Crítica | Lobo Solitário II: O Andarilho do Rio Sanzu
Lobo Solitário: O Andarilho do Rio Sanzu começa em meio à ação, com um ataque de dois guerreiros a Ogami Itto, que astutamente consegue derrubar os dois sem muito esforço, de novo reforçando a ideia de mostrar as batalhas no mais puro silêncio enquanto golpes acontecem, para só após o destino selado, surgir a música característica. Esse é o segundo filme da cinessérie, dirigido mais uma vez por Kenji Misumi e estrelado pelo ótimo Tomisaburo Wakayama.
Nesse filme já se percebe uma evolução de estilo e gênero, o pequeno Daigoro é mais engraçado, prega peças, age como criança e não mais como bebê, além de entender de maneira mais lúcida a função sanguinária do pai. Em algumas lutas ele tem até participação, mesmo que de forma breve. Parte da jornada de sobrevivência de pai e filho é pontuada também por seus atos.
Se percebe um uso maior de sangue e membros cortados. O diretor consegue esconder as fragilidades orçamentárias em alguns pontos, sobretudo nos cenários escuros que costuma utilizar. Já as batalhas em terreno aberto e de dia compensam a questão da artificialidade com subterfúgios inteligentes, que transformam até os mirabolantes planos dos vilões em algo plausível dentro da fantasia estabelecida.
Também há um aumento de cenários, com algumas poucas cenas na neve e outras tantos em florestas de árvores que remetem a uma condição de espiritualidade e mitologia. As pessoas que tentam vencer o Lobo Solitário variam, entre belas mulheres cuja fúria assassina é colossal (quase tão grave quanto a beleza dessas), capangas e do temido trio de irmãos do estilo Takeuchi, que utilizam armas inventivas – garras, clavas e punhos de ferro – que mais tarde, seriam referenciadas no clássico tarantinesco Kill Bill. A disputa entre Ogami e os tais irmãos assassinos é divertida e dinâmica, assim como as cenas dos antagonistas desarmando as armadilhas na areia.
Normalmente franquias tem filmes iniciais melhores que suas continuações, mas O Andarilho do Rio Sanzu é uma exceção. A construção de imagens aqui é mais elaborada, mais madura, ainda que o roteiro não seja um primor. Os fatos ocorridos na adaptação são ainda mais episódicos que Lobo Solitário: A Espada da Vingança, mas em muitos pontos ele é muito superior ao primeiro capítulo da saga, além de contar com uma atuação cada vez mais natural e à vontade de Wakayama, seja no silêncio estarrecedor que ele preconiza ou nas lutas onde ele demonstra uma segurança diante de seus antagonistas.