Crítica | O Bom Gigante Amigo
O Bom Gigante Amigo estreou em 2016 com certa expectativa, já que era o retorno de Steven Spielberg às histórias infantis desde As Aventuras de Tintim, em 2011. Após ser sequestrada de um orfanato por um gigante, uma menina cria uma amizade com ele e ambos tem de enfrentar os outros gigantes comedores de crianças.
O roteiro de Melissa Mathison se baseia no livro de Roald Dahl e tem um início promissor. A abertura do filme já entrega a sua premissa ao mostrar a personagem de Sofie repreendendo bêbados na rua ao fazerem algazarra e atrapalharem o sono das crianças no orfanato: o preconceito da sociedade com quem é deslocado do seu meio. Essa premissa é reforçada ao longo de todo o filme na sua relação com o gigante que a rapta do orfanato, o seu próprio preconceito com ele se prova equivocado ao ver que ele é amigável e gentil, diferente dos outros gigantes que comem humanos.
No entanto, a adaptação de Mathison acaba falhando com o universo que vinha sendo apresentado ao inserir a ajuda da Rainha da Inglaterra em uma comédia, se transformando em um outro filme, além da solução final se mostrar rápida demais. Por mais que tenha muito do material original, o filme acaba destoando do que vinha sendo apresentado até então. Seria muito mais interessante se Sofie e o BFG conseguissem a solução para o problema na própria Terra de Gigantes ou até mesmo no orfanato.
A direção de Spielberg continua satisfatória e mantém todas as suas características básicas como o domínio da narrativa visual e a eterna premissa que envolve o preconceito na luta contra o desconhecido. Outro mérito foi encontrar a atriz mirim, além da direção de atores com o CGI dos gigantes. No entanto, Spielberg falhou como diretor ao não pedir para Melissa Mathison mudanças no roteiro e ao editor para melhorar o ritmo.
A menina Ruby Barnhill é o grande destaque do elenco, todo o seu potencial conseguiu ser explorado pela direção, Mark Rylance não decepciona como o BFG e o restante dos outros gigantes ficaram bem caracterizados em suas personalidades.
A fotografia de Janusz Kaminski, que trabalhou com Spielberg nos seus principais filmes, se destaca nas sequências do orfanato e quando Sofie ajuda BFG na captura dos sonhos. A edição de Michael Kahn, que também trabalhou com o diretor nas suas obras mais famosas, consegue deixar o filme com um bom ritmo até o terceiro ato onde entra a Rainha da Inglaterra, fazendo com que destoe completamente do bom material apresentando até o momento.
O Bom Gigante Amigo deve agradar aos fãs do livro ou do autor, ou ainda quem busca uma história infantil razoável.
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Texto de autoria de Pablo Grilo.