Resenha | Super-Homem: Morcego de Aço
Quem nunca se perguntou: “e se o Batman tivesse poderes?”. Não que o melhor super-herói precise disso para ser quem é, mas voar e levantar alguns prédios poderia render ótimos momentos para o Cavaleiro das Trevas. Mas essa não é a razão para Super-Homem: Morcego de Aço (Superman: Speeding Bullets) existir, e sim, a sua consequência. Aqui, na coleção “Túnel do Tempo” publicada pela DC nos anos 1990, universos paralelos são criados em função de novos horizontes, e no encanto que isso pode oferecer aos fãs. Assim, os autores J.M. DeMatteis e Eduardo Barreto recriam mitologias, e vêm com novas propostas: agora, Kal-El vem de Krypton e cai na violenta Gotham City, e não na calmaria rural de Kansas. Longe dos amáveis fazendeiros que o adotaram, Kal-El é criado então pela bilionária família Wayne, e seu fiel mordomo Alfred, e nunca conheceria a paz de uma fazenda, ou o motor de um trator.
Os autores exploram com muita ação e suspense as hipóteses de um “novo” lar para o Clark Kent que nunca existiu, pois agora seu nome é Bruce Wayne. Perturbado tanto pelo assassinato de seus pais (que ele não conseguiu evitar, mesmo fritando depois com sua visão de raio-laser o atirador de Martha e Thomas Wayne), quanto por seus poderes sobre humanos, Bruce vira um Batman menos estratégico, e mais casca grossa, já que não precisa ser detetive para ouvir, a quilômetros, ações violentas de criminosos em Gotham City. Se o Batman de verdade precisou aprender 150 tipos de artes marciais, esse Batman resolve tudo com 2 socos, e um super-sopro bem dado. E se todo herói precisa de um inimigo, nesse eterno maniqueísmo das HQ’s, Superman: Morcego de Aço revela um Coringa com mentalidade de Lex Luthor, juntando os dois vilões em um só. Um símbolo único de destruição para lembrar esse Super Batman de não se igualar com a mentalidade desses tipos.
Nesse evento “What If…?” da DC, em que a editora reimagina novas possibilidades, podemos cogitar também o que aconteceria se a nave de Kal-El caísse, também, no Brasil. Quais valores ele teria, qual sotaque falando em português, e qual seria sua opinião sobre os Estados Unidos pertencendo a um país de terceiro mundo? Certamente, o Super-Homem nacional protegeria a Amazônia, e ficaria surpreso com o nível de corrupção da política brasileira – há muitos Lex Luthor, muitos mais do que um só. Talvez o destino estivesse certo, afinal, e a nave de Krypton, com seu último habitante que para nós é um Deus, não caiu em Brasília, nem mesmo em Gotham, e sim no pobre e pacato Kansas, no meio de um humilde milharal. Talvez o bem precise ser estimulado no começo, para só depois ser testado, afinal.