadas, figurinos de personagens maltrapilhos, qualquer ponto que remeta ao pós-apocalipse acaba lembrando o que Romero havia feito em 1968, mas de modo evoluído, mais amplo, em um espaço urbano, cuja iconografia visual seguiria o influxo até em Despertar dos MortosThe Walking Dead, e até um pouco de Mad Max.

    O protagonista do filme, o sobrevivente Robert Neville é canastra ao máximo, cheio de frases feitas e piadinhas infames, contém em si todos os clichês cinematográficos que se tornaram moda entre os action heroes. Este A Última Esperança da Terra exala um forte cheiro de filme B, em determinados pontos da trama é quase uma comédia. Figurinos destoantes e cafonas, maquiagens toscas, personagens estereotipados, crianças que falam como adultos, tudo isso torna o filme bastante datado, o que exige de quem vê uma porção considerável de paciência.

    Heston faz Neville, aparentemente o único sobrevivente de uma praga que transformou a humanidade em seres albinos, que tem vulnerabilidade a luz. A “doença” ocorreu devido a uma guerra bacteriológica, protagonizada pelas duas potencias mundiais da época: EUA e URSS. As pessoas portadoras desta doença tornam-se uma comunidade, e recusam qualquer tentativa de “cura”, perseguem Neville como se ele fosse o monstro – até porque ele tirou a vida de muitos membros desta “Família”.

    A Nova Raça tenta realizar uma super correção, refutando tudo que é moderno: a ciência, tecnologia, armamentos, para viver em condições semi medievais – essa é a intenção do roteiro, ainda que falhe em muitos aspectos. O curioso é que o papel de Charlton Heston é semelhante a outro de seus mais famosos personagens. Dave, de Planeta dos Macacos, assim como Neville está diante de outra classe dominante, sozinho contra uma sociedade inteira. Na visão da “Família”, o morto é Neville, assim como Dave era o involuído para os símios.

    O grande pecado da fita é que em quase momento nenhum se teme pelo futuro dos personagens, ainda que os seus tristes destinos sejam iminentes. Os sobreviventes vivem num mundo pós-apocalíptico, mas o seu status quo parece não ter mudado praticamente nada. O pânico que deveria estar instaurado é nulo, inexiste e o desfecho é anticlimático, já que o fim do herói é pouco significativo. A cena acaba sendo mal executada, talvez se o orçamento fosse um pouco maior, poderia ter havido um maior esmero em concluir a película.

    Até em virtude do pouco investimento e da decadência de Heston como astro do cinema, o filme de Boris Sagal torna-se essencial, uma vez que em suas devidas proporções, foi um divisor de águas dentro do seu universo temático, além, é claro, de ter em seu subtexto uma mensagem relevante e atual.

  • Crítica | Divergente

    Crítica | Divergente

    divergente

    Que o cinema é uma arte, institucionalizada como tal, todos sabemos. Mas nenhuma falácia nos ocorre em considerá-lo uma indústria, principalmente depois da vinda de Tubarão às grandes telas, com o desenvolvimento do conceito de blockbuster e a ganância crescente de produtores e produtoras hollywoodianas que se agarram a ideias com maior possibilidade de lucro imediato e duradouro, ou seja, que gerem remessas agora e possam continuar gerando, sejam em sequências e mais sequências, remakes ou reboots. O que esse Fordismo cinematográfico tem nos trazido é uma homogeneização do que é visto em tela. E isso já aconteceu com o gênero do horror e seus grupos de jovens sendo atacados por assassinos ou forças sobrenaturais; na comédia, com a padronização das paródias e, depois, por meio dos filmes discípulos de Se Beber, Não Case!; entre tantos outros gêneros.

    Mas agora o que temos é uma pujança de abarcar todos esses “estilos” de forma pasteurizada, e de modo a atingir o público que mais vai aos cinemas na atualidade: o infanto-juvenil. O filão das adaptações de sucessos literários, dentre esses novos consumidores da sétima arte, surgiu como uma Estrela de Belém para Hollywood. Harry Potter foi o grande carro-chefe em anos, mas o público “teen”, leitores cada vez mais assíduos de obras voltadas à sua faixa etária e que exalavam seus conflitos e olhares sobre um amanhã deturpado, implorou por mais. E foi assim que Stephenie Meyer surgiu no mundo literário, preenchendo as livrarias com quatro obras (e depois mais e mais…) que seriam levadas às telas em cinco filmes, todos sucessos de público, mas nem um pouco de crítica.

    Mais competente e complexa em sua literatura, Suzanne Collins apresenta a distopia de Jogos Vorazes ao mundo e, após o sino de “sucesso estrondoso” ecoar em todos os continentes, a obra foi também levada aos cinemas, sendo recebida com certo louvor, tanto por parte de público quanto por parte de crítica. Daí para frente, a Unilever imaginária dos estúdios adquiriu o direito de todas as obras voltadas para adolescentes e pré-jovens, e passou a saltear, trimestralmente, novas tentativas de fidelização deste público com mais marcas que, no fim, representam o mesmo elemento das anteriores, e por vezes são até de mesma origem. Dove, Seda, Palmolive? A Hospedeira, Instrumentos Mortais: Cidade dos OssosDezesseis Luas e afins? É possível até ver os diretores de todas elas fazendo download da fórmula Meyer-Collins e dando seus sutis “toques de originalidade” em busca de alcançar a mesma popularidade dos produtos padrão. Bem… Mas como nos exemplos citados, nem sempre isso é possível.

    Veronica Roth é a autora de mais uma história embasada em distopias, dando origem a Divergente. Na narrativa, uma guerra devastou o mundo que conhecemos. Em tela vemos Chicago com visual pós-apocalíptico e a tradicional fotografia acinzentada e suja que realça a degradação de várias paisagens, como prédios e antigos estabelecimentos comerciais. Alwin H. Küchler traz também as cores terrosas de seu trabalho em Hanna, contrastando com um branco intenso que emana em momentos específicos do início do filme, para a ambientação da cidade de Divergente. É nela onde vemos a sociedade dividida em cinco facções, nomeadas de acordo com virtudes e representando funções sociais diferentes: Abnegação, Amizade, Audácia, Erudição e Franqueza. Aos 16 anos, os adolescentes nascidos em cada uma dessas macro associações devem escolher continuar em suas comunidades ou migrarem para outras facções. Tris (Shailene Woodley, indicada ao Globo de Ouro por Os Descendentes), de uma das famílias mais tradicionais de Abnegação, descobre em um teste que possui as características de todas as facções, sendo assim apontada como uma Divergente, espécie rara e perseguida pelas demais. Mesmo assim, decide alistar-se a Audácia, facção responsável pela defesa da cidade. É no doloroso processo de deixar seu corpo fraco (abnegado) e desenvolver sua práxis ativa (audaciosa) para fazer parte de sua nova facção, e esconder as perigosas virtudes de ser uma divergente, que o filme se desenrola, até o último fator se tornar impossível.

    O roteiro não traz surpresas para quem já está calejado neste tipo de adaptação, ou ao menos assistiu a Jogos Vorazes. O desenvolvimento da protagonista obedece a uma gradação claramente perceptível e deveras previsível. Mas é o fato de Shailene Woodley (aliás, uma ótima e promissora atriz) ir tão bem no papel de uma adolescente que sempre quis se libertar das amarras de sua sociedade apática e viver na correria dos “malucos” da Audácia, que faz com que o filme segure a atenção de seu público até o final. A jovem parece entender que seu papel não representa apenas uma, mas milhões de adolescentes de 16 anos inconformadas com sua realidade e sedentas por aventura, ação e… um romance aparentemente impossível.

    Nossa… o romance. Saindo das flores e começando a nos ferir com os espinhos da obra, a construção do roteiro para nos conduzir à fatídica relação entre o “malhadão” Quatro (Theo James), um dos líderes da Audácia, e Tris acontece de forma boba e pueril, partindo de diálogos sofríveis do tipo “Cuidado comigo mocinha…”, sob olhares opostos ao que a ideia transmite, à completa desconstrução em minutos de um personagem anteriormente estereotipado com características sólidas de sisudez e apelo à violência. Sabe aquele ditado “para bom entendedor, meia palavra basta”? Pois bem, essa previsibilidade dos rumos do roteiro, disfarçada por diálogos forçados, ainda é completada pela insólita sensibilidade de Neil Burger (O Ilusionista e Sem limites), diretor que acerta pouco em toda obra e que recorre aos recursos fáceis de montagem para mostrar a “evolução” de sua protagonista e ainda usa-os, aliados a repetidos closes, em momentos específicos, para que os fã boys and girls não tenham medo dos rumos da história. Pois tudo simplesmente se realiza como aparenta ser, seguindo novamente a obediência à fórmula consagrada que nos faz experimentar o gosto amargo do plot já previsto, da pseudo-coragem disfarçada do roteiro em se desfazer abruptamente de alguns personagens (oi, Jogos Vorazes?) e em testemunhar superações e mais superações da protagonista e tudo mais que “um filme desses” tem a oferecer.

    Mas talvez uma das coisas que mais irritam em Divergente é sua longuíssima duração. Nada justifica os 140 MINUTOS DE PROJEÇÃO, nem mesmo o doce de coco da Shailene Woodley faz com que alcancemos rapidamente os esperados créditos finais da obra. São exatas duas horas e vinte minutos de uma produção que se estende muito em momentos que não adicionam nada à narrativa, como nas várias comemorações e alegrias da protagonista por suas evoluções ou vitórias. Me remeteu ao insuflado Bling Ring: A Gangue de Hollywood de Sofia Coppola. Cenas como a da personagem sobrevoando por dentre os prédios da cidade de Chicago, sentindo-se finalmente livre de seus antigos grilhões, funcionam muito mais por suas metáforas “sonrisal” altamente didáticas (a felicidade, a superação, o soerguimento) unicamente do que pelo que mostram em seus cansativos minutos de computação gráfica e fotografia de noite azulada.

    Voltando às lentes de Küchler, porém, vemos que na medida em que os 140 minutos de Divergente transcorrem, o que emanava da cor branca (da inocência e abnegação) vai se tornando prata, ganhando densidade, corpo, assim como a crescente (e, aliás, belíssima) trilha sonora de Junkie XL, supervisionada por Hans Zimmer, que, ainda que usada em excesso várias vezes, em outras consegue trazer, de forma simples e suave, sentimentos como melancolia, decepção e medo, complementando a construção imagética Shailene/direção de arte.

    A composição do abrigo de Audácia é interessante. Vezes parecendo um extenso ringue de UFC, vezes um colégio interno “barra pesada”, contando com os tradicionais grupinhos estereotipados (os brigões, o piadista do bullying, o nerd, a tímida e etc), o lugar incorpora bem o momento de ruptura ao qual os adolescentes estão sendo expostos. Em relação às cenas de ação, com ressalvas às lutas que acontecem durante o treinamento (e que novamente remetem a Jogos Vorazes até em seu grau de ousadia contida), Neil aposta mais em cenas sem violência, ou que se deem de forma “limpa”, sem culpas (em simulações de embate ou em sonhos, por exemplo), do que nas que envolvem o conflito em si, o qual tem por base um plano encabeçado por Jeanine (Kate Winslet, é… ela tá no filme), a líder da Erudição que, tal a insipidez na narrativa, mais parece uma mistura do Presidente Snow com a Jessica Delacourt de Elysium. A sub-trama (que depois de revelada se torna trama principal do filme e surge como mote para mais minutos de projeção), apesar de surgir de forma megalomaníaca, fazendo vários movimentos de personagens, trazendo alguns de volta, executando outros, aprofundando o romance, apelando para dramas familiares, prometendo mudar a estrutura de tudo o que vimos até então, faz realmente apenas isso: promete. Algum motor liga, mas o avião de Divergente não decola e voltamos a dormir pois o filme parece não acabar. E o pior? Segundo o E = MC² das adaptações de obras infanto-juvenis, era basicamente isso que esperávamos desde o início.

    Shailene. O mergulho na psiquê de sua personagem, Tris, é o que há de melhor em Divergente. Seu Corra, Lola, Corra onírico é algo que, quando surge, traz esperança. Melhor explorado, mais paciente e frequente, certamente essa particularidade conduziria a obra a um patamar, se não superior, mas singular em relação às outras adaptações. A distopia high school, infantil e genérica da obra, no entanto, faz com que A Hospedeira venha à cabeça. Mesmo que os dois produtos tenham enredos completamente distintos, surgem, porém, da mesma fonte: a Unilever cinematográfica.

    Texto de autoria de Rodrigo Rigaud, do Zona Crítica.

  • Filmes sobre o Fim do Mundo

    Filmes sobre o Fim do Mundo

    melhores filmes sobre o fim do mundo

    O medo sempre esteve presente dentro de cada um de nós, para alguns isso se transmuta em uma possível data onde o fim dos tempos chegará. Não são poucas as pessoas que propagam essa política de medo, algumas vezes exercidas através de governos autoritários de forma indireta, ou agindo abertamente por meio de religiões e seitas extremistas. O fato é que essas movimentações que ocorrem de tempos em tempos, seja com a Guerra Fria e o perigo iminente de um guerra nuclear, ou com a virada do milênio e calendários maias, o cinema sempre esteve presente retratando o fim do mundo, muitas vezes abrindo os olhos do espectador para o problema real, seja de forma irônica, lírica ou chocante. Portanto, segue abaixo uma lista de 10 filmes, com a visão de 10 grandes diretores (nada de Michael Bay e Roland Emmerich) sobre o epilogo de nossas vidas.

    A Última Esperança da Terra (Boris Sagal, 1971)

    Baseado na obra de Richard Matheson (existem três versões da história), A Última Esperança da Terra foi estrelado por Charlton Heston e mostra um pouco da paranoia causada pela guerra nuclear. O personagem de Heston vive em uma metropóle completamente dizimada por uma guerra e aparentemente só. O filme traz uma postura antibelicista, além de explorar vários pontos do fanatismo religioso.

    Fonte da Vida (Darren Aronofsky, 2006)

    Apesar de não seguir o padrão dos filmes de “fim do mundo”, Fonte da Vida é uma grande história sobre amor e morte, ciência e espiritualidade, e claro, o início e o fim de tudo. De maneira delicada, duas tramas contidas no filme se entrelaçam e culminam em um última, onde o personagem de Hugh Jackman, completamente só na imensidão, consegue a resposta de sua existência.

    Dr. Fantástico (Stanley Kubrick, 1964)

    Kubrick aproveita o auge da Guerra Fria para fazer uma comédia repleta de ironia sobre os temores da humanidade de uma possível guerra nuclear. Destaque para a interpretação de 3 personagens por Peter Sellers. Simplesmente genial. Dr. Fantástico é um manifesto antiguerra, tudo isso numa das mais mordazes sátiras da história do cinema

    A Estrada (John Hillcoat, 2009)

    A jornada de um pai e seu filho em um mundo pós-guerra nuclear. Hillcoat deixa a sutileza para as atuações do elenco, já que o roteiro e a direção do filme não dão espaço pra isso, apenas para um mundo sem vida e grotesco de pai e filho, onde a esperança se esvai a cada passo. Grande filme.

    A Noite dos Mortos Vivos (George Romero, 1968)

    A Noite dos Mortos Vivos é um paradigma para o cinema como um todo. O primeiro trabalho de Romero é consolidado como uma das produções independentes mais bem sucedidas do cinema, serviu como base para o estabelecimento dos zumbis como conhecemos hoje e influência para o modo de fazer cinema, além de ter um dos finais mais surpreendentes da história.

    Os 12 Macacos (Terry Gilliam, 1995)

    Os 12 Macacos traz uma visão pós-apocalíptica de um futuro onde um vírus dizimou boa parte da população mundial e a única solução da Terra é enviar alguém para o passado para consertar o que motivou esse futuro. Gilliam constrói um senso de urgência e angústia à todo momento. O filme traz ainda uma forte mensagem de voltarmos nossos olhos para o presente e a valorização do que temos hoje.

    Melancolia (Lars Von Trier, 2011)

    Melancolia trata da história de um planeta (Melancolia) que irá colidir com a Terra. Nesse cenário apocalíptico somos apresentados para os conflitos internos, medos e distúrbios de cada personagem e como isso afeta cada um deles. Lars Von Trier utiliza a temática de filmes catástrofe para um estudo sobre o ser humano e sua finitude. 

    Limite de Segurança (Sidney Lumet, 1964)

    O principal problema de Limite de Segurança foi ter sido lançado alguns meses depois do seu co-irmão (e já mencionado aqui), Dr. Fantástico. Diferente do filme do Kubrick, que se tornou cult, Limite de Segurança já não é tão conhecido, sendo revisado pela maioria dos críticas muito tempo depois. Ambos os filmes retratam o mesmo tema, contudo, Lumet opta por uma visão densa e mais politizada que Kubrick e acerta em cheio.

    Filhos da Esperança (Alfonso Cuaron, 2006)

    Cuarón traz uma visão futurista bastante aterradora. Há quase 20 anos não nascem mais bebês, a humanidade está a beira da extinção e o mundo se tornou um caos completo. A construção de personagem de Clive Owen, com seu cinismo e onipresença em tela. É impressionante como a visão de mundo futurista do diretor é atual. O futuro de Filhos da Esperança já chegou e nós não nos demos conta.

    Vampiros de Almas (Don Siegel, 1956)

    Apesar de várias outras refilmagens, algumas mais interessantes que outras, nenhuma supera a versão do diretor Don Siegel. O cineasta dá uma aula de cinema em Invasor de Almas, construindo uma visão apocalíptica de forma tensa, ágil e econômica. A trama conta a história onde as pessoas não são mais as mesmas, apesar da aparência física e das lembranças. Siegel retrata o período de paranoia que os EUA viveu durante a caça às bruxas promovida pelo senador Joseph McCarthy, ou indo mais longe, dando sua visão de um mundo sem emoções.

    Menção honrosa a vários outros títulos que tiveram de ficar de fora mas vale uma conferida: O Fim do Mundo, 4:44 – Último Dia na Terra, Wall-E, Mad Max, Planeta dos Macacos, A Máquina do Tempo, O Menino e seu Cachorro, Donnie Darko, Akira, O Dia em que a Terra Parou, Sunshine, Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo, A Sétima Profecia, Extermínio, O Abrigo, O Sacrifício, Guerra dos Mundos, Marte Ataca, Exterminador do Futuro, entre tantos outros.

  • VortCast 20 | V de Vingança

    VortCast 20 | V de Vingança

    Remember, remember, the fifth of November… Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Pedro Lobato (@pedrolobato), Bruno Gaspar, André Kirano (@kiranomutsu) e os convidados Felipe Morcelli (@terra_zero) e Delfin (@DelReyDelfin) do Terra Zero se reúnem para discutir a obra de Alan Moore, David Lloyd e Steve Whitaker: V de Vingança.

    Duração: 119 mins.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Agradecimentos

    Aos amigos Lucas Amura e Mari Bonfim pela leitura emocionante de trechos da obra original. Segue informações de contato:

    Lucas Amura
    Site pessoal e portfólio

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    Mari Bonfim
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    Filme: V de Vingança – Compre aqui

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  • Resenha | 1984 – George Orwell

    Resenha | 1984 – George Orwell

    19841984 é um clássico, não só das distopias, mas da literatura mundial. O livro escrito por George Orwell em 1949 tornou-se quase sinônimo de sociedade totalitária, vigilância absoluta e controle do pensamento. O termo Big Brother foi repetido a exaustão, descontextualizado e hoje em dia é tão onipresente quanto o original pensado por Orwell. E talvez valha a pena dizer antes de continuar que é meu livro preferido.

    Em 1984 o mundo é dividido em três grandes blocos: Eurásia, Lestásia e Oceania que alternam eternamente entre guerras e alianças. Winston Smith, o protagonista, vive em Londres, parte da Oceania, bloco governado pelo Partido cujo chefe é o quase divino (e onisciente) “Big Brother”, e trabalha no Ministério da Verdade, setor do governo responsável por recontar a verdade milhares de vezes por dia.

    O Ministério da Verdade tem um nome exato: ele não mente, mas reconstrói a realidade cada vez que o contexto político se altera. A Oceania estava em guerra com a Eurásia e era aliada da Lestásia, mas agora as coisas se inverteram, logo os jornais são reescritos e a guerra sempre foi com a Lestásia. Assim, o Partido nunca se engana ou erra e os cidadãos não possuem memória. Como estabelecer senso crítico sem uma noção de passado? Os habitantes de Oceania não tem História.

    Smith tem memória, ele se lembra de reescrever cada jornal, mudar cada notícia. Ele também resiste a “novilíngua”, forma reduzida do inglês que procura excluir conceitos, ou seja, formas de raciocinar. O personagem anda por zonas esquecidas, visita lojas de antiguidades, mantém um diário, todas essas atividades suspeitas porque reforçam sua individualidade: Winston Smith tem história, memória, preferências, sentimentos e gosto. Winston Smith é, afinal, um indivíduo. E indivíduos são mal vistos em qualquer sociedade distópica.

    Smith é um rebelde, flerta com a resistência e chega a procurar o mítico livro clandestino escrito por Emmanuel Goldstein, mas sua condenação final vem por ter se apaixonado. 1984 e Admirável Mundo Novo são livros opostos em muitos pontos, um deles é na forma como suas sociedades encaram o sexo, mas em ambos os casos (seja por promiscuidade ou repressão) ele é desvinculado do amor, que é visto como uma coisa perigosa. Estabelecer uma relação é ser considerado único, especial e insubstituível pelo outro, é ser o oposto do “homem-massa”, além disso o amor é instável, desestabiliza e talvez seja por isso que se apaixonar seja tão subversivo nas duas distopias.

    O que fica claro no livro de Orwell é que seu temor é que um dia as ditaduras alcancem a esfera privada. Teletelas dentro das casas, condenação por “crimideias”, liga anti-sexo, tudo isso não serve apenas para manter os cidadãos “na linha”, mas para certificar que eles pensam e sentem como deveriam. Smith acredita que pode manter as aparências enquanto se mantém “íntegro” interiormente, o Partido vai mostrar a ele que não, ele não pode.

    Para mim esse é o aspecto mais marcante de 1984: Orwell criou um mundo em que individualidades são destruídas e qualquer possibilidade de escape é negada. Diferente de Admirável Mundo Novo, não existe aqui um pedaço selvagem para onde fugir, não existe sequer Resistência, é tudo controle.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Brazil

    Crítica | Brazil

    Só tive conhecimento da existência de Brazil, de 1985, em 2012, foi-me indicado como mais uma sociedade distópica, no melhor estilo 1984. Portanto, era uma obra de ficção científica obrigatória. E assim fui, com todas as expectativas. Não sabia nada, do diretor, roteirista, nada, a única pista que eu tinha era que Robert de Niro participava do elenco.

    Aos 30 minutos do filme, confesso que tive que fazer uma pausa, para obter mais informações, quem era o diretor, roteirista, alguma pista que eu conseguisse para saber se aquelas 2:20 iriam valer a pena, pois a premissa do filme era muito oposta do que eu esperava, e qual não foi minha surpresa ao ver que era Terry Gilliam, diretor de Monty Python e o Cálice Sagrado e roteirista de A vida de Brian. Agora, tudo fazia sentido.

    Esperamos em geral de filmes desse tipo, mundos tecnocratas, frios e sombrios. Em que a narrativa, incita aquele que a acompanha a sentir a mesma tensão que aquele mundo exige. Brazil vai além, contendo todos os elementos clássicos desse tipo de história, mas somando uma pitada de humor nonsense, beirando ao pastiche. E também com muitas viagens oníricas do personagem principal, que nos deixa totalmente confusos sobre o que é realidade e o que é sonho.

    A história, é de um funcionário do ministério da informação Sam Lorry (Jonathan Price), que percebe que o sistema do governo errou, e esse erro, o une a Tuttle (Robert de Niro), um procurado terrorista. E Jill Layton (E aí… comeu?), sua amada. Ao tentar corrigir esse erro do Estado, Sam, acaba por se tornar um inimigo público também.

    A própria trama, como o mundo proposto pelo filme, tem claras inspirações em 1984 de George Orwell. Chegando a dar uma impressão de ser uma sátira à própria obra (o  diretor é um especialista nisso). Repleta de críticas à nossa sociedade. Como a indiferença dos indivíduos, às situações de horror e morte. O culto a beleza física, e cirurgias plásticas. A governos e instituições autoritárias, em que a única função é a manutenção do status-quo. Enfim, tudo que se espera em uma boa obra de ficção, em conjunto com uma sátira.

    A trilha sonora, é composta praticamente, com apenas uma música, Aquarela do Brasil, que faz um ótimo contraponto ao clima da trama em seus momentos mais tensos. E colabora com as viagens oníricas do personagem principal, na estranheza sobre o que é um fato real, e um sonho. Claro, que é um tipo de obra que leva a uma reflexão, algumas mais óbvias e explicitas na obra, como as críticas sociais. Outras talvez mais pessoais do que realmente implícitas. Como, que em uma sociedade, apesar de distópica. Mas não tão distante da nossa, no tocante à manutenção do status quo presente, qualquer que seja o custo disso. Qual a real possibilidade de uma reversão desse estado? Ou ainda mais, ao chegar em tal estado de organização, e anestesia social. Qual a diferença entre sonho, realidade e alucinação. Ao se buscar um ideal melhor.

    Brazil, é um ótimo filme, obrigatório para os fãs de ficção científica, ou até ficção política, como alguns gostam de caracterizar, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, e o já citado 1984.

    PS. Você, brasileiro, por favor, não me envergonhe ao falar o nome desse filme como Brrrezil. Só porque está escrito com Z. Sério, além de pedante, é patético.

  • VortCast 14 | Admirável Mundo Novo

    VortCast 14 | Admirável Mundo Novo

    Bem vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Jackson Good (@jacksgood), Kell Bonassoli (@kellbonassoli) e Lucas Köln (@lucas_deschain) se reúnem para comentar de uma das maiores obras de ficção-científica distópica, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.

    Duração: 112 mins.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Outras obras do Autor

    Contraponto – Compre Aqui
    Sem Olhos em Gaza – Compre Aqui
    Despertar do Mundo Novo – Compre Aqui
    As Portas da Percepção – Compre Aqui
    Regresso ao Admirável Mundo Novo – Compre Aqui
    A Ilha Compre Aqui
    O Gênio e a Deusa 
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    Outras obras comentadas

    1984 (George Orwell) – Compre Aqui
    1985 (Anthony Burgess)
    Neuromancer (William Gibson) – Compre Aqui
    V de Vingança (Alan Moore) – Compre Aqui – Ouça nosso podcast sobre a obra
    Laranja Mecânica (Anthony Burgess) – Compre Aqui
    A Máquina do Tempo (H. G. Wells) – Compre Aqui
    Fahrenheit 451 (Ray Bradbury) – Compre Aqui
    Nós (Yevgeny Zamyatin) – Compre Aqui
    Planeta dos Macacos (Pierre Boulle) – Ouça nosso Podcast sobre a filmografia
    Metrópolis (1927) – Compre Aqui
    Viagem à Lua (1902)

    Tema do Próximo Podcast de Literatura

    O Apanhador no Campo de Centeio (J. D. Salinger) – Compre Aqui

  • Resenha | Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley

    Resenha | Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley

    Admirável-mundo-novoCreio que “poucas” pessoas podem dizer que nunca tenham nem sequer ouvido alguém falar a respeito de Admirável Mundo Novo. Seja através da associação com distopias, seja através de comentários esparsos sobre realidades opressivas, bizarrices, experiências literárias ou simplesmente sobre o mal estar que a tecnologia carrega em seu bojo. O livro de Aldous Huxley certamente não se tornou um clássico e nem se ganhou tanta notoriedade à toa, é definitivamente um livro marcante.

    Ainda que, tenho certeza, algumas pessoas associarão a idéia de futuro pessimista a obra mais conhecida de George Orwell, há que se entrar em favor de Huxley e mostrar como na década de 30 já havia vozes se levantando para procurar mostrar hipóteses sombrias sobre o porvir do mundo.

    Huxley, por sua vez, não deve ser visto também como grande pioneiro desse estilo, o russo Yevgeny Zamyatin já havia escrito uma história que certamente inspirou Huxley, retratando um futuro onde a humanidade tinha dado passos largos rumo a uma direção nada acolhedora. De qualquer forma Admirável Mundo Novo está incrustado na literatura mundial não por acaso, e é isso que pretendo tentar por em relevo nessa resenha.

    O livro foi publicado em 1932 e retrata um futuro onde a tecnologia tem papel primordial na manutenção da estratificação social e na controle de todos os mais milimétricos aspectos da sociedade. Como sinal dessa mudança, podemos apontar a cronologia existente nesse mundo distópico: ela começa a ser contada a partir da invenção do modelo T por Henry Ford. A ligação com a criação tecnológica pode soar antiquada para nós agora, mas representava uma mudança bastante relevante para a década de 30, afinal Ford foi um dos principais nomes da indústria não só estadunidense mas mundial.

    A invenção do modelo T não aparece somente como notação de tempo, mas com um significado religioso, pois o formato da letra “T” passou a substituir a cruz, tão cara ao cristianismo. Não mais Cristo, mas Ford é que representava uma entidade basilar na constituição do mundo. Ao passo que a tecnologia impregna o imaginário da população sob essas formas, outros setores da sociedade se valem de maneira extensiva dos avanços tecnológicos.

    O primeiro capítulo já nos atira em uma fábrica de seres humanos. Sim, exatamente isso, somos convidados a um tour ao longo da linha de produção (ah, a emblemática e famigerada linha de produção) para sabermos como os embriões são gerenciados e levados, por meio de uma manipulação precisa, a se tornarem indivíduos de um modo ou de outro. Não se controlam somente fatores biológicos, como a cor de pele, a estrutura capilar, a altura e as tendências de crescimento; mas também condições mentais e capacidades fisiológicas e intelectuais, que acabam por garantir uma estratificação social rígida e muito bem delimitada.

    A tecnologia faz as vezes de natureza e condiciona de maneira bastante eficaz o que serão os seres humanos. As classes Alfa, Beta, Gama, Delta (etc.) são os repositórios dos indivíduos fabricados na bizarra linha de produção. De acordo com os condicionamentos recebidos, eles serão direcionados a uma determinada classe e ficarão responsáveis por um ou outro trabalho. Toda a vida, por conseguinte, se encontra acorrentada ao fato de que os sujeitos já foram desenhados biológica e socialmente, para ocuparem um determinado lugar, Ou seja, não passam de engrenagens ou peças quaisquer, já que perdem sua liberdade de ação pela programação padrão.

    As emoções são suprimidas por meio de drogas, a sexualidade é canalizada pela exacerbação em um ato físico descolado de sentidos humanos e cada vez mais os seres humanos (se é que podemos ainda assim chama-los) se tornam incapazes de resistirem a essa programação.

    Porém, com um jogo de nomes divertido, Huxley nos apresenta Bernard Marx, um sujeito que está cheio da situação como a vê e encontra em Lenina não só uma companheira para o sexo como uma confidente e potencial ajuda em seus objetivos.

    Eles se envolvem em uma tresloucada trama que os leva a conhecerem as reservas dos Selvagens (os seres humanos não feitos em laboratório e que vivem segundo os preceitos e modo de vida pré-Admirável Mundo Novo), traze-los às peculiaridades sem sentido da sociedade voltada à tecnologia para estudo e questionarem, sob muita pressão, o status quo do qual eram produto e vítima.

    Não gosto de encarar Admirável Mundo Novo como uma alegoria, acho que esse termo tem uma tradição de mecanicidade que esteriliza mais do que ajuda. Entretanto, através da construção literária, Huxley nos informa bastante a respeito de sua sociedade e sobre como a tecnologia (e seus mais diversos corolários: exatidão exacerbada, controle absoluto, condicionamento artificial, anti-naturalidade etc.) tendem, nas condições em que são geridos, a prevalecer sobre os seres humanos.

    Apesar do lampejo débil de esperança, a obra de Huxley toca numa ferida que jaz em aberto ainda em nosso tempo (quiçá com mais purulência ainda): a de que quanto mais avançam as tecnologias, mais elas suplantam a humanidade. Essa discussão não tem nada de nova mas nem por isso se tornou velha, e isso por si só, já é indício da atualidade da obra e da profundidade das questões que aborda.

    Compre: Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley.

    Texto de autoria de Lucas Deschain.

  • VortCast 10 | Mad Max

    VortCast 10 | Mad Max

    Liguem os motores. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Levi Pedroso (@levipedroso), Rafael Moreira (@_rmc), Mario Abbade (@fanaticc) e os convidados Felipe Nunes (@felipe_nunes) do Mitografias e Ivan Motosserra (@ivanmotosserra) do Rock Trinta discutem sobre um dos totens sagrados do Vortex Cultural, Mel Gibson e a trilogia que o consagrou: Mad Max.

    Duração: 82 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Papo Lendário

    Filmografia

    Crítica Mad Max
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    Video de fã fantasiado – “The Humungus” 2
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    Coletânea com os 3 filmes em DVD
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  • Crítica | O Planeta dos Macacos

    Crítica | O Planeta dos Macacos

    planeta dos macacos 1968

    Falar do clássico O Planeta dos Macacos não é uma tarefa fácil, afinal o filme já está consolidado como um dos grandes clássicos do cinema há anos. Serei breve e objetivo nessa resenha, e espero que consiga convencer quem ainda não assistiu essa obra, que confira o quanto antes este clássico do cinema cult e de ficção-científica.

    Baseado no livro de Pierre Boulle, o filme conta a história de quatro astronautas que viajam para o espaço, rumo a uma estrela na constelação de Orion, e caem em um sono profundo de dois mil anos. Ao acordarem, no então ano de 3978, descobrem que aterrissaram em um planeta desconhecido, e partem em busca de algum sinal de vida naquele local. Após uma longa jornada pelo deserto, os astronautas encontram um povo bárbaro e tentam estabelecer contato, o que é dificultado pois eles não conseguem articular palavras e apenas emitem grunhidos e gritos animalescos. Enquanto tentam os primeiros contatos, algo surge e aterroriza esses raça de humanos bárbaros, fazendo todos partirem em uma corrida frenética. Quando se dão conta, os astronautas se veem perseguidos por macacos vestidos com trajes humanos, montados em seus cavalos e disparando seus fuzis contra aquele povo, para transformá-los em escravos, animais de estimação e cobaias de laboratório.

    Nos dias atuais a cena pode não causar o mesmo impacto que causou em 1968, e até mesmo poder soar um pouco bizarro e tosco, mas no ano do lançamento causou um frisson inacreditável, sendo responsável por uma das maiores bilheterias do cinema na epóca. E pudera, com um roteiro desses não poderia ser diferente, tendo o já astro, Charlton Heston no papel principal do astronauta que após um sono artificial, aterrissa em um planeta desconhecido, parecido com a Terra, se depara com uma realidade chocante onde homens agem como macacos e os macacos são seres dotados de inteligência e usam estes como experimentos e escravos.

    O Diretor norte-americano Franklin J. Schaffner, um dos responsáveis pelo sucesso que o filme tem até hoje, mostrou um excelente trabalho de câmera, com grandes tomadas e conseguindo extrair boas atuações, inclusive dos atores que utilizavam a maquiagem para viver seus personagens símios, o que acabava dificultando em suas interpretações. Schaffner fez o que Tim Burton não conseguiu, expor a inversão de papéis entre homem e macaco de uma maneira excepcional, e sobretudo ser crível com essa história. O roteiro do filme é grande responsável por isso, ao mostrar essa realidade aterradora entre dominador e dominado, porém, sem um trabalho competente de direção teria sido esquecido à muito tempo.

    E por falar dos aspectos técnicos, o que dizer da maquiagem dos macacos? Simplesmente perfeita e por incrível que pareça, ainda hoje consegue convencer quem a vê, além de ser mais expressiva que muitas animações feitas nos últimos anos. O responsável técnico John Chambers recebeu um Oscar honorário anos depois pela Academia, muito merecidamente, mas um bocado atrasado, pois na premiação de 1969 foi totalmente ignorado por ela. O filme havia sido indicado apenas para o Oscar roteiro original e figurino.

    O estilo narrativo é um pouco lento em comparação aos filmes hollwoodianos atuais, isso se dá ao estilo típico do cinema até o início dos 70. O que torna uma ótima oportunidade para quem não conhece o estilo cinematográfico da epóca e não quer começar com filmes mais “pesados”, O Planeta dos Macacos é uma ótima pedida, pois pode ser considerado um dos blockbuster’s da epóca.

    Schaffner conseguiu mesclar aventura, suspense e ficção-científica como poucos. Charlton Heston emplaca mais um grande papel depois do clássico Ben-Hur. Enfim, um filme que merece ser visto e revisto por todos nós, não só por ser um grande clássico do gênero sci-fi, mas também por todo seu contexto histórico e político da época de seu lançamento.

    Ouça: Planeta dos Macacos.

  • Crítica | A Estrada

    Crítica | A Estrada

    the-road

    O que a estrada nos oferece? Aonde ela nos leva? Há sequer um destino?

    Essas questões permeiam a jornada de um pai (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) na brutal, crua e também simples realidade em que se encontram.

    Sobrevivência (ou a luta por ela) é o que mantém a relação quase simbiótica dos personagens principais. Em um mundo exaurido de recursos, percebemos que de nada adianta lutar para manter a integridade física se a sanidade mental se esvai, ponto bem representado pela personagem de Charlize Theron. O filho, por sua simples existência provê essa sanidade ao pai, o mantém em foco, dá a este homem um final objetivo de vida: preparar o filho para sobreviver neste mundo, quando ele não mais fizer parte dele.

    Após um evento cataclísmico que pouco nos é explicado, percebemos que o mundo vive agora um cenário de pós-guerra nuclear, onde a luz do sol se tornou uma vaga lembrança, e nos resta apenas paisagens áridas e desoladas a serem contempladas. Pai e filho partem em uma jornada determinados a chegar à costa americana, com uma vaga e ingênua esperança de que as coisas simplesmente serão melhores por lá. O destino da jornada no entanto, se mostra apenas um detalhe, quase um subterfúgio mental quando analisamos a obra de uma forma mais profunda.

    Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy (autor de Onde os Fracos Não Têm Vez), a direção de John Hillcoat e o roteiro de Joe Penhall mantêm o teor sombrio da obra. A fotografia do filme proporciona exatamente o tom que A Estrada quer nos passar. Um mundo sem vida, cinza, com o inverno nuclear sempre presente.

    Neste cenário não há espaço para sutilezas ou eufemismos. Sobra sim o grotesco, o visceral, o medo generalizado de qualquer outro ser que possa cruzar o seu caminho. Qualquer um que possa querer tomar o pouco alimento que lhe resta, seu abrigo, ou simplesmente seu precioso sapato.

    A resposta deste medo é representada ao extremo no personagem de Viggo, com uma atuação tocante e verdadeira, conseguimos ver e compreender em seu olhar, em seu corpo corrompido, o que este homem sofreu e o que ele é capaz para manter imaculada (outro esperança ingênua) sua prole.

    Poucos filmes pós-apocalípticos tratam o tema com tamanha crueza e subjetividade. Muitos enveredam por caminhos onde a ação desenfreada ou o escapismo ficcional acabam se sobressaindo, deixando pouco espaço para uma reflexão sobre questões humanas primordiais dentro do cenário escolhido. Sejam elas de sobrevivência, relação interpessoal ou até mesmo de confiança. Esta última, vale notar, ainda presente no garoto e quase que completamente esgotada no pai. Mais um ponto interessante na relação pai/filho do filme.Pode-se questionar a verossimilhança do modos operandi de alguns grupos retratados no filme na luta pela sobrevivência. Mas basta um pouco de reflexão histórica para percebermos que os atos que nos causam mais asco no filme, não seriam assim tão difíceis de serem concretizados pela nossa natureza animalesca.

    A jornada empreendida aqui é análoga a caminhos tortuosos trilhados por todos nós. Viggo não sabe o que vai encontrar na costa, nem exatamente por que decidiu ir para lá. Mas sabe sim que não pode ficar estático, inerte ao destino reservado para ele e seu filho. Sabe que não pode parar, em certo momento abre mão até de certos recursos que ele sabe serem indispensáveis para ele e para o garoto. Este, não compreende a obsessão do pai, a importância de terem um objetivo final traçado, a sua (sempre presente) desconfiança para com o mundo deixado para eles. Um mundo destruído, sem cor, morto… e ao mesmo tempo, real.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.